CARTA ABERTA À UFMG E AO CONSELHO UNIVERSITÁRIO SOBRE O TROTE NA FACULDADE DE DIREITO QUE INCITA À DISCRIMINA E AO PRECONCEITO
No dia 18 de março de 2013, a comunidade acadêmica da UFMG e a sociedade assistiram, chocadas, à veiculação, nas redes sociais, de cenas produzidas por um grupo de estudantes veteranos do curso de Direito da UFMG, durante uma das atividades de recepção dos calouros do primeiro semestre de 2013.
A imagem de uma jovem branca, com o corpo pintado de preto, mãos amarradas por uma corrente, portando no pescoço um cartaz, onde estava escrito “caloura Chica da Silva” e puxada por um estudante veterano, com um largo sorriso no rosto, choca qualquer pessoa que tenha o mínimo senso de dignidade humana.
Outra cena assustadora, organizada pelos veteranos, expunha um jovem, pintado de vermelho, amarrado com fitas adesivas a uma pilastra, simulando um tronco e rodeado por três veteranos, os quais posam, fazendo saudação nazista. Um deles chegou a pintar no rosto um bigode semelhante ao que era usado pelo ditador Adolf Hitler.
Tais imagens e supostas brincadeiras indignariam qualquer um, quanto mais os docentes, discentes e técnicos-administrativos de uma universidade com a excelência da UFMG e que acaba de implementar cotas para estudantes de escola pública, baixa- renda, negros e indígenas, em cumprimento a Lei Federal 12.711, de 2012.
Independentemente de qualquer justificativa, a mensagem emitida por essas imagens trata a população negra e indígena, na sua diversidade, de modo homogêneo e numa condição humilhante e constrangedora. Insinua o tipo de tratamento ameaçador (continência nazista) que esses grupos, hoje mais representados no ensino superior por meio das cotas, poderão receber no seu processo de permanência na universidade. Induz ao preconceito e à discriminação de gênero, raça e etnia.
Fatos como esses merecem tratamento exemplar. Cabe lembrar que são imputados como crimes previstos no artigo 20 da Lei 776/89, que trata da prática, indução ou incitação à discriminação e ao preconceito.
Sendo atos praticados por discentes de uma universidade pública, pautada por princípios éticos, devem ser tratados não apenas como uma infração disciplinar, mas como prática de racismo e apologia ao nazismo. Os autores desses atos deverão responder ao que consta na Lei, pois agrediram a dignidade humana e um dos princípios fundamentais da República, a saber, “a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Solicitamos ao Conselho Universitário e a todos os órgãos superiores da UFMG, bem como à direção da Faculdade de Direito da UFMG, um posicionamento firme em relação a esses fatos indignos que não condizem com a própria história política e acadêmica desta instituição.
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Atenciosamente,
Programa Ações Afirmativas na UFMG
Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas – FIEI
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Comentários
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Luiz Cláudio
Essa ação criminosa, imbecil, elitista, doentia, facista, nazista e inconstitucional vai ficar impune???? Onde está o Ministério Público???? Onde está o magnífico reitor???? E o poder judiciário???? Esse deve ter gostado. Gostaria que a oab/mg divulgasse qual o percentual de aprovação dos alunos de Direito da UFMG nos últimos exames da ordem. São esses estudantes de Direito que não respeitam a lei e nem a Constituição que querem ser advogados? Como questionava o mineiro Francelino, de triste memória, que País é esse? Como afirmava Gláuber Rocha, de alegre lembrança, estudante tem mais é que pagar inteira. Pessoalzinho alienado.
Larissa Paes
A falta de respeito e escrúpulos das pessoas chegam a espantar qualquer um, e em pleno século XXI ainda existem aqueles que não sabem, ou melhor, não querem deixar essas atitudes racistas e preconceituosas, pois acham divertido zombarem com os outros por diferenças raciais, sociais, religiosas. O trote da universidade Federal de Minas Gerais em que jovens pintaram uma caloura de preto e colocaram nela correntes demonstrando que ainda existe a escravidão de negros porque estes são inferiores .
Independente da mensagem que estes jovens quiseram passar, não possui justificativa, pois as universidades são direcionadas para estudantes maduros que buscam formar e serem inseridos no mercado de trabalho e não para moleques que só querem se divertir à custa dos outros e se estes só procuram diversão, com certeza as universidades não são lugares apropriados.
Wanderson Brum
A casa Grande diz ao futuros cotistas, negros, indios e pobres:
– Bem vindos! Sua dor é a nossa alegria!
A Lesma Lerda
Tem um negocio muito sintomatico e pouquissimo analisado: entre nós (brasileiros) até o debate do tema racismo..é monopolio de brancos. Onde tem os retratinhos, na coluna do facebook acima o que mais se vê são negros de classe média, supostamente instruido, fazendo o possivel pra minimizar essas coisas..deixa disso..é so brincadeira e tal…isso sempre acontece. Na verdade não tem misterio; pra essa turma o que menos querem é levantar negocio de racismo; pra começar eles não são “negros” – não se vêem e não são vistos assim. São outra coisa. Eles se consideram em ótima posição social e financeira (comparado com os pais, de onde e da condição que vieram.. estão mesmo..no céu.) e quanto menos se falar no assunto melhor…eles querem se misturar, ficar invisiveis..como os judeus mesmo..que em muitos casos se tornam antisemitas no seu esforço de desfazer o estigma. Não querem confusão…criticá-los por isso? quem há de???? quem tem esse direito??? nosso racismo é tamanho que o mais comum é branco incitando uma revolta negra..dizendo a eles o que fazer, que atitude tomar…que não podem namorar branca, que tem de ter orgulho negro, que nao pode fazer chapinha…O problema que vejo é que nao foi essa invisibilidade que levou os negross americanos a construir uma verdadeira classe media negra e até eleger um presidente..que não é propriamente..”negro” mas é bem parecido…enfim, cada um sabe onde o calo dói..
hicham
A “ditadura” do politicamente correto, já está enchendo o saco!!!
Qualquer coisa que se faça, vai de alguma forma “atingir” alguém. Seja pela cor, pela religião, pela orientação sexual, pela altura, pelo peso,pela nacionalidade, pela careca, etc. O melhor então é não fazer NADA; não dizer NADA; não brincar, não contar piada, não criticar, não emitir opinião…CUIDADO!!!!!!! alguma ONG ou associação ou movimento ou sei lá, pode vir atrás de vc.
sandro
É amigo, atingir o estado civilizatório requer paciência, difícil
sair do “status quo”, isso é histórico mas você chega lá.
Paulo
Excelente comentário!
DERLI
Parabens. Na mosca!
Mateus Paul
Muito pior é a ditadura de certo pensamento “politicamente INcorreto”, que julga a liberdade de expressão como algo completamente ilimitado, se esquecendo daquela premissa bem básica da civilidade: o direito de um acaba quando começa o do outro.
A Lesma Lerda
esse obviamente é pela ditadura, simplesmente…
Cora
a galera que critica o que se chama pejorativamente de politicamente correto fica tristinha, pois, justo quando chega a vez deles barbarizarem sem freios com as minorias… o negócio não é mais socialmente aceito! que azar, né? daí dá uma vontade de ter nascido noutros tempos, quando se podia oprimir sem dor na consciência!
e pensar que os trotes em minas já estiveram na linha do matar formiga no grito.
século xxi… grandes merdas!
Mário SF Alves
Quem os induziu a isso? E será que houve quem os tenha induzido a isso? E por fim, ainda que não se idenfificasse algum indutor, será que, ainda assim, tudo isso poderia ser considerado como simples trote ou inocente brincadeira? Afinal, em se tratando de Brasil, um país que luta arduamente pra se desenvolver; um país que luta com todas as suas forças contra o regime de opressão que há séculos o impede de realizar seu potencial socioeconômico, quem, em sã consciência, usaria uma alegoria destas? Quem, em sã consciência, brincaria com um tema destes? Quem, em sã consciência, desnecessaria e injustificadamente, traria à tona e se utilizaria ou trataria de forma espontânea os signos mal assumidos desta mesma ridícula opressão? Veteranos estudantes de direito? Adolescentes em processo de autoafirmação tribal? Quem, afinal?
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FrancoAtirador
.
.
É Mário.
Esse “Quem, em sã consciência?”
carrega muitos significados:
“Quem, em seu juízo perfeito?”
“Quem, em plena consciência da cidadania?”
“Quem, com sensibilidade para distinguir brincadeira de ofensa?”
“Quem, com entendimento suficiente do que significa respeito?”
“Quem, com conhecimento da histórica luta de classes?”
“Quem, com sabedoria para discernir os conflitos entre classes sociais?”
Quem?
Esses jovens universitários estudantes de Direito é que não!
.
.
Mário SF Alves
Pois é, prezado Franco. É isso.
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A propósito, fico pensando no que significa ser reacionário num país como o nosso. Será que o reacionário brasileiro, o economicamente remediado, e maria vai com as outras, não se dá conta de quão desnecessário, estúpido e atrasado ele é? Será ele que não se dá conta do quanto é humilhante e de extremo mau gosto é ser caixa de ressonância dos interesses e/ou da ideologia da pior elite do mundo? Será que não se dá conta de que vive sob eterno atestado de ignorância frente ao regime de opressão que impede a realização do potencial socioeconômico de todos e todas, inclusive o dele? Será que não se envergonha de entregar o próprio destino a interesses contrários aos próprios interesses?
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Por outro lado, é inegável que ao reacionário economicamente remediado e maria vai com as outras deve ser bem mais fácil acomodar-se, vendar os alhos, os ouvidos e a boca e aliar-se ao discurso da elite dominante. Pena que ao render-lhe alguns trocados, tal “aliança”/sujeição lhe custe a própria virtude, a honra e a cultura.
BERTOLDO
VAMO MUDAR DE ASSUNTO,ESSE É BALÉLA
renato
Bota balela nisto.
Paulo
Mudar de assunto? fala aí meu irmão, qual é o seu planeta?
Mudar de assunto … dá uma ideia aí maluco!
Davy
~Cara, se quiser mudar de assunto muda de post, ou até de sítio se quiser. Mas para de ficar comentando coisa inócua. Por favor.
Estevão
Putz… a universidade é federal e não dá para botar a culpa no Aécio…
Paulo
Preocupado ou aliviado?
nadja rocha
A sociedade fez com esse meninos o que eles fizeram nas brincadeiras só em quantidade bem maiores,eu diria em toneladas.
Paulo
Meninos?
Tá de sacanagem …
É por isso que agem dessa forma.
Eles devem estar se gabando de estarem bombando na internet!
Alexandre Aguiar
Um certo romano, Tácito, disse certa vez que a História deveria ser escrita “sine ira et Studio”, ou seja, sem raiva e sem parcialidade. Algo difícil, evidentemente, pois a História é escrita pelos humanos, que mantém a emoção sempre acima da razão, ainda que tentem ao contrário. Mas Tácito estava certo, uma vez que a emoção turva a maneira como se percebe e analisa as coisas.
Sabe-se que os trotes em universidades, sendo públicas ou privadas, em sua maioria atentam às regras da civilidade. Mas não vou, evidentemente, usar a regra falaciosa de que todo mundo que faz ou participa de trotes inconsequentes é leviano, bandidos, racista ou misógino. O que deve haver é uma conduta dos responsáveis por estas intituições para definir o que é contra os Direitos Humanos e aquilo que PODE SER apenas um representação teatral. Acima de tudo, parcimônia e bom senso, de todas as partes.
Estamos numa interface social conturbada, onde os pedidos de linchamento público pipocam por todos os lados, bem como os comportamentos de impunidade.
Que as autoridades se pronunciem.
Andrea Lancaster
Esses caras são no mínimo uns chatos.
Jorge Pereira
Incrível os racistas virem com o discurso de “tenho amigos negros” e o simbolo da atlética da faculdade é um macaco – eles estão comparando o macaco com quem? Com negros? Por isso não é racismo ou um racismo maior?
Essa é o futuro do Brasil, de Minas? Essa é a formação do PSDB Mineiro depois de tantos anos no Poder?
Uma resposta a altura seria a expulsão.
ted tarantula
só pela camisa abotoada até no gogó esse mané ja merece umas 100 chibatadas…e por sorte ele esqueceu a pochete..
Julio Silveira
Poxa Ted, essa foi boa. risos.
Paulo
Parabéns pelo senso de humor. Proporcionou uma relaxada. Os caras acreditam mesmo que não são racistas, é pra ficar indignado.
Continuo na risada. Boa!
ted tarantula
Lombroso a parte…tem de dar uma olhada na cara a atitude dos infelizes..olhem bem: não dão a nítida impressão de ser o tipo da turma que frequenta, com perdão da má palavra, “sertanejos universitarios”???
e olha que sou do tempo que essas duas palavras nunca apareceriam na mesma frase…
RicardãoCarioca
Jovem que aceita o trote é tão idiota! Nem sinto pena. E com relação aos que fazem trotes, distribuiria de suspensões a expulsões. Estabelecimentos de ensono superior são lugares para estudos e não para brincadeiras.
Julio Silveira
Isso é um problema de frouxura continuada, vem da familia até chegar ao estado. Isso é relflexo da compaixão de um sistema criado para dar compensações pela violência social que vivemos, principalmente vindo da Ditadura. A sociedade está se tornando negligente e permissiva com maus feitores, num aparente complexo de culpa pela propria incapacidade de reconhecer o melhor caminho cultural. Me lembra esse país permissivos que criam seus deuses, filhos rebeldes e marginais, para a coletividade que arcará com as consequências.
renato
E se for uma peça teatral.
Falando das mazelas do Negro, e a
sacanagem de Hitler.
E postassem só imagens. Como ficaria.
No carnaval se for fantasiado de Hitler
ou negro ou branquelo, pode?
Tem gente que carrega o sotão e o porão
nas costas.
Mas onde de fato devem agir não o fazem.
Onde esta a piazada que surrou os gays,
na Avenida de São Paulo, onde estão quem
queimou os índios e os mendigos.
Com certeza estes caras já estão com raiva
de negros, e judeus e comunistas.
Tem que analisar e conversar antes de colocar
exposição ao público, pode estragar a vida de
um deles.
Acham que os jovens da Universidade não tomariam
providências na hora se tivessem visto abusos.
Menos prezam os que lá estão.
Mateus Paul
Texto importante.
Vejamos como se comportará a burocracia universitária em mais este caso de violação dos direitos humanos transcorrido no espaço da universidade.
Com a palavra os digníssimos professoras e professores doutores da UFMG.
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