“PM filmou os presentes, prendeu arbitrariamente e provocou o tempo todo”
Tempo de leitura: 3 minFotos de Caio Castor para o Viomundo
Relato do professor da USP, Pablo Ortellado, sobre o ato-debate realizado nessa terça-feira, 1 de julho, na Praça Roosevelt, em São Paulo, pela liberdade de Fábio Hideki, aluno e funcionário da universidade, e do professor Rafael Lusvarghi e a ação da polícia sobre os presentes
por Pablo Ortellado, no Facebook, sugerido nos comentários por Leo V
“Participei hoje a noite do debate público pela liberação dos presos políticos que aconteceu na Praça Roosevelt. O debate não era uma manifestação — havia uma mesa e oradores simplesmente falariam para um grupo cerca de mil pessoas sentadas no chão. Apesar de ser apenas um debate, no meio da praça, a Polícia Militar enviou centenas de policiais da Choque e cavalaria, prendeu arbitrariamente e provocou o tempo todo os presentes. A sensação de todos nós é que a comparação com a ditadura não é mais metafórica. Simplesmente a liberdade de reunião e a liberdade de manifestação estão suspensas. Também como nos anos de chumbo, quem está dentro da ordem, apenas acompanhando e torcendo pelos jogos, nem percebe as graves violações pelas quais o país está passando.
Fui convidado para fazer uma breve fala pelos organizadores do ato-debate. Chequei com minha companheira Beatriz Seigner e logo encontrei amigos e conhecidos como o escritor Ricardo Lisias, o padre Julio Lancelotti, os professores da Unifesp Edson Telles e Esther Solano, além de muitos outros. Assim que cheguei, o advogado Daniel Biral, do grupo advogados ativistas me cumprimentou e relatou que o coronel que comandava a operação o tinha abordado e perguntado em tom ameaçador quem ele estava representando — ao que respondeu, “estou representando a democracia”.
Enquanto as pessoas aguardavam o começo do debate, dois policiais com capacetes e filmadoras passavam pelas pessoas e filmavam muito de perto o rosto de cada uma, em tom provocativo — sem qualquer motivo. Certamente esperavam alguma reação indignada para que pudessem revidar com bombas e agressões. No entanto, as pessoas apenas gritaram palavras de ordem contra a ditadura. Quatro policiais da Choque fizeram então um cordão de proteção em torno deles e durante todo o debate, esses policiais filmaram o rosto de todos os oradores a menos de três metros de distância da mesa.
Assim que as primeiras pessoas começaram a discursar, as prisões começaram a ocorrer. O advogado Daniel Biral, que já havia sido ameaçado pelo coronel, foi preso após protestar contra a falta de identificação dos policiais. Aliás, ele não foi simplesmente preso, foi também agredido e com tanta brutalidade que ficou desacordado na viatura. Com ele, foi também presa a advogada Silvia Dascal.
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Os organizadores conseguiram acalmar a indignação dos presentes e retomar os discursos. Menos de dez minutos depois, policiais revistaram de maneira completamente desnecessária e gratuita um rapaz negro que andava pela rua, bem ao lado do debate, numa atitude novamente provocativa. A imprensa foi toda para lá, o público pediu pela soltura do rapaz e a PM jogou bombas, atirou balas de borracha e gás lacrimogêneo e terminou prendendo outras duas pessoas.
Novamente os organizadores conseguiram acalmar os ânimos e retomar o debate. A Tropa de Choque fechou todos os acessos da praça e ficou por mais de uma hora em formação, pronta para atacar. A presença policial muito numerosa e ostensiva era apenas para intimidar e tentar uma provocação para um ataque massivo que seria um verdadeiro massacre. Amigos e amigas que ainda não tinham participado das manifestações dos últimos dias estavam chocados. Todos só falavam da volta da ditadura.” (Pablo Ortellado)
[As fotos e o vídeo deste post foram feitos por Caio Castor, especialmente para o Viomundo. A produção de conteúdo exclusivo só é possível graças à colaboração de nossos assinantes. Torne-se um deles].
Libertem nossos presos – Praça Roosevelt, São Paulo from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
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Comentários
Erico Almeida
A tática de Alkmin, de seu governo, e da direita é forçar a corda para ver se ela arrebenta. Querem tensionar, em vez de distensionar. Para seus objetivos eleitorais (ou golpistas) interessa o confronto. Quem quiser ser um “inocente útil”, bucha de canhão dos reacionários, aceite as suas provocações, reaja de forma igualmente violenta, e participe assim do circo armado pela direita.
A violência policial precisa ser denunciada, mas não confrontada.
Cláudio
… “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …
Valdeci Elias
O governo de São Paulo, está querendo provocar uma revolta popular . A toda ação há uma reação. A PM paulista não está agindo a toa.
ricardo silveira
tá
Alex Back
A contar pelas opiniões esdrúxulas expressas aqui entre os comentários, apoiando a brutalidade policial… não tenho dúvidas sobre a necessidade de preparar meus filhos para que possam optar no futuro por viverem em algum país que ainda preze pela liberdade.
Se ensaia claramente a implantação de um Estado Policial, enquanto governantes federais e estaduais se refestelam em estádios nababescos.
Se advogados são presos arbitrariamente e brutalizados, em praça pública, sem medo da reprovação dos olhares dos presentes e do registro das câmeras, só falta o último passo: fazer tudo isso a luz do dia.
abolicionista
Vergonhosa a tentativa governista de tirar o corpo fora. Compactuam com o autoritarismo explícito e traem seu próprio passado.
Narr
O ovo da serpente: quanto mais Haddad escuta os movimentos sociais, mais cai na popularidade; quanto mais a PM de SP baixa o pau, mais Alckmin sobe nas pesquisas.
Patricio
Policiais fardados ou P10, PMs ou GCMs não passam de um bando de covardes inúteis.
– Agora, na manhã de quinta feira, dia 3 de julho de 2014, a GCM de Itapevi invadiu o acampamento do MST. Sem aviso ou ordem legal, aterrorizam a vida de famílias de trabalhadores.
– Uma artista, a Palhaça Lua, Luana Barbosa, dia 27 de junho, durante uma manifestação em Presidente Pudente, foi assassinada por um policial que mirou e atirou, simplesmente, em suas costas .
Está claro que é uma ONDA de repressão policial ILEGAL em pleno estado de direito, às vésperas de uma eleição democrática, comandada por brutamontes a partir do centro de poder. Sua mira está apontada para os movimentos sociais,ou seja contra os trabalhadores. É uma situação INACEITÁVEL para aqueles que lutam por justiça neste país.
Ações práticas – é o que o momento está pedindo. Não dá para ficar só reclamando neste espaço democrático.
willamy egídio batista
Esse é um dos poucos espaços que temos para fugir da grande mídia nacional golpista e preconceituosa. Entretanto, é ridículo, contraditório, demagogo e hipócrita a forma como vocês transformam a PM paulista no pior dos males. De um lado, de forma contraditória ao mesmo tempo em que,corretamente,criticam movimentos violentos e golpistas ante copa do mundo; de outro criminalizam todas as ações policiais, a grande maioria delas legítimas. Parem de ser demagogos. Não se combate um grupo de criminosos (criminosos sim, crimes de incêndio ou dano a depender do caso concreto) com flores. A Constituição Federal e a legislação correlata atribuem ao Estado o dever de agir, inclusive utilizando-se da força necessária para combater tais movimentos, que de democráticos não têm nada.
Luiz Lopes
Fumaste algo mais forte? Pois estas a dizer sandices.
Patricio
Nenhum argumento que os coxinhas possam oferecer desmentem isso:
A PM paulista é o pior dos males.
E há uma lista enorme de males na terra do Serra (e este, por incrível que pareça, é o menor).
abolicionista
No Brasil o direito de reunião está assegurado no inciso XVI, art. 5 da Constituição da República Federativa do Brasil.
Sagarana
E o de depredar, vandalizar etc. Está em que artigo?
abolicionista
Acho que você está se referindo ao regulamento interno da PM, né?
Alex Back
O sujeito não leu o artigo acima, não é possível.
Trata-se de repressão, pura e rasteira!
Trata-se de brutalidade contra quem estava simplesmente debatendo idéias!
Trata-se de covardia total!
ricardo silveira
Impedir “a liberdade de reunião e a liberdade de manifestação” é inaceitável sempre, em qualquer governo, seja de esquerda, direita ou centro, se é que é possível. Mas, comparar essa molecada que incendeia ônibus, impede o transporte público, quebra orelhões, agência bancária, etc. com a resistência de brasileiros honrados que lutaram nos anos de chumbo, agora, em pleno Estado Democrático de Direito, é de uma canalhice sem tamanho. Ganhem eleições e tornem-se governos, mas com a verdade e o debate político, sem enganação, não estamos mais nos anos 60.
Luiz Lopes
Policial sem identificação também é black block.
Leo V
É de impressionar a capacidade de distorção dos fatos por certos leitores.
Um debate em praça pública pela liberdade de presos políticos.
O que tem a ver isso com incendiar ônibus etc etc.?
Pois bem, segundo seu raciocínio a polícia tem carta branca para fazer qualquer coisa com qualquer um porque um dia, em algum lugar, por algum motivo alguém incendiou um ônibus e quebrou uma vidraça de banco.
Por favor, um pouco mais de razão na discussão.
ricardo silveira
Por acaso essa molecada está lutando por reforma política sem financiamento privado de campanha? Está lutando para que o dono da empresa de ônibus sente à mesa para dividir a conta da tarifa zero? Está lutando pela democratização da mídia e, portanto, pelo fim do oligopólio dos meios de comunicação? Acham que vão virar a mesa na marra? É muito mais fácil ocupar os espaços democráticos que existem e ampliá-los, ganhar o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais, as Câmaras Municipais. Conturbar o Estado Democrático de Direito que precisa ser melhorado em muito não me parece o caminho. É evidente que ninguém quer a polícia que temos, mas a questão aqui não é de polícia, é de Política.
lulipe
Não toleram o respeito à lei, à ordem, à disciplina, querem a bagunça, ou então a polícia somente quando convém…Mais uma vez parabéns a PM, em SP tem lei, gostem ou não!!!
abolicionista
Só que não é a lei que está na constituição, meu caro. Essa garante a liberdade de reunião, de resto um direito básico em qualquer regime democrático.
A lei em vigor em SP se chama “a lei do mais forte”.
Um dia ela também te pega, capacho.
Assis
O Fábio é estudante e funcionário da USP, mas, o Rafael não e professor como profissão, é técnico de informática e da aulas de inglês. Existem matérias anteriores ligando ele a outros atos de violência. Me lembro claramente de um matéria sobre ele na manifestação do dia da abertura da Copa. onde foi detido e depois liberado.
Leo V
Assis,
Qual ato de violência do professor de inglês Rafael?
Ser detido é ato de violência? Levar spray de pimenta quando está imobilizado é ato de violência? Levar duas balas de borracha no peito é ato de violência?
Engraçado, a que ponto chegamos. A pessoa que é vítima da barbárie policial, registrada em fotos e videos, repercutida até nos grandes jornais, é que é tratada por violenta! Em que mundo estamos?
Julio Silveira
Por que os prefessores também não usam do método de filmar, inclusive os policiais, para pelo menos terem um contra ponto quando forem acusados de encrenqueiros etc.., ficam nas mãos dos PMs e sua versão, precisam estar mais preparados para a midia, até pareçe a comunicação do PT, que reclama depois que apnha mas pouco faz para mostrar o contrario esperando apenas pela boa vontade dos apoiadores. Assim acaba ficando muito pesado pros parceiros carregarem.
Zanchetta
Gozado, nunca ouvem o outro lado… então fica só uma versão. E reclamam do PIG…
Outro dia tinha um vídeo da prisão de um advogado a partir do momento em que a polícia o deteve. O que ele tinha feito antes também não foi documentado, ou foi editado…
Rapaz
Se puder explicar o outro lado ao qual se refere, agradeceria.
Marcos
Isto é feito porque existe um carte entre o psdb, o pig e parte importante do judiciário. Temos que reconquistar a democracia, o passo principal é a democratização da mídia.
ZePovinho
Acabei de assinar mais um ano,Azenha!Boa sorte,cara!!!!!!!!!!!!!!!
Orlando Fogaça Filho
Muito bom o relato. Muito preocupante também.
Só faltou dizer e não sei porque a omissão, que a polícia e repressão são responsabilidades de PSDB e do Alckimim. A ditadura seria então no Estado de São Paulo, perpetrada pelo governo local. Faltou o pingo nos is.
Leo V
Ah sim, cada partido tentando tirar o corpo fora…
Olha, é evidente que o governador do estado é chefe da PM do seu estado.
Mas também é verdade que os estados estão tendo todo, eu disse, todo o apoio para repressão do governo federal: seja com leis de exceção (lei geral da Copa), sejam com declarações de apoio do Ministro da Justiça, seja com o silencio cúmplice do governo federal.
E para lembrar, inquérito político também está rolando no Rio Grande do Sul, governado pelo PT. Ano passado, no RS, a polícia invadiu sede de organizações políticas e apreendeu livros (alguns publicados pela prefeitura de Porto Alegre quando era governada pelo PT), como “prova” de algo…
Pode ter diabo mais feio, mas santo governante não existe nessa história…
emerson57
“o coronel que comandava a operação”
Está ERRADO.
O comandante da operação Não era o coronel. Apesar de ser coronel ele também recebe ordens.
O real comandante tem nome e sobre nome:
Geraldo Alckmin.
Marcus
Ditadura que o país está passando? Como, oi, o que? O País ou o Estado de São Paulo? E a ditadura de fechar ruas, impedir o ir e vir, a violência, a dilapidação do patrimônio público e privado? A isso dá-se o nome de que, mesmo? Ditadura?
Eduardo
Macrus, estava conversando com meu pai ontem sobre esse assunto. Ele que já passou dos 70 anos, ficou muito bravo com o uso exagerado dessa palavra: “ditadura”.
Disse mais ou menos assim: filmar o ato é ditadura? não deixar que se façam depredações é ditadura? Claro que os abusos e as prisões “arbitrárias” são condenáveis, mas comparar isso com a ditadura que o país passou é ridículo. As pessoas não eram só presas, simplesmente SUMIAM! Se a pessoa não tivesse portanto sua carteira de trabalho podia ser presa por vadiagem…e por aí vai
Editorial do Povo
A quem recorrrer? à ONU? Não adianta pelo histórico da mesma.
Aqui dentro? A quem?
E no caso nem há a desculpa da Copa. Era outro assunto.
urbano
Aí stalin, mussolini e hitler vão ao delírio… seus dna sempre em alta.
Patricio
Uma sugestão ao blog.
Facilitem a colaboração de documentaristas que se disponham a postar aqui as imagens captadas nas manifestações. Pela quantidade de material captado nelas, é possível ter uma ideia mais precisa da truculência desses animais.
( Desculpem-me, animais )
Não tem sentido que pessoas do movimento colham material tão rico e não sejam publicados. Tirando o fato de que é documento – e documento tem que ser publicado – esse material também é uma forma de lutar contra a ditadura.
Conceição Lemes
Patrício, estamos abertos, sim. É só nos mandar. Podem mandar pra [email protected] ou pra mim diretamente: [email protected]
abs e obrigada
Leo V
Eu acho que se a presidenta Dilma veio à público dizer que manifestações “pacíficas” durante a Copa seriam permitidas (e ela não poderia ter dito outra coisa obviamente), para que não seja tida como hipócrita, seu governo, através da Secretaria de DH, ou do Ministro da Justiça, ou dela própria, não deveria se omitir diante do que ocorre, pois o silêncio tem o tom da cumplicidade.
Se a questão são dos governos estaduais, que mandam nas polícias, e do Judiciário, sobre quem o Executivo não manda, então por que ela veio a público dizer que manifestações não seriam proibidas?
Ou ela tem poder, e então assim como deu aquele pronunciamento deve intervir de alguma forma diante do que ocorre, ou deveria ter ficado calada antes, pois seu silêncio agora denota hipocrisia e cumplicidade com o Estado de Exceção explícito que vivemos.
Não é de admirar essa cumplicidade do governo federal uma vez que antes da Copa já faziam passar uma série de decretos e leis que suspendiam direitos constitucionais.
Hell Back
A polícia é de São Paulo, portanto o governo federal não é responsável por isso.
Leo V
Se não é responsável e não tem nenhuma capacidade de ação quando direitos humanos e civis são violados, por que Dilma veio à público afirmar antes da Copa que o direito a manifestações “pacíficas” estaria garantido?
Por que o Ministro da Justiça vem a público quando é para garantir mais forças repressivas aos governos estaduais?
Por que a presidenta Dilma vem à público se solidarizar com um coronel da PM paulista que apanhou numa manifestação mas nunca, nunca vem à público se solidarizar com a família de mais uma criança vítima de uma bala policial numa favela do Rio, ou com manifestantes e advogados brutalizados por um coronel e sua polícia?
Pode ter diabo mais feito, mas santo governante não existe no estado de exceção que estamos vivendo.
abolicionista
E a desmilitarização da polícia só pode ser levada a cabo em esfera federal. Como o ministro ofereceu o exército para auxiliar na repressão, só podemos pensar que a vontade política dos governantes vai no sentido oposto.
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