Jeferson Miola: Jantar de Toffoli expõe promiscuidade entre chefe do Judiciário, multinacionais influentes e governo dos EUA

Tempo de leitura: 4 min
Da esquerda para a direita: Eduardo Toledo (diretor-geral do STF), Douglas Pereira (Poder360), André Araújo (presidente da Shell no Brasil), William Popp (encarregado interino de negócios da Embaixada dos EUA), Paula Belizia (à frente, presidente da Microsoft Brasil), Paulo Celso Pereira (O Globo), Cláudia Safatle (Valor), Marcela Rocha (MR.com), Tales Faria (Poder360), Fernando Rodrigues ( Poder360), Dias Toffoli, Delcio Sandi (diretor de relações governamentais da Souza Cruz), Melchíades P. Filho (diretor da FSB), Daniela Vilhena (diretora jurídica da Souza Cruz), Nicola Callichio (presidente da McKinsey), Tiago Vicente (relações institucionais da Shell), Denise Rothenburg (Correio Braziliense), Daiane Nogueira (secretária-geral do STF), Guilherme Pera (editor-assistente do Poder360) e Guilherme Alpendre ( Poder360) Foto: Sérgio Lima/Poder360

O jantar do Toffoli com multinacionais e a Embaixada dos EUA: no cardápio, a ética pública e a independência do judiciário

por Jeferson Miola, em seu blog

Imagine-se um país em que o presidente da Suprema Corte participa de um jantar promovido por uma empresa de jornalismo profissional ao qual comparecem – além dos jornalistas, por suposto – executivos de poderosas multinacionais e a Embaixada dos EUA.

Esse país existe, e não é nenhuma ditadura de alguma republiqueta desprezível; é o Brasil, e os comensais têm notórios interesses econômicos, geopolíticos e estratégicos no país.

Foi exatamente o que aconteceu na noite da segunda-feira, 26/11/2018.

O presidente Dias Toffoli, do STF, foi o “convidado principal da 11ª edição do encontro do Poder360-ideias, divisão de eventos do Poder360 […] que promove debates, entrevistas, encontros, seminários e conferências com o objetivo de melhorar a compreensão sobre a conjuntura nacional”.

Toffoli esteve acompanhado do seu staff – a secretária-geral, o diretor-geral e o assessor de imprensa do STF e o secretário-geral do CNJ.

Além dos/as jornalistas, participaram do evento executivos do PIB multinacional, como o presidente, o vice-presidente jurídico e o executivo de relações corporativas da Coca-Cola no Brasil; o presidente da McKinsey & Company, conhecida como a líder mundial no mercado de consultoria empresarial; a presidente da Microsoft no Brasil; o presidente e o executivo de relações institucionais da Shell no Brasil; o diretor de relações governamentais e a diretora jurídica da Souza Cruz; e, cereja do bolo, o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil.

O serviço do saite Poder360 informou que “O jantar foi no tradicional restaurante Piantella, no centro de Brasília, e participaram do encontro jornalistas de vários veículos e empresários”. […] “A sala usada para o encontro fica no mezanino do estabelecimento e é decorada com fotos históricas de políticos e eventos do poder na capital federal”.

A reportagem do Poder360 anotou diversos temas abordados por Toffoli:

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– sobre o indecente aumento salarial para a aristocracia judiciária, que custará mais de R$ 5 bilhões ao ano aos cofres públicos, Toffoli gaba-se que foi “O 1º desafio complexo vencido” [sic]. […] “Segundo o presidente do STF, a decisão é o ‘regaste da dignidade da magistratura e do Ministério Público’” [sic];

– sobre o limite salarial da casta privilegiada, ele entende que “Tem que acabar com o teto. O teto vira piso. […] O fato é que nós temos que redefinir essa questão relativa ao teto.”;

– ele reconhece que o ativismo político do judiciário tem o mesmo caráter golpista que teve o golpe militar de 1964: “É hora de o Judiciário se recolher ao seu papel tradicional. Deixar a política e os representantes eleitos pelo povo assumirem as proposições. […] Nós não podemos cometer o mesmo erro que os militares cometeram [em 1964].

E conclui com uma afirmação estapafúrdia, que deturpa a história: “O que a sociedade pediu [?!] foi para eles [os militares] entrarem, solucionarem o problema e saírem” [sic];

– sentindo-se à vontade, Toffoli antecipa juízo de valor sobre matéria que poderá ter de julgar, como a revogação da “PEC da Bengala”.

Em linha com os tempos bolsonaristas, usa a mesma linguagem do presidente eleito: “Isso aí é inconstitucional. Vai valer apenas para quem ele [Bolsonaro] indicar. É 1 esforço inútil. […] O Moro me disse que isso aí não existe na proposta dele.”.

O evento expõe uma perigosa e inconcebível promiscuidade entre o chefe do Poder Judiciário com multinacionais influentes e com o governo dos EUA.

Não se encontra na Constituição da República, tampouco na Lei Orgânica da Magistratura e no Código de Ética da Magistratura, algum dispositivo que Toffoli possa se amparar para justificar tão escandalosa intimidade.

Qual o critério para a seleção daqueles comensais é um mistério que o serviço do evento não deixa claro.

O certo é que se acontecesse um jantar desse estilo em Washington, o escândalo defenestraria o funcionário público – no caso, o juiz – em poucas horas.

Por questão de justiça, se é que se pode falar em justiça neste Brasil de exceção, deve-se lembrar que esta prática promíscua não foi inventada por Toffoli.

Carmem Lúcia, que o antecedeu na presidência da Suprema [sic] Corte foi a convidada do programa inaugural do Poder360-ideias em janeiro, em convescote que contou com a presença da Coca Cola, Shell, Siemens, Souza Cruz, Telefônica Vivo – além, naturalmente e por suposto, de jornalistas.

O serviço do Poder360 da época não informou o motivo para a ausência da Embaixada dos EUA naquele que também deve ter sido um momento tão íntimo e de inesquecível estupro do que deveria ser uma República, uma democracia e um Estado de Direito.

Naquele como neste evento, jantaram a ética e a moralidade pública e a independência do judiciário em relação ao poder econômico multinacional e a governo estrangeiro.

Nota: o registro fotográfico de Sérgio Lima/Poder360 não deixa dúvidas do clima agradável, amistoso e de congraçamento do jantar

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Comentários

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Jardel

Perderam a vergonha. Isso aqui vai virar uma Guatemala.
Tudo a reboque do Golpe de 2016.

Roberto Silva

Só faltou as fotos da orgia no Bahamas, depois do jantar.Triste Brasil de homens honrados que passaram pelo STF,hoje em dia são celebridades,as favas com a lei.

RONALD

Neste convescote nababesco, nunca está presente um representante dos 99,99% da sociedade brasileira, nunca !!!!
E são os 99,99% que sustentam esses parasitas !!!!

Zé Maria

Caindo a tal PEC da Bengala (Emenda Constitucional que estabelece a Aposentadoria Compulsória aos 75 Anos para os Ministros dos Tribunais Superiores e do TCU),
Botsonauro poderá nomear no mínimo 4 dos 11 Ministros do STF.

Bolsonaristas querem derrubar PEC da Bengala

Por Raphael Di Cunto | De Brasília

Deputados do PSL e aliados do futuro governo pretendem apresentar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) no início da legislatura para revogar a emenda constitucional da Bengala, que adiou a idade de aposentadoria compulsória dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de 70 anos para 75 anos, com o objetivo de permitir que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) tenha maior influência sobre a Corte, nomeando 4 dos 11 integrantes do STF, e não apenas dois, como previsto.

https://www.valor.com.br/politica/5985521/bolsonaristas-querem-derrubar-pec-da-bengala

    Zé Maria

    EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 88, DE 7 DE MAIO DE 2015

    Art. 2º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido do seguinte art. 100:

    “Art. 100. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição Federal.”

    Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

    Brasília, em 7 de abril de 2015.

    Mesa da Câmara dos Deputados
    Deputado EDUARDO CUNHA
    Presidente

    Mesa do Senado Federal
    Senador RENAN CALHEIROS
    Presidente

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc88.htm

Maria Boeno

Não tenho vergonha de ser Brasileira,tenho é muito orgulho!
pena q na escola e faculdade q esses do STF estudaram não teve a matéria respeito ética e educação a quem tanto trabalha pra pagar suas fortunas e regalias, isso sim me dá vergonha.

Rogerio Faria

O cara diz que o golpe de 1964 foi um “movimento”, o que esperar deste entreguista.

Admar

Justissa Nua!!!

Augusto Pimentel

Um abraço à todos.infelizmente está geração não vai ter o prazer de sentir um pais justo é digno. Esta petranha que está no poder não sairá tão cedo.Vamos ter que conviver com mitiras. O povo tem uma certa culpa neste processo, uma sociedade que não ler, não pode ter opinião própria.

Nelson

Mas, o que importa, meu caro Miola, é que “as instituições estão funcionando” no “Bananão”.

E, como o combate à corrupção está sendo travado com a devida bravura por Moro e seus asseclas, certamente esta reunião tão íntima entre o chefe-mor do nosso Judiciário e alguns representantes do grande capital só pode ter a melhor das intenções.

Fiquemos bem tranquilos, pois, que eles estão a trabalhar pelo bem do Brasil e de seu povo.

O quê? Não me diga que eu estou sendo otimista demais ou ingênuo em demasia.

Fernando Carneiro

Uma vez canalha, sempre canalha.

ejr

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