ANTES DE SE ESCONDER: Arthur do Val e integrantes do MBL fotografaram e filmaram ato
Ativistas defendem liberdade de expressão e cultura LGBTT em manifestação na frente do Santander Cultural
Do Já, com fotos de Ricardo Stricher
Foi uma tarde repleta de acontecimentos. O ato liderado por artistas, grupos e movimentos LGBTT contra o cancelamento da exposição “Queermuseu – Cartografias da diferença na América Latina” teve apresentações artísticas, discursos em defesa da diversidade e da comunidade LGBTT, rezas, discussões e terminou com ação violenta da tropa de choque com gás e bombas de efeito moral.
A manifestação começou por volta das 15h30, horário do evento marcado pelas redes sociais.
Diversas pessoas com bandeiras, faixas e cartazes posicionaram-se a favor da liberdade de expressão e em defesa da cultura LGBTT.
Tudo em frente ao Santander Cultural, de portas trancadas ao público.
Foi quando apareceu um pequeno grupo, entre três ou quatro pessoas, com bandeiras do Brasil pedindo intervenção militar.
Após tomarem vaias, trocarem ofensas e discutirem com os manifestantes, o grupo saiu.
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Perto da Rua Gen. Câmara, mais no canto da Praça da Alfândega, ativistas se revezavam ao microfone.
Recriminaram o cancelamento da exposição.
Na porta de entrada do edifício do Santander Cultural, os manifestantes se expressavam culturalmente, com cartazes, apresentações de teatro que variaram de uma simples mordaça na boca ao nu.
O curador da exposição, Gaudêncio Fidelis, também discursou e falou sobre o acontecido.
“Nem na Ditadura tivemos uma exposição de obra de arte desse tamanho, com 83 artistas e 263 obras, fechada”, Fidélis citou o MBL (Movimento Brasil Livre) como principal causador do cancelamento da exposição.
“A mostra já estava com 26 dias, com um público extraordinário e eles descobriram isso. Essa foi uma exposição que foi construída pra abrir o diálogo sobre essas questões importantes e distorceram tudo. Fechar é absurdo”, lamentou o curador.
Grupo de jovens católicos rezaram ao lado do manifesto
Ao lado do manifesto principal um grupo de jovens em círculo e com terço nas mãos orava “Ave-maria” e “Pais-nossos”.
Um dos integrantes do grupo, o jovem Douglas Quadros da Silva justificou: “Viemos pra pedir perdão por essas pessoas”.
Eles se dizem ofendidos religiosamente por algumas obras, como a que tinha palavras como “língua”, “vulva” e “vagina” em pães com formatos de hóstias.
Nem ele nem o amigo Antônio foram a exposição, mas, criticaram – “A exposição em si é desrespeitosa e criminosa”, declarou Quadros.
O grupo permaneceu por cerca de 40 minutos e depois foi embora. Um deles, curiosamente, vestia uma camisa com a imagem de Olavo de Carvalho, intelectual conservador e ícone da direita.
“Mamãe falei” chega e o tumulto começa
A confusão começou mesmo com a chegada de Arthur do Val, criador do canal “mamãe falei”.
O youtuber que tem por praxe frequentar manifestações, protestos ou atos que não vão de encontro ao seu pensamento, não agradou os manifestantes.
Foram duas tentativas. A primeira, do Val tentou conversar, perguntar, sempre com a filmadora na mão. Com pouca atenção e com uma grande vaia ele foi embora.
Retornou após uma hora, talvez um pouco mais que isso, quando o ato já se encerrava. Novamente não foi bem recebido.
Os ânimos se acirraram com empurrões e tapas. A Brigada entrou em ação. O capitão Fagundes pediu para que Arthur e os cinco que o acompanhavam se retirassem. Os jovens demoraram e a tensão aumentou.
A tropa de choque entrou em ação e tomou frente fazendo a proteção de “mamãe” e os cinco que o acompanhavam, entre eles a coordenadora do MBL, Paula Cassol. Paula já acompanhava o movimento de uma distância razoável.
Deu entrevista a repórteres e não havia se envolvido em nenhum conflito. Outros integrantes e simpatizantes do MBL também foram ao ato que era contra o cancelamento da exposição.
Não há arte possível para a gente de bem
A autocensura transformada em censura pelo Santander Cultural é um sinal dos dias sombrios que atravessamos
RIO — Uma exposição que inflamou aquela cidade fria.
Os cidadãos de bem comentavam, mesmo sem ter visto.
As mães protegiam seus filhos daquelas telas, esculturas, fotografias e objetos, consideradas uma ameaça à família, ao espírito nacional, aos altos valores.
Cada obra como um ataque premeditado à ordem; cada defensor desse tipo de arte como um pervertido, pedófilo, bandido ou prevaricador — talvez todos os atributos combinados.
Uma patrulha civil, milícia da moral, de plantão do lado de fora, abordando e intimidando as pessoas.
Afinal de contas, quem não é pelo bem compactua com o mal.
Porto Alegre? MBL? Mostra queer? Não. Este texto começou em Munique, onde, há exatos 80 anos, em 1937, um certo Adolf Hitler transformou a mostra “Arte degenerada” em uma de suas principais peças de propaganda ideológica.
Nas paredes e no espaço, obras de Piet Mondrian, Emil Nolde e Oskar Schlemmer, entre outros grandes nomes da arte moderna.
Esteticamente, eles representavam a ruptura com a ideia de verossimilhança e com o sistema de representação ordenado e hierárquico vigente desde o Renascimento.
Simbolicamente, apontavam para a arte como um horizonte de ambiguidades, de opacidade e de ficção; um campo sem compromisso com o real; um impulso sempre faminto de liberdade e de utopia. E, é claro, um perigo avassalador para a intolerância e o discurso monocórdio de Hitler.
A exposição “Arte degenerada” deu ao ditador a chancela para a destruição de obras dos artistas participantes e também de Picasso, Kandinsky e Matisse — todos vistos como vetores “judaico-bolcheviques”. O resto da história conhecemos bem — ou ao menos deveríamos: obras de arte queimadas, escondidas, destruídas. Artistas e pensadores fugindo ou morrendo.
Na Porto Alegre do último feriado, uma instituição financeira internacional, o banco Santander, fechou um projeto que se dispôs a patrocinar. Uma exposição apresentada à opinião pública como um libelo a favor da diversidade, inaugurada há menos de um mês. No Rio, não vi a montagem da mostra, embora conheça bem boa parte das obras selecionadas pelo curador Gaudêncio Fidélis.
Ao percorrer os trabalhos reunidos em “Queermuseu — Cartografias da diferença”, percebo que o subtítulo sintetiza muito melhor esse projeto do que seu título. Trata-se de um conjunto que procura debater, antes de mais nada, a importância da alteridade, e não apenas através de um filtro das bandeiras LGBT.
Há um retrato de Portinari e obras relacionais de Lygia Clark mescladas a trabalhos de forte conteúdo erótico, como as fotos de Alair Gomes. E de outros trabalhos que apresentam cenas de sexo, mas para que elas discutam alto muito além dele, caso do trabalho “Cena interior II”, de Adriana Varejão, uma reflexão profunda sobre os estupros e os bastardos produzidos em nosso período colonial.
É uma mostra sobre duelos diversos para a conquista da diversidade, propostos por um grupo de obras que não veio ao mundo para nos oferecer paz.
A arte e o museu contemporâneos serão sempre mais potentes quanto forem menos apaziguadores — e a reação à mostra gaúcha é apenas uma comprovação disso.
“Queermuseu” não ataca a fé católica, embora critique as instituições religiosas.
Fala de sexualidade, mas não é uma mostra pedófila. Nesse quesito, aliás, seria difícil para a arte concorrer com a própria Igreja, com cada vez mais casos de crimes sexuais vindo à tona, para constrangimento de seu Papa progressista.
A mostra que se propunha a realizar uma “cartografia da diferença” não é exclusivamente gay ou trans, mas, se fosse, o patrocinador já sabia de seu conteúdo meses antes da inauguração.
Como então se arrepender apenas por uma reação da audiência? Cultura se faz pelo número de “likes” ou de “grrrrrr”? Um promotor de cultura recua sob ameaças?
Uma das manobras dos ataques produzidos presencialmente ou nas redes sociais pelo MBL e os grupos de direita contra “Queermuseu” foi a do escândalo que seria usar dinheiro público para patrocinar “pouca vergonha”. Mas não seria vergonhoso mesmo usar dinheiro público para fazer uma exposição que tem alto custo de montagem, transporte, seguro e de catálogo, e depois fechá-la antes do prazo previsto?
A autocensura transformada em censura pelo Santander Cultural, instituição que tem uma folha corrida de grandes iniciativas na capital gaúcha e no resto do país, é um sinal dos dias sombrios que atravessamos.
Assistimos, boquiabertos, à patrulha a Chico Buarque e a Letícia Sabatella, entre outros artistas considerados de esquerda. Chico voltou a ser atacado por grupos distintos no lançamento de seu último CD, por motivo semelhante a uma das causas que faz “Queermuseu” ser fechada: estamos perdendo a capacidade de compreender a metáfora e a ficção.
No caso específico da arte contemporânea, de compreender que não há mais um espelho possível para um mundo de imagens ordenadas, reconhecíveis e inócuas. Um mundo que só existe na cabeça dessa gente honrada que odeia gays, pobres e negros. Dessa gente honrada que odeia. Ponto.
O caso de Porto Alegre, no entanto, amplia a estratégia miliciana desses grupos ultraconservadores ao associar a arte ao mal; os artistas aos aproveitadores dos recursos públicos, vagabundos que querem roubar o dinheiro suado (?) e o sono tranquilo (?) dessa “gente de bem”.
Teríamos a oportunidade de pensar os métodos distorcidos de patrocínio no país, deixando nas mãos da iniciativa privada a prerrogativa de realizar e de cancelar um projeto como “Queermuseu”.
Teríamos a chance de notar, mais uma vez, o quanto os monólogos intermináveis das redes sociais nos tornam cegos e surdos. Mas não conseguiremos fazer isso a um passo da degeneração. Ou já mergulhados nela.
*Daniela Name é crítica de arte e curadora
Leia também:
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Comentários
educação artística infantil e adulta
O petismo (e o PT) venera, adora, louva e cultua a baixa-cultura, o brega, barango, o Kitsch, o mau gosto. Tem ódio da arte de elite (Dostoiévski, por exemplo):
O conceito, a ideia ou a “constelação” de arte não são excessivamente relativistas ao extremo:
¿o que seria ARTE?…
¿Anitta é ARTE?
Completo relativismo (ou RELATIVISMO versus UNIVERSALISMO):
A exposição barangona do banco Santander
é puro lixo pós-moderno ou sei lá o quê.
De um mau gosto engana-trouxa enorme. ?
Há que se fazer sim distinção entre uma coisa e outra,
mesmo que pareça difícil de o fazer à 1ª vista:
¿ou será que se pauta completamente pelo relativismo extremado
em que “TUDO é ARTE”?
Nesse caso, então, música de Xuxa é arte?
E Sertanejo Universitário é arte?
ANITTA é arte?
Kuá, kuá, kuá!
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BACH — sim — é ARTE.
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O Que se deseja mesmo é ser um “moderninho”. Repare. É com esses doutorzinhos de universidade — o Gaudêncio Fidelis — que a gente vai ter que lidar.
Vídeo pequeno no YouTube [Para poder ver, copie e cole]:
http://m.youtube.com/watch?v=wsAZQMvGY0E
Questione
Convido a todos os pais, mães, avôs, avós, tios e tias que leram a matéria até o final para não parar por aqui. Digitem no google ” exposição do santander”, vejam as imagens e reflitam: é isso que seus filhos, netos e sobrinhos precisam ver? Isso é cultura? Não é? E porque incrementa a imagem de Jesus Cristo? Por que não Maomé? Medo?
Paul
MBL ( Taleban ), Bolsonaro e quejandos a tempestade perfeita o ovo da serpente esta prestes a eclodir, preparam-se 2018 promete!!!!
Só uma ideia
Artistas que são artistas, de todas as vertentes, bem como quem entende a importância da arte e dos movimentos culturais, deveriam boicotar o Santander e seu espaço cultural e retirar suas obras de lá ou nunca mais expor naquele espaço.
Espora
São analfabetos de pai e Mãe.Este e um País laico no papel.na realidade não é.Mais não se respeita a Liberdade de Expressão.Não se sabe o que e ARTE.Este em uma pintura não esta na moldura ela sai de ela e cada um vê alguma coisa distinta em ela.
David
Realmente dias sombrios.
Zezé di Camargo professor de história sobre a ditadura e o MBL decidindo o que é ou não é arte.
Uma piada.
a.ali
não foram à exposição mas se sentem no direito de criticá-la! são massa de manobra, analfabetos em todos os sentidos e, ademais, vai ver que “despertou” nos fascistas suas consciências que eles teimam em não deixar aflorar e, quem, sabe, sintam-se “envergonhados” de seus atos, vendo a exposição por essa lógica, é claro!
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