Tânia Mandarino: Vou à posse de Maduro agradecer a Venezuela por resistir

Tempo de leitura: 4 min
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Por Tânia Mandarino

Ilustração: Carlos Lopes (depois de Picasso)

Por Tânia Mandarino*

Em novembro de 2021 estive na Venezuela como observadora internacional de direitos humanos acompanhando um megaprocesso eleitoral para escolha dos governadores e alcaides (prefeitos) dos estados e municípios do país vizinho, que tem as maiores reservas de petróleo do mundo.

O que encontrei lá foi resistência e democracia. Mas, sobretudo, um povo politizado, cultura, música, tambores de herança afro-cubana-indígena, joropo [música típica da Venezuela], ensinamentos sobre cuidados com a saúde a partir de ervas medicinais ancestrais, hospitalidade, acolhimento, jovens participando ativamente da luta democrática e libertária – inclusive nos postos de comando e uma práxis popular que emociona.

Um país de fé, que constrói um socialismo cristão e uma revolução que tem em si o potencial de unificar e libertar toda a América Latina do jugo imperialista como sonhou, resistiu e lutou o Libertador Simón Bolívar, ao lado de outros bravos guerreiros latino-americanos e da valente Manuela Sanz, Manuelita, também chamada de “a Libertadora do Libertador”.

Um país que deu à luz Hugo Chávez, luz que segue alumiando o projeto revolucionário bolivariano e se espraia por toda a América Latina, benfazeja para os povos, assustadora para as elites cruéis, carniceiras e mercenárias do nosso continente.

Não à toa tanto ódio! É por tudo isso e muito mais que se mantém um gigantesco laboratório midiático internacional que consegue fazer até os menos avisados que se autodenominam “progressistas”, “libertários”, “humanistas” replicarem como papagaios de pirata que a Venezuela “é uma ditadura” e  Nicolas Maduro “é um ditador” a ser combatido, dentre outras inverdades.

Descobri, ainda na Venezuela, um povo que ama a paz e tem um respeito intransigível por sua Constituição e isso é o que une os venezuelanos, de esquerda e de direita, politizados ou não: o amor à paz e o respeito à Constituição.

Sobre a Constituição da Venezuela, de 1999, revisada em 2009, todos deveriam conhecer ao menos o preâmbulo, que aqui transcrevo com destaques meus:

O povo da Venezuela, exercendo seus poderes de criação e invocando a proteção de Deus, o exemplo histórico de nosso Libertador Simão Bolívar e o heroísmo e sacrifício de nossos ancestrais aborígenes e precursores e fundadores de uma nação livre e soberana; com o objetivo supremo de remodelar a República para estabelecer uma sociedade democrática, participativa e autossuficiente, multiétnica e multicultural em um Estado justo, federal e descentralizado que incorpore os valores de liberdade, independência, paz, solidariedade, bem comum, integridade territorial, cortesia e estado de direito para esta e as futuras gerações; garante o direito à vida, ao trabalho, ao aprendizado, à educação, à justiça social e à igualdade, sem discriminação ou subordinação de qualquer espécie; promove a cooperação pacífica entre as nações e promove e fortalece a integração latino-americana de acordo com o princípio de não-intervenção e autodeterminação nacional dos povos, a garantia universal e indivisível dos direitos humanos, a democratização da sociedade de imitação, o desarmamento nuclear, o equilíbrio ecológico e recursos como patrimônio comum e inalienável da humanidade; no exercício do seu poder inato através dos seus representantes que integram a Assembleia Nacional Constituinte, pelo seu livre voto e em referendo democrático, decretam o seguinte: [segue a Constituição]

Não estive na Venezuela por ocasião da reeleição de Maduro, em julho de 2024, mas acompanhei ativamente todos os desdobramentos que se sucederam.

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Menos de um mês depois do pleito eleitoral, em 20 de agosto, organizamos um manifesto que foi encaminhado ao presidente Maduro.

A partir de Argentina, Brasil, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, EUA, Índia, Itália, Suíça e Rússia, 135 pessoas e 15 entidades assinaram a Moção de Apoio ao Presidente Nicolás Maduro e ao Povo Venezuelano.

Na moção, constou também um apelo ao presidente Lula não se curvar aos interesses do grande capital financeiro internacional e reconhecer o resultado da eleição presidencial na Venezuela:

Rogamos, sobretudo, aos líderes da América Latina e do Caribe, em especial ao grande estadista brasileiro, Lula da Silva e aos Presidentes Gustavo Petro, da Colômbia, e López Obrador (AMLO), do México, que não se curvem aos interesses do grande capital financeiro internacional, que tudo consome e a tudo destrói.

Com o coração em festa, retorno agora à Venezuela para participar da posse do presidente Nicolás Maduro e do Festival Mundial Antifascista “Por um Novo Mundo”.

Hoje, porém, não tenho mais a pretensão de estar indo levar apoio à Venezuela, ao seu povo ou ao presidente democraticamente eleito que tomará posse.

É a Venezuela que nos apoia.

Afirmo sem medo de errar que a Venezuela é, hoje, com Cuba no Caribe, o último bastião anti-imperialista da América Latina.

Além de celebrar a vitória popular e engrossar as fileiras mundiais da luta antifascista, é preciso, portanto, avançar na compreensão de que este é um momento para agradecermos à Venezuela por sua resistência. Sem dúvida, barreira contra o avanço mais acintoso do imperialismo estadunidense sobre todo o nosso continente.

Eu vou à posse de Maduro, mas não em apoio à Venezuela: quem precisa do apoio venezuelano somos nós, dos países que ainda se rendem ao imperialismo estadunidense.

Obrigada, Venezuela, pelo apoio, firmeza e resistência!

Nós, os produtivos que pertencemos aos países que ainda se vergam, celebraremos mais essa vitória contra o fascismo imperialista, agradecidos, na certeza de que ainda realizaremos, todos juntos, o sonho plantado pelo Libertador Simón Bolívar de uma América Latina unida, livre e soberana.

Dia 10 de janeiro, eu juro com Maduro, por toda a América Latina!

Nos próximos dias, publicarei por aqui os registros da posse de Maduro e do Festival Antifascista.

Nesse período, si me quieres escribir ya sabes mi paradero: tercera brigada mixta, primera línea de fuego.

Venezuela resiste! Venezuela se respeita!

Viva a Venezuela!

*Tânia Mandarino é advogada, defensora dos direitos humanos e integrante do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia – CAAD.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Tânia Mandarino

Advogada; integra o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD).


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Comentários

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Nelson

Palmas, palmas e mais palmas; efusivas palmas a Tânia Mandarino.

Excelente artigo, que deveria ser lido pela esquerda (?), pelos “menos avisados que se autodenominam ‘progressistas’, ‘libertários’, ‘humanistas’”, que, ao “replicarem como papagaios de pirata que a Venezuela ‘é uma ditadura’ e Nicolas Maduro ‘é um ditador’ a ser combatido, dentre outras inverdades”, sopram enormes lufadas de vento nas velas do imperialismo capitalista.

O imperialismo capitalista, este sim, configura uma gigantesca ditadura, de muitos tentáculos, escamoteada de democracia. Ditadura escamoteada de democracia que é essencial para a manutenção do sistema. Sem essa grande farsa, o capitalismo não teria como manter o domínio sobre a maior parte do planeta e seguir com sua sanha de predar, pilhar e depredar as riquezas dos povos, relegando-os à pobreza e à miséria eternas.

A parte da esquerda que parece andar encantada, fascinada, enamorada pelo chamado liberalismo deveria lembrar do alerta feito pelo sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein: “o liberalismo foi inventado para opor-se à democracia”.

Para terminar, palmas a Tânia Mandarino.

IVETE MARIA CARIBE DA ROCHA

Belíssimo artigo companheira Tânia, estamos juntas nessa brava caminhada, esperando que os governos progressistas da América Latina, apóiem o governo da Venezuela, legítimo e corajoso e que nos dá o exemplo de resistência ao imperialismo!

João Ferreira Bastos

Parabéns, você me representa

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