Dr. Rosinha: Governo de machos e para ricos jamais criará políticas públicas que garantam os direitos das mulheres
Tempo de leitura: 3 minPor Dr. Rosinha
Párias
por Dr. Rosinha*
Em janeiro deste ano, a Oxfam divulgou o documento Tempo de Cuidar, no qual informa que, em 2019, 2.153 bilionários do mundo detinham mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas.
A maioria dos 2.153 bilionários são homens. Registro: homens.
De acordo com a Fundação Alemã para a População Mundial (DSW), a população mundial no final de 2019 era de 7,75 bilhões de pessoas.
Portanto, os 2.153 bilionários tinham riqueza superior a mais da metade da população da Terra.
Segundo a Oxfam, os 22 homens (homens, insisto) mais ricos do planeta detinham mais riqueza do que todas as mulheres que vivem na África.
E que, em 2019, o 1% mais rico – provavelmente, todos homens – possuía mais que o dobro da riqueza de 6,9 bilhões de pessoas.
Escrevo no passado porque com a pandemia a desigualdade atualmente é ainda maior.
Aumentou o número de pobres e os mais ricos se tornaram mais ricos. E, provavelmente, o número de mulheres e crianças que dedica o seu tempo a cuidar também é maior.
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O acúmulo desta riqueza tem por base a super-exploração do trabalho, principalmente atividades domésticas não remuneradas ou mal pagas — como cuidar de crianças, doentes, idosos, buscar lenha e/ou água, lavar roupa, etc — prestadas por mulheres e crianças (em especial, meninas ) em todo o mundo.
Esta organização social traz, de imediato, duas sérias consequências: cria a cultura que este é um trabalho de mulher; e perpetua a desigualdade de gênero e econômica.
O estudo da Oxfam, mostra que
“o valor monetário global do trabalho de cuidado não remunerado prestado por mulheres a partir da faixa etária de 15 anos é de US$ 10,8 trilhões por ano – três vezes maior do que estimado para todo o setor de tecnologia do mundo”.
Essa enorme desigualdade tem por base um sistema bem organizado de exploração de trabalhadores e trabalhadoras e que se fundamenta na relação – sexista – de gênero.
A economia global é como uma pirâmide: no topo, uma pequena elite inimaginavelmente rica, sem nenhum esforço.
Uma riqueza que cresce exponencialmente ao longo do tempo, sem agregar qualquer valor à sociedade.
Ou seja, só acumula e nada distribui, sequer pagam impostos.
A base da pirâmide é composta por mulheres e meninas, principalmente as que vivem em situação de pobreza. Elas dedicam
“gratuitamente 12,5 bilhões de horas todos os dias ao trabalho de cuidado e outras incontáveis horas recebendo uma baixíssima remuneração por essa atividade”.
A Oxfam calcula – subestimando os valores – que esse trabalho agrega, pelo menos, US$ 10,8 trilhões à economia.
Os que ganham são principalmente os do topo da pirâmide, e dentre esses, claro, os homens.
Na construção da pirâmide da economia capitalista –analisando os números da Oxfam – a mulher está estruturalmente colocada abaixo do homem.
No mundo todo, os homens detêm 50% mais riqueza do que as mulheres.
Na pirâmide política, que repercute na economia, as mulheres ocupam somente 18% dos ministérios e 24% dos parlamentos do mundo, demonstrando que são excluídas dos processos decisórios.
O atual modelo de desenvolvimento e financeirização da economia mundial levará a uma maior exploração dos trabalhadores, principalmente das mulheres, e ao caos.
Daí a urgência, além de mudar o modelo de desenvolvimento para salvar ecologicamente o mundo — de se criar uma renda básica para todas as pessoas.
Estudos indicam que uma reforma tributária solidária no Brasil, que taxe as grandes fortunas e acabe com a desoneração das grandes empresas, geraria uma receita anual de 270 bilhões de reais, que se somaria à criação de uma renda básica.
O estudo da Oxfam indica que
“uma tributação adicional de 0,5% sobre a riqueza do 1% mais rico nos próximos10 anos equivale aos investimentos necessários para se criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e assistência a idosos e outros setores, e eliminar déficits de atendimento”.
Governos como o do Brasil –comandados por machos e que governam para os ricos — jamais criarão políticas públicas que garantam os direitos das mulheres sem luta.
Mulheres que, com a pandemia, além de fazer o que já faziam, estão cuidando da educação das crianças, das brincadeiras e não raro sofrendo a violência do “companheiro”.
Eleni Varikas, no prefácio do livro Flora Tristán – União Operária, informa que
“desde 1842, ‘pária’ é descrito no Dicionário Político como um termo que se aplica ‘aos proletários de nossa sociedade que não têm nenhum lugar reconhecido na hierarquia política, que estão ausentes de todos os direitos do cidadão”’.
Este conceito – com as devidas interpretações –ainda está presente na nossa sociedade, no que diz respeito às mulheres.
Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Dr. Rosinha
Médico pediatra e militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Comentários
Zé Maria
Se o Trabalho Doméstico fosse realizado predominantemente por homens,
certamente haveria isonomia na legislação em relação aos demais empregados.
Henrique Martins
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/moradores-de-rua-morrem-em-itapevi-apos-receberam-marmita-envenenada/
Isso aqui é coisa de Bolsonarista.
Brasil virou o das Américas!
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