Valter Pomar: Sem esquecimento, sem perdão, sem temor

Tempo de leitura: 3 min

Data: 31/03/2011

O golpe de 1964 não é apenas passado, nem foi só obra de generais hoje aposentados e mortos. Quando um deputado diz ter saudade da ditadura, quando um candidato presidencial se alia a generais de pijama e a organizações de ultra-direita, quando um ditador é homenageado por uma turma de formandos de uma escola militar, quando um ministro diz que a Anistia impede a justiça de apreciar crimes contra a humanidade, não estamos diante de saudosismos inconsequentes. Estamos vendo e ouvindo uma parte da elite brasileira dizer o seguinte: quebramos a legalidade e algum dia poderemos voltar a quebrar. O artigo é de Valter Pomar.

por Valter Pomar, em Carta Maior

Muitos de nossos amigos latino-americanos não conseguem entender por qual motivo os governos brasileiros pós-ditadura pegaram tão leve com aqueles que romperam com a legalidade, sequestraram, torturaram, mataram e desapareceram.

Neste quesito, os governos pós-ditadura na Argentina, Chile e Uruguai foram muito mais efetivos no combate aos crimes das ditaduras, do que os governos Sarney, Collor, FHC e Lula.

Nossos amigos não entendem, e muitos de nós tampouco entendem, paradoxos como a convivência, no mesmo governo, de uma presidenta que foi presa e torturada, com um general para quem fato histórico é codinome para crime que merece ser perdoado. Ou de ministros que defendem a Comissão da Verdade, com outros para quem a Lei da Anistia imposta pela ditadura permite que autores de crimes contra a humanidade escapem de julgamento.

A persistência desta situação revela, mais do que a força da direita, a incapacidade que parte da esquerda tem de perceber os riscos que corremos ao agir desta forma. Afinal, o golpe de 1964 não é apenas passado, nem foi apenas obra de generais hoje aposentados e mortos.

O golpe de 1964 foi a resposta dada por uma parte da elite brasileira, contra um governo progressista. Foi uma das batalhas da guerra travada, ao longo de todo o século XX, entre as vias conservadora e progressista de desenvolvimento do capitalismo brasileiro.

A via conservadora é aquela que desenvolveu o capitalismo, preservando os piores traços de nosso passado escravista e colonial. A via progressista é aquela que buscou e busca combinar crescimento capitalista, com reformas sociais, democracia política e soberania nacional.

O golpe de 1964 foi executado por uma coalizão cívico-militar. Os militares foram o partido armado do grande empresariado, do latifúndio e dos capitais estrangeiros. Muitas das empresas envolvidas no golpe, ou que cresceram durante o período da ditadura, seguem atuantes. As Organizações Globo, por exemplo.

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Hoje, prossegue a guerra entre aquelas duas vias de desenvolvimento. O governo Dilma, assim como o governo Lula, constituem expressões atuais da via progressista. E a campanha reacionária feita por Serra, nas eleições presidenciais de 2012, traduziu os sentimentos e os interesses dos legítimos defensores da via conservadora (alguns dos quais, é bom dizer, buscaram e encontraram abrigo do lado de cá).

Quando um deputado diz ter saudade da ditadura militar, quando um candidato presidencial se alia a generais de pijama e a organizações de ultra-direita, quando um ditador é homenageado por uma turma de formandos de uma escola militar, quando um ministro diz que a Anistia impede a justiça de apreciar crimes contra a humanidade, não estamos diante de saudosismos inconsequentes.

Estamos, isto sim, vendo e ouvindo uma parte da elite brasileira dizer o seguinte: quebramos a legalidade e algum dia poderemos voltar a quebrar; desconsideramos a voz das urnas e algum dia poderemos voltar a desconsiderar.

Uma esquerda que defende os direitos humanos de maneira consequente, deve lembrar que a impunidade dos torturadores de ontem, favorece os que hoje torturam presos ditos comuns. Uma esquerda que defende uma via eleitoral, tem motivos em dobro para ser implacável contra os que defendem a legitimidade de golpes. E uma esquerda que se pretende latinoamericanista precisa lembrar que o golpe de 1964 foi, em certo sentido, o início de um ciclo ditadorial que se espalhou por todo o continente.

E que ninguém ache que golpes são coisas do passado. Honduras, bem como as tentativas feitas no Equador e Venezuela, Bolivia e Paraguai, mostram que os Estados Unidos e parte expressiva das elites locais têm uma visão totalmente instrumental da democracia. E o reacionarismo atual de parte das chamadas classes médias não deixada nada a dever frente aquele que mobilizou, em 1964, as marchas com Deus, pela Família e pela Propriedade.

Por tudo isto, temos todos os motivos para dar o exemplo. Como nossos amigos de outros países da América Latina, não devemos temer, não podemos esquecer e não podemos perdoar.

* Valter Pomar é membro do Diretório Nacional do PT

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Comentários

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vilma

E todos acabam tristes e se agredindo, por que no fundo estão cada vez mais infelizes. Querem nos fazer acreditar que sendo homossexuais seremos felizes, e depois vem uma culpa tão grande, por sabermos que estamos agindo contrario ao grande livro "a Bíblia Sagrada", que a grande maioria da humanidade crê como sendo a palavra de Deus. Nunca o estado foi tão invasivo na vida familiar. A família era considerada sagrada!! Hoje muitos nem a tem… Desculpe-me, se sou contrária, mas como povo tenho sim saudade do regime militar, e me arrependo de ter ajudado a derrubá-lo. Não apenas eu, mas muitos de meu convívio.
Vilma Vó

vilma

Valter, embora talvez você não se lembre, estudamos juntos no Senai, participamos das diretas já, cara pintadas, tudo para que acabasse o regime militar. Hoje, falando como povo, como cidadão que viveu entre o povo e não nas classes políticas envolvida em golpes e tudo mais, eu digo que me arrependo muito! Como povo, tinhamos liberdade de brincar nas ruas, hoje nossas crianças não tem! Confiávamos nos policiais, hoje não mais! Confiávamos em nossos vizinhos! Hoje quase nem nos cumprimentamos! Nossos filhos eram criados para formarem suas famílias, e hoje eles são criados para viverem uma vida triste e sozinhos! Acham que o sucesso na carreira vale mais que um bom convívio famíliar! Continua…

Gilson Caroni: 1964, não podemos dormir | Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Leia aqui por que os golpes não coisas do passado, de Valter Pomar.   […]

SILOÉ

Parabéns, Argentina pela prisão de um dos seus torturadores.

Taques

Ai, ai … Valter Pomar … que preguiça.

O que realmente o deixa vermelho de raiva é que a população brasileira em sua grande maioria apoiou a revolução de 64.

Agora tenta reverter o jogo no tapetão escrevendo esse monte de bobagens.

Perdeu, companheiro.

Contente-se com a vergonhosa indústria de indenizações que tanto lesa o erário público.

É o que sobrou para os "patriotas".

Uma grana preta !!!

@sventura_sp

Sempre me considerei um militante da esquerda moderada, sei de todo o mal que o Golpe de 1964, assim como tantos outros golpes dados no Brasil, trouxeram para o desenvolvimento de nossa democracia e de nosso sitema político e social.
Entretanto em todos eles, passado o impacto inicial, houve uma acomodação em que a parte que estava no poder acabou abrindo novo espaço a parte que havia sido defenestrada, isso ocorreu na Revolução Paulista de 1932 com Vargas.
É lugar comum dizer que nossas "elites" e nossa "mídia" criaram as condições do golpe, mas esquecemos convenientemente que nenhum grupo que detém poder abre mão voluntariamente do mesmo, oras, o Brasil sempre foi dominado por uma elite "olhando para o exterior", cujo modelo ideal de sociedade (para seus membros) era o modelo liberal europeu.
Em 1964 viviamos do lado da "elite" a histeria de um golpe branco dado pelo Governo Jango, que levaria o Brasil ao comunismo, isso tudo fomentado pelos EUA que, sabemos, são poderosos mas bastante bisonhos na análise de informação, temiam a ampliação da esfera de influência da URSS, se tal se desse os EUA teriam uma possibilidade de conviver com adversários em seu próprio quintal.
Do lado do governo, já bastante fragilizado por toda essa histeria, mas que parecia feito sob medida para um golpe, sem apoio do Exército, sem vontade de obtê-lo das outras duas Forças singulares, sem se comunicar com a tal "elite", houve erros estratégicos também, como a visita de Jango à China comunista, o movimento dos sargentos que cheirava a insubornidação, e as tais "reformas de base" criadas em momento político não oportuno, tudo isso somado contribuiu, e muito, para o golpe.
Muitas vezes a falta de comunicação e necessária boa vontade entre as partes pode ocasionar acontecimentos como o Golpe de 1964, alguns aqui possivelmente verão apenas incoerência no que escrevi, verão um ato de submissão às tais elites, mas se comunicação confiável e boa vontade houvesse entre as partes fatos históricos como a Primeira Guerra Mundial por exemplo poderiam ter sido evitados, penso que o Golpe de 1964 seguiu a mesma lógica.

    Silvio I

    @sventura:
    O Presidente Getulio Vargas, iria a ser deposto por um golpe de estado, que já estava quase pronto. Esse golpe foi suspenso porque ele se suicida. Mais continuo sempre em efervescência. No Governo JK, ele conseguiu afastar duas intentonas de golpe. Goulart era um grande fazendeiro de São Borja assim como Getulio. Não era comunista. Estava-se na guerra fria, e a propaganda dos EUA, era que os comunistas comiam criancinhas recém nascidas. Ainda hoje em dia, tem muitas pessoas que continuam acreditando em isso. Preparou-se a cabeça de todos os militares de América, na Escola das Américas, se fez um verdadeiro lavado cerebral, se inculcou em eles doutrinas que nunca na América do Sul os exércitos tiveram. A Embaixada Americana com o Embaixador Gordon e o Gral. Walter (que era amigo do Marechal Castelo Branco, desde que eram Maiores nas operações em Itália) movia as cordinhas. A imprensa, tergiversando, e atentando contra o governo, preparando o terreno, a mesma que ate o dia de hoje, continua nas mesmas mãos, e com os mesmos ideais. O envio desde os EUA o padre Peyton, um individuo que se encontrava em Hollywood. Que foi organizador da marcha das mulheres no centro de São Paulo. Uma classe media muito pequena e onde sempre a elite, e que tem comandado este Brasil. Nunca se tive em conta estes povos alem do mais, sempre estive por fora dos acontecimentos. Sempre funcionou o conchavo entre as elites do momento. O empresariado colaborou com muito dinheiro, porque eles tinham medo de perder tudo, já que o país passaria a ser comunista, e teriam que dividir ate suas residências com todos os pobres, de toda a nação, que não era pouco. A guerra surge quando a diplomacia acaba. Mais sempre se tem que buscar uma causa, que nunca aparece, mais que e a que a motiva. General mente figura uma causa, mais a verdadeira e outra. Procure saber qual era o problema econômico, por o qual passava a Europa,antes da guerra

Ricardo Galvão

Parabens Valter (e tb Azenha), pelo artigo. Mas seguindo a linha do "não entendo", NAO ENTENDO tambem como dentro de um próprio partido a alguem como Pomar e Palocy, só pra ficar no começo., Ou Zé Cardozo e Fernando Ferro… O PT, com sua fluida organização e comando, tal como o governo, cabe tudo. É redondo, pois em nome da convivencia de todos, quase que não toma posição substantiva, e quando toma são sempre uma elite, que em nome de uma sobrevivência estratégica não discutida com as bases, e assim vai cada vez mais flexionando o partido e o governo à direita, vide a vergonhosa vassalagem a Obama, o alinhamento aos "direitos humanos" seletivos dos EUA na ONU, a votação do salário mínimo etc, etc e tal.
Lula não deixou nenhuma herança maldita a Dilma e pq o próprio PT não toma posição coerente com a aspiração dos milhões de brasileiros, filiados ou não a legenda? Pomar "não ha omelete sem quebrar os ovos", e vc sua corrente, sua legenda etc podem fazer muito mais do que escrever artigos, que por sinal são exelentes. Parabens novamente!.

    Silvio I

    RicardoGalvão:
    A votação do salário mínimo foi corretíssima. A lei vai ate 2015, ela diz que o salário será fixado de acordo com a inflação, e o PIB de dois anos atrás. O salário mínimo foi uma criação de Getulio Vargas. Si o salário mínimo de aquela época, tivesse mantido o poder aquisitivo, o valor atual será por volta de R $ 2000.00. Todos gostariam que o salário fosse esse, mais e muito difícil, vencer um monte de barreiras, para poder alcançar esse patamar. Durante quanto tempo se deixou de legislar sobre esse salário?

Alceu Gonçalves

No SBT reporter, com o Cabrini, foi abordado justamente esta fase infame da nossa história. O interessante foi que mesclaram fotos reais da época com cenas da novela que estreiará na semana que vem. Cenas realmente fortes e realistas de pessoas sendo torturadas de diversas maneiras, mas principalmente no "pau-de-arara". Pretendo acompanhar a novela e conferir seus rumos. Tem algo mais no ar alem de aviões e urubus.

AlceuCG.

SILOÉ

Nada pode ser feito pra reparar esse mal porque um bando de parlamentares covardes e corruptos, bem como essa mídia também corrupta e promíscua compactuaram para fazer essa aberração de lei que só envergonha os dignos cidadãos desse país.
Já não temos mais idealistas como os de outrora, sufocados em seus nascedouros pelos 25 anos do GOLPE.

helena catin

As diferencas entre Brasil e Argentina são imensas e genéticas:

Nós brasileiros somos um povo sem SANGUE, sem BRIO, sem SENSO DE JUSTICA, sem a mais leve nocão do que é ser CIDADÃO e tudo isso travestido de espírito pacífico, nao revanchista, gente boa que perdoa os maiores crimes contra a nacão e a dignidade humana, somos taoooo cristãos né? Tudo aqui é meia boca: meio cidadão, meia democracia, meia honestidade, até a ditadura ja foi batizada de ditabranda pelos meio torturadores e meio assassinos…somos uma pizza meio lesma meio minhoca!

Tiago Aguiar

#DesarquivandoBr

No dia do Golpe de 1964 Gregório Bezerra foi preso pela ditadura militar, em Recife. Foi barbaramente torturado, e arrastado por cordas presas a seu pescoço pelas ruas de Casa Forte. A "justiça" até hoje só atinge os oprimidos. Ela só será JUSTIÇA quando atingir os opressores e proteger os oprimidos!

A história de Gregório Bezerra, a história do homem que quis levantar armas contra todas as ditaduras brasileiras para proteger a Constituição está aqui: http://tiagoaaguiar.blogspot.com/2011/03/o-homem-

A luta pela verdade é uma luta de todos nós!

FrancoAtirador

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Com o enfraquecimento do Poder Legislativo

e a desmoralização do Poder Judiciário

há um constante risco de retrocesso.
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E A MÍDIA OLIGÁRQUICA COLABORA PARA ISSO.
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    Carmem Leporace

    Lula foi o maior desmoralizador e destruidor de instituções que esse país já viu.

    Lula mais um ou dois anos no poder ia arrebentar com tudo, dada sua incompetência (apenas copiou e colou tudo de FHC e a China fez o resto pra ele), mas se Lula fica mais tempo ele acabava com tudo.

    Vide a justiça eleitoral, que ele desmoralizou completamente e ninguém fez NADA.

    Mário SF Alves

    Ainda não entendo esse tão propagado "copiou FHC". Copiou o que, cara pálida? Copiou a polidez linguística? Copiou a cópia do Consenso de Washington? Copiou a privatização da Vale do Rio Doce? Copiou o sucateamento das universidades públicas? Ou copiou os tanques na rua para reprimir greve de petroleiros?
    Perdoe aí a ignorância, mas realmente, não entendo. Logo eu, que antes dele, admirava intelectuais!

Eugenio Hansen, OFS

Paz e bem!

Pelo menos este ano
o 31 de Março
está sendo comemorado
de forma singular:

1) Não está mais no calendário das FF.AA.

2) Ontem a Polícia Federal prendeu o Major Curió por porte ilegal de armas e a prisão ocorreu quando atendendo a mandato judical na casa dele apreendiam computadores e outros documentos que podem revelar o destino de cadáveres do Araguaia.

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