Em demissão coletiva, membros do Conselho de Política Penitenciária denunciam Moraes
Tempo de leitura: 4 minDa Redação
No dia 20 de janeiro, republicamos post do Justificando sobre a manobra de Alexandre de Moraes para ter maioria no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e impor os rumos do setor.
Na matéria, Victor Pimenta, mestre em Direitos Humanos e ex-coordenador geral de alternativas penais do Ministério da Justiça, antecipou que era possível até a renúncia coletiva dos conselheiros legítimos contra a medida de Moraes:
“O CNPCP, importante órgão de formulação de diretrizes criminais e penitenciárias, vai implodir. Seus conselheiros legítimos podem chegar até a renunciar coletivamente, esvaziando completamente o colegiado”.
Nesta quarta-feira (25/01), a previsão se confirmou.
Membros do Conselho de Política Penitenciária pedem demissão coletiva em protesto contra Alexandre de Moraes
Integrantes do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Cidadania, renunciaram coletivamente aos seus cargos nesta quarta-feira (25).
Os conselheiros denunciam a política de “mais armas e menos pesquisas” e advertem que a ação do governo “sem diálogo e pautada na força pública, tenderá, ainda mais, a produzir tensões no âmago de nosso sistema prisional”.
É a primeira vez que tal iniciativa ocorre desde a criação do colegiado em 1980.
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Os agora ex-conselheiros alegam um “notório desprezo conferido ao Conselho” pelo Ministério da Justiça. Em entrevista de agosto de 2016, Moraes havia afirmado que a prioridade no Brasil deveria ser mais armamento e equipamentos bélicos e ridicularizou o trabalho de pesquisadores.
Um dos principais motivos alegados pelos antigos conselheiros para pedirem a renúncia foi o fato de Moraes ter investido “diretamente contra a autonomia e finalidade” do conselho. Segundo eles, há “uma clara tentativa de controle da voz e da opinião deste CNPCP”.
Os ex-conselheiros mostram-se contrariados pela decisão de recente de Moares de abrir oito novas vagas de suplência no conselho, por meio de portaria.
O objetivo de Moraes é buscar formar uma maioria de indicados pelo atual governo. Atualmente, o CNPCP conta com 18 integrantes, 13 deles indicados durante a gestão de Dilma Rousseff e outros cinco durante o governo de Michel Temer.
A criação da Comissão do Sistema Penitenciário Nacional por Moraes também é criticada pelo fato de o ministro ter assumido a indicação de integrantes do CNPCP para a comissão, sem dar poder ao próprio conselho de estabelecer quem serão seus representantes.
Na carta, os ex-conselheiros reclamam da negligência de Moraes com relação a decisões do colegiado. Uma delas refere-se ao indulto natalino, publicado pelo ministério em dezembro passado, no qual foi suprimida a comutação, ou seja, a substituição de uma pena mais dura por outra mais branda para detentos, bem como restringiu o direito ao indulto de natal a presos.
“Dias antes da crise prisional atingir patamar alarmante, a minuta de decreto de indulto aprovada pelo colegiado do CNPCP foi deixada integralmente de lado, optando-se pela formulação de um texto normativo que é, talvez, o mais restritivo em termos de liberdades já editado na história recente e republicana. ”
Os ex-integrantes do CNPCP criticam ainda o lançamento do Plano Nacional de Segurança Pública “sem qualquer debate com a sociedade ou com as instâncias consultivas do Ministério. “Ao mesmo tempo, incentiva-se uma guerra às drogas no Brasil que vai, outra vez, na contramão das orientações contemporâneas das Nações Unidades e de diversas experiências bem-sucedidas em países estrangeiros”.
Assinam a carta de renúncia o agora ex-presidente do conselho Alamiro Netto e os conselheiros Gabriel Sampaio, Hugo Leonardo, Leonardo Bandeira, Leonardo Yarochewsky, Marcellus Uggiette e Renato Vitto, este último ex-diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional durante o governo Dilma Rousseff e atualmente assessor-chefe do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Conselho Nacional de Justiça, presidido por Carmem Lúcia, também presidente do Supremo Tribunal Federal.
Abaixo, a íntegra da carta dos conselheiros a Alexandre de Moraes.
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Comentários
José de Almeida Bispo
Bem… isso, a renúncia, é justo o que o agente do PCC queria.
De qualquer modo, isso é inevitável: é preciso chegar ao escuro total da meia-noite para se começar o caminho de volta ao meio-dia.
Eles venceram! Resta à democracia montar estratégias pra destruir os adversários dela. E levá-la a termo com firmeza.
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