Dr. Rosinha: Ministro da Saúde e Bolsonaro não sabem o tamanho da epidemia nem das necessidades para enfrentá-la

Tempo de leitura: 3 min
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Por Dr. Rosinha

Fotos: Presidência da República

Confissão

por Dr. Rosinha*

Nesse domingo, 12/04, a imprensa noticiou enfaticamente a subnotificação dos casos de covid-19 no Brasil, como se fosse grande novidade e/ou surpresa.

O inusitado talvez seja o fato de o próprio Ministério da Saúde (MS) na coletiva de imprensa do sábado, 11/04, confessar seu despreparo, sua incompetência e ineficiência, para enfrentar uma epidemia do porte do coronavírus.

Ressalva: incompetência política dos gestores e não dos funcionários que lá trabalham.

Desde o diagnóstico do primeiro caso na China, no início de janeiro de 2020, o Ministério da Saúde e o governo federal tiveram, pelo menos, dois meses para se preparar para o enfrentamento da pandemia.

Mas, nada foi feito.

Pelo contrário, o maior mandatário, senhor Jair Bolsonaro, ficou messianicamente pregando que é uma ‘gripezinha’ e não precisa se preocupar.

Nesses dois meses, antes dos primeiros casos no Brasil, nossas fronteiras — com ênfase, nos portos e aeroportos — continuaram sem vigilância, com as portas escancaradas. Sequer foi feito o histórico de onde vinham e para onde iam as pessoas que aqui ingressavam.

Não foi só isso.

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Mesmo sabendo da capacidade de transmissão e agressividade do vírus, o Ministério da Saúde nem pensou, quanto mais calculou, quais seriam as necessidades para fazer os testes em todas as pessoas suspeitas de contágio.

Ou seja, não se preparou para identificar sequer os doentes.

Desde o golpe de 2016, os governantes impostos, Michel Temer e o atual, eleito em pleito fraudado, começaram a perseguir nossos cientistas e muitas pesquisas foram interrompidas.

Esta situação poderia ter sido revista nos últimos dois meses para estimular a abertura de novo campo de pesquisa, a do coronavírus.

O SUS, que sempre sofreu do subfinanciamento, no último período foi atacado de maneira muito mais agressiva tanto política quanto financeiramente, corroendo muito a sua capacidade.

Para agravar, neste curto período pré-pandemia nada foi feito para alterar esse processo, muito menos para aparelhá-lo para enfrentar este momento. Hoje temos um SUS com muita penúria de pessoal e de infraestrutura.

Diante deste cenário de destruição da ciência e do SUS, o informe sobre a subnotificação, dado ontem pelo secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, em coletiva à imprensa, não é novidade.

A novidade talvez seja o tamanho da subnotificação: 86%!

Ou seja, de cada 100 casos de infecção pelo coronavírus, apenas 14 são identificados.

Na coletiva de imprensa,usou-se o argumento de que a subnotificação ocorre no mundo todo.

Há subnotificação, sim, no mundo todo. Mas se fora do Brasil há incompetência, ela não pode ser usada como argumento para justificar a própria incompetência.

Se há incompetência no mundo, ela não é homogênea. Coréia do Sul e Alemanha têm respondido com mais eficiência e o número de casos reais está próximo dos notificados.

Uma das explicações dadas para a subnotificação é que os exames para detectar a covid-19 demoram a ser processados, portanto demorarão mais para figurar nas estatísticas.

Isto é, muitas pessoas morrem no dia, mas ainda não figuram nos dados oficiais do dia seguinte.

Esta subnotificação dá argumento a Bolsonaro e seguidores contra o isolamento social.

Discurso usado: há poucas pessoas contaminadas e poucas morrendo, portanto o isolamento social deve acabar.

Desde os primeiros informes do Ministério da Saúde sobre infectados e mortos pelo coronavírus no Brasil, há estudos indicando que os números oficiais divulgados deveriam ser multiplicados por 10 ou mesmo por 11.

Ontem, o próprio Ministério da Saúde deu razão a esses estudos.

Usando o percentual divulgado –86% de subnotificação –é possível estimar que já morreram cerca de duas mil pessoas pelo coronavírus no Brasil.

Mas, para não especular, é só usar a própria declaração do Ministério da Saúde e fazer a conta.

Oficialmente, são 20.727 infectados.

Como há 86% de subnotificação, o número real de infectados pode ser 148.050.

A entrevista desse sábado é a confissão de que o Ministério da Saúde e o governo — leia-se o ministro Mandetta e o presidente Jair Bolsonaro — não sabem o tamanho da epidemia, consequentemente das necessidades para enfrentá-la.

Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.

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Dr. Rosinha

Médico pediatra e militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.


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Zé Maria

Hidroxicloroquina e a Pandemia da Desinformação
O que Podemos Tirar de Lição?

Professor Ricardo Petraco MD PhD,
Cardiologista e Pesquisador da
Imperial College London (ICL)

Misture a crise do COVID-19, o tédio da quarentena e a internet.
O resultado é a maior criação de novos especialistas em epidemiologia viral da história, graduados nas últimas semanas no curso de Achismo Empírico da WhasApp University.

Dentre os muitos ciclos de opiniões rodando as redes sociais, o mais interessante é centrado no apoio ao uso da HCQ em pacientes com COVID-19.
Alguns defendem o uso indiscriminado da medicação, e outros preconizam até como prevenção, em indivíduos sem a doença.
O argumento comove e convence: pessoas estão morrendo, devemos tentar salva-las!
O nível de entusiasmo está alto. A sensatez das discussōes nem tanto.
Eu tomo a liberdade então, de usar essa novela e criar uma curta aula de estatística e ciência popular, no estilo perguntas e respostas.
O público alvo é o público leigo — mas alguns médicos e cientistas poderiam se beneficiar de ler as respostas 9–10.
[…]
Então, como as pessoas me fazem muitas perguntas sobre o assunto HCQ (mesmo que eu seja somente cardiologista) eu resolvi respondê-las aqui com o meu chapéu de cientista. Como pesquisador, eu e meus colegas passamos boa parte do nosso tempo discutindo como desenhar estudos para demonstrar para a comunidade médica a utilidade de testes diagnósticos, ou o benefício de terapias clínicas. Infelizmente, no Brasil, o ensino de métodos científicos, estatística e análise crítica de informação é quase inexistente em escolas e até universidades, então acho que nunca faz mal ler mais sobre o assunto — ainda mais durante essa estafante quarentena. Eu espero que as lições aprendidas com a novela da HCQ possam ser úteis no futuro, ja que o passado nos ensina que mais pandemias virão.

1) A Hidroxicloroquina funciona?
Eu não sei. Eu acho que não.
Ninguém sabe.

Íntegra em:
https://medium.com/@rpetraco/hidroxicloroquina-e-a-pandemia-da-desinforma%C3%A7%C3%A3o-o-que-podemos-tirar-de-li%C3%A7%C3%A3o-ea128c6402f7

Roberto de Paulo

Fico me perguntando?Como este País regrediu,e em tudo,emburreu,ficou cheio de ódio de preconceitos. Única explicação, é que tudo estava ibernando,só esperando acordar,os fascistas e covardes.

a.ali

e baseado nos “dados” falsos e alardeado pelo incompetente bolsonero estamos caminhando para um genocidio e sabemos os responsáveis…

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