Eder Gatti alerta: Reportagem da Folha não reproduziu a realidade, espalhou preocupação e desacreditou o programa de vacinação e o SUS

Tempo de leitura: 14 min
O infectologista Eder Gatti, que trabalha com imunização na rede pública de saúde de São Paulo, é taxativo: "Não dá para colocar o Programa Nacional de Imunização em xeque em cima da matéria da Folha, que ainda desacreditou o programa de vacinação e o próprio SUS"

Por Conceição Lemes

Desde a faculdade, todos nós jornalistas aprendemos que informação correta é nosso bê-á-bá.

No Jornalismo, informação fiel à verdade factual é fundamental.

Na área da saúde, então nem se fale.

Afinal, lida com a vida, o bem mais precioso de todo mundo.

Não dá para apurar mal, ser descuidado, impreciso, errar, sobretudo se envolver denúncia grave.

Após publicar uma reportagem equivocada, o veículo não pode simplesmente no dia seguinte dizer ao leitor, telespectador ou ouvinte: Erramos.

Primeiro, porque, em tempos de internet, não se tem controle sobre o fluxo da informação.

Segundo, porque sendo uma denúncia dramática, delicada, preocupante, vai ser reproduzida velozmente por todas as mídias.

Terceiro, porque, a essa altura, muitos provavelmente já abraçaram como verdadeira uma informação errada, distorcida, incompleta.

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O estrago está feito. Os possíveis danos colaterais dependem de cada caso.

Reduzi-los não é fácil. Revertê-los 100%, impossível.

Aparentemente, a Folha de S. Paulo não aprendeu ou se esqueceu da epidemia midiática de febre amarela (janeiro/2008) e das previsões absurdas da gripe suína (julho de 2009).

Dois crimes contra a saúde pública brasileira (veja o PS desta repórter).

Pois, desde 2 de julho de 2021, profissionais de saúde, gestores e parcelas da população enfrentam as sequelas de mais este crime da Folha contra a saúde pública brasileira.

2 de julho de 2021, 12h25

Na sexta-feira retrasada, 2 de julho, a Folha publicou a reportagem Milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra a Covid; veja se é um deles.

No subtítulo, detalhou: “26 mil doses da Astrazeneca fora da validade foram aplicadas em 1.532 municípios”.

Trata-se de um levantamento feito por Sabine Righetti e Estêvão Gamba.

Eles cruzaram os dados de dois sistemas abertos do Ministério da Saúde.

DataSUS, que identifica os vacinados com código individual, e Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que contém informações sobre lote, fabricante, prazo de validade e data de envio das vacinas aos estados.

Com base apenas nesses dados, Righetti e Gamba concluíram:

— 139.911 doses de oito lotes da vacina Astrazeneca estavam com o prazo de validade vencido.

— 25.935 doses com validade vencida foram aplicadas em 1.532 municípios.

— 113.976 doses vencidas não tinham sido utilizadas até 19 de junho, quando fecharam o levantamento, como mostra o quadro abaixo publicado na reportagem de Righetti e Gamba.

Instantaneamente, a matéria foi manchete no portal Uol, inclusive vídeo no Uol News.

Rápido ganhou repercussão nacional, já que 1.532 cidades dos 5.568 municípios brasileiros estão na lista, entre as quais algumas capitais, como registra este trecho:

Eram 12h25 da sexta-feira retrasada, 2 de julho, quando foi postada na internet.

Caiu como uma bomba.

Depressa seus efeitos começaram se manifestar por todos os cantos do País.

Médicos recebendo ligações e mensagens por aplicativos de pacientes, amigos, familiares, para saber se a vacina vencida faria mal e se teriam que se revacinar.

População batendo à porta das Unidades Básicas de Saúde (UBS), com os mesmos questionamentos.

Gestores políticos pressionando os profissionais das salas de vacina das UBS, para saber o que havia acontecido para o município estar na lista da reportagem da Folha.

No mesmo dia, várias prefeituras rebateram.

Algumas delas: Maringá (PR); São Paulo (SP); Belo Horizonte e Juiz de Fora (MG); Salvador, Vitória da Conquista e Juazeiro (BA); Nilópolis (RJ); Belém, Marabá, Altamira, Itaiutaba e Ananindeua (PA).

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) divulgaram nota conjunta (na íntegra, ao final), afirmando:

–Todos os casos serão investigados.

— “Não está descartado erro do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, que desde o início da Campanha de Vacinação apresenta instabilidade no registro dos dados”.

Naquele final de semana, perguntei a quatro médicos – três infectologistas e um pediatra especialista em imunização — o que achavam da seriíssima denúncia da Folha.

Os quatro sugeriram “muita cautela”.

Entre eles, o médico infectologista e doutor em Saúde Coletiva Eder Gatti, que se dedica à imunização na rede pública de São Paulo.

“Não dá para colocar o PNI [Programa Nacional de Imunização] em xeque em cima dessa matéria, que desacredita o programa de vacinação e o próprio SUS”, afirma Eder Gatti, em entrevista ao Blog da Saúde, do Viomundo.

“O Programa Nacional de Imunização não é só o governo Bolsonaro, essa tragédia que está aí colocada”, frisa.

“O Programa Nacional de Imunização tem toda uma cadeia de procedimentos, que não é apenas federal; é também estadual e municipal”, argumenta.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) tem uma série de mecanismos para evitar erros na vacinação. E, se eventualmente ocorrer, tem também mecanismos para corrigi-los”, atenta Gatti.

5 de julho de 2021, 20h49

A Folha atualiza a matéria. Altera título, intertítulo e gráfico.

Ao título inicial — Milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra a Covid; veja se é um deles –, acrescenta Registros indicam.

O intertítulo recebe o complemento Dados do Ministério da Saúde mostram.

Ou seja, a Folha que no dia da publicação assumiu a paternidade pela revelação bombástica transferiu-a para o Ministério da Saúde. É aquela velha história de que filho feio não tem pai.

Já num dos quadros, acrescentou a informação do total de doses dos oito lotes colocados sob suspeição: 3,9 milhões. As 26 mil doses denunciadas representam 0,66%.

6 de julho de 2021, 21h50

Nova atualização da matéria.

Ela não se limitou a uma frase ou outra.

Do começo ao fim, o conteúdo é bastante alterado.

Não dá para saber com exatidão todas as mudanças, pois não tem alguma marcação que nos permita identificá-las.

É praticamente outra reportagem, embora o link seja o da versão original.

6 de julho de 2021, 21h50

Um minuto depois, a Folha publica um outro texto no qual admite o erro.

Entre a publicação em 2 de julho, às 12h25, e a admissão do erro em 6 de julho, às 21h50, se passaram quase 4 dias e meio. Mais precisamente 105 horas e 25 minutos.

A matéria, é claro, foi feita com as melhores intenções.

O problema é que deu abordagem simples para algo muito complexo.

Sequer ouviu um especialista que atua na área para saber se os achados tinham sentido.

Admitir o erro é importante, mas não apaga os danos que causou, como a preocupação disseminada e as idas desnecessárias das pessoas às UBS.

Com o agravante de lançar dúvidas sobre a vacinação e o próprio Sistema Único de Saúde.

Prato cheio para os negacionistas antivacina e os lobbies que querem passar a mão nos recursos do SUS e privatizá-lo.

EDER GATTI: “RESULTADO DO QUE A FOLHA FEZ FOI PÉSSIMO

O infectologista e doutor em Saúde Coletiva Eder Gatti estava certo, assim como os outros três médicos que sugeriram “muita cautela” com a denúncia da Folha.

Segue a íntegra entrevista que esta repórter fez com ele.

Blog da Saúde — Por que desde o início viu com muita cautela a matéria da Folha?

Eder Gatti — Porque a reportagem se baseou em dados secundários. Ou seja, bancos de dados, produzidos a partir de informações compiladas do sistema de vigilância sobre um determinado procedimento. Sistemas assim têm limitações.

Nós estamos falando de um banco que tem milhões de doses registradas. É um banco que registra nome, CPF, lote da vacina.

E, atrelado ao lote, há outros sistemas de informação sobre logística, que trazem dados sobre o produto: fabricante, origem, data de fabricação, vencimento.

Acho que Folha de S. Paulo divulgou algo que pode representar justamente as limitações dessa vigilância e desses bancos de dados.

E, aí, apresentou algo que pode ser apenas uma limitação de sistema — como erro de registro, inconsistência dos bancos de dados — como se fosse a realidade, ou seja, que as pessoas tinham mesmo tomado vacina vencida.

Blog da Saúde — E, agora, que a Folha admitiu que errou?

Eder Gatti – A suspeita foi lançada. Não dá para passar o pano. Então, todos os municípios listados têm que verificar se a denúncia materializa na realidade.

Vários municípios já afirmaram que não. Sinceramente, como já te disse, acho muito difícil a aplicação de vacinas vencidas na quantidade em foi denunciada.

Blog da Saúde — Por quê?

Eder Gatti – Primeiro, porque o Programa Nacional de Imunização não é só o governo Bolsonaro, essa tragédia que está aí colocada.

Segundo, porque o Programa Nacional de Imunização tem toda uma cadeia de procedimentos e checagem, que não é apenas federal; é também estadual e municipal.

Ela vai da compra do imunizante pelo Ministério da Saúde à sala de vacina nas Unidade Básicas de Saúde (UBS), nos municípios.

Blog da Saúde – Como funciona?

Eder Gatti — Para começar, o Ministério da Saúde não compra vacina vencida.

Uma vez de posse da vacina, o ministério a distribui para a central de logística de cada estado.

A central de logística estadual verifica as informações básicas — fabricante, lote, data de fabricação e validade — e encaminha a vacina para as regionais de saúde, que checam de novo as informações básicas.

Na sequência, as regionais de saúde distribuem para as centrais de logística dos municípios, que mais uma vez checam os dados da vacina.

As centrais municipais são grandes câmaras frias. Daí, o imunizante vai para salas de vacinas nas Unidades Básicas de Saúde, onde passam por outra checagem.

Por fim, na hora em que cada pessoa é vacinada, o vacinador verifica fabricante, lote, data de fabricação e validade. Essa conduta faz parte das boas práticas de imunização.

Portanto, na hora da aplicação, há uma nova checagem, pois o vacinador tem que inserir no sistema e no cartão de vacinação de cada pessoa os dados básicos.

Blog da Saúde — Mesmo com essas cinco ou seis verificações, a vacina pode ser aplicada fora do prazo de validade?

Eder Gatti –– Pode, tanto que isso já aconteceu. E, quando isso ocorre, o próprio município detecta, pois existe sistema de informação para notificar esse tipo de erro.

O Ministério da Saúde tem um sistema de vigilância de efeitos pós-vacinação que também notifica erros programáticos.

Blog da Saúde — Que tipos de erro?

Eder Gatti –Por exemplo, vacina com temperatura alterada, aplicada após o vencimento ou feita fora da recomendação, entre outros. Os municípios têm como hábito de boa prática notificar o erro quando o identificam.
Essa notificação objetiva corrigir os procedimentos operacionais em salas de vacina e avaliar o que fazer com o vacinado.

Blog da Saúde – Na prática, o que acontece quando um erro é detectado?

Eder Gatti – Primeiro, a notificação. Nos casos mais difíceis, a notificação é avaliada pelo nível estadual e federal. Mas, normalmente, é apenas pelo nível estadual. E, aí, o estado define se considera a vacina válida ou se revacina a pessoa.

Blog da Saúde – Na tentativa de sustentar a denúncia inicial, a Folha citou como exemplo de vacina vencida o caso de Dracena, cidade no interior de São Paulo.

Eder Gatti – O caso de Dracena foi notificado. Ao contrário do que tentou passar, a Folha não deu aí um furo jornalístico.

Se você der um Google, vai ver várias matérias de veículos da região falando sobre isso e o município se posicionando.

Em 22 de abril, a própria Secretaria Municipal de Dracena comunicou a aplicação das doses da AstraZeneca fora do prazo de validade. Tudo foi feito de forma muito transparente.

Blog da Saúde – O que aconteceu?

Eder Gatti – Houve uma falha dentro de uma sala de vacina.

Vacinas que chegaram depois foram aplicadas primeiro e sete frascos de um lote anterior ficaram para trás.

O aplicador, na hora, não percebeu que elas estavam com a validade vencida.

Ele próprio reportou o erro, que foi avaliado pela Secretaria de Saúde de Dracena e pela Divisão de Imunização da Secretaria de Estado da Saúde.

Tomou-se, então, uma posição técnica. As pessoas foram chamadas e revacinadas. É um procedimento muito tranquilo para o Sistema Único de Saúde.

Blog da Saúde – As vacinas contra covid-19 estão com prazo de validade de 3, 4 meses. Por que tão curto?

Eder Gatti –– A determinação do prazo de validade é feita por estudos de estabilidade. E como as vacinas contra a covid são novas, não temos ainda muitas informações a respeito.

Não espante se houver aumento no prazo de validade dessas vacinas à medida que tiver mais dados sobre a estabilidade.

Primeiro, porque as vacinas vão se provar mais estáveis. Segundo, porque não dá para gente ficar jogando vacina fora.

Ao jogar vacina fora, você tira oportunidade das pessoas se vacinarem. Sem contar o custo para o descarte, que exige todo um procedimento adequado.

É muito importante que fique claro o seguinte. O SUS tem vários mecanismos para evitar erros na vacinação. E, se eventualmente ocorrer, tem mecanismos também para corrigi-los.

Blog da Saúde – Vários municípios logo rebateram, atribuindo os achados da denúncia a problemas na transmissão de dados, a erros de digitação do lote.

Eder Gatti – Cada lote tem de 6 a 8 dígitos, às vezes até mais. E eles são sequenciais. A variação de um lote para o outro às vezes é de apenas uma letra ou de um número.

Pois bem, imagine o profissional vacinando num ritmo frenético — às vezes centenas de pessoas num dia — e anotando os dados de cada uma, inclusive o lote da vacina aplicada.

Tem município que anota à mão, para depois digitar no sistema.

Quem digita às vezes não é quem fez a vacina.

Então, é um procedimento que está sujeito a erro.

Aí, com base no dado da Folha, você pode me dizer: Ah, mas foram 26 mil doses…

Ok. Só que são 26 mil doses num cenário de milhões de doses aplicadas. E, às vezes, esse erro não é na aplicação, mas no registro.

Faltou à denúncia da Folha checar se o registro no sistema era compatível com a realidade.

Blog da Saúde – Como?

Eder Gatti – O correto seria identificar e questionar o poder público se aquilo era um problema no registro ou se, de fato, as pessoas foram vacinadas com a vacina vencida.

Mas, como a Folha não levou em conta a possibilidade de erro no registro, o resultado foi péssimo.

Não precisava checar tudo. Bastava fazer de forma amostral.

Agora, não dá para colocar o Programa Nacional de Imunização em xeque em cima dessa matéria, que desacredita o programa de vacinação e o próprio SUS.

Blog da Saúde – Pode ter havido erro real nessas 26 mil vacinas “vencidas”?

Eder Gatti – Erros podem ocorrer, mas não acredito que tenham acontecido nessa quantidade denunciada.

Prefiro dar um voto de confiança ao sistema público de saúde que em vacinação é muito bom.

Prefiro acreditar que houve erro de registro, que é facilmente corrigido.

A propósito: o sistema de registro atualmente é muito complexo.

Até 2014, o vacinador registrava cada dose aplicada fazendo um pauzinho no papel na sala de vacina. E, no final do dia, somava-se tudo. E era com esse dado consolidado que o sistema de registro era alimentado.

A partir de 2015, cada vacina aplicada passou a ser registrada nominalmente.

E, agora em 2021, o sistema de registro ficou ainda mais complexo.

Foi criado um sistema de informação específico para a covid-19.

O Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SIPNI) foi atualizado.

Blog da Saúde – Explique melhor.

Eder Gatti – Até 2014, nós tínhamos um sistema chamado API — Avaliação do Programa de Imunização.

Ele veio da década de 1990. Era um sistema DOS, que, em 2006, foi atualizado e virou sistema online.

Nessa época, como disse antes, a gente fazia um pauzinho para cada dose aplicada na sala de vacina. Esses pauzinhos — eram riscos mesmo no papel — eram somados e o dado consolidado era transferido para o sistema API.

Em 2014, o Programa Nacional de Imunização (PNI) lançou um sistema nominal: o SIPNI — Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização.

Foi um grande avanço. De 2015 em diante, os municípios foram aderindo ao novo SIPNI. Cada vacina aplicada passou a ser registrada nominalmente.

As mesmas pessoas que faziam pauzinhos no papel na sala de vacina passaram a ter que digitar nome da pessoa, lote da vacina, fabricante, validade, data da aplicação.

O trabalho ficou bem mais complexo, refletindo na qualidade do dado.

Blog da Saúde – O problema é o registro ou a ferramenta?

Eder Gatti – A ferramenta é boa. Só que é preciso também capacitar a ponta que faz esse registro, o que não aconteceu como deveria.

Se a ponta está trabalhando em condições inadequadas, isso vai refletir na qualidade do dado.

E, agora, no meio da campanha de vacinação contra covid, o Ministério da Saúde lançou um novo sistema, que ainda não teve tempo para a adequada validação.

É a primeira grande campanha em que as doses estão sendo registradas nominalmente em massa.

Os municípios estão tendo bastante dificuldade, pois há muitos dados para serem alimentados.

Tem município pagando hora extra de madrugada para o pessoal digitar.

Tem município que teve que contratar gente para digitar.

Também deve ter município com dificuldade para digitar os dados.

Blog da Saúde – Que outros fatores podem interferir na qualidade dos dados?

Eder Gatti – Por exemplo, a compatibilização dos bancos de registros próprios de alguns municípios e estados com o banco nacional de registros do Ministério da Saúde.

Blog da Saúde – Traduza, por favor.

Eder Gatti — O Ministério da Saúde tem o sistema nacional de registros, mas há municípios e estados que têm seus próprios sistemas de informação para registro de doses.

São Paulo, por exemplo, criou para vacinação de covid, o VaciVida.

Todos, portanto, precisam enviar as suas informações para o banco do Ministério da Saúde, que agrega tudo. E, aí, pode haver problemas na transmissão dos dados.

Pode também ter muitos dados em branco.

Enfim, vários fatores podem contribuir para a piora na qualidade dos dados, gerando as inconsistências, que podem ser a causa dessas 26 mil pessoas que supostamente teriam recebido vacina vencida.

Os dados dessas 26 mil vacinas vencidas constam do sistema de informação, mas não temos certeza de que se materializaram na prática.

Agora, antes de revacinar as pessoas, os municípios têm que pegar todos os dados, checar com muito cuidado, interpretar e corrigir. Há muita gente trabalhando sério nisso.

Blog da Saúde – Aliás, o Conass e o Conasems divulgaram nota conjunta, na qual diziam textualmente “Não está descartado erro do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações”.

Eder Gatti – Eu acho que é por aí, mesmo. Fico feliz de ver o Conass e Conasems se posicionando com serenidade e, ao mesmo tempo, firmeza em relação à situação.

Acho que houve falha de registro. Não é tão séria quanto o erro de vacinação. Mas também é um problema que precisa ser avaliado e corrigido.

Blog da Saúde – Agora, o que acontece? Todas as pessoas que tomaram vacina dos oito lotes suspeitos terão que se revacinar?

Eder Gatti –Não. Vamos por partes.

Nos casos em que a checagem demonstrar que a vacina vencida é, na realidade, erro de digitação, a informação vai ser corrigida no sistema de informação. E pronto.

Agora, nos casos em que se comprovar, de fato, que houve falha vacinal, é preciso ter uma avaliação do prazo, ou seja, qual o intervalo entre o vencimento e a vacinação.

Blog da Saúde – Quem tomou, de fato, vacina vencida, terá que se revacinar?

Eder Gatti – O manual eventos adversos pós-vacinação do Ministério da Saúde diz vacina vencida é sujeita à revacinação.

Mas no caso do intervalo entre o vencimento da validade e a aplicação for muita curto, a gente acaba considerando a dose válida. Vai ser caso a caso.

Os municípios vão precisar aguardar um posicionamento das autoridades sanitárias centrais.

Blog da Saúde – E para a população o que recomenda?

Eder Gatti –– Os municípios farão uma verificação nos seus sistemas de informação.

Se encontrarem gente vacinada com vacina vencida ou erro de registro, acredito que convocarão essas pessoas para verificação e, até mesmo se necessário, revacinação.

Se você recebeu a AstraZeneca, verifique na sua carteira de vacinação o número do lote da vacina que tomou e a data de vencimento.

Se o seu lote estiver entre os oito listados no lado esquerdo do quadro mais abaixo, veja se recebeu a dose após o vencimento.

Se a pessoa ficar em dúvida ou não receber nenhum chamado, vale a pena entrar em contato com o serviço de vigilância epidemiológica do município.


PS de Conceição Lemes: Em janeiro de 2008, a Folha e grande parte da mídia corporativa causaram uma epidemia midiática de febre amarela. Geraram pânico e levaram milhões a se vacinar inutilmente e a correr riscos desnecessários devido aos efeitos colaterais Pelo menos, duas morreram estupidamente. Confira aqui e aqui.

Em julho de 2009, 19 meses depois, a Folha publicou reportagem com previsões absurdas sobre a gripe suína, causada pelo vírus HINI.

Manchete da capa: Gripe suína deve atingir ao menos 35 milhões no país em 2 meses.

Título interno, da matéria propriamente dita: Gripe pode afetar até 67 milhões de brasileiros em oito semanas.

No primeiro parágrafo, detalhou:

A pandemia de gripe provocada pela nova variante do vírus A H1N1 poderá atingir entre 35 milhões e 67 milhões de brasileiros ao longo das próximas cinco a oito semanas. De 3 milhões a 16 milhões desenvolverão algum tipo de complicação a exigir tratamento médico e entre 205 mil e 4,4 milhões precisarão ser hospitalizados.

Irresponsabilidade total.

Abaixo, a nota do Conass e Conasems

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Comentários

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Luis Godoy

A jornalista Sabine Righetti foi minha professora na pós-graduação que fiz na Unicamp (especialização em Jornalismo Científico). Na época, ela era uma profissional muito competente. Por isso, fiquei surpreso com essa “barriga” medonha. Isso me fez lembrar de uma outra barriga que marcou a história do jornalismo científico nos anos de 1980, a do Boimate, publicada pela revista Veja. Kkkkkkk!!!

Marcelo Pedro

Ihhh, não é impossível muita gente ter tomado vacina vencida. Afinal, sabe como é o governo atual.
Sugiro seguir as recomendações da OMS até acabar essa epidemia. Pandemia.
E tem um monte de gente vacinada com 1 e/ou 2 doses que morreu de covid.
Não dá para confiar.
SEGURO MORREU DE VELHO.

Zé Maria

Por que a Folha de São Paulo, em vez de aterrorizar a População,
não fez uma Reportagem como esta do Jornalista João Fellet da
BBC News Brasil em São Paulo? (https://t.co/G9Bdi5Qj3b).
https://twitter.com/bbcbrasil/status/1414703566204329984

“Farmácia em SP engana imigrantes
com ‘vacina’ por R$ 100 que ‘trata covid'”

Uma farmácia de São Paulo que estava vendendo o que apresentava como uma “vacina para o tratamento da covid-19” foi alvo de uma operação policial nesta segunda-feira (12/7).

Imagens gravadas pela BBC com uma câmera escondida mostraram que as doses eram aplicadas ao custo de R$ 100 dentro da Drogaria Diamante, na zona norte de São Paulo.

Nas cenas, vários pacientes bolivianos — incluindo uma grávida e uma idosa — são atendidos na farmácia por um homem de avental branco.

Um repórter da BBC esteve no local e, dizendo que havia tido covid-19 e relatando sintomas da doença, foi aconselhado a tomar a “vacina”.

Alguns pacientes que receberam o falso imunizante foram hospitalizados em estado grave com sintomas de covid-19, e uma mulher acabou morrendo vítima da doença, segundo o atestado de óbito obtido pela BBC.

A BBC News Brasil telefonou ao local na semana passada após receber a informação de que pacientes com covid-19 haviam sido internados dias depois de terem sido atendidos na farmácia, onde teriam recebido a “vacina” que supostamente trataria a doença.

Uma dessas pessoas, uma mulher boliviana de 35 anos, teria visitado a farmácia por vários dias seguidos para realizar “tratamento” para covid-19, o que incluiu a aplicação da “vacina” e gastos de cerca de R$ 2 mil.

Em 18 de junho, ela deu entrada no Hospital Geral Vila Penteado, na zona norte, com mais de 50% dos pulmões comprometidos, segundo o laudo de um exame obtido pela BBC News Brasil. A mulher foi intubada e morreu 12 dias depois, em 30 de junho, deixando três filhos pequenos.

O atestado de óbito aponta como causa da morte “insuficiência respiratória aguda/infecção por coronavírus – covid-19”.

(Colaboração: Felipe Souza)

Detalhes em: (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57812041)

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