Marcelo Auler: Lauro Jardim entrega procuradores como suas fontes. E agora, dr. Janot?
Tempo de leitura: 3 minLauro Jardim entrega as suas fontes: os procuradores. E agora, dr. Janot?
por Marcelo Auler, em seu blog
No mesmo sábado (11/06) em que o jornal O Globo, na sua página 4, publicou declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, desmentindo que vazamentos partam da Procuradoria Geral da República (PGR), a coluna de Lauro Jardim, no site do jornal, apontou os procuradores da República como a fonte de informação de delação na Operação Lava Jato.
Mais grave, delação que ainda acontecerá. Ou seja, nem no papel está.
A notícia foi explorada no domingo (12/06) pelo próprio O Globo, em sua Manchete e já foi alvo de comentário do Fernando Brito em O Tijolaço: Marina, o “caixa 2 da OAS” e o castigo da hipocrisia.
No meu entendimento, porém, mais grave que qualquer hipocrisia de Marina, é a questão de onde surgiu o vazamento: da Procuradoria. Senão vejamos.
Na coluna, Lauro Jardim diz claramente que o “ex-presidente da OAS se comprometeu com os procuradores a falar do caixa dois que, segundo ele, irrigou a campanha de Marina Silva à presidência em 2010” (grifei).
Normalmente, notícias como esta são atribuídas genericamente.
Não se costuma especificar se a fonte foi procurador, delegado, agente, juiz ou advogado.
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Não se sabe se por descuido ou por algum outro interesse, Jardim não se referiu, por exemplo, a “investigadores”.
Se usasse esta expressão, dissimularia de quem partiu a informação pois poderia ser alguém da Polícia Federal, do Ministério Público Federal ou do Judiciário.
Mas ele cravou: “procuradores”.
Trata-se de uma conversa privada, que antecede a um depoimento, na qual acertam-se detalhes do que a testemunha tem a falar para que o(s) procurador(es) avalie(m) o real interesse da “delação”.
Diálogo que só deveria ser do conhecimento de duas partes: quem fala e quem ouve.
Admitamos que o delator estivesse acompanhado de seu advogado e que a conversa tenha sido com mais de um procurador.
Ainda assim, são apenas duas partes: acusado/defesa e acusadores.
Obviamente, ao delator não interessa vazar nenhuma informação deste tipo, até para não comprometer a própria delação que algum beneficio lhe trará.
Tanto ele como sua defesa sabem que o vazamento pode até melar a delação.
Principalmente algo que é apenas promessa. Ou seja, não foi colocado no papel e, por isso mesmo, ainda está longe de valer oficialmente.
Como se sabe, não basta apenas colocar no papel. A delação, depois de feita, precisa ser homologada judicialmente.
O próprio Janot questiona: “a quem esse vazamento interessa?”
Realisticamente, não há porque imaginar que o vazamento tenha partido do empresário ou da sua defesa.
Resta(m) então o(s) procurador(es).
Admita-se até que nenhum procurador que estivesse na conversa tenha falado com Jardim.
O jornalista pode ter recebido a informação por terceira pessoa.
Um outro procurador? Um delegado da Polícia Federal? Alguém do Judiciário? A mulher/namorada de quem esteve na conversa? Um assessor? Um amigo de confiança com quem o(s) procurador(es) foi(foram) beber no bar ou encontrou-se (encontraram-se) em algum local?
O indiscutível é que só quem ouviu a conversa pode ter passado adiante, seja para o jornalista, seja para a terceira pessoa que levou ao conhecimento do jornalista.
Independentemente da hipótese pela qual a notícia chegou à coluna, alguém vazou.
Se a conversa/promessa foi com procurador(es), ele(s), muito provavelmente, foi(foram) o(s) autor(es) do vazamento.
Quando, na sexta-feira, o procurador-geral da República negou “peremptoriamente” – termo que ele usou – que a PGR tenha vazado a informação a respeito do pedido de prisão dos senadores Ranan Calheiros, Romero Jucá e do ex-presidente José Sarney, fez a conhecida e velha pergunta: “A quem esse vazamento beneficiou? Ao Ministério Público não foi”.
Aliás, sobre este episódio do vazamento das informações do pedido de prisão dos dois senadores e do ex-presidente, vale aqui lembrar o que bem colocou neste domingo (12/06) Janio de Freitas, em sua coluna Depois dos vazamentos, na Folha de S. Paulo.
A Janot não é dado o direito apenas de negar, ele tem poderes para apurar:
O que desagradou a Janot, com razão, não é suficiente para dispensá-lo, já que houve o vazamento parcial, de proporcionar à opinião pública os esclarecimentos convenientes. No mínimo, por dever de servidor público. Também porque, afinal de contas, o vazamento só poderia vir do conjunto de áreas e servidores de que Rodrigo Janot é um dos responsáveis maiores. Além disso, foi Janot quem divulgou uma advertência lúcida sobre a necessidade de contenção da vaidade e da prepotência nos que lidam com Justiça.
Mas, a mesma questão que o procurador-geral levantou – “a quem esse vazamento beneficiou?” – pode ser repetida neste caso em que Jardim entregou a fonte.
Leia também:
Janot nega vazamento, enquanto a PGR vaza mais documento contra Lula para a Globo
Comentários
Dulce Maria
O vazamento ou é uma moeda de barganha ou antecipa aos delatados como devem proceder. Não há inocentes, só interesses…executivo, legislativo, judiciário, empresários e mídia.
Lukas
Pode ser a própria empreiteira.
Paulo ETV
pode ter sido a NSA em linha direta com a Globo ,ou não?
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