Jeferson Miola: Reunião na casa de Braga Netto para assassinato de Lula ocorreu um dia após nota dos comandantes militares estimulando caos e violência

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Reunião na casa de Braga Netto para assassinato de Lula ocorreu um dia depois da nota dos comandantes militares estimulando caos e violência

Por Jeferson Miola, em seu blog

O golpe foi uma diretriz institucional das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

Bolsonaro, oficiais militares, ativistas midiáticos e políticos extremistas foram instrumentos deste projeto institucional, não seus idealizadores centrais.

É fundamental, neste sentido, que as investigações e as punições alcancem, também, a mais alta hierarquia militar [1] envolvida desde a concepção do projeto de poder militar, acalentado muitos anos antes, e [2] atuante na tentativa de materialização deste projeto antidemocrático.

A candidatura presidencial de Bolsonaro foi lançada na AMAN, Academia Militar das Agulhas Negras, ainda em novembro de 2014, em cerimônia de formação de aspirantes a oficiais então presidida pelo atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, outro personagem da dinâmica golpista que em 2022 comandava o Comando Militar do Sudeste tomado pelo acampamento de golpistas autorizados por ele a se manterem no local.

E a vitória eleitoral do Bolsonaro em 2018 foi assegurada pelo Alto Comando do Exército. O emparedamento do STF para manter a prisão ilegal e inconstitucional de Lula e tirá-lo do pleito do qual seria vitorioso foi fator decisivo para a eleição da chapa militar Bolsonaro/Mourão.

O golpe em 2022 só foi abortado porque naquela ocasião, diferente de 1964, o governo dos EUA não autorizou a empreitada militar, o que dividiu os integrantes do Alto Comando.

Emissários da Administração Biden foram mandados a Brasília com instruções diretas de que o regime originado do golpe não seria aceito e não seria reconhecido pela potência imperial.

O general Braga Netto foi um personagem central das cúpulas fardadas na consecução do plano golpista. Ele foi uma peça do jogo desde antes mesmo da eleição de Bolsonaro.

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Designado interventor federal no Rio de Janeiro em 2018, cumpriu com eficiência a missão dada a ele pelo Alto Comando.

Como reconhecimento por suposto serviço essencial para o plano militar, Braga Netto foi considerado pelo general Eduardo Villas Bôas como uma das “três personalidades se destacaram para que o ‘Rio da História’ voltasse ao seu curso normal”.

As outras duas “personalidades” eram [1] Bolsonaro, que “traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar”; e [2] Sérgio Moro, “protagonista da cruzada contra a corrupção ora em curso”.

“O Brasil muito lhes deve”, disse um comovido Villas Bôas ao se despedir do Comando do Exército [11/1//2019].

Braga Netto ocupou lugares de alto poder no período Bolsonaro. Foi chefe da Casa Civil, ministro da Defesa e, na eleição de 2022, integrou a chapa militar como candidato a vice.

E ele também teve papel destacado nas articulações de golpe de Estado tramadas depois da eleição e que, como mostram as investigações da PF, incluíam o assassinato do Lula e seu vice eleito, Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Em 12 de novembro de 2022, Braga Netto se reuniu com outros comparsas criminosos na sua residência para planejar o plano assassino.

Esta reunião aconteceu exatamente um dia depois de os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica publicarem a nota infame Às instituições e ao povo brasileiro, em 11 de novembro de 2022.

Naquela nota, os comandantes atacaram o STF, defenderam os acampamentos criminosos nos quartéis e estimularam o ambiente de caos e de desestabilização do país.

A manifestação dos comandantes foi a senha para os dramáticos acontecimentos subsequentes:

[1] a articulação de Braga Netto com as forças especiais do Exército [os kids pretos] para a missão “Punhal Verde Amarelo”,

[2] as depredações e ataques à PF em Brasília na data de diplomação de Lula e Alckmin, em 12/12/2022,

[3] o fracassado atentado terrorista no aeroporto da capital federal, em 24/12/2022 e, finalmente,

[4] o 8 de janeiro de 2023.

Em 18 de novembro daquele ano Braga Netto tranquilizou bolsonaristas presentes no Palácio do Alvorada com uma declaração enigmática e que, à luz das novas descobertas, pode ser interpretada como uma sinalização do andamento do plano assassino para a tomada de poder: “Não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora”.

A expectativa de concretização do golpe ainda com Bolsonaro na Presidência durou pelo menos até o dia 27 de dezembro de 2022, quando faltavam apenas quatro dias para o fim do governo.

Conversas legalmente interceptadas mostram o general Braga Netto orientando o capitão Sérgio Rocha Cordeiro, da equipe de segurança do Bolsonaro, sobre currículo de uma pessoa buscando vaga de trabalho – “Cordeiro, se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda”.

Note-se que este diálogo surreal aconteceu em 27/12/2022, faltando apenas 5 dias para a posse do presidente Lula.

O que aconteceu no Brasil no último período não foram atitudes isoladas de alguns militares inescrupulosos, porque foi um empreendimento arquitetado e cadenciado pela alta hierarquia militar. A dinâmica golpista envolve as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

Além dos oficiais já identificados e denunciados, é preciso avançar-se em relação a outros militares envolvidos de diferentes maneiras neste processo e que, apesar disso, continuam ocupando postos no Alto Comando do Exército. Pelo menos quatro deles são da mesma turma AMAN do general Mario Fernandes, hoje preso.

Bolsonaro, Mauro Cid, Braga Netto e outros criminosos não podem servir de biombo para esconder o envolvimento institucional profundo das Forças Armadas no plano golpista.

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