Moradores de Paraisópolis desmentem PM: ‘Mataram os meninos na porrada, spray de pimenta e bombas de gás’; para ex-coronel, policiais deveriam ter sido presos em flagrante

Tempo de leitura: 5 min
Sob ângulos diferentes, a viela onde sete dos nove jovens foram encurralados pelos policiais e assassinados. Para Valdemir José Trindade e José Maria Lacerda, respectivamente dirigente e presidente da associação de moradores União em Defesa da Moradia,  a PM age há muito tempo com truculência contra os moradores de Paraisópolis. Fotos: Lúcia Rodrigues/ Viomundo 

Vítimas de massacre em Paraisópolis morreram espancadas e asfixiadas, afirmam moradores

Para ex-coronel da PM, policiais deveriam ter sido presos em flagrante

Por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo

Moradores da Favela de Paraisópolis que presenciaram o massacre que matou nove pessoas que participavam de um baile funk, na madrugada deste domingo, 1/12, desmentem a versão da polícia.

Falando para o Viomundo na condição de anonimato, por temerem represálias dos policiais, moradores contam que as vítimas não morreram pisoteadas como a mídia chegou a informar inicialmente.

De acordo com relato das testemunhas, os jovens foram muito espancados e teriam sido asfixiados pelo gás lacrimogêneo e spray de pimenta ao serem encurralados em uma das vielas da favela.

A maioria dos mortos não morava em Paraisópolis, segundo os moradores.

Por não conhecerem as ruas da favela, correram justamente para uma viela que não tinha rota de fuga.

Uma senhora conta que os corpos ficaram espalhados pelo chão, vários deles na escada que dá acesso ao beco.

“Não consegui dormir depois das cenas que vi. Foi desesperador ver o que esses meninos passaram. Os PMs bateram sem dó. Mataram na porrada e com spray de pimenta e bombas de gás. Não foram pisoteados”, revela.

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“Os meninos pediam socorro, estavam passando mal. Tinha muito gás lacrimogêneo, não dava para respirar. Sete já saíram daqui mortos. Alguns estavam com os lábios roxos.”

O processo de asfixiamento pode ter sido agravado pelo fato de a viela estar localizada há mais de um metro abaixo do nível da rua e entre altas paredes.

A moradora também desmente a versão policial de que os PMs perseguiam uma moto quando deram de cara com o baile funk.

“A história da moto é mentira, balela. Não tinha moto nenhuma.”

Outro morador que concordou contar o que viu, sem revelar o nome por temer pela vida, também contesta a versão policial.

“O que o delegado está falando é mentira. Eles já vieram determinados a matar a meninada na maldade. Encurralaram e bateram com cacetete de madeira na nuca, nas costas. Foi um massacre.”

Ele explica que viaturas da Força Tática teriam chegado primeiro ao local e só posteriormente é que chegou o reforço da Rocam, a ronda motorizada.

O morador também afirma que ninguém que estava no baile atirou contra os policiais. “Eles dizem que foram recebidos à bala, mas não foram.”

Valdemir José Trindade, o Guga, que é dirigente da associação de moradores União em Defesa da Moradia, conta que a polícia age com truculência contra os moradores de Paraisópolis há muito tempo.

Vivendo em Paraisópolis desde que nasceu, há 38 anos, ele recorda que em 2010, um grupo de extermínio integrado por PMs, conhecido como Bonde dos Carecas, agredia os moradores da favela.

“Cegaram inclusive uma menina com uma bomba. A Daiane era bonita e ficou revoltada por ter ficado cega de um olho. Se entregou às drogas e hoje mora no cemitério São Luiz.”

A família da jovem denunciou o caso e passou a ser ameaçada pelos policiais.

“A denúncia não deu em nada e os familiares tiveram de se esconder. Por isso as pessoas têm medo de falar”, ressalta.

Sobre o massacre deste domingo, Guga explica que vários dos feridos não estavam nem participando do baile.

“A rua faz uma encruzilhada. De um lado tem o baile funk, de outro tem forró, de outro tem samba, do outro tem barzinhos.”

Ele critica o preconceito contra o estilo musical. “Vai matar as pessoas porque estão ouvindo funk?”

Valdemir afirma que dias antes do massacre, áudios recebidos no whatsapp por ele e outros moradores alertavam para a chacina que estava prestes a ocorrer.

“Recebemos áudios dizendo que a polícia ia fazer uma tragédia na comunidade Paraisópolis de vingança. Mas ninguém acreditou.”

Ele não aceita a postura do governador João Doria (PSDB) frente ao massacre.

“O Doria mora aqui do lado, no Palácio (dos Bandeirantes). Não adianta dizer que lamenta. Ele está dando apoio para que isso aconteça. A Polícia Militar tem uma facção miliciana.”

Valdemir também critica a falta de áreas de lazer na favela para que os jovens possam se divertir.

A mesma preocupação é compartilhada pelo presidente da Associação, José Maria Lacerda, que mora em Paraisópolis há 40 anos.

“Se não dão espaço para os jovens se divertirem. Eles vão se divertir nos bailes funk. Eles não têm dinheiro para pagar entrada em salão, com o desemprego que está aí.”

“Se não tem espaço para eles se divertirem, eu sou a favor dos meninos (se divertirem no baile). O filho do pobre não tem direito a divertimento. A gente tem filhos jovens. Conforme aconteceu com o filho dos outros poderia ter acontecido com os meus.”

José Maria também contesta a versão policial sobre a existência de uma moto que teria irrompido pelo baile. “Como uma moto entra no meio de cinco mil pessoas e não atropela ninguém?”

Esse é o mesmo questionamento feito pelo ex-tenente-coronel Adilson Paes de Souza.

“Há uma falha na narrativa, não faz sentido. Entraram com a moto no meio de cinco mil pessoas? E onde está a moto? Naquela confusão dizem que encontraram o cartucho de uma bala. Mas não encontraram uma moto?”, indaga o militar, que saiu da corporação por não concordar com o modo de atuação da tropa.

Paes de Souza preferiu trilhar o caminho universitário. Mestre em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da USP, diz que a versão da PM tem muitas lacunas.

“Essa história contada pela polícia está muito estranha. Há uma falha na narrativa, não faz sentido. Tudo leva a crer que foram lá para acabar com o baile funk.”

“Foi uma ação abusiva. Os PMs deveriam ter sido presos em flagrante”, enfatiza o ex-militar.

Ele defende a entrada do Ministério Público na apuração do massacre.

“A polícia não admite suas falhas. Existe o espírito de corpo. Por isso, tem de ter uma investigação isenta. É imprescindível que o MP assuma as rédeas (do processo).”

“Não dá para deixar a investigação só nas mãos da Polícia Civil e da PM. Já tem delegado dizendo que foi uma fatalidade. E a PM diz que vai investigar, mas afirma que os policiais se defenderam. Já estão emitindo juízo (em apoio aos policiais).”

O presidente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), Dimitri Sales, quer saber quem ordenou e quem executou a operação que ele classifica como desastrosa.

“Não dá para aceitar a versão da PM de que foram atacados. As pessoas caíram em uma emboscada. Não havia rotas de fuga”, critica.

Ele conta que o órgão já solicitou o laudo das nove mortes que ocorreram no massacre.

De acordo com Dimitri, os legistas não estavam fotografando os cadáveres. “Pedimos para fazerem as fotos para ver em que condições os corpos ficaram.”

Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio, ficou estarrecida com o massacre dos nove jovens.

Há mais de 13 anos ela perdeu o filho assassinado por policiais militares no episódio que ficou conhecido como Crimes de Maio.

Ela considera que a não punição dos culpados pelas 564 mortes, que ocorreram em maio de 2006, é combustível para o massacre que ocorreu no último domingo.

“É revoltante. Se tivesse ocorrido a punição, não teriam novas mortes nos becos e nas vielas das favelas.”

E antecipa que as Mães de Maio vão recorrer ao Tribunal Internacional de Haia para buscar justiça para a morte de seus filhos.

Débora considera que o massacre de Paraisópolis pode contribuir para sensibilizar as autoridades contra o projeto de excludente de ilicitude, que libera policiais de responderem pelos crimes que cometerem.

“Esse massacre demonstra que o excludente de ilicitude é uma carta branca para os policiais matarem. Vamos barrar isso.”

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Comentários

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Zé Maria

https://twitter.com/andrecaramante
Olha que Bonito uma Comunidade em Paz Sem a PM:
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Zé Maria

Câmara aprovou o Pacote Fascistóide.
Pra variar a solução encontrada é a de aumentar a punição
e não a de prevenir crimes. Mas poderia ter sido pior.
Pelo menos, o Excludente de Ilicitude do Moro ficou de fora.

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (4/12) projeto de lei
Nº 10372/2018 (apelidado de pacote anticrime) que faz mudanças na legislação penal,
como aumento de penas e novas regras para progressão de regime pelos
condenados.

Crimes cometidos com armas passam a ter penas maiores em certos casos:

– homicídio praticado com arma de fogo de uso restrito ou proibido será punido
com 12 a 30 anos de reclusão;

– calúnia, injúria e difamação divulgados em redes sociais terão pena três vezes maior;

– roubo com uso de arma branca (faca) terá pena a mais de 1/3 a metade da pena normal;

– roubo praticado com violência ou grave ameaça à vítima e uso de arma de uso
restrito ou proibido terá o dobro da pena;

– a denúncia de crime de estelionato não dependerá da vontade da vítima se ela for criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental ou incapaz, idoso com mais de 70 anos e a administração pública.

Crimes hediondos
O substitutivo aumenta o número de casos considerados hediondos e pelos quais
o condenado não pode contar com anistia, graça ou indulto e deve começar a
cumprir a pena em regime fechado.

Assim, passam a ser considerados hediondos os crimes de:

– homicídio com arma de fogo de uso restrito ou proibido; [*]

– roubo com restrição de liberdade da vítima;

– roubo com uso de arma de fogo de uso proibido ou restrito; [*]

– roubo que resulte em lesão corporal grave da vítima;

– extorsão com restrição de liberdade da vítima ou lesão corporal grave;

– furto com uso de explosivo;

– posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido;

– comércio ou tráfico internacional de arma de fogo;

– organização criminosa para a prática de crime hediondo.

Entretanto, deixa de ser hediondo a posse ou porte de arma de uso restrito
por aqueles que não podem fazê-lo. [Olha só a contradição!]*

Armas de uso restrito* são aquelas mais potentes, usadas principalmente pelas
Polícias e Forças Armadas (pistolas e revólveres de calibre maior ou mesmo fuzis
e metralhadoras).

Estatuto do Desarmamento
No Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03), a pena para quem lidar
com armas de uso proibido aumenta de 3 a 6 anos de reclusão para 4 a 12 anos
de reclusão.

Isso inclui usar, portar, fabricar ou entregá-la a criança ou adolescente.

O comércio ilegal de arma de fogo passa a ter pena de 6 a 12 anos de reclusão
(atualmente é de 4 a 8 anos).
Já o tráfico internacional dessas armas passa de 4 a 8 anos para 8 a 16 anos.
Os reincidentes nesses crimes e também no porte ilegal de qualquer arma
terão a pena aumentada da metade.

Ainda nesses dois tipos de crime, poderão ser condenados aqueles que
venderem ou entregarem arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização,
a agente policial disfarçado quando houver indicativos de conduta criminal
preexistente.

A regra permite a validação de flagrantes em operações especiais com agentes
infiltrados.

Progressão de regime
A chamada progressão de regime, quando o condenado pode passar
de um cumprimento de pena mais rigoroso (fechado, no presídio) para outro
menos rigoroso (semi-aberto, somente dormir no presídio, por exemplo),
dependerá do tipo de crime.

Atualmente, a regra geral é que a pessoa tenha cumprido pelo menos 1/6 da pena
no regime anterior.

Para crimes hediondos, a exigência é de 2/5 (40%) da pena se o réu for primário
e de 3/5 (60%) se reincidente.

Com as novas regras, o tempo exigido varia de 16%, para o réu primário cujo crime
tenha sido sem violência à vítima, a 70%, no caso de o condenado por crime
hediondo com morte da vítima ser reincidente nesse tipo de crime.
Neste último caso, o condenado não poderá contar com liberdade condicional,
mesmo se não for reincidente.

Em relação a esse tema, o texto inclui dispositivo que proíbe o condenado
por crime praticado por meio de organização criminosa ou por fazer parte dela
de progredir de regime ou ainda de obter liberdade condicional.
Para isso, devem existir provas de que ele mantém vínculo com a organização.

O tempo máximo que uma pessoa pode ficar presa, cumprindo pena, aumenta
de 30 para 40 anos.

A matéria será enviada ao Senado.

https://www.camara.leg.br/noticias/622241-camara-aprova-texto-base-do-pacote-anticrime/

Zé Maria

Avança a “Operação Solução Final” de Bolsonaro/Doria/Witzel

Polícia Militar do Rio de Janeiro abre fogo
no Morro do Dendê, na Ilha do Governador,
e mata 4 pessoas inocentes, desarmadas,
dentre as quais o comediante Diego Buiu,
conhecido nas redes sociais como ‘Bunitinho’,
e seus empresários Josselino e Jorge Tadeu.

Detalhe: Todos Pretos, pra não fugir à regra.
Aliás, o referencial da PM é a cor da pele.

Peritos da Delegacia de Homicídios (DH)
não encontraram armas no veículo onde
os três foram assassinados pela PM-RJ.

https://twitter.com/Rod_3030/status/1202584371817066496
https://twitter.com/favelanewsrj/status/1202683536169488384
https://twitter.com/favelanewsrj/status/1202583014494101504
https://twitter.com/favelanewsrj/status/1202535735871655936
https://twitter.com/Cecillia/status/1202603107047358464

Tadeu Silva

Infernópolis, o país todo, basta ser pessoa negra e pobre.

Zé Maria

Frise-se:
Esmagados pelo Coturnos dos Policiais Militares e Asfixiados pelo Gás das Bombas.

Roberto

O PT e o PSOL entraram com pedido de “apuração”. Parem com isso!! Apuração nunca dá em nada. Tem é que chamar o povo para ir à rua! Nesta quinta, 5 de dezembro, tem manifestação no vão livre do Masp, às 19h. Quero ver deputados do PT lá!

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/EKusEmTXkAEPSjm.jpg

Documento não menciona ataques de jovens de baile funk contra PMs

Relato da Polícia Civil contradiz versão de porta-voz da PM de que policiais
reagiram após serem atacados por “pedras e garrafas” e de que não havia
operação contra o pancadão (https://pbs.twimg.com/media/EKusEmTXkAEPSjm.jpg)

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/12/02/politica/1575299820_385107.html

Zé Maria

https://twitter.com/pontejornalismo/status/1201681927595548673

Massacre de Paraisópolis nos faz lembrar inúmeros casos de versões fantasiosas
e mentirosas usadas por PMs para justificar mortes das vítimas, nos quais jamais
houve confronto, mas sim execução sumária.

Por Josmar Jozino, na Ponte Jornalismo: https://t.co/FYZuJ6VeuX

https://ponte.org/artigo-por-que-usamos-suposto-confronto-em-acoes-policiais-com-morte/

Zé Maria

Os “PMs deveriam ter sido presos em flagrante”? Por quem?
Pelos jovens esmagados no Baile às 3 horas da madrugada ?
Todos os Policiais que atuaram são Cúmplices do Massacre,
inclusive e principalmente o Comandante- Geral da PM.

https://twitter.com/pontejornalismo/status/1201320187368235008
https://www.policiamilitar.sp.gov.br/institucional/comandante-geral
https://www.facebook.com/POLICIAMILITARDESP/photos/a.230561813646181/2489318407770499
https://ponte.org/morte-de-9-jovens-em-paraisopolis-ocorreu-apos-um-mes-de-ameacas-da-pm/

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