Fátima Oliveira: Infância e velhice descuidadas atestam descaso e crueldade

Tempo de leitura: 3 min

Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO
Médica – [email protected] @oliveirafatima_

Um pacto civilizatório para cuidar de nossas crianças e nossos idosos”  recebeu muitos aportes de pessoas que “se viram” para dar um mínimo de dignidade à velhice de familiares. Sou grata aos instigantes e enriquecedores contatos.

A educação infantil – creches (0 a 3 anos) e pré-escola (4 a 5 anos e 11 meses) -, direito da criança e dever do Estado, é de responsabilidade dos municípios. Destaco que “a família não é obrigada a matricular a criança de até 6 anos em instituição de educação infantil, mas, sempre que desejar ou necessitar, precisa ser atendida pelo poder público”.

Conforme o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), “dos 20 milhões de brasileirinhos de até 6 anos, 11 milhões têm entre 0 e 3 anos; 17% das crianças de até 3 anos e 77% das entre 4 e 6 anos estão matriculadas na educação infantil”, em instituições públicas e privadas.

Eis a situação a enfrentar segundo a demanda. Nem mais, nem menos. O MEC, no novo Plano Nacional de Educação (PNE), prevê ampliar em 50% o atendimento em creche até 2020. Pouco, não?

Maíra Kubík Mano, em “Creches e pré-escolas ainda são precárias – Um raio X da educação infantil”, revela que nossas creches e pré-escolas deixam muito a desejar. “Estudos do Ipea, do Banco Mundial e da Unesco mostram que quem frequenta a educação infantil dos 0 aos 3 anos tende a estudar por mais tempo ao longo da vida, ter menor índice de reprovação e deter uma renda maior quando adulto, além de menor propensão ao crime”. Precisa dizer mais?

Sobre a velhice, cito Simone de Beauvoir (1908-1986), escritora e feminista francesa: “…não sabemos quem somos se ignorarmos quem seremos; aquele velho, aquela velha, reconheçamo-nos neles. Isso é necessário se quisermos assumir em sua totalidade nossa condição humana”. Ela é autora, dentre outros, de dois livros que tenho como essenciais: “O Segundo Sexo” (1949), estudo analítico soberbamente real do papel das mulheres na sociedade, e “A Velhice” (1970), no qual discorre sobre a postura de descaso da sociedade e dos governos frente às pessoas velhas.

Idosa é a pessoa a partir de 60 anos, independentemente de condições físicas e mentais. Em 2025, haverá, no Brasil, 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Hoje, em nosso país, a proteção social (benefícios da Previdência Social) chega a 17,2 milhões dos 20,6 milhões com mais de 60 anos (83,6% dos idosos). A cobertura na faixa acima de 65 anos atinge 94,8% de um contingente de 14,1 milhões de pessoas.

Ter um dinheirinho teoricamente todo seu é essencial para sobreviver na velhice, porém, a cobertura previdenciária é insuficiente para prover cuidados. A advogada Sylvia Romano escreveu, recentemente, um artigo brilhante, “Pobres velhos, coitados dos seus familiares”, e diz que “este título bem que poderia ser ao contrário: coitados dos velhos, pobres familiares. A ordem do adjetivo não importa, pois a problemática é a mesma”.

E encerra dizendo “já não sei mais o que me comove: se é a situação dos nossos idosos, ou de seus familiares, que não têm recursos financeiros nem tempo (em alguns casos, nem mesmo paciência) para suprir as necessidades dessa população, que, cada vez mais, cresce em números e aumenta suas demandas de atenção e cuidados, exigindo dos seus familiares maior dedicação, sem se importar se seus descendentes têm ou não condições de atendê-los. Pobres velhos, coitados dos seus descendentes, e dos futuros idosos também!”.

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Comentários

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Mari

A VELHICE
Olavo Bilac

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Willian

E o cara do Big Brother, hein, não era estuprador nada. Escola de Base II, a Missão. Sigam suas vidas com a consciência tranquila, ok?

Mari

Apenas para indagar por que artigos que tratam de questões sociais tão palpitantes e necessárias, historicamente DESCUIDADAS, não merecem comentários, sejam de apoio, sejam de discordâncias (sim porque há gente que acha que o Estado nada tem a ver com prover cuidados nem para crianças e nem para idosos)?
Para mim as pessoas têm medo de falar soibre estes assuntos ou ainda nem pensaram neles. No entanto, é preciso abrir os olhos, nas duas pontas (infância e velhice). basta pensar no que afirma a UNICEF, que a criança que frequenta a educação infatil tem "menor propensão ao crime". Só isso vale lutar pela Educação Infantil. Sobre os cuidados com idosos a Dra. Sylvia Romano tem toda a razão do mundo: “Pobres velhos, coitados dos seus familiares”, e diz que “este título bem que poderia ser ao contrário: coitados dos velhos, pobres familiares. A ordem do adjetivo não importa, pois a problemática é a mesma”.

JULIO/Contagem-MG

Só queria saber se a senhora doutora era tão critica assim nos aureos tempos do FHGAGACE, como é agora.

    Alberto

    Olha a babaquice! Realmente vc não conhece Fátima Oliveira. Ela escreve no jornal O TEMPO há muito mais de dez anos. Toda terça. Compara os artigos, mestre. Qual a crítica que há no artigo dela? Então você acha que o Estado não tem de ter obrigações de cuidados com crianças e nem com idosos? O que há em Contagem para crianças e para idosos? Quase NADA, num governo petista, infelizmente abaixo da crítica, que levou muitos sonhos em sua incompetência gritante. Mesmo o QUASE nada acho que você é tão mentalmemte indigente que nem sabe quais as políticas públicas voltadas para crianças e para idosos em seu município. Pois deveria lutar por elas. Vista a carapuça, faça alguma coisa e deixe de ser verme.

Alberto

Fátima Oliveira e sua sensibilidade para as questões sociais, nos alerta para mais duas situações que exigem todo empenho da nossa presidenta Dilma. Excelente artigo.

Tomudjin

Por falar em infância e velhice, no caso do menino Eike, a dúvida que paira é saber que tipo de carro seria necessário, neste caso, para fazer com que os seguranças que o acompanhava – ou pelo menos tentavam – evitassem o susto no rapaz da bicicleta.

Regina

De fato cuidar de nossos pais idosos é um trabalho imenso. Nossos pais estão vivendo mais, o que é bom, mas nós, filhos, também envelhecemos e não temos dinheiro e saúde física para arcar com todos os cuidados dos nossos idosos. Fica uma situação de difícil resolução. No fim, voltamos s trabalhar para dar conta das contas, mas…….até quando? Chegamos aos 70 e nossos pais aos 97, 98. Como fazer? A quem recorrer? As residências para idosos custam uma fortuna e não garantem bons cuidados necessariamente. De fato, vivemos o dilema da longevidade. Cruel esta situação.

    Tetê

    Regina, seu depoimento e preocupações são muito reais e eu os compreendo muito bem. Não damos conta de cuidar de nossos entes queridos na velhice, sobretudo se são inválidos. Precisamos lutar para obtermos apoios públicos. Não há outra saída

Elias

Criança e idoso, duas pontas de um novelo chamado sociedade, e a sociedade que não cria a cultura do supremo respeito aos dois, deixa muito a desejar como sociedade, será sempre um conglomerado de pessoas voltadas ao próprio umbigo.

LULA VESCOVI

Quem teve experiência na família com cuidados a idoso doente e vê a barra que é(financeira,emocional,familiar-devido a brigas-)acaba torcendo para ter uma morte fulminante.

    pperez

    Crianças e idosos são colocados em nossas vidas para testar nossa capacidade de amar!
    Meus avós morreram em casa e minha mae com 95 anos cadeirante e com saude de passarinho convive comigo até hoje.
    Acredito que se tivesse num asilo ou hospital, já estaria com os anjos ha muito tempo.
    Acho que amar nossos entes queridos com o mesmo zelo e carinho que a vc mesmo é um papel que Deus delegou a todo ser humano.
    Dificil é verdade mas prazeiroso e reconfortante!

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