Jeferson Miola: Reunião na casa de Braga Netto para assassinato de Lula ocorreu um dia após nota dos comandantes militares estimulando caos e violência

Tempo de leitura: 4 min
Ilustração: Nando Motta

Reunião na casa de Braga Netto para assassinato de Lula ocorreu um dia depois da nota dos comandantes militares estimulando caos e violência

Por Jeferson Miola, em seu blog

O golpe foi uma diretriz institucional das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

Bolsonaro, oficiais militares, ativistas midiáticos e políticos extremistas foram instrumentos deste projeto institucional, não seus idealizadores centrais.

É fundamental, neste sentido, que as investigações e as punições alcancem, também, a mais alta hierarquia militar [1] envolvida desde a concepção do projeto de poder militar, acalentado muitos anos antes, e [2] atuante na tentativa de materialização deste projeto antidemocrático.

A candidatura presidencial de Bolsonaro foi lançada na AMAN, Academia Militar das Agulhas Negras, ainda em novembro de 2014, em cerimônia de formação de aspirantes a oficiais então presidida pelo atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, outro personagem da dinâmica golpista que em 2022 comandava o Comando Militar do Sudeste tomado pelo acampamento de golpistas autorizados por ele a se manterem no local.

E a vitória eleitoral do Bolsonaro em 2018 foi assegurada pelo Alto Comando do Exército. O emparedamento do STF para manter a prisão ilegal e inconstitucional de Lula e tirá-lo do pleito do qual seria vitorioso foi fator decisivo para a eleição da chapa militar Bolsonaro/Mourão.

O golpe em 2022 só foi abortado porque naquela ocasião, diferente de 1964, o governo dos EUA não autorizou a empreitada militar, o que dividiu os integrantes do Alto Comando.

Emissários da Administração Biden foram mandados a Brasília com instruções diretas de que o regime originado do golpe não seria aceito e não seria reconhecido pela potência imperial.

O general Braga Netto foi um personagem central das cúpulas fardadas na consecução do plano golpista. Ele foi uma peça do jogo desde antes mesmo da eleição de Bolsonaro.

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Designado interventor federal no Rio de Janeiro em 2018, cumpriu com eficiência a missão dada a ele pelo Alto Comando.

Como reconhecimento por suposto serviço essencial para o plano militar, Braga Netto foi considerado pelo general Eduardo Villas Bôas como uma das “três personalidades se destacaram para que o ‘Rio da História’ voltasse ao seu curso normal”.

As outras duas “personalidades” eram [1] Bolsonaro, que “traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar”; e [2] Sérgio Moro, “protagonista da cruzada contra a corrupção ora em curso”.

“O Brasil muito lhes deve”, disse um comovido Villas Bôas ao se despedir do Comando do Exército [11/1//2019].

Braga Netto ocupou lugares de alto poder no período Bolsonaro. Foi chefe da Casa Civil, ministro da Defesa e, na eleição de 2022, integrou a chapa militar como candidato a vice.

E ele também teve papel destacado nas articulações de golpe de Estado tramadas depois da eleição e que, como mostram as investigações da PF, incluíam o assassinato do Lula e seu vice eleito, Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Em 12 de novembro de 2022, Braga Netto se reuniu com outros comparsas criminosos na sua residência para planejar o plano assassino.

Esta reunião aconteceu exatamente um dia depois de os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica publicarem a nota infame Às instituições e ao povo brasileiro, em 11 de novembro de 2022.

Naquela nota, os comandantes atacaram o STF, defenderam os acampamentos criminosos nos quartéis e estimularam o ambiente de caos e de desestabilização do país.

A manifestação dos comandantes foi a senha para os dramáticos acontecimentos subsequentes:

[1] a articulação de Braga Netto com as forças especiais do Exército [os kids pretos] para a missão “Punhal Verde Amarelo”,

[2] as depredações e ataques à PF em Brasília na data de diplomação de Lula e Alckmin, em 12/12/2022,

[3] o fracassado atentado terrorista no aeroporto da capital federal, em 24/12/2022 e, finalmente,

[4] o 8 de janeiro de 2023.

Em 18 de novembro daquele ano Braga Netto tranquilizou bolsonaristas presentes no Palácio do Alvorada com uma declaração enigmática e que, à luz das novas descobertas, pode ser interpretada como uma sinalização do andamento do plano assassino para a tomada de poder: “Não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora”.

A expectativa de concretização do golpe ainda com Bolsonaro na Presidência durou pelo menos até o dia 27 de dezembro de 2022, quando faltavam apenas quatro dias para o fim do governo.

Conversas legalmente interceptadas mostram o general Braga Netto orientando o capitão Sérgio Rocha Cordeiro, da equipe de segurança do Bolsonaro, sobre currículo de uma pessoa buscando vaga de trabalho – “Cordeiro, se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda”.

Note-se que este diálogo surreal aconteceu em 27/12/2022, faltando apenas 5 dias para a posse do presidente Lula.

O que aconteceu no Brasil no último período não foram atitudes isoladas de alguns militares inescrupulosos, porque foi um empreendimento arquitetado e cadenciado pela alta hierarquia militar. A dinâmica golpista envolve as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

Além dos oficiais já identificados e denunciados, é preciso avançar-se em relação a outros militares envolvidos de diferentes maneiras neste processo e que, apesar disso, continuam ocupando postos no Alto Comando do Exército. Pelo menos quatro deles são da mesma turma AMAN do general Mario Fernandes, hoje preso.

Bolsonaro, Mauro Cid, Braga Netto e outros criminosos não podem servir de biombo para esconder o envolvimento institucional profundo das Forças Armadas no plano golpista.

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Comentários

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Zé Maria

.

“A Policia Federal acaba de indiciar Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas
por ‘Tentativa de Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito,
Golpe de Estado e Organização Criminosa’.

Entre os indiciados também estão o General Braga Netto,
o General Augusto Heleno e Valdemar Costa Neto,
presidente do PL, Partido de Bolsonaro.

Neste mesmo inquérito, Bolsonaro e Braga Netto também
estão sendo investigados [e deverão ser indiciados] pelo
envolvimento no Plano de Assassinato de Lula, Alckmin e
Alexandre de Moraes, motivo pelo qual o PSOL já pediu,
nesta semana, a Prisão Preventiva do ex-Presidente e
do ex-Ministro da Defesa.”

ERIKA HILTON
Deputada Federal (PT/SP)
Líder do PSoL na Câmara Federal
https://x.com/ErikakHilton/status/1859665906688983258

[É Pouco. Mas já é um Início]

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Zé Maria

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“General Preso pela PF era Elo entre Jair Bolsonaro
e Acampamento Golpista no QG em Brasília”

Ex-Secretário-Executivo da Secretaria-Geral da Presidência
da República no Governo de Jair Bolsonaro foi um dos Oficiais
Militares que liderou o Planejamento dos Assassinatos, diz PF.

[ Reportagem: Caroline Oliveira | Brasil de Fato: https://t.co/U1ycdntGVf ]
https://x.com/brasildefato/status/1858913572358943160

Íntegra em:

https://www.brasildefato.com.br/2024/11/19/general-preso-pela-pf-era-elo-entre-acampamento-golpista-em-brasilia-e-jair-bolsonaro-aponta-investigacao

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Zé Maria

Quantas Gerações ainda passarão
até que essa Escória Militar seja
Expurgada das Forças Armadas?

Zeca Brasil

Na República Bananeira, todo dia é dia de golpe

O jornalão carioca (e seu canal de notícias), habitué em passar pano para os militares bananeiros, já começou a construir a versão “oficial” da tentativa de golpe terrorista que acaba de ser revelada. Seus colonistas (como dizia o saudoso Paulo Henrique Amorim), já começaram a difundir o “mal-estar” que tomou contas das FFAA. Dizem que a caserna foi tomada pela “tristeza”, “surpresa” e “decepção”, pela “traição” de uma “minoria” que causou “estrago terrível”, alimentando preconceitos contra os militares.

Seria hilário se não fosse trágico. O golpe sempre foi o plano A no caso de derrota do bozo. O lançamento do intelectualmente medíocre “Projeto Brasil 2035” já anunciava a intenção dos militares de permanecerem no poder. A ação de desacreditar as urnas eletrônicas foi apenas uma das ações preparatórias. Outra foi a nota das três forças do dia 11 de novembro, que defendeu os acampamentos nos quartéis e reafirmou explicitamente o papel “moderador” dos militares (e que, agora sabemos, foi na véspera da reunião dos golpistas na casa de de um general). E ainda há outras dúzias de evidências de que as forças armadas, em uníssono, estavam preparando um golpe.

O Plano teve, no entanto, uma oposição de peso. De acordo com matérias do Financial Times. assessores de segurança nacional de Joe Biden vieram aos Brasil e deixaram claro que os EUA não só não apoiariam como condenariam qualquer ruptura institucional. Ironias da história: os que sempre patrocinaram golpes e desestabilizações do nosso país, por conta de uma conjuntura doméstica (o fator Trump), decidiram se opor ao golpe de seus vassalos.

Foi um balde de água fria na milicada. Afinal, sua desobediência seria um ato de rebeldia aos olhos de seus reais comandantes, o Comando Militar Sul dos EUA, com consequências que poderiam ser bem desagradáveis. Isso dividiu o comando militar. Em áudio de um coronel golpista, do dia 19/11/2022, tornado público pela PF nesta semana, ele diz claramente sobre o alto comando do exército: “cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto”. Ou seja, dos 16 integrantes, apenas 5 não queriam aderir (e talvez somente por não ter o apoio do Tio Sam).

È nesse momento que a arquitetura do golpe toma outro rumo. De forma planejada ou velada, foi dada carta branca para a ala mais radicalizada. Porque nada foi feito para impedi-los de prosseguir com o plano criminoso. E isso não foi omissão, foi estratégia. Com um golpe fadado ao fracasso, contavam que os radicalizados fariam o trabalho sujo e “deram corda para eles se enforcarem”. Diante do isolamento internacional, aí sim os “legalistas” entrariam em cena para colocar ordem na casa. Claro, depois de terem sido assassinadas as principais lideranças da república. E ficaram posando de “salvadores da democracia”.

Esse era o plano. Não é difícil enumerar as evidências que conformam essa tese. Aliás, essa é a versão que o jornalão carioca, sabujo dos militares, está tentando emplacar: os militares impediram que a ala radicalizada desse o golpe e salvaram a república. Quem é otário que acredite.

O escândalo que acaba de vir à tona, da trama de um golpe que culminaria com o assassinato das maiores autoridades da república, exige uma resposta contundente e imediata. As FFAA bananeiras digo, brasileiras, são golpistas desde a sua origem. As escolas que formam os futuros oficiais deveriam ser objeto de uma intervenção pedagógica do poder civil. Estão completamente contaminadas. São centros formadores de “bolsonaros do amanhã” criados à imagem e semelhança da criatura mais repugnante e desprezível que já ocupou a presidência do nosso país. Isso tem que acabar.

Não é hora de titubear. Os golpistas mais empedernidos estão contando com um sinal verde vindo de Washington após a posse de Trump para voltar a conspirar e golpear. Não há joio a ser separado do trigo. Os fardados são ervas daninhas plantadas no mesmo canteiro. Como não será possível arrancá-las, devem ser severamente podadas. Ou a nossa democracia não sobreviverá até 2026.

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