Fábio Mesquita: “É lamentável a confusão que está havendo no Brasil entre política e ciência”
Tempo de leitura: 5 min“É lamentável essa confusão entre política e ciência, eleições e desenvolvimento”, diz o médico Fábio Mesquita
Por Arminda Augusto*, em A Tribuna
Médico há anos trabalhando fora do Brasil a serviço da Organização Mundial de Saúde (OMS), Fábio Mesquita está agora em Mianmar, um país ao sul do continente asiático. É membro do Departamento de HIV e Hepatites Virais da OMS lá.
Ele também não vê a hora de poder visitar o Brasil para rever a família.
O médico santista, que trabalhou na Cidade até o final dos anos 90, diz acreditar que o embate político sobre a vacina contra a covid-19, entre Estado de São Paulo e União, não afetará os protocolos de segurança das agências reguladoras, como a Anvisa. Confira a entrevista feita com ele, esta semana.
A média móvel, divulgada diariamente, mostra que o número de contaminados cresce, mas o de mortes já não acompanha, é menor. Podemos interpretar esse fato como um momento em que as autoridades de saúde estão sabendo lidar melhor com a doença e, por isso, salvando mais vidas?
Acho que sim. A doença é muito nova, mas agora temos mais recursos do que se tinha tempos atrás.
A doença tem três fases: viremia, onde os medicamentos antivirais tentam impedir a replicação do virus; depois entra na fase pulmonar, onde a falta de ar é o sintoma e as alternativas são respirador e anticoagulantes, porque a coagulação é intensa; e depois entra na fase severa, onde a solução é Dexametasona (um corticoide) funcionando como um potente antiinflamatório.
Quando se entendeu esse fluxo foi que as coisas começaram a melhorar.
Exato. Quando a gente entendeu isto e parou de pensar que só evitando a multiplicação do vírus resolveríamos o problema, melhorou muito nossa capacidade de responder melhor clinicamente aos casos.
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ambém aprendemos como dar oxigênio, quais as quantidades. Essa explicação é a mais provável para essa relação de crescimento dos casos de contaminação para menos mortes.
Você acredita que em algum momento a contaminação pelo coronavírus entre em uma fase endêmica ou epidêmica? Mais quanto tempo de pandemia?
Veja, será ainda pandemia enquanto estiver atingindo o mundo todo ao mesmo tempo. Certamente até uma boa parte do ano que vem.
O diferencial do ano que vem são as vacinas. Só elas são capazes de dar uma alteração importante na transmissão e na resposta imune da comunidade.
Já se diz que, no primeiro momento, não haverá vacina para toda a população do Brasil e que, por isso, seria melhor priorizar os grupos de risco, como pessoal da saúde, idosos e pessoas doentes. O que você pensa sobre isso?
É isso mesmo, e temos que pensar que não é apenas o Brasil. São 7 bilhões de pessoas.
Temos visto um progresso impressionante em curto espaço de tempo. Nunca produzimos uma vacina tão rápido. Temos 11 vacinas em diferentes estágios. A expectativa é de termos essas vacinas entre o final deste ano e o primeiro semestre de 2021.
E por que não haveria para todo mundo?
O principal problema é a capacidade de produção. Como se produz bilhões de vacinas em seis meses?
Então, ela precisa ser dividida pelo mundo todo com certa razoabilidade. Não é o que temos visto. Mais de 50% da produção dessas vacinas foi comprada por países ricos.
Ou seja, está se repetindo o que vimos com os respiradores: quem tem mais dinheiro compra toda a produção.
É exatamente o mesmo drama. Tem duas vacinas sendo testadas nos Estados Unidos, e o presidente já disse: ‘daqui não sai’.
Embora existam outras linhas de produção com uma visão mais comunitária, não é possível dizer que o acesso será igual para todo mundo.
Mas quem decide o que vai para onde? É só o poder econômico?
Poder político e poder econômico.
Mas isso não pode criar um ‘abismo sanitário’ no mundo?
Certamente isso vai ser um problema. É o exemplo dos respiradores. Vai ser disputada mesmo. A OMS tomou uma iniciativa nesse sentido, para tentar minimizar isso, o que não quer dizer que todos vão seguir.
Os Estados Unidos já cogitaram sair da OMS, e eu diria que o Trump não tem muito a intenção de estar numa posição coletiva.
Qual foi a iniciativa da OMS?
Acesso aos instrumentos do covid-19. É uma congregação de forças para tentar resolver os problemas, que envolve ainda o Fundo Global de Luta contra Tuberculose, Aids eMalária,o Centro Global de Vacinação, e fundos internacionais.
Essas organizações conseguiram colocar muito dinheiro, 35 milhões de dólares, para investir em vacinas, e elas serão mais democraticamente divididas pelo mundo, pelos países mais pobres inclusive.
Então será graças a essas iniciativas que comunidades e países mais pobres terão acesso às vacinas.
Essa é a expectativa.
O governador de São Paulo, João Doria, disse que até final de abril de 2021 toda a população do Estado estará vacinada. Você acha isso possível?
Parece um uso completamente político. O que precisa ver é se o Butantan tem essa capacidade produtiva para vacinar todo o Estado de São Paulo emtão pouco tempo.
Com a politização da vacina, que já foi parar, inclusive, no STF, como confiar nos protocolos de segurança das agências reguladoras? É possível que os processos sofram ingerência política?
Émuito lamentável essa confusão que está havendo entre política e ciência, entre eleições e desenvolvimento científico e tecnológico. É evidente que não é um fenômeno exclusivo do Brasil.
A gente vê isso nos Estados Unidos também.
Nossa expectativa é que nos próximos meses, tendo a vacina já aprovada, agências como Anvisa vão manter seu histórico de independência, que analisa sob o ponto de vista científico e toma decisões baseadas em evidências.
Mas se acontecer de não ter essa neutralidade, podemos nos basear em outras agências, como a Agência Europeia de Medicamentos, ou o próprio FDA (agência federal, do Departamento de Saúde dos Estados Unidos) ou de outras agên- cias regulatórias pelo mundo, que não serão influenciadas por um processo eleitoral.
É uma pena ver esse processo nesse nível. A decisão sobre qual vacina tomar é para o futuro. Ainda não sabemos qual será mais efetiva e poderá impactar a disseminação da covid-19.
Estamos tranquilos, porque ainda que haja alguma confusão na Anvisa, não vai impactar as decisões, porque existem outros parâmetros internacionais para tomada de decisões seguras em estados e municípios.
Se está sendo possível desenvolver uma vacina como essa em tempo recorde, por que para algumas doenças, como a aids, ainda não há?
Pelo que aprendi vivendo tantos anos fora e lidando com essas questões, está muito relacionado àquilo que ameaça os países poderosos ou não. Quem tem dinheiro para investir.
É uma decisão de investimento. Ciência precisa de investimento. Investimento em ciência é uma prioridade política e econômica.
Mas o HIV não é uma prioridade, então?
Quando ele estava ameaçando os países ricos, o desenvolvimento tecnológico em medicamentos foi espetacular.
Rapidamente, tivemos drogas incríveis. Os primeiros casos foram em 1982 e em 1989 já havia medicamentos de controle clínico, como o AZT. Isso foi muito rápido.
Lembro que meus pacientes tomavam, no início, de 12 a 16 comprimidos por dia. Hoje, toma- se uma pílula por dia, sem efeito colateral.
A comparação com o atual momento é o grau de ameaça. A covid é a maior ameaça que temos agora à vida, à economia, tudo que imaginamos relacionar desde a gripe espanhola.
Só que, agora, a capacidade da ciência é incomparável. Mas nada estaria acontecendo sem dinheiro.
Comentários
Zé Maria
São os políticos Demagogos, como BolsoAsno e Doria,
e a Mídia Comercial do País, partidária e irresponsável,
que atrapalham a Ciência, não propriamente a Política
– que estão diretamente vinculadas – vez que é através
de decisões políticas que se gerencia o Investimento
em Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico.
Zé Maria
Também depende de Decisão Política Governamental
a Contratação para Fornecimento de Vacinas ao Brasil,
sejam de Laboratórios Americanos, Chineses, Russos ou
Europeus, já que há Milhares de Voluntári@s Brasileiros
participando dos testes em diversos Estados do País,
por exemplo, Pfeizer (USA)/BioNTech (Alemanha), na
Bahia e em São Paulo;
Sinovac Biotech (China)/UNIFESP/Butantan (Brasil), em
São Paulo;
Oxford Biomed-AstraZeneca (UK)/FioCruz (Brasil), Bahia,
Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul
e São Paulo;
Janssen-Cilag-Johnson & Johnson (USA), Bahia, Minas
Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte,
Rio Grande do Sul e São Paulo; e
Gamaleya (Rússia)/Tecpar (Brasil), no Paraná.
Nesse caso, são os Interesses Comerciais Privados
combinados com a Disputa Geopolítica Mundial,
e com a interferência, até, da Imprensa Pró-EUA no
Brasil – que confunde a Opinião Pública Brasileira –
que obstruem as Medidas Ideais a serem adotadas
em Benefício da Saúde de toda a População.
Zé Maria
http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=108671
https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/08/brasil-possui-quatro-estudos-clinicos-de-vacinas-contra-o-coronavirus
https://br.noticias.yahoo.com/anvisa-aprova-teste-mais-uma-231100458.html
https://exame.com/brasil/pfizer-vai-dobrar-numero-de-voluntarios-de-sua-vacina-em-sp-e-na-bahia/
http://antigo.anvisa.gov.br/certificado-internacional-de-vacinacao-ou-profilaxia
https://www.gov.br/pt-br/servicos/obter-o-certificado-internacional-de-vacinacao-e-profilaxia
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54885955
https://www.saopaulo.sp.gov.br/noticias-coronavirus/nota-a-imprensa-38/
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/anvisa-interrompe-os-estudos-clinicos-da-vacina-coronavac
Zé Maria
O BolsoAsno Genocida trata Testes de Imunidade de Vacinas
como se fossem um Jogo de Perde-Ganha com Inimigos.
https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/65/2020/11/10/jair-bolsonaro-citou-joao-doria-no-comentario-1605005657181_v2_450x450.png
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