O Parlasul como experimento de reforma política
Artigo publicado na revista do IPEA, Desafios do Desenvolvimento, nº 66
O Brasil não é muito dado a experimentos em matéria de reforma política. À exceção das variações ocorridas entre os períodos de ditadura e transição para a democracia, e da instituição da emenda constitucional da reeleição, em 1997, as reformas costumam ser parciais, incrementais e muitas vezes desfeitas pela magistral capacidade dos políticos de darem nó em pingo d’água. Os partidos e suas lideranças pouco arriscam a promover mudanças, tanto pela incerteza de seus impactos quanto pelo interesse dos já eleitos em manter as regras que lhes foram favoráveis.
Mas os políticos e seus partidos não são os únicos arredios. “Nós, o povo”, também parecemos muito mais interessados em mudar os jogadores do que as regras do jogo, como nas duas vezes em que fomos submetidos a plebiscitos que colocaram o presidencialismo em xeque. Tampouco há consenso sobre o tema entre os especialistas. Há desde cientistas políticos que consideram que não se deve mudar nada, pois há o risco de tudo ficar pior, quanto os que defendem mexer em quase tudo: criar distritos, acabar com coligações, instituir voto em lista, obrigar à absoluta fidelidade partidária e garantir financiamento público das campanhas. Em posição intermediária estão os que consideram as reformas bem-vindas, mas inviáveis de serem feitas em bloco. Deveríamos, segundo esses, nos contentar com uma estratégia fatiada, com poucas alterações por vez. Ao invés do ideal, o possível.
A inviabilidade de modificações muito mirabolantes e a aversão ao risco tiveram a consequência, na última década, de transformar o Judiciário no grande reformador do sistema político do País. Embora os juízes tenham exercido sua prudência, é sinal de que há um problema quando o resultado das eleições sai dos tribunais, e não das urnas.
Mudanças mais amplas deveriam ser testadas antes de serem aceitas. Um pouco de experimentação é muito importante, mas nem sempre possível. Por isso, vale a pena uma atenção especial à tramitação do projeto para as eleições do Parlamento do Mercosul (Parlasul), que podem ocorrer em outubro de 2012 ou, como é mais provável, em 2014.
Neste ano, o Brasil passa a ter 37 representantes, dentre seus deputados e senadores eleitos para o Congresso Nacional. Quando realizar eleições diretas, terá direito a 75 parlamentares no Parlasul.
O projeto prevê o sonho de consumo de muitos dos que apregoam uma ampla reforma do sistema político brasileiro, a começar pela lista partidária. Os eleitores votariam diretamente nos partidos, sabendo exatamente a ordem dos candidatos que podem ser eleitos para o Parlamento do Mercosul.
Não haveria coligações e os escolhidos atenderiam a critérios atinentes à representatividade regional e de gênero. Se a lista partidária for encabeçada por um homem, de uma região do País, a segunda da lista será uma mulher, de outra região. Os eleitos não poderiam deixar seus mandatos para assumir cargos no Executivo. O voto seria dado em candidatos nacionais, a princípio, uma grande ajuda para estimular o debate qualificado sobre temas estratégicos à integração sulamericana. As campanhas teriam financiamento público. Hoje, o financiamento privado não só é permitido como tem o eufemístico apelido de “doação”, quando todos sabem muito bem que “não existe almoço grátis”.
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Veremos como os partidos se comportam. Alguns apresentarão chapas recheadas de “notáveis”, com ex-chanceleres, ex-presidentes, intelectuais de renome, ou parlamentares que mostraram vocação para questões ligadas ao Mercosul. Claro que haverá quem pretenda abrigar políticos que perderam espaço nas disputas eleitorais tradicionais e estariam satisfeitos em fazer do Parlasul sua sinecura. Mas também é possível supor que algumas listas estarão abertas a promover uma renovação de quadros, atraindo quem nunca se aventurou a brigar por uma vaga de deputado ou senador. A propósito, desde que começou a organizar edições do Fórum Social Mundial, o Brasil tem várias lideranças, bastante articuladas no continente, que poderiam figurar em listas.
Três tradicionais destinos podem ser dados à proposta: ser melhorada, piorada ou engavetada. Se tudo caminhar bem, o País terá aproveitado a oportunidade de dar mais peso à dimensão política, democrática e de discussão de políticas públicas no Mercosul.
Na pior das hipóteses, se nada surgir de diferente, veríamos que embora as regras sejam essenciais, nem sempre são suficientes para garantir a escalação de nossos melhores jogadores e a satisfação dos que torcem pelo melhor resultado. Nesse caso, a lição seria a de que se deve diminuir as expectativas de que uma reforma política seja capaz, por si só, de provocar mudanças espetaculares.
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Comentários
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FrancoAtirador
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PSD se precipitou ao pedir registro, afirma ministro do TSE
Por Marina Dias, no Terra Magazine
Depois de participar das discussões acaloradas que marcaram o julgamento do pedido de registro para o Partido Social Democrático (PSD) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na noite desta quinta-feira (22), o ministro Marco Aurélio Mello (STF) diz que a legenda liderada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, precipitou-se no afã de concorrer às eleições de 2012. Para disputar o pleito municipal do próximo ano, o PSD precisa obter seu registro até 7 de outubro.
Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, o ministro afirmou que vê irregularidades na criação do novo partido e que o TSE não pode "correr contra o relógio", assim como está fazendo o PSD. "Na minha opinião, houve um açodamento do partido, que está correndo contra o relógio. Mas nós, do TSE, não devemos fazer o mesmo. Nossa atuação tem que ser fidedigna a inúmeros pedidos de registro de partidos que recebemos", afirmou Mello.
O ministro ainda criticou a posição da relatora do processo, ministra Nancy Andrigui, primeira a votar a favor da concessão do registro ao PSD. "Nós temos uma situação das mais ambíguas e que implica, segundo o voto da relatora do processo, na colocação em segundo plano da resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)".
Isso porque Nancy rejeitou os pedidos de impugnação por fraude na coleta de assinaturas pelo PSD – a legislação exige o mínimo de quase 500 mil rubricas para legitimar um partido. A relatora levou em conta mesmo as assinaturas que não tiveram o aval de Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).
Depois do voto favorável da ministra Nancy, o ministro Teori Zavascki pediu diligência, ou seja, apuração de eventuais irregularidades no processo de formação da nova legenda. Ele sugeriu que os TREs recontem as assinaturas apresentadas pelos cartórios eleitorais. Em seguida, foi a vez do ministro Marcelo Ribeiro, que pediu vista do processo e paralisou o julgamento, que será retomado na próxima terça-feira (27).
Confira os principais trechos da entrevista.
Terra Magazine – Qual foi o saldo do julgamento desta quinta-feira (22) sobre o pedido de registro para o PSD?
Marco Aurélio Mello Nós temos uma situação das mais ambíguas e que implica, segundo o voto da relatora do processo, Nancy Andrigui, na colocação em segundo plano da resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O plenário irá decidir sobre isso na próxima semana, mas o ministro Teori Zavascki pediu diligências para que as listas de assinatura passem antes pelo crivo dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).
O PSD quer o registro até dia 7 de outubro, para que o partido possa concorrer nas eleições municipais do próximo ano.
Na minha opinião, houve um açodamento do partido, que está correndo contra o relógio. Mas nós, do TSE, não devemos fazer o mesmo. Nossa atuação tem que ser fidedigna a inúmeros pedidos de registro de partidos que recebemos.
A ministra Nancy Andrigui diz que o PSD comprovou a coleta de 514.932 assinaturas, mais do que as 491.643 exigidas pela legislação, mas nem todas foram certificadas pelos TREs. Como o senhor vê essa questão?
Nossa resolução é muito explícita. As listas devem ir aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para que eles verifiquem a boa procedência e homologuem essas listas. A própria relatora (Nancy Andrigui, que votou a favor do registro ao PSD) admitiu que, considerando apenas as certidões que passaram pelos TREs, não haveria assinaturas suficientes.
O PSD tem condições de se legitimar frente a esse cenário?
O colegiado é quem vai decidir a respeito, mas vejo irregularidades, assim como o ministro Teori Zavascki preconizou a baixa diligência. Mas a relatora Nancy e o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, entendem que podemos fazer tudo. Em nome da legitimidade, é preciso analisar com cuidado.
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI53…
multiplus
lista partidária?
bom pros caciques… ruim pro cidadão!
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