#OcupeEstelita e os barões da destruição imobiliária em Recife

Tempo de leitura: 4 min

por Beatriz Brusantin, via Facebook*

Você já ouviu falar do movimento #OcupeEstelita?

Pois está ocorrendo em Recife e é contra um Consórcio chamado Novo Recife da construtora Moura Dubeux e com grande apoio do prefeito Geraldo Julio (indicado de Eduardo Campos).

Trata-se de um projeto repleto de ilegalidades e em cima de um leilão fraudulento. A ocupação está ocorrendo desde a madrugada do dia 22, quando na calada da noite, a Moura Dubeux, sem alvará começou a demolir históricos Armazéns de Açúcar.

Até hoje cerca de 50 pessoas estão ocupando o lugar com diversas atividades culturais, educativas e de conscientização cidadã, que estão atraindo muitos.

A imprensa pernambucana, contudo, silencia sobre o tema.

Obviamente, porque faz parte da “máfia”, a qual tem apoio do Eduardo Campos uma vez que seu partido recebeu uma doação de milhões por parte da Moura Dubeux. Veja as páginas do Direitos Urbanos e observe a movimentação. A veiculação deste movimento seria uma imensa contribuição.

*Beatriz Brusantin (Dra em História Social, prof. universitária)

Apoie o VIOMUNDO

Ilustração acima do blog da Engenharia

por Luciana Santos, via Facebook

Sou de Recife e neste momento há um movimento, o #OcupeEstelita, em que a população reivindica o Cais José Estelita, um conjunto histórico de galpões e área ferroviária para ser transformada em um projeto para a cidade. No entanto, a prefeitura tem agido a favor da construtora Moura Dubeux, responsável pelo Projeto Novo Recife, que planeja construir 13 edifícios de até 40 andares, transformando a área em propriedade privada, demolindo os galpões e descaracterizando a paisagem urbana.

Esta mensagem é para que espalhem o movimento nesta página para que mais pessoas no Brasil saibam da situação, que diz respeito também ao candidato à presidência, Eduardo Campos, e está sendo ignorado ou desvirtuado pela imprensa, que não ouve as alternativas que a opinião popular quer mostrar para o projeto.

É muito importante que isto seja compartilhado para ganhar uma boa dimensão nacional.

Por Felipe Melo, professor de biologia da UFPE

No Direitos Urbanos

Há muitos paralelos entre as teorias ecológicas e a nossa vida como sociedade humana. Apesar de Darwin ter dado o golpe final na ideia de que somos especiais na natureza, o ‪#‎OcupeEstelita‬ vem, 150 anos depois da Origem da Espécies, dar uma evidência inequívoca de que nesse habitat que é a cidade, a ecologia humana faz cada vez mais sentido, somos bichos. E como bichos humanos, quando não estamos satisfeitos com o nosso hábitat, nós o transformamos.

As cidades são o resultado final de um processo de domesticação da natureza que começou desde que aparecemos na terra.

Construir um parque com grama e árvores plantadas ou arranha-céus de vidro são faces da mesma perseguição pela domesticação da natureza. Somos todos na atualidade a resultante desse processo histórico-biológico, talvez encravado na memória de nossos genes que é o de construir nosso próprio hábitat. A diferença está na extensão dos benefícios da domesticação do hábitat urbano. Está no entendimento de qual tipo de domesticação da paisagem e da natureza são desejáveis e quais deles definitivamente funcionais para o hábitat como um todo.

Portanto é de uma tolice imensa achar que as pessoas que ocupam o cais José Estelita nesse momento são neo-hippies saudosistas pregadores da volta à natureza intocada, da não-intervenção nos espaços. Ora, é justamente o contrário que nos move nesse momento, é o desejo de intervenção na cidade. É o desejo de que aquele espaço seja parte de um hábitat, que ele se integre a uma funcionalidade tão necessária para nossa casa. Neste sentido o grupo Direitos Urbanos é didático ao convidar toda a sociedade a discutir democraticamente um modelo de hábitat urbano que seja de fato representativo e funcional.

A palavra ecologia vem do grego, “oikos” que significa casa ou hábitat num sentido mais amplo e ganha força na ciência uma nova concepção de ecossistemas, a ideia de “antroma” e não mais de “bioma”. É a constatação/concepção de que já domesticamos boa parte da natureza e que não é possível pensar ecologicamente os espaços da terra sem a presença humana.

Tal concepção tem aproximado a ecologia dos hábitats urbanos e emprestados conceitos e ferramentas interessantes para o entendimento e planejamento das cidades. Eis então que sob a ótica ecológica moderna (falo da ciência ecológica dura e rigorosa) o “Projeto Novo Recife” termina sendo, paradoxalmente, justamente o contrário da domesticação da natureza. É o apogeu de um modelo concentrador de recursos naturais, desperdiçador de energia, promotor da entropia (caos) e emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global e, sobretudo dilapidador de uma das mais importantes propriedades dos sistemas biofísicos, a resiliência. Esta é a capacidade de recuperação dos sistemas frente às perturbações.

Ao permitir que a cidade abrigue em uma das suas porções mais importantes um empreendimento dessa natureza, estaríamos reduzindo mais um pouco a resiliência do Recife, condenando esse ecossistema urbano que é a cidade à instabilidade aguda da qual já padece cronicamente. É deixar escapar justamente a possibilidade de adaptar nosso hábitat às nossas necessidades, que seguramente não são mais uma dezena de torres gigantes de apartamentos e algumas dezenas de milhares de carros.

Por isso, #OcupeEstelita!

Leia também:

Marcelo Freixo: No Rio, Globo é sócia de um projeto autoritário de cidade

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Torres

“O Conselho Nacional de Justiça vai apurar denúncias contra um magistrado pernambucano muito afeito a processos envolvendo grandes cifras.

Francisco Galindo, até outro dia juiz substituto do Tribunal de Justiça de Pernambuco, era conhecido por assinar decisões surpreendentes em ações que mexiam com altos valores, quando assumia a cadeira de colegas licenciados ou de férias.

O caso mais grave ocorreu cerca de um ano atrás. Galindo acompanhou um representante de uma construtora local em uma visita a um juiz do TJ-PE para pedir celeridade num processo de interesse da empresa.

O juiz responsável explicou que não seria possível, dada a complexidade do caso, e contou que havia solicitado, inclusive, a realização de uma perícia antes de bater o martelo.

Coincidência ou não, assim que o juiz em questão saiu de férias, Galindo o substituiu. Ato contínuo, Galindo deu uma canetada em favor da empreiteira para quem havia feito lobby pouco tempo antes.

O TJ-PE chegou a apurar as suspeitas contra Galindo, hoje juiz titular do tribunal, mas o caso acabou arquivado. Francisco Falcão pedirá a abertura de um procedimento contra Galindo na próxima sessão do CNJ.”

ana s.

Obrigada, Viomundo, por dar espaço para essa questão. Afinal, existe Brasil para além do eixo Rio-S.Paulo.

Iram na torre

” Nas torres iram trabalhar e” O Iram vai trabalhar nas torres? Zelador?

Justissa em PE

Alago a ver? Tudo a ver?

“O Conselho Nacional de Justiça vai apurar denúncias contra um magistrado pernambucano muito afeito a processos envolvendo grandes cifras.

Francisco Galindo, até outro dia juiz substituto do Tribunal de Justiça de Pernambuco, era conhecido por assinar decisões surpreendentes em ações que mexiam com altos valores, quando assumia a cadeira de colegas licenciados ou de férias.

O caso mais grave ocorreu cerca de um ano atrás. Galindo acompanhou um representante de uma construtora local em uma visita a um juiz do TJ-PE para pedir celeridade num processo de interesse da empresa.

O juiz responsável explicou que não seria possível, dada a complexidade do caso, e contou que havia solicitado, inclusive, a realização de uma perícia antes de bater o martelo.

Coincidência ou não, assim que o juiz em questão saiu de férias, Galindo o substituiu. Ato contínuo, Galindo deu uma canetada em favor da empreiteira para quem havia feito lobby pouco tempo antes.

O TJ-PE chegou a apurar as suspeitas contra Galindo, hoje juiz titular do tribunal, mas o caso acabou arquivado. Francisco Falcão pedirá a abertura de um procedimento contra Galindo na próxima sessão do CNJ.”

Tania

Não conheço, sou do Sul, mas me parece um espaço perfeito para revitalizar com projetos culturais! Torço para que vença o bom senso! Sem espigões!

Fábio Silva

Só quem mora em Recife e já teve a oportunidade de entrar num apartamento da Avenida Boa Viagem (na beira-mar, uma das regiões mais “nobres” da cidade) teve a oportunidade de experimentar uma sensação indescritível para todo o restante do bairro e quase toda a cidade, a forte ventania vinda do mar. É uma delícia, mas restrita apenas aos afortunados, enquanto o restante dos moradores do bairro sofrem com uma sensação térmica infernal, provocada pela refração do calor do sol no asfalto das avenidas e a nulidade de correntes de ar, afinal somos separados dessa maravilha natural por um enorme “paredão” de arranha-céus que margeia toda a beira-mar.

Mais uma vez, como se não bastasse toda a sorte de benesses adquiridas pelo poder do capital, agora desejam tomar o resto de vento que refresca o Recife, construindo um outro “paredão”, que cortará a passagem dos ventos para o restante da cidade.

Realmente, esse país foi feito pra poucos!
E ai de quem ouse lhes tirar um pouco de seus “direitos”!
Que o diga Lula, Dilma e cia ltda

O pior é ver uma classe média “marionete de ventríloquo”!

Ocupa

http://vimeo.com/93560021

João Cintra

Gente, por favor espalhem o movimento e assinem o abaixo-assinado a ser entregue ao prefeito. É uma situação muito suja que está ocorrendo aqui em Recife.

http://www.change.org/pt-BR/peti%C3%A7%C3%B5es/carta-ao-prefeito-do-recife-geraldo-j%C3%BAlio?share_id=dZVZkUjVGb&utm_campaign=share_button_action_box&utm_medium=facebook&utm_source=share_petition

Fabio Passos

Que belo exemplo.
Tomara que consigam derrotar os interesses das corporações… e garantir que a área e as construções históricas sejam revitalizadas em um empreendimento para uso de todos os cidadãos de Recife.
A omissão do Estado diante da destruição da nossa história e da apropriação ilegal do espaço urbano por grupos que só pensam em lucro é injustificável.

Lopes

Dizem que teve um gente que recebeu um andar inteiro para facilitar a negociação!

Isabela

Eu já tinha achado Boa Viagem feia, dada a quantidade de ‘espigões’ na beira da praia. 15 anos depois, quando volto pra Recife em 2011 me deparo com as duas torres horripilantes. De taxistas, meros desconhecidos às amigos queridos: corre à boca pequena que aquilo ali foi feito depois de muitas negociatas com todos os envolvidos nos trâmites para liberação das obras. É muito cafona esse nosso American way of building mesmo…

Urbano

E nesse ôba ôba infernal das caladas da noite, obviamente que não poderia faltar o apoio daquele que antigamente lesava a barriga do povo e que agora passou a lesar o juízo, que dá mais dividendos…

    Urbano

    Pessoal, o urbano citado abaixo não tem nada a ver comigo. Até porque o meu caos é uma verdadeira fagulha do Big Bang, que a exemplo de vocês certamente virá a se transformar numa grande maravilha também (rsrsrs)…

Recife, o caos urbano

Aqueles dois prédios construídos em área “non edificandi” são herança de jarbas vasconcelos. Dizem as más línguas que houve negociação difícil para que a prefeitura os aceitasse. A construção das Torres Chinesas, assim conhecidas devido a quantidade de imigrantes chineses que moram nos prédios, foi embargada e apenas liberada mediante acertos financeiros, que incluiu a “doação” de apartamentos lá e em outros prédios da construtora. Jarbas vasconcelos é feliz proprietário de dois apartamentos nas Torres Chinesas. Ele ou laranjas dele. Os recifenses podem fazer uso do “jus esperniandi”, mas a decisão já foi tomada e os acertos financeiros realizados nas repartições competentes.

Deixe seu comentário

Leia também