Eleição do CRM-MA: Em manifesto, Médicos Populares rechaçam discurso negacionista e contra políticas públicas de equidade e direitos na saúde; leia íntegra
Tempo de leitura: 8 minPor Conceição Lemes
Nos dias 14 e 15 de agosto, os conselhos regionais de medicina de todos os estados realizarão eleições.
A votação ocorrerá pela internet.
Serão escolhidos 20 conselheiros titulares e 20 suplentes para cada CRM, inclusive o do Maranhão.
Por isso, nesta quinta-feira, 06/07, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares – Núcleo Maranhão (RNMP-MA) lançando manifesto sobre as eleições do CRM/MA.
No documento (na íntegra, abaixo), a RNMP-MA rechaça: “quaisquer chapas que sigam – de forma direta ou por meio de seus respectivos candidatos a conselheiros – reproduzindo discursos negacionistas do ponto de vista científico e regressivos do ponto de vista das políticas de equidade e dos direitos na saúde”.
E afirma: “é essencial que sejamos capazes de estabelecer marcos mínimos de resgate civilizatório, científico, ético e social no horizonte da medicina brasileira”.
Para a RNMP, “quaisquer chapas dispostas a se orientar por esses marcos devem expor, minimamente e de forma clara”, cinco compromissos públicos.
Um deles é a ”defesa de revisão da concepção corrompida de ‘autonomia médica’, a qual segue formalmente vigente segundo a atual gestão do CFM”.
O manifesto, embora se destine à eleição do CRM/MA, vale para todos os estados.
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Leia a íntegra, abaixo.
Manifesto da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares – Núcleo Maranhão (RNMP-MA) sobre as eleições de 2023 do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM/MA)
No último quadriênio, a medicina brasileira viu-se diante do maior dos seus desafios na era moderna: uma pandemia que vitimou mais de 700 mil brasileiras e brasileiros. Com 3% da população mundial, o Brasil ostentou a triste marca de 10% de todas as mortes oficiais do mundo.
Ao lado dos demais profissionais de saúde, médicas e médicos estiveram no front de uma guerra pela saúde, salvando milhares de vidas e, quando isso não foi possível, acolhendo pacientes em seus derradeiros momentos e consolando tantas famílias enlutadas.
Muitos desses profissionais tiveram sacrificadas suas próprias vidas nesta batalha. Foram, assim, personagens de histórias de dedicação, sacrifício, vitórias e derrotas. Porém, cabe dizer, nem tudo se fez digno de orgulho para a nossa medicina neste tempo.
Infelizmente, assistimos a uma profusão de discursos negacionistas e práticas anticientíficas por parte de médicos, que lograram inverter a lógica das evidências.
De um lado, prescreveram e estimularam o uso de kits de drogas comprovadamente ineficazes; de outro, promoveram ataques e desestimularam o uso de vacinas comprovadamente seguras e eficazes.
Tudo isso contrariando as recomendações das sociedades médicas brasileiras, das instituições acadêmicas, da Anvisa e demais agências reguladoras internacionais, e da Organização Mundial da Saúde.
Para além das condutas individuais, grupos de médicos, instituições e seguradoras de saúde adotaram impunemente tais práticas e discursos, em alguns casos, flagrantemente criminosas, como demonstrou a CPI da Covid-19.
Vale ressaltar que tal fenômeno não foi espontâneo e esteve, todo o tempo, alinhado à visão política de um governo que, desde o princípio, buscou jogar a população desprotegida contra o vírus, seguindo a lógica da imunidade de rebanho por contágio.
Um governo que, criminosamente, sabotou medidas de controle social não farmacológicas adotadas por estados e municípios nos momentos de maior transmissão, atrasou de forma crítica a oferta de vacinas que poderiam ter salvo dezenas ou centenas de milhares de vidas, realizou negociatas com as mesmas, deixou faltar oxigênio em Manaus e estragar milhões de kits de testes para covid-19, e promoveu o uso de medicamentos ineficazes.
A bem da verdade, nada disso seria possível sem a manifesta chancela do Conselho Federal de Medicina, sob a égide de uma teratológica concepção de “autonomia médica”.
No entanto, o código de ética médica só poderia ensejar entendimento para uma autonomia técnica, livre de ingerências políticas, econômicas e religiosas, e não uma prática descolada de evidências e consensos científicos. Do contrário, admitiríamos uma medicina retrocedida no tempo, absolutamente desregulada, sem balizas científicas e éticas.
Nos últimos anos, assistimos a um crescimento da hesitação vacinal e à queda alarmante das coberturas vacinais no país, decorrente em boa parte de discursos e práticas antivacinas.
Neste contexto, médicos também se tornaram agentes reprodutores de desinformação, teorias da conspiração e pseudociência.
Seus maiores expoentes estão quase sempre envolvidos no mercado de pseudoterapias, a exemplo da famigerada “reversão vacinal”.
O referencial da medicina baseada em evidências não deve necessariamente implicar a supressão das chamadas práticas integrativas e complementares; contudo, isto não é válido quando o que está em jogo são flagrantes práticas embusteiras, que encerram promessas mirabolantes, riscos injustificáveis e a dissuasão em relação a práticas e recomendações baseadas em consensos científicos. Caberia aos conselhos fiscalizar e aplicar as devidas penalidades a tais médicos.
Neste ponto, convém resgatarmos as funções primárias dos conselhos, tal qual estabelecido por lei, desde sua criação em 1946: a regulação e fiscalização da medicina.
Cabe aos conselhos – como autarquias de função pública que são, e não entidades privadas corporativas – proteger a sociedade da má medicina.
Também devem zelar pelo exercício da medicina em condições dignas, tanto para os usuários quanto para os profissionais médicos, através de seu poder fiscalizador.
Acreditamos, além disso, que devem cumprir relevante papel na defesa do SUS, no debate acerca do provimento médico em regiões desassistidas, sob a ótica do direito universal à medicina, e na promoção do conhecimento médico e científico.
Nós, médicas e médicos populares, defendemos a saúde como um direito universal e compreendemos a medicina como ciência e prática que devem ser orientadas em prol da concretização deste direito.
Por isso, defendemos um SUS público, universal, integral e de qualidade. Defendemos uma sociedade que não seja produtora de doenças e de desigualdades sociais em prol do lucro; e na qual o Estado desempenhe um papel de proteção da vida das pessoas. Alinhamo-nos, nesta esteira, às lutas históricas do povo brasileiro por direitos sociais.
Por tudo isso, nas eleições para os conselhos regionais que se aproximam, ressaltamos o nosso rechaço a quaisquer chapas que sigam – de forma direta ou por meio de seus respectivos candidatos a conselheiros – reproduzindo discursos negacionistas do ponto de vista científico e regressivos do ponto de vista das políticas de equidade e dos direitos na saúde.
De outro modo, é essencial que sejamos capazes de estabelecer marcos mínimos de resgate civilizatório, científico, ético e social no horizonte da medicina brasileira.
A RNMP considera que quaisquer chapas dispostas a se orientar por esses marcos devem expor, minimamente e de forma clara, os seguintes compromissos públicos:
• Defesa da medicina baseada em evidências, humanizada e centrada no paciente;
• Defesa de uma revisão da concepção corrompida de “autonomia médica”, a qual segue formalmente vigente segundo a atual gestão do CFM;
• Defesa ampla das vacinas – não só as da covid-19, como todas as demais – visando a reforçar a confiança histórica da população nas mesmas e resgatar as altas coberturas do Programa Nacional de Imunizações (PNI);
• Desabono a quaisquer pautas regressivas nas políticas de equidade, incluindo de saúde das populações LGBTQIA+, negra e indígena, de saúde mental, e dos direitos sexuais e reprodutivos;
• Defesa ampla do SUS, como único sistema capaz de garantir a universalidade, a integralidade e a equidade na saúde da população brasileira.
Subscrevem este manifesto os seguintes membros e não membros da RNMP-MA:
Antonio Rafael da Silva – CRM/MA 268
Ivan Abreu Figueiredo – CRM/MA 2294
Marizélia Rodrigues Costa Ribeiro – CRM/MA 2462
Antonio Gonçalves Filho – CRM/MA 2917
István van Deursen Varga – CRM/MA 3081
Hamilton Raposo de Miranda Filho – CRM/MA 1212
Jacira do Nascimento Serra – CRM/MA 1933
Marcos Antônio Barbosa Pacheco – CRM/MA 2124
Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves – CRM/MA 2185
Maria dos Remédios Freitas Carvalho Branco – CRM/MA 2408
Conceição de Maria Pedrozo e Silva de Azevedo – CRM/MA 2415
Adalgisa de Souza Paiva Ferreira – CRM/MA 2453
Rosângela Cipriano de Souza – CRM/MA 2675
Carlos Macieira de Andrade – CRM/MA 2748
Ana Cristina Rodrigues Saldanha – CRM/MA 2796
Monica Elinor Alves Gama – CRM/MA 2862
Bernardo Bastos Wittlin – CRM/MA 9986
Isadora Clarissa Cordeiro Dias – CRM/MA 8301
Carolina Cipriano Monteiro – CRM/MA 7137
Vinicius Costa Carneiro – CRM/MA 9430
Dimitrius Vidal de Oliveira Garbis – CRM/MA 10232
Hugo Leonardo Neves Santos – CRM/MA 8041
Jade Mendonça Pereira Carvalho – CRM/MA 9100
Victor Ugo Dorigo de Castilhos – CRM/MA 4904
Francisco Renato Teixeira de Morais Filho – CRM/MA 10035
Larissa Bordalo de Figueirêdo Pinto – CRM/MA 8458
Camila Furtado Rodrigues – CRM/MA 7344
Renatha de Sena Rosa Lago de Brito – CRM/MA 7727
Marina Bezerra Couto – CRM/MA 10040
Bárbara de Miranda Domingues Tranm – CRM/MA 10643
Clarissa Pires Lobato – CRM/MA 9056
Vanise Barros Rodrigues da Motta – CRM/MA 4432
Bianca Santos Serra – CRM/MA 11194
Larissa Cristina Mendes Serejo – CRM/MA 10927
Eudes Alves Simões Neto – CRM/MA 7573
Mari Nilva Maia da Silva – CRM/MA 4295
Josiel Guedes da Silva – CRM/MA 11226
Kryshna Hayzza Leite Santos – CRM/MA 8694
Leonardo Fernandes Fontenele – CRM/MA 3076
Rafael Alves Vidal de Lima – CRM/MA 8626
Fabrício Silva Pessoa – CRM/MA 6613
Amanda Ferreira Passos – CRM/MA 8498
Paula Cavalcanti de Oliveira – CRM/MA 11492
Mirza Ferreira Lima – CRM/MA 12602
Matheus Henrique Reolon – CRM/MA 11795
Carla Lopes Teixeira Gomes – CRM/MA 11533
Rosana Maria Paixão Castello Branco – CRM/MA 7987
Diego Trabulsi Lima – CRM/MA 4963
Vítor Paixão Cruz – CRM/MA 12594
Mariana Neves de Moraes e Sousa – CRM/MA 9646
Juliana Pereira Rosa – CRM/MA 11553
Joanna Carolina Barbosa Leal da Costa e Silva – CRM/MA 11022
Artur Antonio Campos Amaral Sousa – CRM/MA 6739
Danielle Orlandi Gomes – CRM/MA 7120
João Arnaud Diniz Neto – CRM/MA 5889
Herbert Marcelo Lago – CRM/MA 6237
Luciana Maria Souza Santos – CRM/MA 11894
Thiago Viana Oliveira – CRM/MA 10178
Edyane Gomes de Brito – CRM/MA 4329
Clelma Pires Batista – CRM/MA 2972
Débora Castro Sousa – CRM/MA 11012
Natália Benigno Moreira – CRM/MA 7281
Wilka Emanoely Cunha Castro – CRM/MA 5473
Gabriela Cirqueira de Souza Barros – CRM/MA 8510
Daniel Wagner de Castro Lima Santos CRM/MA 11952
Leticia Pereira Martins – CRM/MA 12563
Francisco Luís Cipriano Monteiro – CRM/MA 13635
Ana Luíza Reis Santos – CRM/MA 11230
Iza Luana de Oliveira Trajano – CRM/MA 13149
Lucas França Belfort Pereira – CRM/MA 10995
Cícero Newton Lemos Felicio Agostinho – CRM/MA 9033
Marcela Karine Lobato Muniz – CRM/MA 11046
Martha Lourdes Rêgo Paula – CRM/MA 11011
Bernadete Maria Coelho Ferreira – CRM/MA 4755
Felipe Brayon de Paiva Ericeira – CRM/MA 8492
Natália Cristina Silva Oliveira Vale – CRM/MA 11917
Michelle Rafaelle Andrade Gurgel – CRM/MA 9197
Ilana Cristina de Paula Abreu – CRM/MA 4858
Rodrigo Lopes da Silva – CRM/MA 4536
Ruberval Martins Guimarães – CRM/MA 3490
Mellanie dellylah Trinta Ribeiro – CRM/MA 9659
Amanda Ferreira Simoes – CRM/MA 11546
Luiz Gonzaga Pereira Junior – CRM/MA 8327
José Pereira Guará – CRM/MA 4973
Adriano Marques Silva Cruz – CRM/MA 10999
Camila Brito Rodrigues – CRM/MA 11266
Vinicius Giuliano Goncalves Mendes – CRM/MA 5635
Sara Roberta Rodrigues Coutinho Braga de Oliveira – CRM/MA 6558
Jéssica Tuanny Alencar de Carvalho – CRM/MA 9091
Thiago de Sousa Santos – CRM/MA 12260
Diessika Helena Costa Halvantzis – CRM/MA 8173
Larissa Machado Neme – CRM/MA 12605
Mariana Marques da Silva Castro – CRM/MA 9093
Rodrigo Cardoso das Virgens Duarte – CRM/MA 9322
Izabel Maria Mendonça Medeiros Bonacorso Casal de Rey – CRM/MA 2720
David Abreu Soares – CRM/MA 10569
Antonio Leonardo Pereira Rosa – CRM/MA 7649
Valdir Alves Neto- CRM/MA 9771
Brenna Carolina Sousa Braga – CRM/MA 12.601
Thaciane Pinho Sodre – CRM/MA 8335
Eric de Medeiros Costa – CRM/MA 9429
Rodrigo Antonio de Mesquita Silva – CRM/MA 12128
Tainá Santini Fernandes Assunção – CRM/MA 11277
Erika Duailibe Mascarenhas Fernandes de Castilhos – CRM/MA 4927
Bianca Vieiralves Schiappacassa- CRM/MA 6711
Teresa Cristina Alves Ferreira – CRM/MA 3367
Rogério Vitor Matheus Rodrigues – CRM/MA 12734
Elis Vanessa de Lima Silva – CRM/MA 10368
Bruna Laísa da Silva Martins – CRM/MA 9660
Rodrigo Palácio de Azevedo – CRM/MA 4297
Paulo Henrique Cortês Ferreira – CRM/MA 4806
Gilberto de Holanda Lopes Filho – CRM/MA 10412
Rhaissa Santos Oliveira – CRM 10041
André Felipe Lobão Fernandes – CRM/MA 13081
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Comentários
Zé Maria
Só nas ‘Democracias Capitalistas’
para haver ‘Médicos Antivacinas’.
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