Miguel Nicolelis, Elon Musk e a mídia vira-latas do Brasil

Tempo de leitura: 15 min

Por Conceição Lemes

Quase dez anos — exatos 3.519 dias — separam duas divulgações científicas relacionadas ao cérebro humano de repercussão mundial, inclusive na mídia corporativa brasileira.

12 de junho de 2014

Arena Corinthians, São Paulo, capital. Sob o olhar da multidão que lota o estádio do Itaquerão, Juliano Pinto, um jovem paraplégico de 29 anos, ”vestindo” uma roupa robótica (exoesqueleto) controlada pelo pensamento, dá o chute inaugural (foto abaixo) na cerimônia de abertura da Copa do Mundo Fifa no Brasil.

O cientista estadunidense Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde, dos EUA (NIH, sigla em inglês), comemora a façanha, liderada por um neurocientista brasileiro: Miguel Nicolelis, coordenador do Projeto Andar de Novo (Walk Again Project, em inglês).

Sob o título Pesquisa em neurociência dá início à Copa do Mundo (ao final, íntegra da tradução do artigo), Collins escreve em seu blog:

‘’O líder da equipe, Miguel Nicolelis, vem trabalhando na interface cérebro-máquina em vários modelos animais há décadas’’.

‘’Em um experimento pioneiro que envolve um macaco equipado com sensores cerebrais que enviaram comandos em tempo real associados com movimentos da perna, Nicolelis mostrou que o animal poderia estimular um robô controlado por computador localizado a milhares de quilômetros de distância a andar, simplesmente pensando em andar”.

Agora, Nicolelis mostrou que uma façanha similar é possível com seres humanos, usando um sistema de exoesqueleto robótico”.

21 de maio de 2014: Collins durante visita ao laboratório do Projeto Andar de Novo, em São Paulo. À esquerda, Nicolelis mostra-lhe a roupa robótica (exoesqueleto) que o jovem paraplégico Juliano Pinto vestiria para dar o chute na cerimônia de abertura da Copa do Mundo. À direita, a fotomontagem que ilustra o artigo que o ex-diretor do NIH publicou em seu blog em 12/06/2014. Fotos: Fernando Donasci e reprodução

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Miguel Nicolelis chegou aos EUA em 20 de fevereiro de 1989. E, desde 1994, lecionava na Duke University.

Francis Collins é médico geneticista. Descobridor genes associados a diversas doenças, dirigiu o Projeto Genoma Humano, sendo um dos responsáveis pelo mapeamento do DNA humano, em 2001.

Collins era então o maior gestor de ciência biomédica do planeta. Comandou o NIH de agosto de 2009 a dezembro de 2021.

Três semanas antes da Copa do Mundo, Collins esteve no Brasil pela primeira vez, visitou o laboratório do Projeto Andar de Novo, em São Paulo, conversou com Nicolelis e sua equipe e viu de perto o exoesqueleto que eles apresentaram em 12 de junho.

”Eu assisti dois paraplégicos em fase final de treinamento para o grande dia.  Atmosfera (e tecnologia) eletrizante!”, conta no seu artigo.

No grande dia, porém, apenas 8 segundos dos 29 segundos acordados foram exibidos.

A TV Fifa foi a responsável pela transmissão da Copa, e a Globo, a emissora oficial do campeonato.

Dilma Rousseff era presidenta do Brasil, e Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente.

No dia seguinte, durante a plenária do PT de Pernambuco, em Recife, Lula, indignado, falou (vídeo abaixo) do ”complexo de vira-lata que ainda domina muitos setores desse país”:

”Essa coisa, Dilma, era para ser feita no centro do estádio, antes do pontapé do jogo. Eu até imaginava você entrando com o companheiro doente para dar o pontapé. Porque era para mostrar que o Brasil não é um país de segunda categoria. Este país grande e poderoso.

Pois bem, eu falei com o Nicolelis agora por telefone, Dilma. A imagem não foi liberada pela Fifa ainda. E só permitiram filmar 29 segundos. Se fosse uma Copa na Alemanha ou uma Copa na França, isso teria tido mais destaque que o próprio jogo de futebol, porque era para enaltecer o país”.

Mas, aqui no Brasil, a gente que tem um cientista que pode estar preparado para ganhar o Prêmio Nobel de Ciência, fez uma coisa extraordinária que é um tetraplégico [na realidade, paraplégico] poder se movimentar com um robô e quase que não foi mostrado.

E não foi mostrado para o mundo.  Foi mostrado só aqui no Brasil, Dilma, numa demonstração que o complexo de vira-lata ainda domina em muitos setores desse país.

Nicolelis solicitou à Fifa a gravação completa dos 29 segundos. Ela nunca apareceu.

 

29 de janeiro de 2024

O bilionário Elon Musk (@elonmusk ) divulga em sua rede social X (antigo Twitter) que a empresa Neuralink, da qual também é dono, implantou o seu primeiro chip no cérebro de um ser humano.

O projeto foi apresentado como uma grande novidade tecnológica, de conexão sem fio da mente humana com os computadores.

O chip — do tamanho de uma moeda de R$1 — seria o mesmo que, em 2021, um macaco recebeu e teve o seu vídeo, jogando viodegame apenas com o pensamento, foi divulgado pela Neuralink.

Foram três tuítes postados nesta sequência.

O primeiro ser humano recebeu um implante da Neuralink ontem [dia 28 de janeiro] e está se recuperando bem.

Os resultados iniciais mostram uma detecção promissora de atividade de neurônios

Chama-se Telepathy (Telepatia).

Permite o controle do seu telefone ou computador e, através deles, quase qualquer dispositivo, apenas com o pensamento”.

“Os primeiros usuários serão aqueles que perderam o uso dos membros”.

“Imagine se Stephen Hawking [físico e cosmólogo britânico que sofria de esclerose lateral amiotrófica (ELA) e faleceu em 2018, aos 76 anos] pudesse se comunicar mais rápido do que um digitador rápido ou um leiloeiro”

O comunicado limitou-se aos três tuítes do bilionário sul-africano com cidadanias americana e canadense.

E só ele se manifestou, embora o anúncio fosse de um experimento científico.

Nenhum pesquisador teve voz.

A Neuralink restringiu-se a repostar o primeiro tuíte do seu dono.

No Brasil, a mídia corporativa — mídia empresarial, grande mídia, mídia mainstream ou imprensa tradicional são seus outros nomes –, prontamente ecoou o anúncio de Elon Musk.

Em 4 de fevereiro, o Fantástico, da TV Globo, exibiu reportagem de 8 minutos e 41 segundos de  Álvaro Pereira Júnior.

Entre os especialistas ouvidos, o neurocientista Miguel Nicolelis, que desde julho de 2021 é professor emérito da Duke University.  Aí, ele lecionou por 27 anos e fundou o Centro de Neuroengenharia, que dirigiu durante 20 anos.

Ele textualmente diz:

“(O chip cerebral de Elon Musk) vai fazer as pessoas conversarem com o computador? Download do cérebro, upload, isso tudo é absurdo. Isso tudo não tem a menor base científica e eu acredito que nunca vai acontecer (…) primeiro que a gente nem sabe o que está acontecendo, só o tweet do Elon Musk não tem absolutamente significado algum para a comunidade científica”.

Os 35 anos de carreira que levaram Nicolelis à invenção das interfaces cérebro-máquina (tecnologia que permite a interação entre cérebro e computador) lhe dão autoridade científica para fazer o comentário acima.

A imagem abaixo, que publicou há pouco em uma rede social, resume esses 35 anos.

”Tudo começou com a invenção dos microeletrodos flexíveis e os métodos de implante cerebral e análise de sinais neuronais em tempo real”, ele escreveu.

”PROVAL CABAL DE QUE A INTERFACE CÉREBRO-MÁQUINA FUNCIONA PARA PARAPLÉGICOS”

Na verdade, os estudos do professor Miguel Nicolelis estão revolucionando a neurociência.

Ele é pioneiro na pesquisa em interface cérebro-máquina.

Criou o nome interface cérebro-máquina, hoje consagrado mundialmente.

O termo nasceu em artigo que ele publicou na edição especial da revista Nature (capa ao lado), de 18 de janeiro de 2001.

Concebeu a ideia do primeiro exoesqueleto de membros inferiores controlado pela atividade elétrica cerebral e que, depois, foi construído e testado pelo time do Projeto Andar de Novo. 

Desde 2016, o professor e seu grupo já publicaram quatro trabalhos científicos (papers, no jargão acadêmico) com os resultados do Projeto Andar de Novo, que comprovam que interface cérebro-máquina funciona para paraplégicos.

2016, Nature

Aqui, demonstram que os pacientes tinham exibido uma recuperação neurológica parcial de movimentos e sensação tátil, algo nunca antes reportado na literatura de lesões medulares.

2018, PLOS ONE

Neste artigo, provam que o treinamento de longo prazo com interface cérebro-máquina, feedback tátil-visual e locomoção assistida melhora os sinais sensório-motores, viscerais e psicológicos em paraplégicos crônicos.

Os sete pacientes que permaneceram no estudo por 28 meses (gráfico ao lado) mudaram de paraplégicos completos para paraplégicos parciais.

”Como cada paraplégico tem uma lesão específica, cada um leva tempo diferente para se recuperar”, explica Nicolelis. ”Tem que dar a cada um o tempo necessário para maximizar a recuperação”.

2019, Scientific Reports, da Nature

Estudo feito com 3 pacientes.  Após terem recuperação parcial com o protocolo do Projeto Andar de Novo, os pacientes paraplégicos experimentaram outra interface, a cérebro-músculo.

Pequenas cargas elétricas dadas nos músculos das pernas para ajudar no movimento que recuperaram. Os pacientes começaram a andar de forma mais autônoma sem o exoesqueleto.

2022, Scientific Reports, da Nature

Aqui, Nicolelis e equipe demonstram que a interface cérebro-máquina tem efeito clínico muito superior ao obtido por pacientes postos para andar num robô sem controle cerebral.

“Estes quatro papers são a prova cabal de que o método não-invasivo de interfaces cérebro-máquina funciona para paraplégicos e não precisa implantar ninguém para conseguir fazê-los andar e, mesmo induzir, uma melhora neurológica parcial”, afirma o professor Miguel Nicolelis.

TRÊS SÓCIOS DE MUSK NA NEURALINK SÃO EX-ALUNOS DE NICOLELIS

Como dissemos no início, a Neuralink é a empresa de Elon Musk trabalhando no chip cerebral.

Criada em 2016, em São Francisco, nos EUA, ela foi anunciada publicamente em março de 2017.

Ela tem ligação direta com o professor Nicolelis.

”Ou melhor três ligações”, mostra o repórter Álvaro Pereira neste vídeo, que exibe parte da reportagem do Fantástico.

As ligações referidas pelo repórter Álvaro Pereira são estes três ex-alunos de Nicolelis na Duke University, que se tornaram sócios de Musk na fundação da Neuralink:

Max Hodak, o primeiro presidente da firma, fez quatro anos de iniciação científica com o brasileiro [Miguel Nicolelis] na Universidade de Duke. Hondak saiu da Neuralink em 2021.

O engenheiro Tim Hanson foi um dos fundadores da Neuralink, depois de concluir o doutorado com Nicolelis. Hanson só aguentou dois anos com Elon Musk. Caiu fora da empresa em 2018.

Um terceiro nome, o doutor em engenharia biomédica Joseph O’Doherty, passou dez anos na prós-graduação com Nicolelis. O’Doherty ainda trabalha na Neuralink”.

— O senhor reconheceu no trabalho deles as ideias que foram germinadas no seu laboratório? — indaga Álvaro Pereira a Nicolelis.

O professor responde:

Não há a menor dúvida. Até as demonstrações. Até o joguinho do macaco que eles fizeram [em 2021, imagem à direita na montagem ao lado], curiosamente em duas dimensões. 

Quando eles ainda estavam no laboratório, nós já fazíamos em três dimensões há muito tempo com realidade virtual [em 2003, Nicolelis já tinha tinha colocado um macaquinho para jogar videogame com o cérebro]. Até as representações são cópias muito claras das minhas apresentações.

Nenhum deles nunca ligou pra mim ‘olha, vamos criar uma empresa’. Nunca! Eu aprendi pela imprensa que essa empresa havia sido criada”.

Importante. A jornalista Poliana Abritta, apresentadora do Fantástico, abriu a reportagem sobre o chip cerebral colocando uma questão fundamental:

‘O projeto foi apresentado como uma grande novidade tecnológica, de conexão sem fio da mente humana com os computadores. Será isso mesmo ou só mais uma ação de marketing de Elon Musk?”

Curiosamente, o Fantástico não respondeu à própria pergunta que formulou no início da matéria.

Limitou-se a dizer que ”Nicolelis vê com ceticismo os anúncios de Musk”.

O que, cá entre nós, não é a exata leitura do que o professor Miguel Nicolelis disse.

De qualquer forma, o chip cerebral foi assunto nos principais veículos de comunicação do País, que trataram o o chip Telepatia, a Neuralink e Elon Musk com toda a deferência.

Vejam só como a mídia empresarial brasileira foi boazinha:

  • divulgou bem o chip cerebral, a marca e o nome da empresa;
  • não chiou por nenhum pesquisador da Neuralink ter se manifestado;
  • não questionou a falta quase absoluta de dados científicos sobre o experimento;
  • não criticou o fato de Musk e a Neuralink não informarem a área do cérebro usada para implantar o chip no paciente que o recebeu em 28 de janeiro de 2024;
  • não evidenciou que aparentemente o chip não representa um avanço científico importante;
  • não realçou o fato de ser invasivo.

Elon Musk não teria contratado melhor assessoria de imprensa. Nem feito melhor campanha publicitária para o seu chip do que as reportagens publicadas em boa parte da nossa mídia corporativa.

De quebra, a Neuralink deve ter arrumado muitos mais voluntários para a pesquisa.

Diametralmente oposto ao que aconteceu com a repercussão do chute inaugural na Copa do Mundo de 2014 dado pelo jovem paraplégico Juliano Pinto, ”vestindo” a roupa robótica.

Como num efeito manada, a grande mídia brasileira, em peso, massacrou o professor Nicolelis. Houve jornalistas que chegaram a desrespeitá-lo.

A TV Fifa era a responsável pela transmissão da Copa, e a Globo, a emissora oficial do campeonato.

Dos 29 segundos acordados com a Fifa e o comitê organizador local, apenas 8 segundos foram exibidos.

Imediatamente, apresentação foi carimbada pela mídia, com auxílio de desafetos conhecidos, como ”fracasso”, ”fiasco”.

No antigo Twitter (hoje, o X de Elon Musk), em 13 junho 2014, Nicolelis (@MiguelNicolelis) afirmou: ”A Fifa deveria responder pela edição das imagens que impediu q a demonstração fosse transmitida na integra. Responsabilidade é tda dela”.

”Fifa diz que não garantia exibir isso na íntegra pela TV, pois isso ‘não dependia da federação”’, rebateu o UOL.

Ficou por isso mesmo.

O Viomundo denunciou: Fifa, cadê a íntegra do chute inaugural da Copa que ocultou? 

Como também disse antes, até hoje o vídeo completo daquele feito científico inédito no planeta não foi apresentado ao professor Nicolelis.

Na verdade, se dependesse da Fifa, o chute do Juliano não teria acontecido, tantos os obstáculos colocados pelos organizadores:

1. Inicialmente, a demonstração científica duraria 3 minutos e seria no centro do gramado. É o que previa o acordo entre a TV Fifa, responsável pela transmissão da Copa, e o professor Miguel Nicolelis.

2. Meses antes, a Fifa reduziu para 1 minuto.

3. Duas semanas antes da Copa, a Fifa diminuiu ainda mais. Deu apenas 29 segundos para a demonstração, e transferiu-a para uma extremidade do campo.  Alegou que o gramado poderia ser prejudicado pelo exoesqueleto.

4.Uma semana antes da abertura, a Fifa exigiu uma apresentação exclusiva no Itaquerão.

5. A exibição exclusiva foi para os membros da Fifa e do comitê organizador local, entre os quais Jerome Valcke e Joana Havelange.

Nem o fato de ela ter sido bem-sucedida fez com que eles aumentassem o tempo da apresentação ou a trouxessem para um local de maior visibilidade no campo, dando o protagonismo que a façanha merecia.

6. Na cerimônia, a Fifa deixou que um palco cafona pesando cerca de 300 quilos ficasse no centro do gramado sem “estragá-lo”. Já o exoesqueleto e Juliano Pinto, que juntos pesariam 130 quilos, não.

7. Para completar, no grande dia, foram exibidos na televisão apenas 8 segundos dos 29 acordados.

O mais absurdo e surreal é que as falas da ”ilibada” Fifa eram tidas como ”verdade” por boa parte da nossa mídia e as de Nicolelis postas em dúvida.

Até o veto da Fifa à exibição do exoesqueleto no centro do gramado a mídia deixou barato.

  • Seria desinformação, incompetência ou má-fé?
  • Teria influenciado a mania de setores da nossa sociedade de só valorizarem o que acontece no exterior, particularmente EUA e Europa, e menosprezarem o que é feito aqui — o famoso complexo de vira-lata?
  • E o peso da Fifa e do comitê organizador local nisso tudo?
  • Será que por razões político-ideológicas teriam preferido não prestigiar o feito científico de Nicolelis, um eleitor de Dilma, Lula e do PT?
  • Outros interesses em jogo?

Agora, por alguns segundos, imagine Elon Musk no lugar de Miguel Nicolelis, e vice-versa.

Musk, um brazuca legítimo e Nicolelis, um gringo autêntico.

A mídia corporativa brasileira seria tão benevolente com o Musk-brazuca como foi com o Musk-bilionário de cidadania americana?

E o Nicolelis-gringo seria tão maltratado como foi o Nicolelis-neurocientista na Copa do Mundo?

Na verdade, a diferença de tratamento dispensado a Miguel Nicolelis e a Elon Musk é um retrato da nossa mídia hegemônica, monopolista e vira-latas.

Lamentavelmente, ela padece do complexo de vira-latas, ou viralatismo.

Em tempo 1. Em 2019, como disse antes, o Projeto Andar de Novo publicou um estudo com três pacientes paraplégicos, demonstrando que conseguiram andar por  vontade própria, usando uma interface cérebro-máquina.

No vídeo abaixo, aparecem os três pacientes. Um deles, o que aparece primeiro, é o Juliano Pinto, aquele mesmo que deu o chute na Copa de 2014! O vídeo foi gravado no antigo laboratório do Projeto Andar de Novo.

Em tempo 2. É um recado do professor Nicolelis em seu perfil de uma rede social:

Antes que alguma empresa de bilionário alegue ser a primeira, aqui o primeiro exoesqueleto controlado por uma interface cérebro-máquina NÃO INVASIVA — sem precisar implantar chip no cérebro — que usa apenas um Iphone como interface entre cérebro e máquina. Teste feito com uma pessoa sem deficiência neste vídeo (confira mais abaixo).

Mas testes clínicos preliminares com pacientes paraplégicos mostraram efetividade do sistema. Além de ser seguro e eficiente, é muito mais barato que a concorrência.

Em tempo 3. Terça-feira, 20 de fevereiro de 2024.

Segundo a Reuters, Elon Musk disse em evento do Spaces no X que o primeiro paciente que recebeu chip cerebral da Neuralink havia controlado o mouse com pensamento, como se fosse algo inusitado.

No mesmo dia, @MiguelNicolelis colocou a ”novidade” no devido lugar, informando:

20 anos atrás, publicamos um paper que virou a capa da Neurosurgery (veja ao lado) descrevendo como 11 pacientes usaram uma interface cérebro-máquina para controlar um cursor de computador com a atividade do próprio cérebro e jogar um vídeo game. Parece que um certo alguém está 20 atrasado!

Coincidentemente, Nicolelis chegou aos EUA em 20 de fevereiro de 1989 e ele festejou:

Hoje completo 35 anos da chegada aos EUA para seguir uma carreira de cientista profissional.
Desembarquei em NY no meio de 1 tempestade de neve e greve nos transportes coletivos. Peguei um taxi p/ chegar na Filadélfia e com John Chapin iniciar a maior aventura das nossas vidas!

Abaixo, a íntegra da tradução do artigo que o cientista Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, o NIH, publicou em seu blog em 12 de junho de 2014 sobre o chute inaugural da Copa do Mundo Fifa no Brasil dado pelo jovem paraplégico de 29 anos, Juliano Pinto, ”vestindo” uma roupa robótica (exoesqueleto) controlada pelo pensamento.

Pesquisa de Neurociências dá chute inicial da Copa do Mundo

Por Dr. Francis Collins*, em 12/06/2014, no Blog do Diretor do NIH

Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo pode ver hoje pela primeira vez em ação a pesquisa de vanguarda em neurociência, quando um jovem paraplégico, vestindo um exoesqueleto robótico controlado pelo pensamento, chutou uma bola para o lançamento do Copa Mundial Fifa 2014, na cerimônia de abertura em São Paulo – Brasil.

Ainda que falte muito trabalho para que este ou dispositivos semelhantes se tornem  amplamente disponíveis para pessoas com paralisia, o momento de hoje fornece uma visão inspiradora de apenas uma das muitas coisas que podem ser alcançadas quando a ciência recebe suporte financeiro a  longo prazo.

De fato, o debut dramático deste exoesqueleto robótico está fundamentado em mais de 20 anos de estudos científicos, incluindo pesquisa básica apoiada pelo NIH e pesquisa clínica financiada pelo governo brasileiro.

O líder da equipe, Miguel Nicolelis, o brasileiro que co-dirige o Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte, vem trabalhando na interface cérebro-máquina em vários modelos animais há décadas [1].

Em um experimento pioneiro que envolve um macaco equipado com sensores cerebrais que enviaram comandos em tempo real associados com movimentos da perna, Nicolelis mostrou que o animal poderia estimular um robô controlado por computador localizado a milhares de quilômetros de distância a andar, simplesmente pensando em andar [2].

Agora, Nicolelis mostrou que uma façanha similar é possível com seres humanos, usando um sistema de exoesqueleto robótico construído em conjunto com colegas alemães que fazem parte da organização sem fins lucrativos, o Projeto Andar de Novo.

A pessoa paralisada usa um boné especial que contém eletrodos que leem as suas ondas cerebrais.

Para mover o exoesqueleto de plástico e alumínio, a pessoa precisa imaginar que está fazendo realmente cada fase de seus movimentos desejados. Por exemplo, “começar a andar”, “vire à direita”, “chutar a bola”, “sentar-se”, e assim por diante.

Esses sinais cerebrais são enviados a um computador – fica dentro de uma mochila usada pela pessoa –, onde são convertidos para comandos que controlam o exoesqueleto.

Para ajudar os usuários a manter o equilíbrio, o exoesqueleto é equipado com giroscópios internos de estabilização.

Além disso, para ajustar os seus movimentos, o exoesqueleto apresenta sensores de “pele artificial” em seus pés que captam várias sensações que são transmitidas como vibrações para os braços da pessoa.

Isso cria um ciclo de feedback que as pessoas com paraplegia relatam que a fazem sentir como se estivessem andando, ao invés de serem movidas por uma máquina.

(Nota: Embora as pessoas com paraplegia não possam mover as pernas, elas podem mover os seus braços. Tetraplégicos sofrem de lesões ainda maiores na medula espinhal, e não têm a capacidade de mover os braços e as pernas).

No sistema de interface cérebro-máquina usado na cerimônia de Copa do Mundo, a mochila contém equipamentos hidráulicos com baterias suficientes para abastecer o exoesqueleto durante um par de horas. Ao computador, acrescenta-se um equipamento colossal de 60 libras (aproximadamente 30 kg). Mas isso não é tão ruim quanto parece, porque o peso é suportado pela estrutura do exoesqueleto, e não pela pessoa que o usa.

Este desenvolvimento dramático deve servir de encorajamento para as pessoas que vivem com paralisia, estimadas em 6 milhões só nos Estados Unidos.

Ainda assim, temos de ser realistas em nossas expectativas. Tão convincente quanto a demonstração de hoje possa ter sido, ela foi apenas uma prova de conceito.

Os exoesqueletos robóticos estão nos primeiros estágios de desenvolvimento. Os cientistas precisam aperfeiçoar seus projetos e testá-los em mais pessoas, e eles precisam analisar e publicar a enorme quantidade de dados que eles já se reuniram.

Eu me encontrei com Nicolelis e sua equipe e visitei o laboratório de Projeto Andar de Novo em São Paulo há apenas duas semanas.

Na ocasião, assisti dois paraplégicos em fase final de treinamento para o grande dia. A atmosfera (e a tecnologia) foi eletrizante!

Nicolelis, vencedor do prêmio NIH Director’s Pioneer de 2010, referiu-se ao pontapé inicial da Copa do Mundo como seu “moonshot” (voo à lua).

Nós dois, porém, concordamos que para os futuros avanços da investigação nesta área será necessário um entendimento ainda mais rico de como os circuitos no cérebro realizam a sua notável variedade de atividades sofisticadas.

E, desde a semana passada, nós temos um novo modelo para esse esforço — um Grupo de Trabalho distinto do meu Comitê Assessor entregou um ousado e inspirador plano de dez anos para o componente do NIH da Iniciativa BRAIN (Brain Research through Advancing Innovative Neurotechnologies – Pesquisa no Cérebro através do Avanço de Neurotecnologias Inovadoras).

Terei mais a dizer sobre isso em futuros posts, mas você pode dar já agora dar uma olhada no relatório.

[1] Learning to control a brain-machine interface for reaching and grasping by primates. Carmena JM, Lebedev MA, Crist RE, O’Doherty JE, Santucci DM, Dimitrov DF, Patil PG, Henriquez CS, Nicolelis MA. PLoS Biol. 2003 Nov;1(2):E42. Epub 2003 Oct 13.

[2] Mind Control Monkey Moves Robot in Japan. (YouTube video)

Tradução: Viomundo

*O médico Francis Collins era diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos EUA, na época da Copa do Mundo Fifa de 2014. O artigo, em inglês, foi publicado em seu blog — o Blog do Diretor do NIH 

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Comentários

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Roque

Outra hipótese para o tendencioso favorecimento à Elon, em detrimento de Nicolelis seria talvez, o interesse pelo investidor estrangeiro. Afinal, ao glorificar os feitos de um concorrente, poderia a FIFA ou a mídia brasileira ser indecorosa com o magnata.

Valter Silva

Viva a ciência brasileira! Viva o professor Miguel Nicolelis!!!

Atenas

Excelente matéria, só corrijam a grafia de “voo”, pois não é mais “vôo” desde a reforma ortográfica de 2009.

    Redação

    Putz, verdade!!! Gratíssima pelo alerta. Corrigirei já! Abraço

Fábio Uiliam Bertotti

Eu espero que o professor Miguel Nicolelis consiga abrir o Instituto de Neurociência que ele tinha comentado que iria abrir em vários continentes entre eles um no Brasil. Ele chegou a comentar no YouTube que iria abrir também na Europa, Ásia e nos EUA.

Zé Maria

.

Os Ultraliberais Nazi-Fascistas Donos dos Grupos Globo, Estadão e Folha

querem que o Brasil seja o Esgoto dos Estados Unidos da América (EUA).

https://pbs.twimg.com/media/GG96SpRWwAE8Dz-?format=png

.

Zé Maria

.

Só Por Curiosidade…

Quanto é que o Musk tá Pagando pra

fazerem Publicidade da Empresa dele?

.

Zé Maria

.

Se ‘Propaganda & Marketing’ é ‘Ciência’,

então é a ‘Ciência’ de Enganar a População

Fingindo que a Está Servindo, sem dúvida.

[Da Série: “Tempos de Ultraliberalismo” Ou:
“Como Ficar Rico com o Trabalho Alheio”]

.

Zé Maria

.

Combinação Mortal:

Branco, Sul-Africano, Naturalizado Estadunidense e

Herdeiro de Dono de Mina de Esmeraldas Milionário.

.

Zé Maria

.

O Musk é um Bilionário Salafrário.

E é Bilionário porque é Salafrário

E Salafrário porque é Mau-Caráter.

.

Rafael

Marketing é uma ciência. Quem tem domínio se sobressai, mesmo com resultados menos relevantes.

Léo Pasqualini de Andrade

Naquele dia da copa do mundo de 2014, corri pra poder ver o verdadeiro ponta pé inicial , chegava em Congonhas vindo de Curitiba. A minha decepção com a TV foi imensa, quase chorei não entendendo o porquê não estava sendo transmitido a experiência de um dos importantes cientistas brasileiros, o prof Miguel Nicolelis.
O que veio depois no Brasil foi consequência dessa política de extrema direita da mídia brasileira, que enaltece um babaca como EM, eternizando o nosso complexo de vira latas. Ainda bem que existe imprensa comprometida com fatos e controvérsias. Parabéns ao Lula, aos jornalistas atentos aos fatos e controvérsias, mas principalmente ao nosso professor brasileiro, Miguel Nicolelis.

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