Eliara Santana: “Tchau, Jair”, acena Globo para Bolsonaro

Tempo de leitura: 2 min
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Por Eliara Santana

Reprodução

Dos silenciamentos à desconstrução. Globo e Bolsonaro, o que vem por aí

por Eliara Santana*

As últimas três edições do JN primaram pelo silenciamento com viés negativo de Jair.

Mostraram as cenas dos panelaços, os sons dos panelaços, o “fora, Bolsonaro” cidade a cidade, bairro a bairro (com muitos“bairros nobres”), estado a estado, em todo o país.

Sem legenda. Sem narração. Sem interferência de uma voz externa. Apenas a voz do povo…

Não é uma estratégia aleatória nem tampouco recurso do momento. A relação Globo/Jair pode ser bem mapeada e explicada por essa maravilhosa categoria – silenciamento – e por essa brilhante estratégia – desconstrução.

O silenciamento como política editorial constrói-se na perspectiva de que é preciso dizer X para deixar de dizer Y.

Na primeira fase, como já dito aqui em alguns artigos, operou-se o silenciamento com viés positivo: Jair aparecia apenas em imagens, suas declarações eram filtradas (sua “voz” era a voz de Delis Ortis), ele raramente falava.

A ação era necessária para filtrar toda a imbecilidade propalada pela voz presidencial.

Era necessário calar Jair num sentido bom – ele aparecia, estava ali, mas não dizia – alguém autorizado dizia por ele.

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E funcionou, claro, quando ainda havia a ilusão de que Jair era o mal necessário para garantir a equipe econômica e o afastamento da esquerda. Mas isso foi mudando…

Na segunda fase, operou-se o silenciamento num viés negativo – Jair nem aparecia, ou aparecia raramente.

As investidas nas redes sociais mostravam que a criatura não era controlável e que não bastava um banho de verniz, era preciso, então, tirá-lo simbolicamente de cena, trazendo mais o ministro da economia ou o vice Mourão.

Jair não comentava mais nada relevante para o país. Ele não era mais uma voz de autoridade. Mesmo assim, ainda não era hora de desconstruí-lo totalmente porque, vamos combinar, o Nine estava saindo da prisão, dando a volta por cima… Aturemos o Jair, vamos passar mais um paninho.

Mas aí surge um vírus democrático para escancarar as intempéries de Jair e filhotes e mostrar que, sem comando central, o navio afunda.

As edições com os panelaços inauguram fortemente a fase da desconstrução.

Simbolicamente, Jair não está mais autorizado a ocupar o cargo que ocupa. Sua fala é absolutamente periférica e dispensável.

Para compor as últimas edições, os repertórios “ciência” e “solidariedade” ganham pleno destaque.

São categorias que, definitivamente, não compõem o menu do Jair.

Seu discurso agora não autorizado nega a ciência e desperta nos brasileiros o oposto à solidariedade.

No JN, há um Brasil que se ajuda. E um Brasil que venera a ciência – corte para os “panelaços do bem”, em homenagem aos profissionais de saúde.

Também fica claro que não há presidente ou um comando nacional. Jair não existe.

A língua é um instrumento de poder. Portanto, só tem direito à palavra quem tem competência.

A linguagem legítima, nos diz Bourdieu, é uma linguagem autorizada, uma linguagem de autoridade.

Por isso Jair não diz mais, os panelaços e os gritos dizem em seu lugar.

Na construção/desconstrução do JN, o povo fala, o povo tem a linguagem autorizada, o povo tem poder.

E o povo (também de varandas gourmet) diz “Fora, Bolsonaro”.

Não há um narrador a dizer. Há apenas a voz do povo. E o barulho das panelas.

Tchau, Jair…

*Eliara Santana é jornalista e doutoranda em Estudos Linguísticos pela PUC Minas/Capes.

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Eliara Santana

Eliara Santana, jornalista, doutora em Estudos Linguísticos, pesquisadora do Observatório das Eleições.


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Comentários

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Wellington Souza

Ninguém liga para esse debio mental. Todo mundo tá preocupado com a grana que tá perdendo com a economia ruim. Já vinha ruim e agora piorou muito. Muitos negócios irão a falência se ninguém for lá.
A raiva de todo mundo é que caiu a ficha que o Paulo Guedes também igual o chefe não entende nada de economia. Só sabe de banco, juros e olha lá.
Tá todo mundo saracuteando por aí normalmente com o corona no ar, os bares continuam cheios.
Rico pode ir em hospital particular. Nunca se importaram com os pobres pq iriam se importar agora.
A raiva é pq tão perdendo muito dinheiro na bolsa e em outros investimentos financeiros.
O Bozo só se preocupa com a economia por causa disso. Tá nem aí para o corona pq quem e mais afetado por isso será os pobres. No caso morte de covid-19.

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