Boulos: Quando o jornalismo seletivo se transforma em linchamento

Tempo de leitura: 3 min

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FHC e o filho Paulo Henrique: nenhum escândalo

Pau que bate em Luiz bate em Fernando?

04/02/2016 02h00

Guilherme Boulos, na Folha

No apagar das luzes de seu mandato, o ex-presidente promoveu um jantar no Palácio do Planalto para a nata do PIB nacional – Odebrecht, Gerdau, Lázaro Brandão, entre outros — com direito a vinho francês e refinado menu. Mas o prato principal era obter dinheiro para o financiamento de seu instituto após sair da Presidência. Conseguiu naquela noite a bagatela de R$ 7 milhões.

O filho do ex-presidente teve as contas de um hotel de luxo em Ipanema, onde morou por certo período, pagas por um grupo empresarial do setor têxtil. Andava pra lá e pra cá de BMW e tinha um jatinho permanentemente à sua disposição. Isso tudo com o pai ainda na Presidência da República.

O ex-presidente e seu partido foram acusados por certo senhor, que foi seu Ministro de Estado e figura ativa na campanha eleitoral, de terem apropriado nada menos que R$ 130 milhões de sobras de campanha em sua primeira eleição, sendo R$ 100 milhões de caixa dois. Disse ainda que o recurso foi provavelmente enviado ao exterior.

O nome deste ex-presidente é Fernando Henrique Cardoso. O filho pródigo é Paulo Henrique Cardoso. E o acusador dos desvios na campanha de 1994 é José Eduardo de Andrade Vieira, banqueiro que foi ministro da Agricultura de FHC.

Nenhum desses fatos é novidade. Mas não renderam dez minutos no “Jornal Nacional” por dias a fio nem repetidas manchetes da Folha. Não fizeram também com que FHC e seu filho fossem intimados a depor pelo Ministério Público.

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Se fosse o Lula…

Aliás, o mesmo Ministério Público de São Paulo que intimou Lula e sua esposa não denunciou nenhum agente político no escândalo do “trensalão” tucano e arquivou o caso das irregularidades no monotrilho, que apareciam numa planilha apreendida com Alberto Youssef.

Seguindo a toada, o Ministério Público de Minas Gerais também pediu o arquivamento do caso do aeroporto de Claudio. O então governador Aécio Neves (PSDB) desapropriou a fazenda de seu tio para construir um aeroporto, cuja chave (do aeroporto “público”) ficava em poder de sua família. O MP mineiro não viu motivo algum para intimar Aécio ou oferecer denúncia.
FHC é tratado pela mídia como grande estadista e nunca foi incomodado pelo MP ou pela Polícia Federal. Em seu governo, aliás, ambos eram controlados na rédea curta. Suas transações com o pecuarista e empresário Jovelino Mineiro, seja na controversa fazenda de Buritis (MG), seja na hospedagem frequente em apartamento na capital francesa, nunca geraram grande alarde. Atibaia desperta mais interesse que Paris.

Aécio, por seu lado, desfila em Brasília como defensor da moralidade. Tal como FHC é aplaudido em restaurantes e não tem porque se preocupar com investigações. Seu nome apareceu em mais de uma delação da Lava Jato, mas não cola.

Em relação a Lula, a disposição é outra. Uma canoa vira iate. E o depoimento de um zelador é tratado como condenação transitada em julgado.

É verdade que Lula e o PT pagam o preço de suas escolhas. Não enfrentaram em seu governo a estrutura arcaica do sistema político brasileiro, onde interesses públicos e privados sempre conviveram promiscuamente. Mantiveram intocado o monopólio midiático empresarial, que hoje os dilacera. E optaram por uma aliança com a elite econômica, pensando talvez que seriam tratados como os “de casa”. Chocaram o ovo da serpente.

Mas criticar suas escolhas estratégicas — como é o caso aqui — não significa legitimar um linchamento covarde e com indisfarçado interesse político. Se há acusações em relação a favorecimentos da OAS ou da Odebrecht, que Lula seja investigado. Como Fernando Henrique nunca foi e os grão-tucanos não costumam ser.

Contudo, investigação — e jornalismo investigativo — não podem carregar as marcas das cartas marcadas e da seletividade.

Definir que Lula é o alvo e, depois, fazer uma devassa pelo país em busca de um argumento factível é transformar investigação em achincalhamento e argumento em pretexto.

Como gosta de dizer um famoso morador de Higienópolis: “assim não pode, assim não dá”.

PS do Viomundo: Vivi isso dentro da Globo. Todos os recursos para investigar o PT. Mas, na hora de investigar o PSDB, não tinha dinheiro para ir a Piracicaba!

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Comentários

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Vera Lucia

Não consigo entender a cabeça dos lambe-botas que farejam artigos denunciando tucanos e os defendem, tentando limpar a bosta como cães famintos limpam os quintais onde habitam. Quanto ao excelente texto gostaria apenas de fazer uma pergunta para os jornalistas de esquerda: Por que todos repetem hoje, que o tal do apartamento na avenida Fochs não é do FHC se, se não me engano, foi neste mesmo jantar que uma jornalista se levantou e denunciou a compra por 4 milhões e quinhentos mil, não sei se reais ou dólares, por Fernando Henrique, no bairro Champs Elysées e ele não desmentiu ? Isto eu li na imprensa nativa, quando aconteceu.

Urbano

Jornalismo é uma coisa das mais sérias da existência humana e não pode nunca, jamais ser confundida com conteúdo de proposições fascistas e, por conseguinte, bandidas.

Ruy Teixiera

Tudo lixo !!!! PSDB, PT, PMDB e suas corjas. Não voto em nenhum deles, podem me prender. Coitadinha da Petrobrás sendo destruída pelo PT, PMDB e PP e o PSDB recebendo o dele para ficar calado.

Ana

Acho que vivemos há muito tempo no País da Falcatrua. Mas o problema é que chegou a hora do basta. Justificar a roubalheira de hoje dizendo que ela já acontecia antes, e a mídia não divulgava, e o MP não punia, é como dizer que deveríamos continuar com a escravidão no Brasil, porque ela é histórica. Quando a única defesa se baseia na retórica infantil, dizendo, fiz porque o outro fez, então, não dá pra convencer. Que comecem as punições reais por favor. E que todos paguem pela roubalheira, para que nossos próximos políticos pensem 55 vezes antes de tirar um centavo de nós, cidadãos honestos!

    Flavio

    Se foi assim que entendeste, acho que deverias ler de novo o artigo. Em nenhum momento se justifica um erro por outro, ao contrário, afirma sempre que todos os erros deveriam ser investigados, não só alguns.

cecilia santos

Eu estou cansada de ver os absurdos que estão ocorrendo no Brasil. Delinquentes notórios, tratados como estadistas, Delinquentes comprovados, desafiando a Corte Máxima, veículos de desinformação pública, prestando desserviço,mentindo fomentando ódio, e a Presidenta da República, que tem a obrigação legal institucional e moral de coibir tais situações, assistindo à tudo, como se expectadora fosse.

Walter

HSBC,180 bilhão de Armínio Fraga papai noel que deu a ele ,privatarias,no México ,Peru,Argentina,Chile deu cadeia aos presidente,aqui a mula da entrevista.

Mineirim

Dentre as várias “promessas” de campanha ainda não cumpridas, uma das que mais me incomoda é o tal processo contra a revista veja (assim mesmo, com minúsculas) que nunca avançou. Aí tem coisa.

Ramon

Muito boa a análise do Boulos. Como diz o PHA, FHC deveria virar minissérie na Rede Globo, cujo o título deveria ser: O rei da Privataria- anos 90.

Nelson

É a tática do boi-de piranha. O boi da vez, o PT, tem que ser sacrificado, entregue às piranhas, para que o restante da boiada ou do grande grupo de corruptos possa chegar à outra margem são e salvo, escapando a qualquer condenação.

De quebra, o sistema ainda se desvencilha de um corpo bastante incômodo. Mesmo com toda a corrupção e todas as barbeiragens que fez e vem fazendo, o PT ainda guarda muito compromisso com os trabalhadores e o povo brasileiros. Deveria, em verdade, ter muito mais compromisso do que tem.

A votação do PL 4330 é um exemplo. Dos 70 deputados do PT, 69 votaram contra o projeto, a favor dos trabalhadores e contra o sistema dominante. De outro lado, do PSDB, do DEM, do PMDB e de alguns utros partidos, 90% votaram a favor do PL, contra os trabalhadores e a favor do sistema dominante.

Então, um partido desse tipo, que detenha 70 deputados na Câmara, não pode continuar desse tamanho. Ele tem que ser desossado, dessangrado até virar nanico como os outros partidos que ainda têm algum compromisso com o povo.

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