por Luiz Carlos Azenha
Recentemente o Eduardo Guimarães refutou artigo de um ex-economista-chefe da Febraban, publicado na Folha de S. Paulo, sobre a tentativa que ele, ex-assessor da poderosa Federação dos Bancos, sugeriu ser fadada ao fracasso: a dos bancos oficiais brasileiros, de reduzirem o spread (taxa de risco) nos empréstimos como forma de forçar os bancos privados a fazerem o mesmo.
Felizmente, neste caso, o articulista foi identificado, embora sem muita clareza: Roberto Luis Troster, 61, doutor em economia pela USP, é consultor. Foi economista-chefe da Febraban e professor da PUC-SP, Mackenzie e USP.
Consultor de quem?
Na mesma linha, o blog Amigos do Presidente Lula denunciou que os jornalões estariam colocando em dúvida a eficácia da estratégia adotada pelos bancos estatais recorrendo a “especialistas” não identificados.
Um trecho do post, que se refere a texto do jornal O Globo:
Segundo interlocutores [“interlocutores” são os bancos privados que plantaram a matéria no jornalão], os bancos privados avaliam que o spread (diferença entre o custo da captação e o valor cobrado do tomador final) somente cairá com a adoção de medidas de longo prazo, que melhorem as condições legais e tributárias e não apenas corte de juros “na canetada”. Eles acreditam ainda que, mesmo com os cortes significativos nas taxas cobradas pelos bancos públicos, não vão perder clientes, porque há uma resistência natural em trocar de banco.
Pois é bom saber que, fora do Brasil, esse estado de coisas está mudando.
Na edição de março de Le Monde Diplomatique, Renaud Lambert relata que desde janeiro deste ano a Associação Norte-Americana de Economia, AEA, faz uma exigência a seus associados:
Desde o começo deste ano, os artigos publicados nas revistas científicas por membros da associação devem revelar os eventuais conflitos implicando seus autores. Os economistas deverão assim identificar e mencionar as ‘partes interessadas’que lhes tenham pago uma remuneração financeira importante, quer dizer, um valor total ou superior a U$ 10 mil, ao longo dos três últimos anos (comunicado do dia 5 de janeiro de 2012). A medida se aplicará também às somas recebidas pelos “próximos”.
E mais:
Depois do sucesso do documentário Inside Job, de Charles Ferguson, a irritação se tornou palpável. Os emolumentos de alguns conselheiros próximos ao presidente Barack Obama implicados na liberalização do setor bancário tinham levantado questionamentos na opinião pública. Como Lawrence Summers, diretor do Conselho Econômico Nacional (National Economic Council), remunerado em U$ 5,2 milhões, entre 2008 e 2009, pelo fundo especulativo D.E. Shaw e em até U$ 135 mil por suas conferências, mais frequentemente organizadas por empresas financeiras — sem contar seus freelances (generosos) no Financial Times. A cólera cresceu também dentro da profissão. Durante 2011, explica-nos George DeMartino, da Universidade de Denver, “uma série de estudos científicos demonstrou que os conflitos de interesse constituem mais a regra que a exceção”.
A partir disso, um abaixo-assinado de mais de trezentos economistas provocou a decisão da AEA.
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No artigo, Economistas engajados, Lambert demonstra que o que vale nos Estados Unidos não vale na França, onde “especialistas” pontificam na mídia sem identificar possíveis conflitos de interesse. Se serve de consolo a ele, podemos dizer que o mesmo acontece no Brasil.
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Comentários
CLP
Pois e , são os mesmos economistas que sao chamados a opinar sobre o Funpresp, o fundo que privatizou a previdência dos novos servidores federais e acabou na pratica, com a aposentadoria integral, um dos últimos atrativos para a carreira publica que ainda existia.Sendo que os bancos para os quais trabalham serao os maiores beneficiados com o tal Funpresp.Interessante que neste caso , ninguem ligado ao governo nem os "amigos do Presidente Lula" critica esta promiscuidade.Ai , os mesmos que agora criticam elogiam e dizem que o governo acertou pois havia um "consenso " sobre o assunto…
Jotapeve
Acabei de assistir ao Jornal Nacional, e incrivelmente, nenhuma palavra foi dita sobre a redução dos juros pelos bancos estatais. Um dos patrocinadores deste telejornaleco é o Bradesco, será mera coincidência?
Por aí dá pra ver o vespeiro que a Dilma vai ter que enfrentar para reduzir os juros e os lucros escandalosos do sistema financeiro que corrói nossa economia.
Noir
No meio da publicidade e da propaganda, existe uma ferramenta chamada "Jabá". O jabá é molhar a mão de quem decide uma compra ou benefício para alguém ou empresa.
Acredito que as matérias de muitos jornalistas são alimentadas pelo "Jabá" de grupos interessados.
Podemos verificar de forma mais nítida, quando o jornalista, normalmente os que escrevem sobre administração e economia, demonstram opiniões tendenciosas e contra o bom senso.
Ler jornal hoje, é para quem é de circo.
Fabiano Araújo
A ciência de um modo geral está contaminada pela ideologia, inclisive as chamadas, indevidamente, "exatas". Na realidade estas são ciências da natureza e sofrem influência ideológica Para constatar isto, basta recorrer a Niels Bohr, um dos construtores da mecânica quântica. Se isto é verdade para as ciências da natureza, com mais propriedade é verdade para as ciências sociais, como é o caso da Economia ( a propósito, os primeiros teóricos da Economia a chamavam de "Economia Política". Aliás, o termo "Política" caiu para ocultar interesses ideológicos). Por essa razão, quando se lê análises econômicas, mesmo aquelas que se pretendem extremamente técnicas, não se deve esquecer que tais análises tem viés ideológicos e/ou interesses econômicos e financeiros.
internauta
Tô saindo do Santander em breve. Já tava demorando, pois depois que deixou de ser Real percebi-o caindo muito de qualidade (demora nas filas além da lei, falta de dinheiro em caixa em fins de semana, informação incompleta no meu talonário induzindo-me a erro….).
Não deixem que a mídia impeça que Dilma baixe os juros | Blog da Cidadania
[…] encerra já produziu resultados. O site Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, também está repercutindo o assunto e dando valiosa contribuição ao trazer exemplo de medidas de combate a esses […]
josé maria de souza
Caro Azenha:
no mesmo dia em que a Folha publicou o artigo do tal Troster , mandei o seguinte comentário (não publicado, é claro) ao Painel do Leitor, com cópia à ombudsman-
"Senhor Redator:
Depois da matéria de hoje, 6/abril, no Tendências/Debates, é quase certo que o Sr. Roberto Luis Troster volte a ser o economista-chefe da Febraban. Só faltou ele escrever que o Tombini e o Mantega devessem ser substituídos no Banco Central e no Ministério da Fazenda pelo Lázaro Brandão e pelo Roberto Setubal e que a Presidente Dilma o convidasse como assessor-mor para assuntos de economias mundial e extra-terrestre! ."
E hoje, por incrível que pareça, saí um artigo na mesma linha (Carteirada no mercado) de um dos colaboradores semanais do jornal, um tal de Gustavo Cerbasi, parece que autor de livros e textos e palestrante de "auto-ajuda" econômico-financeira. Será que este pessoal e a própria Folha pensam que seus leitores são idiotas?
Abraços,
josé maria de souza
RicardãoCarioca
Pelo jeito, eles têm certeza.
jorgegeneroso
Concordo.
Ricardo J.F. Almeida
Em toda análise há duas visões, e na financeira há bem mais do que isto. Cada um analisa pelo enfoque de seus interesses, e quase sempre estes interesses são dos valores recebidos como remuneração de quem contrata. Estou cansado de ler pseudos desconhecidos, mas que são elevados a categoria de * notáveis por uma mídia que só aborda matérias pagas para tentar influenciar decisões que mantenham seus interesses intactos. Enquanto havia espaços para o contraditório, mesmo de anônimos, mas que possuem visão mais abrangente do que estes notáveis buscam difundir, nos meios de comunicação, podia se chegar a conclusões mais próximas da realidade dos fatos reais tratados. Exemplos desta realidade? Setor de Opiniões do Estadão. Eliminaram o contraditório, hoje só espaço para lançar e arrecadar com os anúncios e propagandas de certos setores de nossa sociedade. Este tema, JUROS BANCÁRIOS, lá mesmo foi largamente combatido a decisão governamental de baixa-los via ação dos Banco Públicos.
Enquanto não houver garantido o espaço para o contraditório neste tipo de *análise destes *notáveis idiotas, estaremos sujeitos a *crises fabricadas que tem como pano de fundo, manter inalterado o roubo e o desrespeito sobre a maioria dos contribuintes e cidadãos deste país.
O_Brasileiro
"Vigiai e orai!"
Agora é hora de sabermos o que realmente é lucro advindo das tarifas exorbitantes, dos seguros e das operações de empréstimo.
É bom ficar de olho no balanço real desses bancos!
Quem está cuidando? A BMF & Bovespa? O Banco Central? Os dois?
Parabéns ao governo Dilma pela coragem de enfrentar os banqueiros. A gente entende que não dá pra enfrentar todos (ruralistas, mega-empreiteiros, mega-empresários e banqueiros), mas enfrentar os agiotas dos bancos já é um bom começo! O povo não agüenta mais tanta agiotagem, tanta extorsão.
Marat
Um célebre educador, psicólogo, psicopedagogo e diretor de escola me disse que o primeiro passo para um país se impor é pelo idioma… vejo proliferar cada vez mais escolas de inglês por SP. Além disso, vejo muitas e muitas pessoas optando por religiões (e pseudo-religiões) estadunidenses e de alguns países-escravos dos EEUU situados na Europa, vejo as pessoas assistindo cada vez mais enlatados estadunidenses (alguns bons, outros de péssima qualidade); vejo muitas pessoas lendo bobagens de auto-ajuda de autores estadunidenses e, principalmente, vejo que há uma verdadeira invasão de filmes estadunidenses em nossos cinemas (será que ao menos eles pagam impostos?).
Bem, essa verdadeira invasão cultural, econômica e política encontra um enorme re$$$paldo nos meios de comunicação. Quantos e quantos jornalistas pagos para defender as idéias estadunidenses não infestam nossas redações? Será que esse número diminuto de pessoas, aliadas a uns 30% de nossa população podem e devem se impor ao resto da nação? Uma Ley de Medios cairia muitíssimo bem.
Precisamos de gente séria, honesta, competente e engajada pelo bem do BRASIL e do POVO BRASILEIRO!!!
Chega de embustes!!!
Eduardo Guimarães
Azenha, essa é uma medida interessante. Dá bem a dimensão do descompasso com o Brasil.
Veja que exigem essa transparência em um país em que é preciso que os bancos trabalhem uma década para auferir rentabilidade como a dos bancos brasileiros.
A situação, no Brasil, é um escárnio. Não sei se viu a cara do tal Troster lá no blog. Ou se leu o que está escrito na testa dele.
Seu texto vem a calhar em um momento em que esse assunto precisa ser debatido. Tentarei voltar ao assunto hoje – ainda estou penando naquele hospital.
—-
PS: e a questão do plano de saúde, já viu?
Luiz Carlos Azenha
Edu, me informe se posso ajudar em alguma coisa com a sua filha. abs fraternos.
Eduardo Guimarães
Azenha, ela tem tudo. Melhor UTI, um dos melhores hospitais. Só falta seu organismo reagir. E está bem difícil, meu velho. Temos (a família) que manter a cabeça fria senão a gente pira e isso não vai ajudar a Victoria. Agora, naquele caso que você me falou, talvez eu que possa ajudar. Tem que pôr no pau, companheiro. Sem perder tempo – meu advogado pode fornecer informações. Qualquer coisa me liga.
renato
Desculpe a intromissão.
Pediremos todo o bem por Victoria.
Lindo nome.
Eduardo Guimarães
Grato, companheiro
Eunice
Manter contas no Banco do Brasil. Primeiro precisa melhorar o atendimento, os caixas eletronicos. E vamo que vamo pra lá.
Edmorc
O oligopólio dos bancos e sua tradicional cantilena: custo brasil, carga tributária excessiva (será que eles pagam % maior que a classe média retida na fonte???), riscos de calote, encargos trabalhistas, etc. Só não mencionam a questão central: sua margem de lucro inaceitável em uma economia supostamente de mercado. Não aceitam reduzí-la e para isso, mantêm em sua folha de pagamento, economistas "deformadores" de opinião, que publicam artigos em grande jornais (em que a banca é grande anunciante) sempre alertando para as famosas iminentes catástrofes. Isto só vai ter solução quando perderem clientes para os bancos oficiais.
jaime
No fim de semana prolongado, o canal público brasileiro divulgou (à 01:00 da madrugada) uma entrevista do Nassif com um economista e um matemático. Entre outras coisas, todos concordaram que a fórmula utilizada para o cálculo da meta de inflação não passa de uma "regra de três turbinada" cujo teor exato ninguém consegue dedifrar e que isso dá o tom da "economia voodoo" praticada no Brasil.
Fabio_Passos
A promiscuidade entre os interesses dos especuladores que ganham com os altos juros e os "especialistas" recrutados pelas oligarquias midiaticas é total.
Estes "especialistas" são empregados dos mega-especuladores que roubam o Brasil aproveitando os juros absurdos.
Todo mundo sabe disso, inclusive o governo, que demorou para colocar a Caixa e o BB orientando o mercado para um caminho sadio e vantajoso aos interesses nacionais.
A realidade é que rede globo, fsp, estão e veja são sócios do parasitismo rentista que desgraça o Brasil desde o desgoverno do finado fhc.
especuladores & mídia-corrupta: Comunhão de larápios.
luiz pinheiro
O sucesso do engajamento dos bancos públicos no combate à agiotagem bancária será uma vitória muito importante para o Brasil. Sugiro uma ampla campanha para todos os brasileiros mantermos nossas contas no BB e na CEF, que são bancos honestos. Afinal, que sentido tem criticar tanto os bancos privados corruptos e mesmo assim manter contas neles? Para que?
Marcio H Silva
Bem, eu só tenho conta no BB, porque na minha opinião é o Banco mais seguro. o BB só quebra se o Brasil quebrar. Os privados quebram quando os donos querem.
marcio_cr
Se estivéssemos falando do setor produtivo, eu diria sim que as medidas tomadas pelo governo são meramente paliativas e o que precisamos são das reformas que estão prometidas a mais de uma década.
Mas o mercado financeiro? O que todo ano lucra cifras em torno de bilhões, sempre quebrando records de lucratividade. E agora está a chorar que precisa de reformas para poder diminuir os mais caros juros do mundo? Isso é choro de quem se acostumou com a bonança e agora corre o risco de ter que lucrar um pouco menos.
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