Fátima Oliveira: Abandonadas sem vale-táxi e SAMU-cegonha

Tempo de leitura: 3 min

Deises e Leilanes: abandonadas sem vale-táxi e SAMU-cegonha

Ministério da Saúde deveria chamar prefeitos à responsabilidade

Fátima Oliveira, em O TEMPO

Médica – [email protected] @oliveirafatima_

É cruel a assistência ao parto em muitos recantos do país. Não me calo para não ser cúmplice. Registrei em “O parto roubado é um conceito político de resistência: assistir ao parto exige competência técnica, humanística e ética. Vale para obstetras, obstetrizes e parteiras tradicionais, igualmente” – sobre a cesárea por ordem judicial de Adelir Carmen Lemos de Góes, de Torres (RS), marco inaugural da judicialização da atenção obstétrica e neonatal, sobre a qual o Ministério da Saúde (MS) tem feito solene silêncio. “E La Nave Va…”, um filme de Fellini.

Se a judicialização da atenção obstétrica e neonatal é coisa nova, as velhas estão firmes em tempo de Rede Cegonha – lembram? Escrevi em 12.4.2011: “Em 28 de março passado, a presidente Dilma Rousseff lançou, em BH, o Rede Cegonha, uma customização, sem os devidos créditos, de ações bem-sucedidas e em curso, como o Pacto Nacional de Redução da Morte Materna e Neonatal (2005), área de relevância da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM, 2003).

De novidade, a agregação de ações sociais para grávidas, parturientes, puérperas e filhos de até 2 anos, como vale-táxi e Samu-cegonha; e a guinada ao conceito superado de saúde materno-infantil. Mulher é mulher, e criança é criança; exigem abordagem autônoma e integral na atenção à saúde. (…) Sem arrodeios, o Rede Cegonha retalha a diretriz do Ministério da Saúde para a saúde da mulher (PNAISM), com viés conservador, a saúde materno-infantil” (O TEMPO).

Compartilho algumas manchetes dolorosas de 2014 de mulheres sem vale-táxi e sem Samu-cegonha (alguém já viu? Eu, não!): “Família acusa hospital de demora em parto; mulher perdeu bebê” (25.1.2014)/ “Família acusa maternidade de recusar parto: ‘mandaram fechar as pernas’” (4.2.2014)/ “Homem não consegue atendimento e faz parto da mulher em casa na Bahia (17.2.2014)/ “MS pede apuração de casos de grávidas que deram à luz na calçada” (22.04.2014)/ “Mulher dá à luz em recepção de hospital na Bahia, e bebê morre em Santo Antônio de Jesus” (26.4.2014).

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São situações em que o ministro da Saúde e a ministra da Mulher, pelo menos, deveriam ter ocupado rede nacional de rádio e TV chamando os prefeitos à responsabilidade!

É assim que se educa um povo e se cria uma nova mentalidade! Até agora, a voz do governo é uma nota, frágil e panfletária: “O Ministério da Saúde repudia, veementemente, os episódios de duas mulheres – uma no município do Rio de Janeiro e a outra na cidade de Santo Amaro da Purificação, na Bahia –, que deram à luz sem as condições mínimas para a realização de procedimentos relacionados ao parto, conforme retratou a imprensa”.

O Ministério da Saúde acionou, na segunda-feira (21), equipes locais do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) para apurar as ocorrências, em conjunto com os gestores locais de saúde, a fim de identificar e responsabilizar possíveis casos de negligência no atendimento ou omissão de socorro por serviços e profissionais de saúde. O Ministério da Saúde informa que, somente em 2013, financiou a realização de 1,9 milhão de partos na rede pública. Para os partos no SUS, o ministério preconiza condições adequadas de infraestrutura, atendimento humanizado e respeito à saúde e dignidade das mulheres e dos bebês” (Viomundo, 22.4.2014).

Enquanto o MS não descobrir que há uma diferença brutal entre o preconizar e a vida concreta, as mulheres continuarão desamparadas na hora do parto.

Leia também:

MS pede apuração de casos de grávidas que deram à luz na calçada

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Comentários

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renato

Enquanto o MS não descobrir que há uma diferença brutal entre o preconizar e a vida concreta, as mulheres continuarão desamparadas na hora do parto.
E o que devemos fazer???
O que cada um de nós pode fazer de concreto…sem virtualizarmo-nos em comentários..

Mardones

Vale o registro da denúncia. Mas o PT não vai mudar para não desagradar religiosos. É o fato.

O PT não vai mudar a sua política de concessão ao capital apoiado na aliança com o PMDB.

Aliás, uma aliança que fez o partido abrir mão de todas as reformas!

Além das concessões pelo capital, não teremos mais nada. A não ser pela via da organização social, como ocorreu com o Marco Civil da Internet (justiça seja feita com a luta do Dep Molon do PT). Mas sem a ajuda do Min Bernardo Plim-Plim, por exemplo.

Armando Braga

Esqueci no outro comentário. Quanto à nota do Ministério da Saúde o ministro tá mal amparado. A nota é sofrível. Clato que ministro não escreve nota, só lê e assina, mas quando a assessoria é fraca, a responsabilidade é do ministro. Faltou aquilo que chama-se feeling… E faltou feeling porque quem escreveu a nota não sabe do que se trata.

Armando Braga

Quando li as duas matérias o que mais me comoveu foi saber que tais fatos só acontecem com as pobres, principalmente com as negras e não vai mudar porque dessa gente prefeitos, governadores, presidente da república, deputados, senadores e vereadores só querem o voto. E els votam. Quanto ao marketing da Rede Cegonha foi grande. Parecia que havia descoberto o Brasil. Na realidade soltaram um traque. Se Dilma aparecer falando em Rede Cegonha II vai perder o meu voto.

Urbano

E caso haja um engano e venha a entrar na lista para se cobrar ao SUS? Quem fez o que fez, e principalmente por toda essa barafunda criada, corre imenso risco de se enganar, ora…

Samira

Fátima colocou o dedo na ferida. A Rede Cegonha desarticulou todas as áreas de saúde da mulher de governos estaduais e prefeituras. Praticamente não restou nada articulado, uma coisa que vinha de anos e anos de trabalho. Cadê a Saúde da Mulher do Ministério da Saúde? Quem a dirige? Não há mais visibilidade e nem a pujança que teve no governo de Lula. Padilha, esse cara conservador e representante do Vaticano detonou tudo! Não sobrou nada! Estão pagando pela falta de consciência política num setor crucial da saúde. Dilma embarcou bem na do Padilha

Elias Brandão

A Fátima tem razão quando diz que o silêncio do governo federal acoberta a irresponsabilidade dos prefeitos e ainda fica com a culpa

Letícia Martins

De fato, Fátima Oliveira falou e disse tudo o que estava entalado em minha garganta. Achei a nota do Ministério da Saúde um pnfletinho sem muito valor

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