Jonathan Cook: Não há idealismo algum na solução uninacional

Tempo de leitura: 11 min

Resposta ao artigo publicado, também no Counterpunch, por Michael Neumann: Israel-Palestina, resoluções e “soluções”

por Jonathan Cook, em Counterpunch

Esta é pelo menos a terceira vez nos últimos quatro anos que o professor de filosofia, Michael Neumann, usa este espaço para descer o sarrafo nos apoiadores de uma solução uninacional para o conflito Israel-Palestina. A cada ocasião, ele deixou entrever um pouco mais do porquê de se opor tão veementemente àquilo que ele chama de “ilusões” por parte daqueles que se opõem à solução binacional – ou que, no mínimo, dela desistiram.

Em seu artigo mais recente, Neumann insinua que sua relutância anterior em ser mais direto foi motivada por “gentileza”. Bem, eu sou um que teria desejado que o professor tivesse sido mais franco desde o princípio. Teria nos poupado muito tempo e esforço.

A despeito de me ter identificado com a solução uninacional, concordo em muito como o que Neumann escreve desta vez. Como ele, eu não acredito que uma dada solução, ou resolução, vai acontecer simplesmente porque os palestinos ou os que lhes apóiam têm uma posição moral vantajosa em prol dela. Sucesso para os palestinos virá quando um grande número de fatores regionais forçarem Israel a concluir que seu comportamento atual é insustentável.

Há muitos sinais de que justamente um deslocamento de poder nesse sentido começa a ter lugar no Oriente Médio: o possível desenvolvimento de uma ogiva nuclear por parte do Irã; um despertar de forças democráticas no Egito e alhures; o esgarçamento da longa e vital [para a primeira] aliança militar entre Israel e Turquia; a exasperação da Arábia Saudita com a intransigência de Israel; a crescente sofisticação militar do Hizbollah; e o completo descrédito do papel dos EUA na região.

Neumann erra ao presumir que é preciso ser um idealista – e acreditar no equivalente político das fadas – para concluir que uma solução uninacional deve ser considerada. Não é preciso ser apenas uma vítima de raciocínio desejoso(1). Ao contrário, argumentarei, é provável que os eventos da próxima década e além rumem nessa direção.

Embora Neumann e eu concordemos quanto às causas de uma mudança de rumo por parte de Israel, sua análises e as minha divergem drasticamente quanto às conseqüências da tomada de consciência daquele país quanto ao fato de que a ocupação é custosa demais para ser mantida.

Neumann postula que, uma vez que as forças regionais não possam mais ser intimidadas ou coagidas, Israel terá que aceitar o que ele chama de uma “verdadeira” solução binacional.

Ele não esclarece o que uma solução desse tipo incluiria, mas é inamovível em sua convicção de que ela – e apenas ela – tem de acontecer. Então peço vênia para ajudar com um esboço dos requisitos mínimos para uma verdadeira solução binacional:

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* Israel concorda em retirar seu meio milhão de colonos da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, presumivelmente com a ajuda de generosas compensações por parte da comunidade internacional;

* Israel entrega a totalidade de Jerusalém Oriental aos palestinos, enquanto os locais sagrados da cidade, incluído o Muro das Lamentações, são entregues a um órgão gestor que represente a comunidade internacional;

*  Os palestinos ganham um estado composto dos 22% da Palestina histórica, com sua capital em Jerusalém Oriental;

* Os palestinos ficam livres para montar um exército – presumivelmente com o Irã e a Arábia Saudita disputando para ver quem o patrocinará;

* Os palestinos terão o controle de seu espaço aéreo e de seu espectro eletromagnético. Se forem sensatos, rapidamente pedirão auxílio ao Hizbollah para que este os aconselhe sobre como neutralizar as extensas operações de espionagem de Israel, suas aeronaves não tripuladas que lhes sobrevoam os escalpos e os postos de escuta atualmente espalhados por toda a Cisjordânia;

* Os palestinos ganham acesso irrestrito à sua nova fronteira com a Jordânia e, para além, com outros países árabes;

* Os palestinos terão direito a uma divisão equânime dos recursos hídricos dos aqüíferos da Cisjordânia, que atualmente fornecem a maior parte da água que Israel consome;

* E os palestinos terão, conforme prometido sob a égide dos acordos de Oslo, uma passagem através de Israel que conecte a Cisjordânia e Gaza.

Deixemos de lado os problemas sociais que esse arranjo causaria para Israel: a grande bagunça criada por meio milhão de colonos recém-chegados de retorno a Israel, raivosos e sem um teto para morar; bem como a piora dramática da já grave crise de moradia em Israel e a rápida deterioração das relações com a grande minoria palestina que ali vive.

Tampouco nos detenhamos nos problemas encontrados pelos palestinos, incluindo as potenciais centenas de milhares de refugiados que terão de ser absorvidos pelos espaços limitados de Gaza e da Cisjordânia, que são pobres de recursos; ou sua provável raiva com o que verão como uma traição, ou os inevitáveis problemas econômicos desse micro-estado.

Sem dúvida, todas essas questões podem ser cobertas por um acordo de paz.

Em seus ensaios, Neumann apenas considera o que os israelenses se dispõem a aceitar de uma solução. Logo, ignoremos também o idealismo daqueles críticos que se preocupam com se uma “verdadeira solução binacional” pode mesmo ser posta para funcionar em prol do palestino médio.

Neumann presume que, face a uma rápida escalada dos custos políticos e financeiros de manter os territórios palestinos, Israel um dia vai entender que não tem escolha que não seja apertar o botão de ejetar da ocupação.

Ele apresenta nove razões pelas quais  a solução uninacional é “descaradamente absurda”. Embora numericamente impressionante, a maior parte de seus argumentos – como sua discussão do direito de retorno, ou a representatividade de um governo palestino, ou a natureza de direitos legais e morais – parece não ter influência alguma na discussão prática a favor ou contra um estado apenas. Isso também pode ser dito da acusação do pecado de idealismo àqueles que ele joga num mesmo saco de proponentes do estado único, e de sua alusão, mais uma vez, à formulação vaga de uma “verdadeira solução binacional”.

Seus outros três argumentos – os primeiros que ele lista – não são mais reveladores. Na verdade, eles são variações da mesma idéia, que pode ser mais bem resumida por uma analogia que ele apresenta ao discutir um deles: “Se estou em vias de ganhar cinqüenta mil, posso pedir setenta, mas não setenta milhões. Não é inteligente reivindicar a totalidade de Israel quando Israel não tenciona ceder seque a metade que quase o mundo inteiro diz que ela tem de ceder – os territórios ocupados.”

Não sou um professor de lógica, mas algo soa vazio nessa analogia. Tentemos outra que parece chegar mais perto da realidade de nosso caso.

Um dia chegas à minha casa e toma a maior parte da construção pela força. Pouco tempo depois, expulsas-me da casa completamente e, num ato que consideras uma concessão generosa, permites-me viver no depósito que fica na outra ponta do jardim. Os anos se passam e uma inimizade amarga se desenvolve entre nós. Os vizinhos, outrora meus amigos, não podem mais ignorar minha condição miserável e decidem se postar a meu lado contra ti. Um dia eles aparecem à tua porta e ameaçam usar de violência contra ti se não me deixares voltar a ocupar o interior da casa.

O que acontece a seguir?

Bem, conforme Neumann sugere, tudo pode acabar bem se concordares em me deixar viver no quartinho(2). Ou pode não acabar bem.

Pressentindo que finalmente estás provando do próprio remédio, eu talvez decida tornar tua vida insuportável nas dependências principais do domicílio de modo a conquistar um espaço maior ou te expulsar. Ou eu posso decidir que, dada tua situação precária na vizinhança, seria melhor para ti abandonares teus ganhos imerecidos e procurares outro lugar onde viver.

Não sou um fã de tais analogias. Faço recurso a elas apenas para enfatizar que, caso se queira empregar esse tipo de artifício retórico, então é ao menos preferível um que se adeqúe ao caso.

(Interessante é notar que, se formos mais a fundo nessa analogia, a comparação que Neumann prefere – entre a ocupação dos territórios palestinos por Israel à ocupação da Argélia pela França – também se mostra questionável. Neste caso, a Argélia parece ser o jardim, ao invés da residência principal.)

O vértice da discussão é que não há motivo para presumir que, apenas porque a ocupação se tornou demasiado custosa, Israel pode simplesmente amputá-la como um membro gangrenado.

Parte da fraqueza do argumento de Neumann pode ser notada em suas repetidas referências aos colonos como se fossem um grupo de excêntricos incômodos, e não como [são na realidade, ou seja,] uma fração considerável do gabinete ministerial israelense, inclusive o ministro do exterior; e do alto comando do exército e dos serviços de segurança daquele país, inclusive o atual chefe do Conselho de Segurança Nacional.

Igualmente, ele caricaturiza o apoio ocidental a Israel como “histeria sionista” no congresso estadunidense, apoiada por “ridículos” companheiros de viagem como o governo canadense. Se ao menos o apoio a Israel entre governos ocidentais fosse tão trivial!

Tais distorções fazem seu argumento de que a ocupação é vulnerável parecer muito mais convincente do que realmente é. Na verdade, a ocupação é muito mais do que os assentamentos.

É a indústria do messianismo, tocada pelos colonos, que encampou Israel há décadas. Seu garrote se estende para muito além da Cisjordânia e inclui a educação religiosa, que hoje é dominante e que continuamente envenena as mentes jovens; bem como os seminários onde rapazes religiosos são treinam para se tornarem oficiais do exército e são diariamente instruídos sobre como são parte do Povo Escolhido e sobre seu direito divino de exterminar os palestinos.

São os ultra-ortodoxos com sua ambivalência em relação ao sionismo e sua percepção, que agora atingiu um nível de selvageria, de que os subsídios do estado são suas prerrogativas. Eles controlam grandes comunidades urbanas na Cisjordânia feitas sobre medida para seu modo de vida religioso e separatista. Gente que provoca tumultos por causa de estacionamentos que abrem no Shabbat não vai facilmente deixar suas casas, escolas e sinagogas.

É a grande e lucrativa indústria imobiliária israelense que vem grilando e saqueando terras palestinas há décadas, e que parece envolver cada novo primeiro-ministro israelense num escândalo de corrupção novo em folha.

São as indústrias agropecuárias israelenses cuja sobrevivência depende do roubo tanto da terra quanto da água dos palestinos.

São os israelenses comuns, que já andam querendo brigar após um verão de distúrbios sociais sem precedentes em vista do custo de vida exorbitante em Israel, e que ainda não fazem idéia do preço real de frutas e hortaliças – e de água corrente –, caso eles percam os “subsídios” hídricos.

São as vastas e lucrativas indústrias bélicas de alta tecnologia que dependem dos territórios ocupados como laboratórios para o desenvolvimento e teste de novos sistemas de armamentos e técnicas de vigilância, que exportam tanto para as indústrias globais de segurança nacional e os modernos exércitos ávidos de tecnologia.

São os serviços de inteligência e segurança de Israel, que empregam em abundâncias os mesmos asquenazitas que acabam por se tornarem os líderes políticos do país, e que forjam para si carreiras baseadas na vigilância e no controle dos palestinos sob ocupação.

E são as perdulárias forças armadas – a versão israelense dos pródigos banqueiros ocidentais –, cujos empregos e brinquedos letais dependem da interminável generosidade do contribuinte estadunidense.

De nada disso se abrirá mão facilmente, ou a um custo que não faça as doações anuais dos EUA a Israel, atualmente em três bilhões de dólares, parecerem gorjeta. E isso é ainda sem contar os grandes desembolsos necessários para compensar os refugiados palestinos e construir um estado palestino.

Porém, esses problemas apenas tangenciam o argumento em favor de uma solução uninacional. A realidade é que as elites que governam Israel têm tudo a perder caso a ocupação termine. É por isso que elas envidam todo esforço a seu alcance para integrar os territórios ocupados a Israel e tornar uma paz “real” impossível. A ocupação e suas indústrias correlatas são a fonte da legitimidade moral dessas elites, de sua sobrevivência política e de seu enriquecimento diário.

É por isso que elas se contorcem de agonia diante da perspectiva de que o Irã adquira um arsenal nuclear que se rivalize com o delas. Quando isso acontecer, a ocupação começa a perder fôlego e o jugo delas termina.

Se as condições regionais que Neumann acredita serem necessárias para expulsar Israel dos territórios ocupados se concretizarem, essas elites e seus acólitos asquenazes se depararão com uma escolha cruel: pôr a casa abaixo ou se escafederem para quais países sejam que seus segundos passaportes lhes franqueiem.

Eles podem optar pelo cenário do juízo final, como alguns atualmente prognosticam. Minha aposta, todavia, é que assim que as oportunidades de lavar dinheiro de que desfrutam os políticos e generais acabem, será simplesmente mais fácil para eles – e mais seguro – exportar suas habilidades para outro lugar.

Para trás ficarão os israelenses comuns – os russos, a minoria palestina, os ultra-ortodoxos, os judeus orientais (3) – que jamais provaram os frutos reais da ocupação e cujo comprometimento com o sionismo não tem qualquer profundidade real.

Esses grupos – isolados, fundamentalmente hostis e sem uma diáspora encastelada no congresso dos EUA para assisti-los – não têm a experiência, o desejo ou a legitimidade para gerenciar a fortaleza militar que Israel se tornou. Com a argamassa que mantinha coeso o projeto sionista tendo partido, tanto os palestinos como os israelenses que ficarem terão todo o interesse de achar soluções reais para o problema de viverem lado a lado.

O aspecto mais estranho das alegações de Neumann contra os uninacionalistas – repetida em todos os seus ensaios sobre o tema – é o argumento de que eles não apenas estão iludidos, mas que propagam uma idéia que é de alguma forma perigosa, embora ele nunca explique exatamente por que seria.

Se, como Neumann argumenta, e corretamente em minha opinião, Israel somente mudará de curso quando se deparar com uma pressão significativa de seus vizinhos, então o maior crime de que podem ser acusados os uninacionalistas é um permissivo apego a um idealismo irrelevante.

O Irã não descartará suas supostas ambições nucleares simplesmente porque o multidão uninacionalista começará a invocar a superioridade moral da própria causa, não mais do que o Hizbollah vai parar de acumular mísseis por esse motivo. Então, por que Neumann deveria se abespinhar tanto com o argumento do estado único? Ele mesmo afirma que tal argumento teria impacto zero no avanço do processo político em direção a uma resolução do conflito.

Entretanto, mesmo nos limitados termos que Neumann define, pode-se argumentar seriamente que a defesa de um estado único poderá render benefícios para os palestinos.

Se nada mais fosse alcançado, não se esperaria que, caso um número crescente de palestinos e partidários internacionais fosse persuadido de que reivindicar uma solução absolutamente justa (estado único) é o melhor caminho, isso aumentasse a pressão sobre as demais pressões já existentes, de cunho material, sobre Israel no sentido de aceitar uma solução binacional real – nem que fosse para evitar que um estado único lhe fosse imposto por seus vizinhos?

Contudo, penso que podemos ir além e defender uma solução uninacional em termos práticos.

Embora a principal motivação para que Israel mude o compasso venha a ser o alinhamento de forças regionais contra ela, um fator adicional, mas importante, será a emergência de um clima político em que as nações ocidentais e seus públicos se desiludam progressivamente no tocante à má-fé de Israel. O apoio do congresso dos EUA não é pago com histeria, mas em espécie. E esse apoio não secará até que Israel é suas políticas do tipo “cão hidrófobo” sejam amplamente vistas como ilegítimas ou prejudiciais.

Um dos principais modos com que Israel porá a si própria em descrédito, em seqüência à recente decisão, sua e dos EUA, de bloquear qualquer reivindicação palestina pelo reconhecimento de seu estado perante as Nações Unidas, será suprimir duramente – e com provável uso de violência – quaisquer aspirações políticas exprimidas por palestinos comuns que vivem sob ocupação.

A história, incluindo a história palestina, sugere que populações a quem se negam direitos não costumam permanecem passivas indefinidamente. Palestinos que não vejam esperança de que seus líderes consigam lhes obter um estado ficarão cada vez mais motivados a tomar para si a própria causa.

Palestinos comuns não têm poder algum, como frisa Neumann, de forçar Israel a lhes estabelecer um estado. Mas eles têm o poder de exigir de Israel o direito de decidir o próprio futuro, e pressionar pelo atendimento dessa exigência por meio de desobediência civil, campanhas por direito ao voto, e o estabelecimento de um movimento anti-apartheid. Tal luta terá lugar – e aceitará implicitamente – a realidade uninacional que já foi criada por Israel. Se os palestinos marcharem para votar, será para fazê-lo nas eleições do Knesset [parlamento unicameral israelense].

Nada disso logrará dar a eles um estado, ou o direito ao sufrágio, é claro. Porém, a repressão que Israel terá de aplicar para conter essas forças servirá para rapidamente erodir qualquer resto de simpatia internacional e animar ainda mais à ação as forças regionais que alinhadas contra Israel.

Em suma, de qualquer jeito que se avalie a situação, promover a solução uninacional só pode servir para acelerar o ocaso das elites israelenses que oprimem os palestinos. Então por que desperdiçar tanto fôlego se opondo a isso?

Notas do tradutor:

1. Já há muito que tento pensar numa tradução operacionalmente útil para wishful thinking. A Wikipédia sugere otimismo exagerado, mas não acho que seja uma descrição que faça justiça ao termo — antes, é uma conseqüência emocional desse tipo de comportamento. Enquanto não acho uma, prefiro traduzir literalmente.

2. O autor usa box-room. Trata-se de um quarto menor encontrado em algumas casas, usado por hóspedes solteiros em estadias curtas, crianças ou como depósito.

3. Judeus mizrahim significa simplesmente, literalmente, orientais. Preferi traduzir. Pode-se levantar a objeção de que existe uma tradução literal para ashkenazim, os judeus asquenazitas. Bem, o problema é que a tradução de ashkenazim remete a uma entidade geográfico-histórica (centros de estudos judeus na região do Reno e da Alsácia medieval) que não existe mais, e portanto a tradução teria ou de ser perifrástica, ou somente aproximada (por exemplo, “judeus germânicos”, ou “judeus europeus”). Como, ao contrário de mizrahim, existe em português uma versão já consagrada, asquenazita, preferi mantê-la.

Jonathan Cook venceu o Prêmio Especial Martha Gellhorn de Jornalismo. Seus últimos livros são “Israel and the Clash of Civilisations: Iraq, Iran and the Plan to Remake the Middle East” [Israel e o choque de civilizações: Iraque, Irã e o plano para redesenhar o Oriente Médio] (editora Pluto Press) e “Disappearing Palestine: Israel’s Experiments in Human Despair [Palestina evanescente: experimentos de Israel sobre o desespero humano] (editora Zed Books). Sua página na Internet é http://www.jkcook.net/” target=”_blank”>www.jkcook.net.

Tradução: H. C. Paes

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Comentários

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Cecilia

Como é instrutivo ler análises e artigos de quase dois anos atrás. As previsões simplesmente não conseguem acompanhar o dinamismo dos acontecimentos e os wishful thikings mostram-se apenas o que são: wishful thinkings.

Fabio_Passos

Assistam porque vale a pena:

Judeus Contra Sionismo, Contra a Opressão do Estado Israelita

[youtube fBsemwK4DJc http://www.youtube.com/watch?v=fBsemwK4DJc youtube]

Fabio_Passos

Assistam porque é muito interessante:

[youtube fBsemwK4DJc http://www.youtube.com/watch?v=fBsemwK4DJc youtube]

ZePovinho

O Mia Couto tem um conselho muito bom acerca dessa questão,dado numa conferência,pasmem,sobre segurança:

"Há quem tenha medo de que o medo acabe":

[youtube jACccaTogxE http://www.youtube.com/watch?v=jACccaTogxE youtube]

Jair de Souza

Gostaria de agradecer a nosso amigo H. C. Paes pelo árduo e paciente trabalho de traduzir este artigo.

Mas, sem querer invalidar seus esforços, queria chamar-lhe a atenção para algumas questões conceituais sobre a tradução. Creio que a escolha dos termos solução uninacional e binacional para a tradução de one-state e two-state solution não é apropriada, pois pode levar à incompreensão do que se quer dizer em realidade. Os que apoiam a "one-state solution", defendem um estado só para as duas "nacionalidades" envolvidas (palestinos e judeus), ou seja, seria um estado binacional. Já os que falam de "two-state solution" propõe a criação de dois estados, um para cada "nacionalidade", ou seja, dois estados uninacionais.

Então, o mais apropriado seria dizer "solução de um só estado" e "solução de dois estados". Esta observação não visa desmerecer seu valioso trabalho. Meu objetivo é apenas deixar mais claro uma questão que pode gerar confusão entre as pessoas com menos conhecimento do tema.

Minha opinião sobre o artigo de Jonathan Cook está junto ao artigo de Michael Neumann, a qual vou repetir abaixo, com a correção de alguns erros de linguagem que descobri.

Achei muito interessante a argumentação de Jonathan Cook. Também tendo a considerar que, em boa medida, ele levanta questões importantes e propõe soluções adequadas.

Na verdade, eu creio que as visões de Michael Neumann e Jonathan Cook deveriam ser tidas como complementares, e não excludentes.

Como cultivador do ideal de um só estado, no qual todos seus cidadãos gozassem dos mesmos direitos e deveres, sem discriminação ou favorecimento em razão de crença religiosa ou origem étnica, meu sonho é que um dia esse estado venha a existir de fato. No entanto, em vista da atual correlação de forças, vejo quase como impossível sua materialização num futuro próximo.

Então, procuro separar meu objetivo (ou desejo) estratégico de meus objetivos táticos (os passos necessários para que o objetivo estratégico possa ser alcançado). Em meu entender (na verdade, derivo isto das argumentações de gente como Norman Finkelstein e Shlomo Sand), há quase que um consenso mundial a favor do direito do povo palestino a estabelecer seu próprio estado, ao passo que a ideia de que ali passe a haver um só estado que abranja aos dois povos ainda não tem apoio expressivo.

Por tal razão, a luta pela criação de um estado palestino paralelo conta atualmente com uma ampla sustentação internacional que pode tornar sua materialização mais viável (não quero dizer inevitável). Por outro lado, a conquista desse estado palestino paralelo (provavelmente, um estado debilitado, cheio de problemas) não deveria significar o fim da luta, embora, seguramente, haverá gente propondo que tudo termine com seu estabelecimento.

A luta não terá terminado porque grande parte dos problemas continuará a existir: o problema dos refugiados, a minoria palestina crescente dentro do estado de Israel, etc. A diferença é que os palestinos poderiam agora contar com um ponto de sustentação um pouco mais forte para a continuação de sua luta. Se os palestinos vão vencer ou não vai depender de muitas outras coisas. Mas, a constituição desse estado no momento significaria dar um pouco de alívio a grande parte da população palestina. Digo alívio, não solução definitiva.

Devo dizer que o que me parece menos aceitável na visão de Jonathan Cook é sua defesa quase que explícita do “quanto pior, melhor”. Quando ele diz que uma repressão violenta pelo Estado de Israel das manifestações pacíficas dos habitantes palestinos levará o mundo a ter melhor consciência sobre o que está ocorrendo e, consequentemente, a solidarizar-se com a causa palestina, isto me parece uma posição equivocada. Não só porque essa repressão representará a morte e o sofrimento de milhares de seres humanos (a brutalidade das forças de repressão israelenses são bem conhecidas), mas também porque não há nenhuma garantia de que o mundo assumiria as dores do povo palestino. O povo iraquiano foi massacrado e o mundo não se levantou para punir os perpetradores desses crimes. Por isso, não deveríamos colocar como desejável algo que implique a morte de milhares de seres humanos, por mais razão que tal acontecimento desse a nossa causa.

Tentando sintetizar as ideias, eu diria que as duas posições deveriam ser complementares: a luta por um estado palestino independente é uma exigência do momento, e a continuidade do processo para pôr fim a um estado de caráter racista (ou teocrático), como o atual Estado de Israel, também é um dever de todos os que almejam alcançar a paz e a justiça naquela região.

Eu entendo que dessa luta devem participar todos os humanistas do planeta, inclusive, e especialmente, os judeus e judias que entendem que as tradições humanistas do judaísmo não podem ser lançadas na lata de lixo do sionismo.

    Beto_W

    Em primeiro lugar, ótimos textos ambos este e o de Michael Neumann, e um brilhante trabalho de tradução de H. C. Paes. Em segundo lugar, excelente análise e síntese do Jair, unificando duas opiniões aparentemente antagônicas, mas que no fundo almejam a mesma coisa – restaurar a dignidade do povo palestino.

    Eu não era muito favorável à idéia da solução de um estado, mas cada vez mais me convenço de que ela deveria ser o objetivo final de um processo de paz – mesmo que tal processo dure um século ou mais. Mas ainda acredito na solução de dois estados enquanto solução temporária e viável, e em preparação para uma futura unificação.

    O grande obstáculo que vejo a uma solução de um estado num futuro próximo é o ódio mútuo alimentado por ambos os lados, e ensinado às crianças para que perpetuem essa violência insana. Mesmo se fosse lograda tal solução, cada um dos lados tentaria se sobrepor ao outro e subjugá-lo, o que acabaria por manter um dos lados como oprimido. E é por isso que creio ser necessário cerca de um século de convivência pacífica entre dois estados antes de uma eventual unificação.

    H. C. Paes

    Obrigado pela sugestão.
    Por outro lado, eu sou partidário do conceito de nacionalismo cívico em oposição ao nacionalismo étnico. Conceito que, aliás, eu aprendi com Michael Neumann num texto magnífico dele que traduzi há alguns anos.
    Repare que eu não falo em "estado uninacional", e sim de "solução uninacional", o que implica "uma nação", ou "um estado", porque acho que falar em "estado binacional" é uma receita para o desastre. A Bósnia-Herzegóvina é um estado binacional; as fronteiras étnicas estão traçadas, sem espaço para a construção de uma nacionalidade comum. É provável que acabe se dividindo. A Bélgica lida mal com essa questão até hoje. A Bolívia, "estado plurinacional", é uma exceção à regra.
    A "solução binacional" seriam dois estados, portanto.

    Jair de Souza

    Estimado H. C. Paes, muito obrigado por sua resposta. Só gostaria de deixar claro que o uso dos termos "solução de um só estado", ou "solução de dois estados" não está relacionado com minha preferência. É simplesmente o que as pessoas que os usam querem dizer. Eu também prefiro o sentimento nacional do ponto de vista cívico, e não étnico. Este seria a culminância de meu sonho. Ou seja, ter na região um estado de todos seus cidadãos, com independência de sua crença religiosa, ou origem étnica. Não creio que viverei o bastante para ver este sonho realizado, mas o simples fato de tê-lo sonhado já me faz sentir bem. Se esta última observação lhe traz à mente Chico Mendes, foi proposital.

    Luca K

    Caro Jair, acho que Cook tem um ponto de vista mais realista e consistente que Neumann. A posição de Israel, enquanto entidade sionista de supremacia judaica, está longe de ser tão sólida como Neumann parece crer. Como bem observa Cook, uma solução de 2 estados necessita de requisitos MÍNIMOS que dificilmente os sionistas permitiriam. Ao contrário do que Neumann escreve, Israel PRECISA SIM dos EUA, e muito! Inclusive militarmente. Tiveram ajuda pesada dos EUA no covarde ataque contra o Líbano em 2006. Apesar de obviamente incontestes no ar(massacraram principalmente civis), quando ousaram ataque por terra(apesar de todo o armamento sofisticado, superioridade numérica e total controle dos céus) foram fragorosamente derrotados pelo Hezbollah, que por sinal usou apenas uma de suas 2 brigadas para surrar os israelenses e nem sequer foi a brigada de elite(esta ficou como reserva além do rio Litani pois o próprio Hezbollah acreditava que os israelenses romperiam sua primeira linha de defesa). De fato a indústria bélica israelense é avançada mas isto ocorre em larga medida em função da relação parasitária que Israel mantém com os EUA. Roubam tecnologia militar estadunidense e a incorporam a seus projetos. Já foram pegos também repassando tecnologia militar roubada dos EUA para a China. Mas tenho certeza de que se os EUA endurecessem o jogo com Israel, de maneira realmente firme, os sionistas fariam concessões. O grande problema é que Israel, através de seus agentes na diáspora americana, tem o executivo e o congresso dos EUA nas mãos. E, infelizmente, não há sinais de fraturas nesse domínio sionista dentro dos EUA. Veja o que disse o ex-agente da CIA, Philip Giraldi sobre a espionagem industrial israelense nos EUA: “The Israeli government is actively engaged in military and industrial espionage in the United States.” That was the conclusion of a Pentagon administrative judge in 2006. One very good reason why Israel should not receive billions of dollars in military assistance annually is its espionage against the United States.
    Israel, a Socialist country where government and business work hand in hand, has obtained significant advantage by systematically stealing American technology with both military and civilian applications.
    US-developed technology is then reverse engineered and used by the Israelis to support their own exports with considerably reduced research and development costs, giving them a huge advantage against foreign competitors.
    Sometimes, when the technology is military in nature and winds up in the hands of a US adversary, the consequences can be serious. Israel has sold advanced weapons systems to China that incorporated technology developed by American companies—including the Python-3 air-to-air missile and the Delilah cruise missile.
    There is evidence that Tel Aviv has also stolen Patriot missile avionics to incorporate into its own Arrow system and that it used US technology obtained in its Lavi fighter development program—which was funded by the US taxpayer to the tune of $1.5 billion—to help the Bejing government develop their own J-10 fighter.[…]”
    O bem documentado livro de Grant Smith, detalha o processo, ver http://www.amazon.com/Spy-Trade-Israels-Undermine

    Luca K

    Ex congressista americana Cynthia McKinney sobre o poder do lobby israelense sobre o legislativo dos EUA:
    [youtube MeVBa4lSscw&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=MeVBa4lSscw&feature=related youtube]

Fabio_Passos

Livrar-se das "elites" sionistas e deste estado pária de israel é a grande oportunidade para os judeus finalmente viverem em paz na Palestina.

<img src=http://dalje.com/slike/slike_3/r1/g2009/m01/y192665248634664.jpg>

Jair de Souza

Vou postar aqui, os argumentos que já havia inserido junto ao texto de Michael Neumann. Aproveitei para fazer algumas correções de erros de linguagem que encontrei em meu texto anterior.

Achei muito interessante a argumentação de Jonathan Cook. Também tendo a considerar que, em boa medida, ele levanta questões importantes e propõe soluções adequadas.

Na verdade, eu creio que as visões de Michael Neumann e Jonathan Cook deveriam ser tidas como complementares, e não excludentes.

Como cultivador do ideal de um só estado, no qual todos seus cidadãos gozassem dos mesmos direitos e deveres, sem discriminação ou favorecimento em razão de crença religiosa ou origem étnica, meu sonho é que um dia esse estado venha a existir de fato. No entanto, em vista da atual correlação de forças, vejo quase como impossível sua materialização num futuro próximo.

Então, procuro separar meu objetivo (ou desejo) estratégico de meus objetivos táticos (os passos necessários para que o objetivo estratégico possa ser alcançado). Em meu entender (na verdade, derivo isto das argumentações de gente como Norman Finkelstein e Shlomo Sand), há quase que um consenso mundial a favor do direito do povo palestino a estabelecer seu próprio estado, ao passo que a ideia de que ali passe a haver um só estado que abranja aos dois povos ainda não tem apoio expressivo.

Por tal razão, a luta pela criação de um estado palestino paralelo conta atualmente com uma ampla sustentação internacional que pode tornar sua materialização mais viável (não quero dizer inevitável). Por outro lado, a conquista desse estado palestino paralelo (provavelmente, um estado debilitado, cheio de problemas) não deveria significar o fim da luta, embora, seguramente, haverá gente propondo que tudo termine com seu estabelecimento.

A luta não terá terminado porque grande parte dos problemas continuará a existir: o problema dos refugiados, a minoria palestina crescente dentro do estado de Israel, etc. A diferença é que os palestinos poderiam agora contar com um ponto de sustentação um pouco mais forte para a continuação de sua luta. Se os palestinos vão vencer ou não vai depender de muitas outras coisas. Mas, a constituição desse estado no momento significaria dar um pouco de alívio a grande parte da população palestina. Digo alívio, não solução definitiva.

Devo dizer que o que me parece menos aceitável na visão de Jonathan Cook é sua defesa quase que explícita do “quanto pior, melhor”. Quando ele diz que uma repressão violenta pelo Estado de Israel das manifestações pacíficas dos habitantes palestinos levará o mundo a ter melhor consciência sobre o que está ocorrendo e, consequentemente, a solidarizar-se com a causa palestina, isto me parece uma posição equivocada. Não só porque essa repressão representará a morte e o sofrimento de milhares de seres humanos (a brutalidade das forças de repressão israelenses são bem conhecidas), mas também porque não há nenhuma garantia de que o mundo assumiria as dores do povo palestino. O povo iraquiano foi massacrado e o mundo não se levantou para punir os perpetradores desses crimes. Por isso, não deveríamos colocar como desejável algo que implique a morte de milhares de seres humanos, por mais razão que tal acontecimento desse a nossa causa.

Tentando sintetizar as ideias, eu diria que as duas posições deveriam ser complementares: a luta por um estado palestino independente é uma exigência do momento, e a continuidade do processo para pôr fim a um estado de caráter racista (ou teocrático), como o atual Estado de Israel, também é um dever de todos os que almejam alcançar a paz e a justiça naquela região.

Eu entendo que dessa luta devem participar todos os humanistas do planeta, inclusive, e especialmente, os judeus e judias que entendem que as tradições humanistas do judaísmo não podem ser lançadas na lata de lixo do sionismo.

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