Camilo Santana autoriza volta do futebol, médicos discordam: “É arriscado, mesmo com portões fechados”

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O governador do Ceará, Camilo Santana (PT) anunciou a medida nessa sexta-feira, 10/07. Liduína Rocha (no topo, à esquerda), Roberto da Justa e Evelyne Girão (abaixo), integrantes do Coletivo Rebento, acham que ainda não é momento realizar jogos de futebol.Fotos: José Cruz/Agência Brasil, wikipedia, arquivos pess oais

Da Redação

Nessa sexta-feira, 10/07, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), autorizou o retorno do futebol profissional na cidade de Fortaleza e Região Metropolitana, a partir desta segunda, 13 de julho.

Os jogos serão com portão fechado, sem a presença de público.

Ceará é o estado do Nordeste mais atingido pelo novo coronavírus.

Até agora são 135.945 casos confirmados e 6.853 óbitos por covid-19.

Porém, médicos do Coletivo Rebento acham arriscado o retorno do futebol neste momento, mesmo com portões fechados.

O Rebento é um coletivo de médicas e médicos cearenses em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS.

Médicos cearenses alertam: “Retorno do futebol ainda é arriscado e não aconselhável, mesmo com portões fechados”

 por Dalwton Moura*, Coletivo Rebento

Autorizado para a partir desta segunda-feira, 13/7, o retorno do futebol profissional neste momento, no Ceará, ainda traz riscos e não é aconselhável.

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O alerta é de médicos e médicas cearenses, integrantes do Coletivo Rebento — Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS.

Profissionais de saúde como os infectologistas Roberto da Justa e Evelyne Girão e a obstetra Liduína Rocha apontam vários motivos pelos quais o retorno das competições, mesmo com portões fechados, representa grandes riscos no atual momento da pandemia.

“Apesar de especificamente em Fortaleza os indicadores serem de declínio quanto à incidência de casos, mortalidade, número de internamentos, número de pacientes em UTI, o futebol cearense envolve também times da Região Metropolitana e de municípios do Cariri e de Sobral, onde o cenário epidemiológico da doença é gravíssimo”, destaca  o doutor Roberto da Justa.

Justa avalia como “muito frágil” o protocolo preparado pela Federação Cearense de Futebol (FCF) para a retomada do futebol, em contraste com o protocolo preparado pela Confederação Brasileira de Futebol (CPF), este com melhores medidas para minimizar riscos que, no entanto, não deixam de existir.

“Mesmo com um protocolo rígido de testagem nos times da capital, a retomada dos treinos e jogos é arriscada. Os jogadores estão aí se expondo a risco de adoecer, desenvolver uma doença grave, assim como seus familiares: filhos, esposa, mãe, pai, idosos”, enfatiza  dr. Roberto.

A infectologista Evelyne Girão também chama atenção para os riscos elevados.

“Muito preocupante num momento destes, ainda em plena pandemia, com aumento de casos  e óbitos no Interior do Estado,  pensar no retorno do futebol. Apesar da redução de casos e óbitos em Fortaleza, ainda estamos no platô da curva epidêmica, sem observação de declínio sustentado”, aponta.

“Os hospitais e UTIs ainda possuem grande parte de seus leitos ocupados por pacientes com a Covid-19 “, destaca a médica.

“Hoje o  Ceará tem mais de 100 mil casos notificados, com quase 6 mil  óbitos. Para se avaliar a dimensão disso, tivemos no Ceará mais casos do que a China inteira, que teve 84 mil casos registrados. E o que estamos observando também é uma letalidade bastante elevada , principalmente nos bairros da periferia e em populações mais vulneráveis “, acrescenta a dra. Evelyne.

Portões fechados não eliminam riscos

Sobre os riscos para os jogadores, integrantes de comissões técnicas e outros profissionais envolvidos em partidas de futebol, mesmo em estádios com portões fechados, a infectologista faz um alerta categórico:

“Por mais que sejam realizados testes nos jogadores e na equipe técnica, é preciso lembrar que nenhum teste negativo pode fornecer 100% de certeza de que a pessoa não está infectado com o SARS-CoV-2. Principalmente se ela está assintomática, quando a sensibilidade do teste é menor. Nos vestiários, no campo, nos treinamentos há um risco importante de transmissão, já relatada inclusive em portadores assintomáticos do vírus”.

“Essa reabertura de atividades presenciais tem que ser feita de forma gradual e talvez nem toda a população esteja entendendo isso. Existe uma chance de aumento de casos, com risco de  retrocesso em todo o  processo de reabertura, como observamos agora em Pequim, no Texas e na Califórnia. É o risco da segunda onda”, indica Evelyne Girão. “Na situação epidemiológica do Brasil e do Ceará, temos que continuar mantendo isolamento social”.

Exemplo e comportamento

Ao contrário de alguns cronistas e jornalistas esportivos que têm defendido que o retorno das partidas de futebol no Estado, sem público, ajudaria a manter mais pessoas em casa, assistindo aos jogos pela TV, o infectologista Roberto da Justa diverge.

“O futebol influencia muito o comportamento de muitas pessoas. É muito complicado as autoridades sanitárias estarem num esforço grande para as pessoas se manterem em casa e tomando cuidado, flexibilizando algumas atividades em Fortaleza de forma gradual, e haver ao mesmo tempo um esporte de massa e seus ídolos incentivando as pessoas a sair desse isolamento”, aponta.

“Pode haver aglomeração por causa dos jogos, seja em bares, seja em residências, com a presença de quem não mora no local. Novamente é um risco”, considera o especialista, que também critica o fato de já haver estados que cogitam autorizar partidas com torcida no estádio.

“Não há sequer perspectiva de isso poder ser feito de forma segura ainda. Não deveria nem ser cogitado. É realmente uma situação muito perigosa colocar milhares de pessoas em um estádio simultaneamente”.

Diferenças de acesso a tratamento

A médica obstetra Liduína Rocha, conhecida de muitos torcedores e torcedoras do Ferroviário, acrescenta outro aspecto ao debate: a diferença de acesso a tratamento, em caso de quadros de complicação da Covid-19, em decorrência de disparidades sociais e econômicas.

“Futebol é um dos espaços em que experimentamos nossas humanidades na condição da equidade. Quando estamos no estádio, nos reconhecemos  nesse lugar paritário.  Mas saindo de lá, e fora dele, experimentamos nossas desigualdades e privilégios! E em tempos de Covid, acesso e assistência podem, e são, a diferença entre mortes e vidas, entre chances”, ressalta. “Que os estádios nos unam, mas só quando a Covid não mais puder nos separar, pelos riscos e pela morte”.

*Dalwton Moura é jornalista do Coletivo Rebento.

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Comentários

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Morvan

Acredito que haja tomado a muitos de surpresa, o anúncio do retorno do futebol cearense; digo isto por que, até ora, Camilo se mostrava parcimonioso e atido à ciência, resistindo à cantilena e à enorme pressão dos negacionistas. Gostaria, se possível, de ver algum depoimento do Secretário da Saúde, tcc Cabeto.

Zé Maria

Sob esse mesmo ponto de vista científico
aplicável ao Estado do Ceará, também
não deveria haver liberação de partidas
de futebol nos demais campeonatos estaduais,
nem no RJ ou em SP, nem no RS nem em MG ou SC
ou em qualquer estado do País, precisamente devido ao alto risco de aglomerações e, portanto, de contágio, não apenas
em frente aos estádios, mas nos bares, restaurantes, pizzarias e similares.

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