Reitora bolsonarista intimida aluna que denunciou seu plágio: ‘Você vai me ressarcir todos os segundos de falta de paz’; vídeos

Tempo de leitura: 5 min
Em 2020, Ludmilla de Oliveira obteve 18,33% dos votos na eleição para a Reitoria da Ufersa, ficando em terceiro, atrás dos professores Rodrigo Codes (35,55% dos votos) e Jean Berg (24,84%). Mesmo assim, ela foi nomeada para o cargo de reitora durante passagem relâmpago do presidente Jair Bolsonaro por Mossoró. Fotos: Reproduçõesa de redes sociais

VÍDEO: reitora bolsonarista da Ufersa intimida estudante que denunciou plágio: “Você vai me ressarcir todos os segundos de falta de paz”

Por Mirella Lopes, agência Saiba Mais

“Você vai me ressarcir todos os segundos de falta de paz. A senhora vai me ressarcir tudo, tudo, tudo! Eu exijo tudo!”.

Foi nesse tom intimidador que a reitora bolsonarista da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Ludimilla de Oliveira, encerrou a reunião do Consuni (Conselho Universitário), realizada de forma híbrida com parte dos membros presentes e parte remota, na manhã desta sexta (25).

A fala foi direcionada à estudante do curso de Direito da Universidade, Ana Flávia Oliveira Barbosa de Lira, que representa os alunos da instituição no Conselho e que momentos antes havia dito ter feito, ainda em 2020, uma denúncia à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pedindo para que a instituição averiguasse um possível plágio na tese de doutorado de Ludimilla.

Este mês, em um parecer encaminhado à Reitoria da UFRN, a Comissão de Processo Administrativo Disciplinar Discente (CPADD), montada para analisar o possível plágio cometido pela atual reitora da Ufersa, confirmou os indícios apresentados na denúncia e recomendou a penalidade de exclusão de Ludimilla da UFRN, o que implica na cassação do título (veja, ao final, o despacho da decisão) 

Depois de Ana Flávia, a reitora da Ufersa, que também é a presidente do Consuni, demonstrou irritação diante da possibilidade de perda do título de doutorado:

“O que a senhora se acha? A senhora é apenas uma discente que tem uma matrícula na Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Primeiro vá estudar, vá concluir seu curso superior. Conheça seu lugar!”, começou Ludimilla, que continuou a intimidação diante dos demais membros do Conselho:

“Eu não plagiei tese, eu tenho minha consciência tranquila. A senhora vai pagar todos os segundos, todos os segundos, a senhora e quem fez isso comigo e minha família. Eu quero que fique registrado em ata porque eu não sou covarde. Venha dizer aqui presencialmente no Conselho, não fique atrás de uma câmera e não tire sua face daí não… conheça seu lugar de estudante, nem graduação a senhora tem pra questionar uma tese de doutorado”.

Antes da reitora começar a discursar, Ana Flávia havia citado um possível pedido de ressarcimento aos cofres públicos pelo acréscimo no salário pago a Ludimilla de Oliveira depois que ela adquiriu o título de doutorado.

Apoie o VIOMUNDO

Para servidores públicos, a titulação implica em progressão de carreira e aumento na remuneração.

“Você vai me ressarcir todos os segundos de falta de paz. A senhora vai me ressarcir tudo, tudo, tudo! Eu exijo tudo! Todos os danos morais a senhora vai ter que ressarcir, tá certo? Então a senhora fique com isso, conheça seu lugar porque na justiça dos homens e de Deus a senhora vai pagar essa conta!”, declarou Ludimilla de Oliveira, que logo na sequência encerrou a reunião do Conselho, apesar de haver outras pessoas inscritas.

Recentemente, a Frente Nacional de Luta pela Autonomia e Democracia nas Instituições Federais de Ensino Superior, formada por reitores e vice-reitores não empossados de todas as instituições federais de ensino (IFEs), além de entidades sindicais e do movimento estudantil, encaminhou ao presidente eleito Lula, ao vice Geraldo Alckmin e ao professor José Henrique Paim, coordenador da área de educação na equipe de transição do novo governo, um pedido de revogação das intervenções do governo Bolsonaro nas nomeações dos reitores das Universidades Federais.

Atualmente, 20 universidades estão sob intervenção, tendo dirigentes, empossados na reitoria pelo governo Bolsonaro, que não foram eleitos pelas suas comunidades acadêmicas e que não ocupavam o primeiro lugar na lista tríplice. Uma dessas instituições é a Ufersa.

Ludimilla de Oliveira obteve 18,33% dos votos na eleição para a Reitoria da Ufersa de 2020 e ficou na terceira colocação, atrás dos professores Rodrigo Codes, o mais votado, com 35,55% dos votos; e Jean Berg, o segundo, com 24,84%.

No entanto, ela foi nomeada para o cargo em agosto do mesmo ano, durante uma passagem relâmpago de Bolsonaro por Mossoró.

Veja os vídeos da reunião do Conselho Universitário

Na reunião do Consuni, a estudante Ana Flávia Oliveira de Lira fala sobre a denúncia, a decisão da Comissão da Universidade, que confirmou o plágio na tese de doutorado, e os possíveis desdobramentos.

Na sequência, com irritação, a reitora Ludimilla de Olveira reage com intimidações reiteradas à representante dos alunos no Consuni da Ufersa.

 

PS do Viomundo:  Em novembro de 2020, a Agência SAIBA MAIS noticiou em primeira mão o caso de possível plágio da tese de doutorado da reitora da Ufersa, Ludimilla Oliveira.

Os alunos ficaram sabendo dos plágios e elaboraram a denúncia, que foi apresentada à Ouvidoria da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. 

Em reportagem de Carla Cruz, de 18 de novembro de 2022,  a SAIBA MAIS revelou que a Comissão de Processo Administrativo Disciplinar Discente (CPADD), montada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para analisar o possível plágio cometido pela atual reitora da Ufersa, confirmou os indícios apresentados na denúncia e recomendou a aplicação da pena de exclusão da discente:

“Das 195 páginas que compõem a tese de doutorado defendida pela reitora em 2011, em pelo menos 16 delas, há o que a comunidade acadêmica classifica como plágio. Isto é, cópias inteiras ou parciais de textos de outros autores, sem que a fonte seja citada ou haja uso de aspas, no caso de transcrições.

Com o título “De repente, tudo mudou de lugar: Refletindo sobre a metamorfose urbana e gentrificação em Mossoró-RN”, Ludimilla defendeu sua tese de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 

A estudante de Direito e outros alunos da universidade acusam a reitora de ameaças, tentativas de silenciamento, intimidação e cerceamento da liberdade de expressão.

Segundo o procurador da República Emanuel Ferreira, Ludimilla proferiu grave ameaça a Ana Flávia quando mencionou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em resposta a comentário da estudante em uma rede social.

Nomeada pelo presidente Jair Bolsonaro, em 2020 – mesmo tendo ficado apenas em terceiro lugar na lista tríplice -, Ludimilla acumula uma série de polêmicas e tem sido alvo de protestos da comunidade acadêmica.

Alunos e professores não aceitam a intervenção federal e defendem que o cargo seja ocupado por Rodrigo Codes, que venceu as eleições com 37,55% dos votos. Na época, a lista tríplice foi encaminhada ao Ministério da Educação, comandado pelo então ministro Abraham Weintraub.

O despacho da CPADD [veja abaixo]recomendando a exclusão de Ludimilla foi encaminhado ao reitor da UFRN, Daniel Diniz, que solicitou parecer da Secretaria da Procuradoria Federal da Universidade. Só, então, poderá decidir sobre o caso.

Leia também:

João Cezar de Castro Rocha: Violência é ato final de golpistas diante de profecia fracassada

Ônibus escolar é alvejado por tiros ao passar por protesto de bolsonaristas em frente a quartel no PR; vídeo

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

José Espare

Caramba, isto me parece uma imensa crueldade. Impedir que uma bolsonarista pratique plágio para obter um diploma de doutorado é como tentar impedir a uma criança de tomar o leite necessário para sobreviver. Se ela é declaradamente bolsonarista, já deveria estar evidente para todos de que seria incapaz de produzir uma obra acadêmica de sua própria conta. Todos deveríamos reconhecer e parabenizar o fato de ela ter sabido, pelo menos, copiar o que outros tinham produzido. De uma bolsonarista não se poderia exigir nada além disto. Tenhamos um pouco mais de sentimento humanitário.

José Espare

Caramba, isto me parece uma imensa crueldade. Impedir que uma bolsonarista pratique plágio para obter um diploma de doutorado é como tentar impedir a uma criança de tomar o leite necessário para sobreviver. Se ele é declaradamente bolsonarista, já deveria estar evidente para todos de que seria incapaz de produzir uma obra acadêmica de sua própria conta. Todos deveríamos reconhecer e parabenizar o fato de ela ter sabido, pelo menos, copiar o que outros tinham produzido. De uma bolsonarista não se poderia exigir nada além disto. Tenhamos um pouco mais de sentimento humanitário.

Riaj Otim

é preciso dizer que universidade pode fazer o que quiser e como quiser, sem dever nada a leik, ética, moralidade pública ,etc. pegaram milhões, mas tudo para gasta exlusivamente com que é querid da patota (indígena, quilombola, etc) , como se os demais fossem um bando de abestadoss

https://propesp.ufpa.br/arquivos/editais/propesp/2022/EDITAL%2026%20-%20PROPESP%20-%20CAPAM%20-%20FINAL%20PUBLICAR%20.pdf

Gonsalves

Há necessidade de se fazer o correto. Parabéns Ana Flávia e todos discentes que não deixaram a FARSA ir em frente. O Brasil precisa se livrar dessa praga que infestou a sociedade nestes últimos anos.

Deixe seu comentário

Leia também