José do Vale: Covid e negligência do governo Bolsonaro pioram atenção à saúde do brasileiro
Tempo de leitura: 3 minEPIDEMIA E GOVERNO OMISSO DETERIORARAM A ATENÇÃO DE SAÚDE AO POVO BRASILEIRO
Por José do Vale Pinheiro Feitosa*, especial para o Blog da Saúde
A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 196, diz:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Isso significa que, durante a pandemia de covid-19, o Estado é obrigado oferecer políticas públicas de saúde a toda a população, atualmente estimada em 213,6 milhões de brasileiros.
Por exemplo, a imunização contra a covid-19.
O Estado tem o dever de disponibilizar vacinas seguras e eficazes no menor tempo possível, já que a disseminação do novo coronavírus é muito rápida.
Isso vale tanto para os 67%% de brasileiros sem plano privado de saúde — cabe ao governo dar assistência direta a eles – quanto para os com plano – a chamada saúde suplementar –, que é regulada pelo Estado.
Porém, não é o que está acontecendo, impactando negativamente na assistência à covid-19, assim como nas demais doenças.
Me refiro aqui aos problemas de saúde relacionados a estilo de vida, dificuldades sociais e econômicas, fatores ambientais, culturais e individuais, que são geradores de morbidade e mortalidade precoce no povo brasileiro.
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Ou seja, além da má condução da pandemia que levou o Brasil a ter um efeito pior da covid, ainda tivemos aumento de doenças por outras causas.
Explico.
A PEC 95, conhecida como a PEC da Morte, limitou os gastos públicos, inclusive na Saúde, levando à crescente diminuição de investimentos e serviços.
Aí, no início de 2020, chegou a pandemia.
Por negligência, o governo federal não se preparou para cuidar da população do modo como é necessário em relação aos demais problemas de saúde, entre os quais hipertensão, diabetes, tuberculose e câncer.
É a chamada atenção básica de saúde. Além de cuidar desses agravos ditos “comuns”, é a porta de entrada a assistência de média e alta complexidade.
Acontece que a negligência do governo federal e a pressão da pandemia desarticularam toda essa estrutura de atenção à saúde.
E o resultado disso já começamos a ver. É a piora na saúde do povo brasileiro.
Alguns números ajudam a ilustrar a situação.
— Em abril de 2020 e 2021, houve diminuição de internações gerais no SUS em comparação às ocorridas no mesmo mês de 2019, quando não existia epidemia. Simultaneamente aumentou o valor médio dos procedimentos de internação (valor médio da AIH).
O achado talvez reflita desassistência a várias doenças, cujos pacientes, em estado grave, chegam ao hospital ao mesmo tempo que os casos graves de covid-19. Isso fez com que a taxa de mortalidade hospitalar fosse de 4,12%, em 2019, para 9,17%. em abril de 2021.
— Igualmente houve redução da atenção ambulatorial (em torno de 25%) tanto na quantidade aprovada pelo governo federal quanto na apresentada pelas unidades de saúde no Brasil inteiro.
— Fica claro que o Sistema Único de Saúde (SUS) perdeu capacidade na prevenção por vacinas e em situações mórbidas, que precisam do diagnóstico precoce para não evoluírem para condições piores.
— Tomando como referência 2020 (o primeiro ano da epidemia), houve redução de 10% nas coberturas por todas as vacinas em relação ao ano anterior.
— Houve redução no diagnóstico de tuberculose, o que implica agravamento geral da doença e das mortes (em torno de 15%).
— A prevenção do câncer do colo do útero (por meio da coleta de material em lâminas para exame laboratorial) baixou de 7 milhões de lâminas, em 2019, para 4 milhões, em 2021 (redução de 43%).
— A mamografia para detecção precoce do câncer de mama diminuiu de 3,06 milhões, em 2019, para 1,86 milhão, em 2020 (redução de 39%).
A redução da atenção básica, da média e da alta complexidade para várias condições de saúde foi muito drástica. Assim, vai criar padrões sanitários negativos para os próximos anos.
Essa situação deve ter afetado todos os países que sofreram a pandemia.
No Brasil, o impacto já se mostra muito grande e duradouro.
Comentários
TEREZA NEUMAN MAIA SOUZA ALVEAR
Excelente avaliação do Dr. José do Vale sobre o descaso do poder público com a saúde do nosso povo
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