Alipio Freire: Camaradas, o mundo é redondo!

Tempo de leitura: 2 min

por Alipio Freire, em Brasil de Fato

Em qualquer ação política, se não avaliamos corretamente a correlação de forças estabelecida em torno do assunto alvo dessa ação, fracassamos. Exceto se não temos qualquer objetivo além de marcar posição – o que é sempre legítimo, ainda que não necessariamente adequado. Sobretudo, devemos levar em conta que, desde o final do século 14, sabemos que se navegamos em linha reta para a esquerda, acabamos sempre atracando a nossa nau na direita.

Não podemos esquecer também, a máxima do início do século 20, segundo a qual, o imediatismo – ou seja, obter pequenas vitórias imediatas sacrificando os nossos objetivos maiores no médio e longo prazos – sempre foi, é e será oportunismo.
É no processo de avaliação que identificamos o nosso inimigo principal, adversários e nossos amigos/aliados.

Estamos convencidos de que a presidenta Dilma Rousseff e sua ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário – como o foi e continua a ser o ex-ministro Paulo Vannuchi, não são apenas nossos aliados, mas os mais fortes aliados de que dispomos para este assunto.

Se esses dirigentes do Governo, que lá estão pela força e representatividade de que desfrutam, não conseguiram avançar uma Comissão da Verdade que inclua também, as questões da Reparação e da Justiça (esta última particularmente cara a todos que lutamos pela consolidação e aprofundamento da democracia em nosso país), que estratégia devemos estabelecer, no sentido de conquistar o que a Comissão, já aprovada pela Câmara e à espera de sua votação no Senado, ainda não incorpora?

Nosso primeiro passo deve ser o de não nos isolarmos dos nossos amigos e aliados, seja com declarações regadas a bílis, ou gestos e iniciativas de antemão fadadas ao insucesso, como projetos de lei sem qualquer chance de aprovação, ou manifestações de umas poucas dezenas de militantes.

Essas iniciativas, que sempre respeitamos, são em geral objeto de escárnio por parte dos nossos inimigos e seus porta-vozes – a grande mídia comercial. E se não o fazem neste momento, é sinal de que há algum interesse por parte dos nossos algozes de sempre, de que alguns dos nossos companheiros prossigam nesse caminho.

Por fim, e antes de tudo, não devemos esquecer que, ainda que limitada, essa Comissão da Verdade é uma vitória de todos nós.

Alipio Freire, jornalista e escritor, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato e da Editora Expressão Popular.

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Comentários

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Lilian Vaz

Muito bom, Alípio!!!
Ps: Zilda, concordo contigo.

J.C.CAMARGO

CAMARADAS! Que expressão mais CAFONA, além de JURÁSSICA! Êsses CAMARADAS …

Operante Livre

Se bem entendi o recado é: calma, devagar e sempre, na mesma direção.
O mundo é redondo e não está parado.

Francisco

Quem disse que a história termina na Comissão de Verdade? Depois bem pode vir a Comissão de Justiça…

@amanditas1904

Prefiro o artigo da Luiza Erundina, deputada também eleita pela população, e que coloca questões importantíssimas não só da conjuntura política mas do momento histórico em que estamos vivendo… Quem tem medo da verdade?

"Não vale o argumento de que a proposta aprovada é o possível na correlação de forças atual. Mas como, se o povo brasileiro derrotou a ditadura há mais de trinta anos; se temos uma presidente da República eleita democraticamente e que, como tantos outros, pagou com prisão, tortura e desrespeito aos seus direitos humanos a ousadia e a coragem de lutar em defesa da democracia e pela restauração do Estado Democrático de Direito? Se reduzirmos nossas pretensões em relação a direitos à alegada correlação de forças, estaremos renunciando a esses mesmos direitos e deixando de acreditar na nossa capacidade de alterar a correlação de forças e, portanto, de mudar a realidade."

Artigo completo: http://www.psbnacamara.org.br/art_det.asp?det=72

Roberto Locatelli

Sempre há uma bela desculpa para a capitulação. No caso do PT, essa desculpa é quase sempre a "correlação de forças".

Será que a Argentina, que puniu os generais da ditadura, está mais "à esquerda" do que o Brasil? Será?

O presidente eleito e reeleito da Venezuela não tem medo de punir quem comete crimes, mesmo quando os criminosos não são pessoas, mas sim deuses-jornalistas. Será que lá a "correlação de forças" está "mais à esquerda"?

Outra pergunta FUNDAMENTAL: a correlação de forças é estática? Para sempre teremos que ceder à direita, em prejuízo da população? A resposta é óbvia: a correlação de forças na luta de classes é dinâmica. Para que ela mude, as lideranças de esquerda precisam fazer seu papel de organizar a classe trabalhadora e os movimentos sociais.

O PT, há muito, ABDICOU de seu papel de liderança popular. Tornou-se um partido amorfo, cheio de políticos oportunistas e até de fiéis devotos do deus-mercado. Como resultado, a direita vem se fortalecendo, inclusive dentro do Governo.

A situação político/econômica do mundo está se radicalizando. Passeatas e comícios se espalham, de Wisconsin à Praça Tahrir. O PT que se cuide, pois o espaço para posições centristas e vacilantes está se reduzindo rapidamente.

Por uma Comissão da Verdade de verdade!!

sandro Machado

Perfeito Alípio. Mais do que perfeito, fabuloso.

Zilda

Muito bom saber que o Brasil de Fato, que vi nascer em Porto Alegre, esteja seguindo uma linha mais racional e de esquerda e não de esquerdismo, como no início do governo Lula. Fui assinante e desisti por conta do revolucionarismo abstrato que pregava. Posso, inclusive, reconsiderar minha decisão de cancelar a assinatura e retomá-la, para ter uma fonte de informação fidedigna e de esquerda, que reputo muito importante.

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