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Por Marco Aurélio Mello

por Marco Aurélio Mello

A situação política anda tão ruim, mas tão ruim, que setores da direita começam a considerar a possibilidade de Lula ser o candidato do establishment.

O cenário seria o seguinte: um Lula fraco, mas absolvido; num partido orgânico, com militância, mas fraco.

A costura se daria com setores políticos considerados do “alto clero”, para acabar com o poder do “baixo clero” que pratica um tipo de corrupção mais predatório e absolutamente amoral.

O ex-presidente se comprometeria a fazer um novo pacto nacional, em que os movimentos sociais e os trabalhadores organizados ficariam adormecidos pela retórica, permitindo assim que o capital seguisse aumentando seus lucros à custa do enxugamento da máquina e de pesado endividamento público.

Seria uma espécie de governo de coalizão com viés nacionalista, em que os cargos-chave da administração seriam destinados a grupos econômicos específicos.

Os bancos cuidariam da gestão da política econômica, monetária e fiscal. Cuidariam também da Casa da Moeda, do Banco Central, do COAF e da CVM, entre outros.

As multinacionais implementariam as políticas de desoneração de impostos e de geração de empregos precarizados.

O agronegócio cuidaria do meio ambiente e dos mananciais.

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Às empreiteiras caberia a política habitacional.

Instituições de ensino transnacionais “de excelência” cuidariam da educação.

A indústria médico-farmacêutica se responsabilizaria pela saúde pública.

A indústria automobilística cuidaria dos transportes, rodovias e infraestrutura.

Os grandes grupos de mídia controlariam a internet, a cultura e o entretenimento.

As forças armadas (depois de privatizadas) seriam responsáveis pela segurança, luz, água e esgoto.

Ao Estado, então mínimo, caberia apenas a manutenção da máquina e de orçamento modesto destinado à assistência social.

O poder legislativo aos poucos seria esvaziado, já que legislar seria tarefa do judiciário, que passaria a legitimar ações de combate à corrupção e ao crime a partir de ritos sumários, o que desafogaria os tribunais.

Seria uma espécie de capitalismo de “alto impacto” em que as franjas seriam permanentemente “aparadas”.

Em que os pobres deixariam de ser necessários.

Em que as minorias não seriam mais bem-vindas.

Em que, com o tempo, haveria apenas duas classes sociais uniformes: a verde e a amarela.

Só há um porém, acho que nessas condições o Lula não aceitaria.

O pessoal que já foi consultado (da Rede, do PSOL e do MAIS ) acha que o Lula topa.

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Marco Aurélio Mello

Jornalista, radialista e escritor.


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Comentários

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Rita Colacique

Que blasfêmia! Lula jamais faria um governo assim. Lula já governou por 8 anos e seu governo foi muito diferente do descrito acima.

Roberto

“Pacto social” é aquele em que o povo entra com o lombo e a elite com o chicote.
Abaixo qualquer “pacto social”! Levante popular é o que precisamos, para instaurar uma Constituinte Soberana.

Edgar Rocha

Eu também acho que topa. Até porque, como o texto deixa bem claro, ao fazer menção à retórica do Lula, petista nenhum vai dar o braço a torcer e admitir que a ideia é esta. Estão cada vez mais fundamentalistas, embora acreditem que os outros é que não têm visão política.
Mas, o sinais são claros: o Renan no palanque, os tucanos rachados, a Globo doida pra tirar o Temer, o medo do Judiciário tresloucado, sem limites e desmoralizado… E o Lula, ainda avesso ao enfrentamento contra as elites.
Se considerarmos sua “boa relação” com democratas americanos e a similaridade entre o projeto destes e o do PT, o discurso “libertário” que fornece a ilusão de diferença em relação a ultra-direita, mascarando sua tendência em favor do mercado, além da comoção internacional diante dos abusos da Lava-jato, não tenho dúvidas que, numa reviravolta internacional ante os riscos da Era Trump, Lula continuaria sendo “o cara” do Obama. O que não é algo a ser considerado realmente elogioso para um presidente que jura ser de esquerda. A não ser o Lula. Ele pode tudo.

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