por Conceição Lemes
Anualmente, realizam-se no Brasil cerca de 3 milhões de partos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no máximo, 15% – 450 mil – deveriam ser cesarianas.
Mas passamos longe dessa recomendação.
Em 2013, dos 1,9 milhão de partos realizados no Sistema Único de Saúde (SUS), 58% foram normais e 41,9%, cesarianas.
O estudo Nascer no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o maior já feito no País sobre parto e nascimento, confirma o abuso. No SUS, as cesarianas representam 52% dos partos; na rede privada, chegam a 88%.
A Casa de Saúde Santos, no litoral paulista, foi além. Extrapolou todos os limites.
Em março, a sua direção comunicou ao corpo clínico a desativação do pronto-atendimento em Ginecologia e Obstetrícia. Também determinou horário para os partos: tinham de ser das 8h às 16h.
Para quem não a conhece, a Casa de Saúde Santos é tradicional na região. Costuma-se se dizer que metade da população da baixada santista nasceu aí. Só atende pacientes particulares e de planos de saúde. Realiza por mês cerca de mil partos. Nada se SUS.
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A proposta indecorosa só não prosperou, porque a gritaria foi muito grande. Várias forças se juntaram para revertê-la. Desde a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), usuários, entidades que atuam na defesa do parto natural, profissionais de saúde, Câmara dos Vereadores ao Ministério da Saúde.
“Se a situação não tivesse sido revertida, seria o caos”, avisa o médico Sérgio Floriano de Toledo, presidente da Regional de Santos e Santos da Socesp. “Um precedente muito grave que pode se repetir em Santos e em outras cidades.”
O médico e vereador Evaldo Stanislau Affonso de Araújo (PT), presidente da Comissão de Saúde e Higiene da Câmara de Santos, afirma: “Decisão totalmente na contramão das boas práticas e do parto natural. Uma indisfarçada intenção de estimular o aumento do parto cesariano e legitimá-lo bem como todas as suas complicações. Afinal, ele associa-se com maior prematuridade, mais complicações para o recém-nascido e a parturiente”.
Evaldo vai mais fundo: “Do ponto de vista moral e ético, tal medida subverte o princípio básico da Medicina, que é, primeiramente, não causar o mal. Como pode um hospital estimular uma prática nociva às gestantes e seus recém-nascidos? Injustificável, sobretudo porque é uma medida que eles justificam baseado em custos. Precificam, literalmente, a vida humana!”.
HOSPITAL “INOVOU” DA PIOR MANEIRA POSSÍVEL
Santos já foi vanguarda na área de saúde, inclusive de saúde da mulher. E não faz muito tempo. Foi nas gestões de Telma de Souza (1989 a dezembro de 1992) e David Capistrano (1º de janeiro de 1993 a 31 de março de 1996) à frente da Prefeitura.
De lá para cá, de modelo em inovação e humanização em saúde se tornou o retrato da saúde sucateada. De exemplo do que fazer se transformou em símbolo do que não fazer.
É nesse contexto que a Casa de Saúde Santos resolveu “inovar”. E da pior maneira possível.
“Só que, apesar da aparente normalidade do SUS em Santos, temos nele um cenário equivalente ao da rede que atende planos de saúde”, adverte Evaldo.
Ele mesmo demonstra:
*O número de partos a cargo da Secretaria Municipal de Saúde foi reduzido.
*A Maternidade Silvério Fontes funciona de forma precária no Hospital Arthur Domingues Pinto. O Instituto da Mulher e a Casa da Gestante são equipamentos feios, sujos e desestimulantes, tanto para o usuário quanto para os profissionais de saúde.
*Além disso, as equipes de saúde perderam o caráter plural e multiprofissional.
*Resultado: O SUS atende menos de 50% de cidadãs de Santos e não suportaria demanda maior, caso os planos de saúde deixem de cumprir as suas obrigações
“A resolução da crise da Casa de Saúde Santos deixou sequelas e aprendizados”, diz Evaldo. “Estamos construindo possibilidades para que essa situação não se repita.
O que fazer? Fiscalizar e gerir de forma competente.
“As entidades médicas locais muitas vezes se perdem ações midiáticas e miram em focos além de seu alcance. Seriam mais úteis olhando para a gestão local da saúde, pública e privada”, defende o doutor Evaldo. “Ao amparar os usuários e fiscalizar os prestadores de serviços, as entidades de classe, os usuários e os agentes públicos evitarão novos episódios como o da Casa de Saúde Santos, que é um mau exemplo a não ser seguido.”
Leia também:
Lula: Planos privados não resolvem o problema da saúde pública
Comentários
Moyses Nunes
não é perseguição!!! adivinhem de que partido é o prefeito!!!
Wildner Arcanjo
A cesariana é uma mina de ouro para hospitais e médicos pois:
1 – Possuem valores maiores do que um parto normal, por se caracterizar como procedimento de alto risco;
2 – Permitem a prescrição de medicamentos pós-parto, para a mãe;
3 – Permitem que os hospitais lucrem com o uso de insumos para o procedimento, que são bem mais caros que em um parto normal;
4 – Ocupam leitos de hospitais sejam em apartamentos ou áreas de descanço;
5 – Permitem a previsibilidade do procedimento, fazendo com que o Hospital e a equipe médica possam se planejar e, portanto, maximizar os seus lucros;
6 – Em caso se imperícia médica (não se enganem, muitos médicos saem da residência e conseguem CRM sem saber como executar um parto normal, coisa que até um Téc. em Enfermagem deveria saber fazer) não há como esconder a má formação do médico durante o procedimento. Já em um “parto cesário”, se houver óbito da mãe pode-se por a culpa no procedimento e assim, “amenizar” a responsabilidade do médico;
Não se enganem, hoje a índústria farmaceutica e os conglomerados de administração médicas particulares influenciam cada vez mais na formação e na orientação dos médicos que se formam e que estão indo para os consultórios, não só no Brasil, mas no mundo todo.
2md
O MP/SP ficou quietinho mais uma vez. Aqui em Santos temos um dos maiores contigentes peéssedebistas do país. Lembro-me da Telma de Souza, eu era moleque ainda, mas me recordo que ela saiu com 80% de aprovação; elegeu seu sucessor, o Dr David Capistrano. Por razões que até hoje não entendi, o Dr. David foi execrado, saiu de Santos como se fosse o diabo em forma de gente, mas até hoje, seus programas de saúde recebem premiações pelo mundo.
Luís Carlos
Perguntar não ofende: e o Conselho Regional de Medicina de SP não fez nada? Ficou quietinho? Seria porque partos cesarianos são mais interessantes para médicos por serem mais rápidos e poder fazer como “linha de montagem”, em seqüência? Se é interessante financeiramente para médicos, mesmo que ruim para parturientes e bebês, o Conselho fica quieto? Fez alguma diligência? Algum processo ético? Só prá saber. São tão zelosos quando se trata de atacar médicos do Mais Médicos…
FrancoAtirador
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VERBA FEDERAL DA SAÚDE ESCOA PELO RALO
DO ESGOTO DO GOVERNO TUCANO PAULISTA
GOVERNO ESTADUAL (PSDB) DE SÃO PAULO
DEIXOU DE ENTREGAR R$ 74,7 MILHÕES [!!!]
PARA A SANTA CASA DE MISERICÓRDIA SP
DA VERBA FEDERAL REPASSADA EM 2013.
O Governo Federal repassou ao Estado de São Paulo R$ 291,3 milhões,
em 2013, destinados à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
No entanto, apenas R$ 237,2 milhões foram entregues à instituição.
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Além disso, somente nos primeiros meses deste ano (2014),
dos R$ 126,3 milhões repassados pelo Ministério da Saúde,
R$ 105,7 milhões chegaram à Santa Casa de São Paulo.
CADÊ OS MAIS DE R$ 20 MILHÕES E MEIO RESTANTES?
Bem que os ‘Obreiros da OPUS DEI’ poderiam responder…
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Os números foram fornecidos
pelo Ministro da Saúde Arthur Chioro,
a partir de informações prestadas pela
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
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A Presidenta de República do BraSil, Dilma Vana Rousseff,
lançou o Programa de Fortalecimento das Entidades Privadas Filantrópicas
e das Entidades sem Fins Lucrativos que Atuam na Área da Saúde
e que Participam de Forma Complementar do Sistema Único de Saúde (PRÓ-SUS),
de que trata o artigo 23 e seguintes da Lei nº 12.873, de 24/10/2013,(http://migre.me/kHLEf),
e editou a Portaria Nº 535 (http://migre.me/kHLlF), estabelecendo normas
para a execução do Programa, no âmbito do Ministério da Saúde,
para ajudar a fortalecer a saúde econômica das Santas Casas do País.
(http://www.federassantas.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2014/04/PORTARIA-N%C2%BA-535-DE-8-DE-ABRIL-DE-2014.pdf)
(http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt0535_08_04_2014.html)
(http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/leis/2013/lei12873.htm)
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Por omissão das Secretarias de Saúde de Governos Municipais e Estaduais,
200 Santas Casas, ao menos, perderam o aporte de Recursos do Governo Federal.
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(http://www.mudamais.com/divulgue-verdade/governo-de-sao-paulo-deixou-de-repassar-r-747-milhoes-para-santa-casa)
(http://migre.me/kHKGT)
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Luís Carlos
A Secretaria Estadual de Saúde de SP usa desse artifício com muita frequência. Auditorias do DENASUS realziadas em 2010 demonstram isso. Naquela oportunidade a SES/SP foi flagrada pelo DENASUS ao repassar milhões de reais oriundos do MS para assistência farmacêutica aos municípios do estado como se fossem de recursos próprios dela, ou seja, deixou de investir recursos próprios tendo usado recursos federais no lugar de dinheiro próprio.
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