Estrella: Sob ocupação estrangeira, Brasil é laboratório neoliberal de Guedes para fundos de investimento
Tempo de leitura: 6 minDa Redação
Na parede de seu escritório no Rio de Janeiro, o botafoguense Guilherme Estrella exibe como troféu uma charge do ex-presidente Lula com a camisa I Love Pré-sal, uma foto ao lado da presidenta Dilma Rousseff e vários diplomas e prêmios.
O geólogo começou a trabalhar na Petrobras em 1965, foi gerente de exploração da estatal no Iraque e diretor de Exploração & Produção entre 2003 e 2012, período em que a empresa brasileira descobriu a maior reserva dos últimos 50 anos, o pré-sal.
Estrella concorda com a advogada Valkeska Teixeira Zanin Martins, que defende o ex-presidente Lula.
Ela sustenta que o Brasil se tornou um hub para golpes na América Latina através do lawfare, uma nova forma de soft power aplicada pelo Departamento de Estado e que foi adotada pela Força Tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.
O geólogo afirma que um Brasil hegemônico na América do Sul era uma ameaça muito grande para os Estados Unidos, por isso tratou-se de desmontar o projeto iniciado pelo ex-presidente Lula.
O pré-sal, na visão de Estrella, tornou-se uma reserva estratégica para garantir a hegemonia de Washington no século 21.
Lembramos a Estrella que é política de Estado americana reduzir a dependência de petróleo vindo do Oriente Médio, que custa muito defender com tropas e guerras.
Por isso dois anos depois da descoberta do pré-sal os Estados Unidos trouxeram de volta sua Quarta Frota Naval, além de criar o Africom, um departamento do Pentágono que cuida exclusivamente da África, onde as reservas de petróleo são abundantes na costa do Atlântico.
Para o geólogo, o passo inicial para a realidade de hoje foi dada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando resolveu diluir o poder do Estado brasileiro sobre a Petrobras e vendeu ações da empresa na bolsa de Nova York.
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Mesmo sem posição majoritária nas ações com direito a voto, são os investidores estrangeiros quem passaram a mandar na Petrobras desde o golpe de 2016, assegura Estrella.
Organizados em fundos de investimento politicamente poderosos, eles estão participando do esquartejamento da mais importante empresa brasileira em busca de lucro rápido, sem risco e seguro.
A Petrobras vendeu 90% de seu mais importante gasoduto, o do Sudeste, por U$ 5,2 bilhões, para um consórcio liderado pela Brookfield, que tem como participantes os fundos CIC Capital Corp, da China, GIC Private, de Cingapura e o fundo de pensões de British Columbia, no Canadá.
O Fundo Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, comprou a refinaria Landulpho Alves-Mataripe, da Bahia, a Rlam, por U$ 1,65 bilhão.
Um estudo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) concluiu que a Rlam valia o dobro do preço.
A Petrobras quer vender oito de suas refinarias, sendo as próximas a Rnest, em Pernambuco, a Repar, no Paraná e a Refap, no Rio Grande do Sul.
Em entrevista ao Viomundo, o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que as vendas devem desorganizar o mercado brasileiro, levando os novos donos a terem maiores custos para atuar regionalmente, com reflexo em preço mais alto dos combustíveis e derivados.
Em julho de 2019, a Petrobras começou a se desfazer de suas ações da BR Distribuidora, a maior do país, arrecadando R$ 8,5 bilhões com investidores dos bancos Merril Lynch, Citibank, Credit Suisse, JP Morgan, Santander; e, do Brasil, pelo Itaú e XP. A estatal vendeu um novo lote de ações posteriormente e hoje é o acionista minoritária, com 37,5%.
Para Estrella, a lógica dos dirigentes da Petrobras é fazer uma liquidação de tudo aquilo que represente os interesses por lucro rápido, sem risco e seguro de banqueiros e fundos de investimento.
O filé mignon, obviamente, são as reservas do pré-sal, onde a Petrobras deixou de ser operadora única. Nesta condição, a empresa brasileira tomava todas as decisões estratégicas, inclusive sobre conteúdo nacional.
Este é um processo que não começou hoje: em 2013, a Petrobras vendeu 60% do campo de Libra, com reservas de 12 a 15 bilhões de petróleo, para a francesa Total (20%), a anglo-britânica Shell (20%) e as chinesas CNPC e CNOOC (10% cada).
Hoje, a anglo-britânica Shell é a segunda maior operadora do pré-sal, além de atuar no Brasil e na Argentina através da Raízen, empresa em que fez parceria com o grupo brasileiro Cosan, inclusive nas áreas em que a Petrobras recuou, como a bionergia.
A Cosan, do grupo Ometto, é grande produtora de etanol e açúcar.
Diferentemente da Petrobras, que deixou de ser uma empresa integrada e se concentra em furar poços o mais rapidamente possível, além de se desfazer do patrimônio dos brasileiros — é o que, afinal, garante o pagamento de dividendos anuais aos acionistas — a Shell está fazendo a transição para o futuro.
É uma empresa de energia, enquanto a Petrobras foi transformada, desde o governo Temer, numa empresa de petróleo.
Esta excelente comparação foi publicada no site da própria Shell, sobre o potencial de produção de energia no Brasil e nos Estados Unidos.
EJ é Exajaule, uma medida de energia que equivale a 10 Jaules, para combustíveis fósseis ainda disponíveis no planeta.
PJ/Y é Patajoule por ano, também com unidade equivalente a 10 joules. Mede produção potencial de recursos renováveis.
Notem que o Brasil tem potencial muito maior que os Estados Unidos na produção de biomassa e em energia geotérmica, proveniente do calor que vem do interior do planeta.
A Petrobras deixou este campo aberto para empresas estrangeiras.
Agora, comparem o Brasil com o Reino Unido, uma das sedes da Shell:
O potencial brasileiro de produzir energia só é menor que o do Reino Unido em carvão e energia eólica no mar. No restante, é um massacre — e a Shell, não a Petrobras, está bem melhor preparada para tirar proveito disso, graças ao desmonte promovido pelos governos Temer e Bolsonaro.
Como a população brasileira é de 220 milhões de habitantes e a do Reino Unido é de cerca de 70 milhões, é apenas natural que os britânicos venham até aqui buscar seus lucros e empregos de qualidade, de olho num mercado que pode enriquecê-los imensamente, uma riqueza que poderia ser dos brasileiros.
Como diz Guilherme Estrella na entrevista, o potencial de consumo de energia brasileiro é imenso. Os dados abaixo, de 2020, do Banco Mundial, mostram o consumo de energia/per capita nos últimos anos nos Estados Unidos (verde), Reino Unido (azul), China (laranja) e Brasil (vermelho).
Para a Shell, a captura de ao menos parte do mercado brasileiro é essencial, já que o consumo per capita dos britânicos está em queda.
Uma Petrobras integrada e capaz de atuar além das fronteiras brasileiras seria uma competidora formidável para Exxon Mobil, Chevron, Shell, Total e tantas outras.
Mesmo para os chineses, os negócios com a Petrobras são uma barganha, já que o consumo de energia/per capita do país disparou e o país não tem reservas; depois de abocanhar o minério de Carajás, a prioridade número um de Beijing é garantir matéria prima barata, agora para o segundo salto econômico: a produção não mais de quinquilharias, mas de produtos de alto valor agregado, como trens de alta velocidade, turbinas eólicas e painéis de energia solar.
A Petrobras, ao ser desintegrada, simplesmente foi tirada do jogo internacional.
A lógica da Shell serve também para outras empresas estrangeiras, cujas reservas brasileiras caíram do céu para seus portfólios: a americana ExxonMobil, a espanhola Repsol/Sinopec e a norueguesa Statoil, todas, diferentemente da “nova” Petrobras, empresas integradas do poço ao poste.
O ex-diretor da Petrobras lembra que, apesar de formalmente privadas, empresas de petróleo obedecem aos interesses estratégicos de seus países de origem.
A BP, que surgiu como Anglo-Persian Oil Company, foi criada com incentivo de Winston Churchill para garantir o abastecimento de petróleo à frota do Reino Unido que lutou na Segunda Guerra Mundial, antes movida a carvão.
Hoje, a BP controla oito blocos de exploração de petróleo no Brasil, sendo um em Barreirinhas, quatro em Campos e três em Santos. Em outros 17, atua sob o comando de parceiros.
Em parceria com a Bunge, empresa originariamente da Argentina, a BP é sócia da Bunge Energia, uma das líderes no Brasil na produção de etanol, açúcar e bioeletricidade.
Importante lembrar o pioneirismo do Brasil na produção de etanol, na mistura com a gasolina e nos motores flex. Só que agora o lucro do setor está sendo transferido em parte para player internacionais — a Shell e a BP são dois exemplos.
Enquanto todas estas empresas avançam sobre o mercado brasileiro, a Petrobras claramente recua em seus projetos de investimento.
Para Guilherme Estrella, além de estar sob ocupação externa, o Brasil é hoje o maior laboratório econômico da História para o ultraneoliberalismo, em que grandes fundos internacionais de investimento, sem rosto, se unem a capitalistas locais para desmontar o Estado e os direitos trabalhistas.
Veja a entrevista com Estrella no topo deste post.
Comentários
Zé Maria
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Governo do PSDB/RS quer passar o rodo
na Estatal de Tratamento de Água e Esgoto,
acabando com a obrigatoriedade de Plebiscito
previsto em Dispositivo da Constituição Estadual,
porque sabe que o Povo é contra a Privatização.
Como será encaminhada a privatização da Corsan
https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/pol%C3%ADtica/como-ser%C3%A1-encaminhada-a-privatiza%C3%A7%C3%A3o-da-corsan-1.588994
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Apenas os Deputados do PT, PDT e PSOL são contra a Privatização.
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Comissão de Constituição e Justiça (CCJ):
Presidente: Tiago Simon – MDB
Vice-Presidente: Vilmar Zanchin – MDB
Titulares
Elizandro Sabino – PTB
Elton Weber – PSB
Frederico Antunes – PP
Mateus Wesp – PSDB
Sergio Peres – REPUBLICANOS
Sérgio Turra – PP
Tenente Coronel Zucco – PSL
Juliana Brizola – PDT
Pepe Vargas – PT
Suplentes
Adolfo Brito – PP
Dalciso Oliveira – PSB
Dirceu Franciscon – PTB
Ernani Polo – PP
Fran Somensi – REPUBLICANOS
Luiz Henrique Viana – PSDB
Patrícia Alba – MDB
Silvana Covatti – PP
Zilá Breitenbach – PSDB
Vilmar Lourenço – PSL
Eduardo Loureiro – PDT
Jeferson Fernandes – PT
Valdeci Oliveira – PT
http://www.al.rs.gov.br/legislativo/comissoes/nominata.aspx
Acesse o link abaixo, clique na cadeirinha
e envie e-mails para todos os Deputados,
com mensagem contra a Privatização:
http://www.al.rs.gov.br/deputados/
Nelson
Tudo dentro do normal, pois, ainda que tenha negado com firmeza que iria privatizar – repetindo outro governador de triste memória para a gauchada, Antônio Brito -, Eduardo Leite foi eleito, teve sua vitória financiada por um grande capitalista, para isso.
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Um “é dando que se recebe” explícito. Assim, o queridinho da mídia hegemônica daqui do Rio Grande está a entregar o patrimônio do povo a uns poucos grandes grupos econômicos, porque recebeu do grande capital uma boa turbinada em sua campanha ao Palácio Piratini.
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Em outubro de 2019, Leite lançou um pacotaço para detonar ainda mais o serviço público do Estado. Poucos dias depois, se bandeou para os Estados Unidos para ministrar palestras sobre gestão pública (sic).
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Ele governa com o nítido objetivo de acabar com o Estado e o serviço público e posa de grande entendido em gestão pública. Paradoxo? Não. Apenas um comportamento corriqueiro nesse mundo capitalista em que o combate à corrupção não passa de um jogo de cena montado para engabelar incautos e inocentes.
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Detalhe. Leite voou para os EUA sob o patrocínio de Jorge Paulo Lehmann. Mas, a mídia hegemônica e seus comentaristas, que se postam como ferrenhos combatentes da corrupção e dos desvios de recursos públicos, não chegaram a ver pelo menos algum inconveniente nisso.
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Bem. Quem é financiado por Lehmann vai governar em benefício de todo o povo ou, “pego pelo saco”, em benefício apenas do ínfimo estrato que mora do topo da pirâmide?
Henrique Martins
https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2021/03/4912706-sete-paises-que-tratam-bem-a-questao-da-covid-para-o-presidente-conhecer.html
Compartilhem por gentileza.
Lamentavelmente, nosso país tem o presidente mais ignorante do planeta.
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