‘O Mais Médicos é necessário, a vida não pode esperar’, aplaude o infectologista Evaldo Stanislau

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Fotos: Araquém Alcântara/livro Mais Médicos, ONU e Karina Zambrana/MS

O Mais Médicos é necessário, a vida não pode esperar.

Por Evaldo Stanislau Affonso de Araújo*, em A Tribuna

Outro dia nesse espaço de A Tribuna li mais uma entidade médica representativa falando, mal, do Mais Médicos.

Novamente valendo-se de argumentos que demonstram ou desconhecimento, ou deturpação da regra do Programa.

Uma ou outra atitudes que já desqualificariam a crítica, não bastasse que tais críticas são dos mesmos que não apenas calaram-se diante das inverdades sobre vacinas para COVID como, pior, calaram-se e estimularam (sob o pretexto da “autonomia” do médico) o uso de medicamentos ineficazes no tratamento da COVID, práticas que tantas vidas podem ter levado.

Bem, apenas para esclarecer, e depois mudo o rumo da prosa, no Mais Médicos desde sempre a prioridade foi aos médicos brasileiros. Entretanto, os colegas não aderiram. Abriu-se então aos estrangeiros. E foi insuficiente.

Por fim, por meio da Organização Panamericana de Saúde, instituição ligado à OMS, firmou-se um contrato com o governo de Cuba (xiiiiii, Cuba?) para o envio de médicos.

Não obstante o médico, se brasileiro ou estrangeiro, a regra do Programa era clara: atuação restrita à Atenção Básica, sob a supervisão de um tutor ligado às universidades brasileiras e, inclusive, com horas dedicadas ao estudo. E foi um sucesso!

Locais em que um médico nunca tinha sido visto antes, tinham médicos. Os indicadores de saúde melhoraram. E a relação médico-paciente foi tão boa, diria ineditamente boa, que a saudade que ficou até hoje é muito sentida.

Veja que até em grandes regiões metropolitanas como a Baixada Santista os médicos do Mais Médicos atuaram. Incluindo cubanos.

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Ou seja, é falsa a alegação do excesso de médicos. É falsa a alegação de que estrangeiros substituíram brasileiros, uma vez que as localidades, mesmo em cidades grandes, seguiam com vazios assistenciais.

E, é falsa a alegação de sistemática substituição de profissionais por outros oriundos do Mais Médicos uma vez que o vínculo era restrito ao Programa.

Dirão muitos que o que precisamos é de uma “carreira médica” a exemplo de outras profissões, como a magistratura. Concordo. Meta a ser construída. Mas, até lá, quem vai chegar aonde as pessoas morrem desassistidas?

Por fim, é falsa a alegação de que os brasileiros recusaram-se porque “não tem condições mínimas de trabalho”…Oras, voltem aos bancos acadêmicos! A Atenção Básica faz-se com muito pouco. E esse pouco é muito!

Aconselhamento e medidas não medicamentosas mudam o rumo de doenças e as retardam ou evitam por completo. Uma boa consulta permite inúmeros diagnósticos. O fomento à vacinação previne doenças.

E, diante de casos mais complexos, certamente um médico fará mais – inclusive um encaminhamento de mais qualidade – do que o “nada” que hoje é a realidade de muitos locais.

Não custa lembrar que a Atenção Básica resolve mais que 80% de todas as condições de saúde e organiza a Rede de Assistência.

O preceito do não fazer mal é um pilar da profissão médica. Infelizmente é esquecido por trás de pautas odiosas e preconceituosas mal disfarçadas como “defesa de classe e da saúde”.

Ou pior, talvez seja esquecido pela raiva porque o Mais Médicos desnuda o quanto precisamos evoluir na nossa prática médica, na nossa relação médico-paciente.

Sinto-me como cidadão e profissional médico envergonhado de tal posturas e nada representado pelos supracitados. Falam por eles e por suas pautas. Tenho a convicção que eu, e muitos outros profissionais médicos e da saúde em geral, vemos com alegria a retomada do Mais Médicos.

E que, no futuro, seja um Programa desnecessário, substituído por um SUS cada vez mais forte, acessível e presente, em cada canto onde exista uma vida humana a ser preservada.

*Evaldo Stanislau Affonso de Araújo é médico, professor universitário e cidadão.

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