Eliara Santana: A manchete deveria ser “Lula pode vencer no primeiro turno da eleição”
Tempo de leitura: 5 minPor Eliara Santana
LULA NÃO “LIDERA”, ELE PODE VENCER NO PRIMEIRO TURNO DA ELEIÇÃO – ESSA DEVERIA SER A MANCHETE
A nova pesquisa Ipec, divulgada ontem, 14-12, mostra o ex-presidente Lula com 48% das intenções de voto, ultrapassando a soma dos outros candidatos
Por Eliara Santana*, em seu blog
A pesquisa Ipec (ex-Ibope, instituto comandado por Márcia Cavallari) divulgada ontem, 14 de dezembro, é um banho de água fria para Sérgio Moro e os alucinados pela terceira via.
Um mês após sua filiação espetacularizada ao Podemos, com toda a exposição midiática, em todos os veículos, dia após dia, o ex-juiz e ex-ministro do governo Bolsonaro não está fazendo bonito. Pelo contrário.
Como demonstra a pesquisa Ipec, ele não decolou – está com apenas 6% das intenções de voto, apesar da fonoaudióloga pra minorar os efeitos do marrequês e da assessoria gratuita de Eliane Cantanhêde.
E o que a pesquisa de fato revela – e a pesquisa Ipec merece todos os créditos, pois é uma sondagem presencial séria, feita com bastante critério por uma equipe qualificada – é que o ex-presidente Lula vence, nos dois cenários projetados, em primeiro turno.
Lula tem 48% das intenções de voto; Bolsonaro tem 21%; Moro, 6%, Ciro Gomes tem 5% (ele e Moro estão tecnicamente empatados); João Dória tem 2% e empata com André Janones; Cabo Daciolo e Simone Tebet empatam com 1%. Alessandro Vieira, Felipe Dávila, Rodrigo Pacheco e Leonardo Péricles não pontuaram.
Brancos e nulos somam 9%; não sabem, não responderam, 5%. Esse é o resultado do primeiro cenário colocado – com um número maior de candidatos.
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No segundo cenário, com menos candidatos, Lula tem 49% das intenções de voto; Bolsonaro tem 22%; Moro, 8%; Ciro Gomes, 5% (mantém o mesmo percentual); Dória tem 3%; brancos e nulos somam 9%; não sabem/não responderam, 3%.
A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi realizada entre os dias 9 e 13 de dezembro e ouviu 2002 pessoas em 144 municípios brasileiros.
Resumindo: Lula, sozinho, supera a soma de todos os outros candidatos nas duas projeções feitas. Sem tempo na mídia corporativa, mas nadando de braçada nas redes sociais e na mídia não corporativa e nas articulações.
Na pesquisa espontânea, aquela em que o entrevistador pergunta em quem a pessoa vai votar, sem apresentar nomes, Lula tem 40% das intenções de voto; Bolsonaro tem 20%; Moro tem 2%. É um número bastante expressivo .
A última pesquisa Ipec, feita há dois meses, em outubro, mostrava Lula com 48% das intenções de voto. Ou seja, o ex-presidente mantém a tendência a ter quase 50% dos votos há dois meses.
A mídia e a pesquisa
O JN trouxe os resultados da pesquisa, com destaque para a reprovação ao governo Bolsonaro, que chega a 55%.
A reportagem, de 4 minutos ao todo, mostrou que “o ex-presidente Lula lidera isolado a disputa, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro”. E a matéria mostrou então os gráficos com os números dos dois cenários – com mais e menos candidatos. Não houve menção aos resultados da pesquisa espontânea.
E pronto. Nenhuma referência ao fato, importante sob meu ponto de vista jornalístico (talvez fora de moda), de que Lula tem mais votos do que todos os outros candidatos somados – o que significa que ele pode vencer ainda no primeiro turno.
Não estou cobrando destaques – entendo que é decisão editorial simular imparcialidade, mas é possível mencionar sem fazer assessoria de imprensa, por exemplo, “os dados indicam que Lula pode vencer em primeiro turno…”. É uma informação que está na pesquisa, os dados mostram isso, portanto, não é dedução ou torcida.
O arranjo curioso com os dados esteve também em outras manchetes. Na Folha de S. Paulo, por exemplo.
A reportagem do jornal diz que: “Nos dois cenários analisados no levantamento do Ipec, divulgado pela GloboNews nesta terça-feira, 14, o petista tem mais intenções de voto do que todos os outros possíveis candidatos somados. Isso indica a possibilidade de vitória de Lula ainda no primeiro turno da disputa”. Mas a manchete diz: “Ipec: Lula lidera no 1º turno, seguido por Bolsonaro e com Moro e Ciro distantes em 3º”.
Além de dar um jeitinho para falar de Moro na chamada, não mostra a possibilidade de uma vitória no primeiro turno (o que está consolidado desde a última pesquisa, feita em outubro) – essa é a novidade, me parece. Mas talvez a grande imprensa tenha uma ótica bem particular, como saberemos?
Alguns aspectos
OBS 1: Eleição é uma caixinha de surpresas, apesar de tendências que se consolidam. Temos ainda quase um ano antes da disputa em outubro de 2022, e aqueles que prepararam surpresas em 2018 podem voltar a tentar algo inédito.
Mas, o cenário naquele momento era outro, o antipetismo doido e raivoso estava à flor da pele, havia dois anos apenas do impeachment. Sergio Moro mandou prender Lula, o candidato com maior percentual de intenções de voto; Bolsonaro se envolveu no episódio da facada e ganhou tempo precioso de exposição na mídia.
Hoje, o brasileiro está comendo pé de galinha, o PIB cai, a economia não decola, a inflação corrói tudo, estamos no rescaldo do trauma da pandemia; em 2021, são cinco anos depois do golpe, são cinco anos sem o PT no governo – e o que isso mostrou ao país?
No mínimo, que os governos petistas sabiam governar… enfim, as surpresas são sempre possíveis, mas não vejo um horizonte muito propício para novos golpes. A não ser uma articulação para a retirada de Jair do cenário para colocar em evidência o juiz que prendeu o candidato com mais intenções de voto em 2018.
OBS 2: Na preferência de votos entre os evangélicos, Jair tem 33%, e está, segundo o levantamento do Ipec, tecnicamente empatado com Lula nesse estrato; Lula ganha entre os católicos, tem 54% das intenções de voto.
OBS 3: Sergio Moro tem mais destaque na Região Sul (11%), onde Jair tem a maioria das intenções de voto (29%), ou seja, os dois disputarão a região. O que é ótimo.
OBS 4: Segundo a pesquisa Ipec:
“Observa-se que as menções ao presidente aumentam quanto maior a renda familiar mensal e escolaridade dos entrevistados: passa de 14% entre quem tem renda até 1 S.M. para 30% entre que tem renda acima de 5 S.M.; obtém 18% das menções entre quem tem o ensino fundamental e atinge 25% entre os mais escolarizados”.
Me parece estarrecedor esse dado de 25% de apoio a Bolsonaro entre as pessoas mais escolarizadas, ou seja, um número expressivo de pessoas que têm muitos anos de educação formal apoiam Jair, o incomível. Inexplicável. Ou não…
OBS 5: Reinaldo Azevedo, que puxou o termo petralhas, agora cunha a sigla PIM – Partido da Imprensa Morista.
OBS 6: Pra fechar esse balanço, não posso deixar de mencionar a fala empolgada da Pablo Vittar, em entrevista ao Uol, sobre Lula: “Acredito muito na mudança que ele pode trazer”.
Parece que milhões de brasileiros também acreditam. De minha parte, digo que tenho já vários modelitos vermelhos para o dia 1º de janeiro de 2023…
*Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística pela PUC/UFMG.
Eliara Santana
Eliara Santana, jornalista, doutora em Estudos Linguísticos, pesquisadora do Observatório das Eleições.
Comentários
carlos
Se Deus quiser, porque no governo atual do apedeuta só usa a vilania para governar, nunca um governo mentiu tanto e ainda criticava o aparelhamento dos governos anteriores.
Zé Maria
“OBS 3: Sergio Moro tem mais destaque na Região Sul (11%),
onde Jair Bolsonaro tem a maioria das intenções de voto (29%)”
Não à toa, os 3 Estados da Região Sul (RS,SC, PR) são de maioria branca.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Sul_do_Brasil#Composi%C3%A7%C3%A3o_%C3%A9tnica)
Zé Maria
[OBS 7: E o Ciro desesperado, de tanto atacar equivocadamente o adversário errado,
está agora, desguarnecido, sofrendo o ataque do inimigo real, isto é: o Moro.]
Zé Maria
Detalhe
O Moro está nos EUA para combinar a manipulação
dos dados coletados pelas Agências de Espionagem
e aplicá-los contra os outros Candidatos no Brasil.
LUDO
E o Estadão não deu nenhuma linha sobre a pesquisa, na edição de hoje, mas deu meia página para falar do encontro entre o Moro e o Temer.
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