Aids: Ativistas denunciam que desativação de leitos está na contramão da epidemia
Tempo de leitura: 4 minpor Conceição Lemes
Em junho deste ano, a atenção às pessoas vivendo com HIV/aids na cidade de São Paulo sofreu um revés. A Secretaria Estadual de Saúde fechou a Casa da Aids, que funcionava à rua Frei Caneca. Os seus 3,3 mil pacientes foram transferidos para o já superlotado Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Mas, tudo indica, um outro tranco está a caminho. A Secretaria Estadual de Saúde pretende desativar os leitos da internação do Centro de Referência e Treinamento de Aids (CRT/Aids), um serviço histórico, de reconhecida excelência, na assistência às pessoas que vivem com HIV/aids.
ONGs, pacientes, ativistas e militantes da área de saúde pública têm tentado dissuadir os gestores estaduais dessa decisão. Até agora tudo em vão.
Por isso, nesta terça-feira 28, a partir das 10h, eles promovem o ato Ocupa CRT!, para chamar a atenção da sociedade para o problema. Será no próprio CRT, rua Santa Cruz, 81, próximo à estação Santa Cruz do metrô, na Vila Mariana. Além de protestar contra o fechamento dos leitos do CRT, chamarão atenção sobre o fim da Casa da Aids.
Entrevistamos Rodrigo de Souza Pinheiro, presidente do Fórum de ONGs de Aids do Estado de São Paulo, sobre a ameaça de fechamento dos leitos oferecidos pelo CRT. Fundado em 1997, o Fórum congrega 98 organizações não governamentais que atuam nas diversas áreas de HIV/aids.
Viomundo — Quantos leitos serão desativados no CRT?
Rodrigo Pinheiro — Eles [os gestores estaduais] querem fechar todos. Somam 24. São leitos utilizados para hospital/dia e pronto-atendimento.
Viomundo — Por que fechá-los?
Rodrigo Pinheiro – Alegam que, centralizando tudo no Emílio Ribas, reduzirão custos. Só que o Emílio Ribas alega não ter condições para atender tal demanda.
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Viomundo — A Secretaria Estadual de Saúde também argumenta que não tem sentido um serviço ambulatorial, como o CRT, internar pacientes.
Rodrigo Pinheiro — Não concordo com a alegação dada pela Secretaria Estadual de Saúde. O Centro de Referência e Treinamento, como o próprio nome diz, é um centro especializado de qualidade e treinamento, que tem sido referência para outros serviços no país e no mundo.
Viomundo — O Emílio Ribas não tem mesmo estrutura para atender todos esses pacientes de forma adequada?
Rodrigo Pinheiro — Não tem. Ainda mais com a desativação da Casa da Aids e a transferência dos seus pacientes para o Emílio Ribas, que acabou inchado. Serão quase 10 mil pacientes só de aids [o Ribas já atende 6,5 mil], o que acarretará problemas na qualidade do atendimento, refletindo negativamente na saúde dos usuários.
Viomundo — Se concretizada a desativação de leitos do CRT, será o segundo revés em menos de três meses, já que a Casa da Aids foi fechada em junho. Qual a justificativa da secretaria para extinguir a Casa da Aids?
Rodrigo Pinheiro — As principais alegações são redução de custos e centralização dos atendimentos. Porém, na nossa avaliação, sem a preocupação com a qualidade do atendimento aos pacientes. A Casa da Aids não tinha leitos, só fazia acompanhamento dos pacientes.
Viomundo – Quantos leitos existem hoje no estado para atender às pessoas com aids? E na cidade de São Paulo?
Rodrigo Pinheiro — Não tenho esses números, mas pelas informações que nos chegam o número de leitos tem diminuído em todo o estado.
Viomundo — Atualmente, como está a assistência às pessoas com HIV/aids que estão em acompanhamento no estado de São Paulo?
Rodrigo Pinheiro — A assistência está crítica. Faltam profissionais de saúde. Os serviços estão superlotados. Há dificuldades para atendimento dos casos novos — somente em São Paulo são 5 mil por ano. Não há nenhuma proposta de abertura de serviços para amenizar a situação.
Viomundo — E agora?
Rodrigo Pinheiro — Nós vamos pressionar as mais diversas instâncias, para que o fechamento dos leitos do CRT não se concretize. Isso é um absurdo num momento em que há crescimento do número de pacientes. Está na contramão da epidemia. O Estado de São Paulo responde por grande parte dos casos de HIV/Aids. É preciso um olhar voltado para a qualidade e não uma resposta baseada na economia e no encolhimento de serviços.
Carta aberta – do Fórum de ONGs de Aids
Estamos contra desativação dos leitos da internação do
CRT/HIV/AIDS de São Paulo
A ameaça da diminuição dos serviços oferecidos pelo Centro de Referência e Treinamento (CRT/Aids), está mobilizando os pacientes, ativistas e militantes da saúde pública. Depois de sucessivas reuniões com os gestores estaduais sem solução, a alternativa avaliada pelo grupo é a mobilização através da ocupação do prédio onde funcionam os serviços. Chamando a atenção da sociedade para o problema, principalmente o vivido pelos pacientes de HIV/Aids que fazem seus tratamentos naquele serviço.
O governo do estado de São Paulo pretende desativar vinte e quatro leitos, que atendem usuários do Sistema Único de Saúde – SUS, portadores do vírus HIV. O programa de HIV/AIDS que já foi modelo para o mundo agora corre sério risco.
Começa com a desativação dos leitos, passa para a privatização das recepções, já que segurança, limpeza, refeitório já são terceirizados, assim, justificando passar a administração do Centro de referência e treinamento em DST/HIV/AIDS para as mãos da iniciativa privada, as tais Organizações Sociais, (que de sem fins lucrativos não têm nada).
Os usuários do SUS, que utilizam o serviço não querem permitir que isso aconteça, mas é necessária a adesão de todos, não só ao tratamento, mas nesse momento a união de toda a população se faz necessária para que esse serviço não seja mutilado e nem privatizado.
Um abaixo-assinado estará circulando pela instituição e contamos com a assinatura de todos. Não só as pessoas vivendo com HIV/Aids, mas também as pessoas vivendo com hepatites virais, que também são tratadas no mesmo centro e também as pessoas LGBT, familiares de todos os grupos citados e simpatizantes. Garantindo, assim, o direito de todos por um serviço de saúde digno e resolutivo como sugere a Constituição cidadã de 05/10/1988 nos seus parágrafos de 196 a 202. Deve descrever os parágrafos citados.
CRT sempre teve excelência no atendimento, seu fechamento representaria mais um golpe no estado de saúde dos pacientes. Já fecharam a Casa da Aids e estão inchando o Emílio Ribas, isto reflete negativamente na saúde dos pacientes. São Paulo responde por grande parte dos casos do país, e é preciso um olhar de qualidade e não uma resposta baseada na economia e no encolhimento de serviços.
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João Luiz Cardoso
O fecha-fecha da tucanalha parece que esta novamente de volta.
Rumores, inistentes, sobre o fechamento do Instituto Pasteur, na avenida Paulista, que desenvolve trabalho centenário na luta com a raiva transmitida por mordedura de cães e outros mamíferos menos cotados.É preciso que essas ameaças sejam ventiladas, antes que o mal maior aconteça: o encerramento de atividades de atendimento à combalita Saúde do nosso Estado de S.Paulo.
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