Vivaldo Barbosa: Estejamos prontos para os EUA mais fortes, graças ao trabalhismo de Joe Biden
Tempo de leitura: 3 minBIDEN, ROOSEVELT, GETULIO, TRABALHISMO
Por Vivaldo Barbosa*
O Governo Biden lançou três projetos impactantes neste início de governo, de grande repercussão nos Estados Unidos e para o mundo.
Foram um trilhão e 700 bilhões no enfrentamento da pandemia; depois, 2 trilhões e 500 bilhões para infraestrutura e avanços tecnológicos; agora, mais 1 trilhão e 800 bilhões para área social, saúde, educação, habitação, ajuda às famílias.
Montanha de dinheiro para atuação do Estado no desenvolvimento e melhoria das condições de vida.
Tudo financiado com aumentos dos impostos dos ricos e das empresas.
Somente uma potência econômica poderia fazer isto, dirão muitos.
Dirão outros, ainda, que os planos poderiam ser melhores, o plano de Bernie Sanders para ser o candidato dos democratas, e que perdeu para o Biden, era melhor, mais abrangente.
Claro, bem melhor.
Duas questões podem ser levantadas.
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Primeiro, Biden chamou para o governo, para o Estado, o centro das atividades, a aplicação dos recursos, os investimentos básicos.
A história já provou: para infraestrutura, para o desenvolvimento, pesquisa e produção de ciência e tecnologia, o Estado tem que vir na frente, os investimentos públicos é que arrastam — o setor privado vem em seguida.
Questões desta envergadura não surgem do nada, não são bolações de uma ou mais cabeças, talvez nem mesmo de uma geração.
São parte da construção da nação.
E Biden teve a clarividência de enxergar isto: procurou inspiração para suas medidas no New Deal de Roosevelt, um dos momentos mais belos da história americana, comparável à Independência e fundação da República e à guerra contra a escravidão de Lincoln.
Para simbolizar isto, Biden colocou em seu gabinete um retrato de Roosevelt.
A postura imperial americana talvez não sofra grandes alterações.
Como se espera que as medidas de Biden provoquem grande crescimento da economia americana, a posição dos Estados Unidos no mundo ficará ainda mais dominante.
Nos preparemos todos.
O Brasil se prepara para reencontrar o seu caminho, de desenvolvimento, de afirmação da nação com respeito, de menos crueldade com seu povo, pelo menos.
Proclama-se, entre as melhores cabeças, a necessidade de um projeto de nação, que as forças progressistas e populares devem se unir em torno de um programa.
O projeto de nação não é um conjunto de folhas encadernadas, nem livros publicados. Deve ser o reflexo da luta do povo brasileiro.
Aliás, Brizola dizia que projetos podem ser encomendados a muita gente. E qual é a luta do povo brasileiro agora? Recuperar seus direitos trabalhistas e a Previdência Social, surrupiados nos governos Temer e Bolsonaro, e avançar com as 40 horas, participação no lucro e na gestão, pelo menos; recuperar as estatais estratégicas para voltarem a ser o eixo de desenvolvimento; recompor o Estado Nacional com capacidade de intervir na economia e enfrentar os grupos econômicos daqui e de fora, afirmar a nossa soberania e estabelecer um sistema tributário que arrecade dos lucros e ganhos do capital excessivos, heranças, remessas para o exterior e outros, aliviando a classe média de grande peso e o povo consumidor que paga a conta; retomar a ideia do desenvolvimentismo que encerra coisa preciosa: o povo brasileiro ser capaz de superar o atraso.
Isto foi o trabalhismo no Brasil a partir de Getúlio Vargas. Brizola acrescentou a educação como questão número um do País, a “prioridade das prioridades”.
Lula, Dilma e o PT tiveram consciência disso.
Assumiram todo o ideário do trabalhismo e acrescentaram a superação da miséria e da pobreza como projeto da nação brasileira – Lula sempre diz: colocar o pobre no orçamento.
Agora, um passo a mais: o povo com seus direitos, pois os orçamentos são transitórios, veem e vão.
O Brasil já tem a construção da nação iniciada com o trabalhismo e com o lulismo.
Vamos nos agarrar a ela, corrigir os defeitos, reformular os erros, suprir as deficiências, avançar com o que de melhor temos.
Que bom que Lula está aí disponível, com a garra de sempre!
*Advogado e professor, foi Constituinte em 1988
Comentários
Zé Maria
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A reconstrução dos EUA com Joe Biden é um nó na cabeça dos “liberais à brasileira”
Os Estados Unidos sempre viram no Estado o papel de indutor do desenvolvimento de longo prazo.
Não se trata da visão nacional-desenvolvimentista da América Latina.
Tem contextos, texturas, estruturas e história próprios.
Por Monica de Bolle*, no El País BR
https://twitter.com/bollemdb/status/1388165295169224705
Muito se tem falado e escrito no Brasil, com lentes brasileiras, sobre o Governo Biden e seus planos.
Contudo, e isso não é novidade, tais lentes distorcem e deturpam ao fazerem ver um país que não existe e jamais existiu.
Conta-se, por exemplo, uma história no Brasil de que o desenvolvimento dos Estados Unidos se deu pelo papel preponderante da iniciativa privada.
Não há ideia mais errada do que essa para quem conhece a história deste país em que vivo há mais tempo do que no Brasil e no qual finquei as bases da minha carreira como economista, a qual passa hoje por uma espécie de transição.
Os EUA sempre viram no Estado o papel de indutor do desenvolvimento de longo prazo.
Não se trata da visão nacional-desenvolvimentista da América Latina, tampouco pode ser compreendida com lentes sulistas.
O desenvolvimento norte-americano e a atuação do Estado têm contextos, texturas, estruturas e história próprios.
Pode ser uma história pouco contada no Brasil aquela segundo a qual os EUA se industrializaram por meio de políticas de substituição de importações e muitas práticas protecionistas inspiradas na obra de 1791 do primeiro secretário do Tesouro norte-americano, Alexander Hamilton.
Em seu “Report on the subject of manufactures”, Hamilton delineou os conceitos de indústria nascente e apoio estatal, que, mais tarde, influenciariam não apenas a industrialização de seu país, mas a da Alemanha, a do Japão, a da França, chegando à América Latina nos anos 1930, quarenta e cinquenta.
A obra de Raúl Prebisch e o que ficou conhecido como pensamento Cepalino cita Hamilton recorrentemente, e não é por acaso.
O Estado indutor norte-americano seria revisto e reinventado ao longo de toda a história, passando pela corrida espacial da Guerra Fria, o surgimento da Internet, o desenvolvimento do setor de tecnologia, sobretudo o de bioteconologia, que tanta relevância tem tido na atual pandemia.
Para que as vacinas gênicas, as mais sofisticadas contra covid-19, saíssem dos laboratórios para os nossos braços, o Governo de Donald Trump fez a enorme Operação Warp Speed.
Logo, no mundo real se deu o contrário do que sustenta o ministro da Economia brasileiro, e não haveria Moderna ou Pfizer sem a atuação vultosa do Estado.
Então entra em cena o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Muitos no Brasil têm interpretado os planos de Biden como uma ruptura em relação ao passado, seja o passado recente, seja o longínquo.
Também entendo que há ruptura; mas penso não ser a que imaginam.
A ruptura que se deu nas eleições de 2020 foi a passagem de um país liderado por uma pessoa despreparada para o cargo e com instintos nitidamente autoritários para outra com largo, orgulhosamente reclamado histórico político e um democrata, não somente pelo nome do partido ao qual pertence.
Quanto ao resto, não há rompimento: os planos de Biden, vulgarmente apelidados de “Bidenomics”, são profundamente marcados pela tradição norte-americana do Estado indutor.
Há, sim, diferenças marcantes, que reanimam essa tradição.
Os planos de Biden, literalmente trilionários, compreendem o American Rescue Plan, o American Jobs Plan e o American Families Plan.
Todos eles aparecem em destaque no site da Casa Branca, em que são apresentados de forma clara e resumida, com acesso à integra do documento e convite a compartilhar como a política econômica lhe pode ajudar.
Para entender melhor essa política, tomemos o American Families Plan, o seu segundo.
Trata-se, como disse a Casa Branca, de um plano de “infraestrutura humana”, isto é, de uma agenda que parte do foco nas pessoas, em particular, das famílias, para dar forma a um Estado de Bem-Estar Social.
Lembro aqui que, entre as economias maduras, os EUA são o único país que não têm as redes de proteção social robustas, como seus pares europeus.
O nome do plano toma as famílias como elo de articulação das políticas de redistribuição de renda.
A escolha reflete a percepção compartilhada de que a família é a unidade de cuidado por definição na sociedade norte-americana, como também é, por sinal, no Brasil.
O que salta a olhos de “liberais à brasileira” como excessivo é o entendimento de que, quando as desigualdades são demasiadas, políticas incrementais de proteção social não resolvem os problemas econômicos, sociais, e políticos.
Primeiro, para equacioná-los pode ser importante ter um horizonte de igualdade, a qual é inalcançável, mas nem por isso precisa deixar de ser buscada.
Sua busca pode criar condições que tornam a liberdade possível.
Segundo, políticas incrementais dificilmente têm o condão de reconstituir um senso de união nacional, de identidade comum, em sociedades extremamente fragmentadas e polarizadas.
Quando Biden falava em unificação durante a campanha, a necessidade da ousadia estava explícita.
Não viu quem não quis, ou quem não soube interpretar por desconhecimento.
É realmente muito difícil entender os Estados Unidos e suas contradições quando não se vive no país: a máxima de Tom Jobim sobre os principiantes e seus olhares não vale apenas para o Brasil.
Tenho visto gente no Brasil dizer com grande confiança que a agenda de Biden está fadada ao fracasso no Congresso.
A afirmação se baseia no fato de que os democratas têm uma maioria muito estreita no Congresso, sobretudo no Senado.
Mas, novamente, essa é uma visão equivocada sobre as transformações que acometeram os partidos políticos daqui, especialmente o partido Republicano.
Sob Trump, o partido Republicano deixou de ser aquele que defendia a “responsabilidade fiscal” na representação de déficits e dívida baixos.
As reduções tributárias de Trump e os aumentos de despesas em 2017 levaram os EUA ao maior déficit em décadas, e esse cenário se produziu com o aval dos Republicanos no geral e, em particular, dos Republicanos mais tradicionais, como os Senadores Mitch McConnell e Lindsey Graham.
Tivesse Trump sido um político mais dedicado, teria conseguido emplacar seu próprio plano de infraestrutura, no valor de 1,5 trilhão de dólares, alardeado por Steve Bannon durante a campanha de 2016 e tantas vezes mencionado nos anos trumpistas.
É curioso que algumas pessoas tenham escolhido apagar isso de suas memórias.
O partido Republicano, hoje, tem dificuldades de enfrentar agendas que preveem grandes despesas, sobretudo se essas despesas forem facilmente sentidas e compreendidas pelas pessoas, pelas famílias.
A aprovação de Trump subiu no início da pandemia quando seu pacote de assistência passou no Congresso, assim como a de Biden aumentou desde o início de seu Governo, mesmo o país estando muito dividido.
Aqui nos Estados Unidos há eleições a cada dois anos: no ano que vem haverá eleições legislativas.
O custo para os Republicanos poderá ser alto caso eles rejeitem por completo a agenda de Biden ―e o partido sabe disso.
É claro que os Republicanos haverão de se opor aos aumentos de tributação sobre corporações, os mais ricos, os ganhos de capitais, que devem financiar parcialmente os ambiciosos planos.
Porém, apostar no fracasso da agenda Biden é nada entender do que aconteceu com os Republicanos e com os Democratas nos últimos quatro anos.
Enquanto Republicanos buscam novos caminhos e narrativas políticas, Democratas se reinventaram a partir de algumas noções básicas de justiça social.
Sim, básicas, pois os democratas mais à esquerda estão muito longe daquilo que brasileiros consideram ser “de esquerda”.
Com Biden, os Estados Unidos estão fazendo aquilo que sempre fizeram de melhor: se reimaginando e reiventando.
Por certo, há lições aí para o Brasil.
Mas elas estão longe de ser o que tantos regurgitam nos jornais ou na TV.
*Economista Brasileira Liberal que se despojou dos Dogmas do Neoliberalismo. Reside nos EUA onde é Pesquisadora do Peterson Institute for International Economics (PIIE)
e Professora da School for Advanced International Studies, Johns Hopkins University.
Foi Tradutora da obra “O Capital no Século XXI”, de Thomas Piketty, lançada no Brasil em 2014 pela Editora Intrínseca.
(https://www.intrinseca.com.br/upload/livros/1oCap-OCapital.pdf)
https://twitter.com/elpais_brasil/status/1388163383187365888
https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-04-30/a-reconstrucao-dos-eua-com-joe-biden-e-um-no-na-cabeca-dos-liberais-a-brasileira.html
Henrique Martins
Nesta oportunidade, posso adiantar a vocês que ainda que tenha a índole autoritária Mourão tentará salvar a honra das forças armadas e pacificar o país, e se fizer o contrário de Bolsonaro, sobretudo, na questão da saúde, educação, meio ambiente, e relações internacionais, tentando equilibrar efetivamente políticas de direita e esquerda – aqui digo na questão social – respeitando a Constituição e as demais instituições terá o apoio popular e internacional e será eleito em 2022 e depois será reeleito em 2026. Isso porque a nossa oposição está fraca e não se entende. É uma indignidade que uma pessoa preparada como Ciro Gomes tenha nos deixado na mao em 2018, e agora no momento mais difícil do país tenha praticamente se desviado para a direita.
Sinceramente, a mim não importa quem esteja no poder. Só quero que esse inferno acabe.
Luiz Mattos
VIRA LATISMO ,A POLÍTICA DE ESTADO SEMPRE SERÁ ESPIONAR GOLPEAR E SAQUEAR.
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