O papa João Paulo II seguido por Dom Helder Câmara na visita ao Recife, em 1980. Foto: Vozes da Zona Norte
por Urariano Mota, em Direto da Redação
Recife (PE) – Bento XVI cometeu uma renúncia, deixou de ser papa nesta última quinta-feira, isso todo o mundo já sabe. O que ninguém sabe é um acontecimento herege e demoníaco que ocorreu durante a visita do outro Sua Santidade ao Recife. Assim foi.
O papa anterior, João Paulo II, atlético e viageiro, visitava Pernambuco. Por coincidência, estávamos na casa do Gordo às 4 da tarde, como na hora de Brasília da renúncia deste último Bento XVI. Ora. Enquanto Ele rezava a santa missa às 17 horas e 10 minutos, a serem verdadeiras as informações do arquivo do Jornal do Commercio, aqui relatadas:
“Uma grande manifestação de fé mobilizou a cidade na passagem do papa João Paulo II pelo Recife, nos dias 7 e 8 de julho de 1980. Já na Base Aérea, a recepção calorosa do então arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, plenamente correspondida por Sua Santidade no abraço espontâneo ao arcebispo, deu o tom da visita papal, que durou menos de 24 horas… no altar erguido sobre o Viaduto Joana Bezerra, o Santo Padre celebrou, às 17h10, uma missa campal acompanhada por aproximadamente 300 mil pessoas, que se acotovelavam no local desde o início da tarde”.
Durante e antes, eis o que ocorreu diante das imagens da transmissão ao vivo da presença do Santo Homem na tevê. Na sala da aprazível e pobre casa em Rio Doce, estávamos eu, o Gordo, Marcão, Tarcizo Galego, Zé Correia, Semadá, Marcelino e Givaldo. Em uma palavra, uma gangue. E, claro, a mãe do Gordo, dona Dagmar, mais a irmã do Gordo, irmãos, e sobrinhos, tudo isso de mistura a nós. Estávamos todos bebendo. Bebíamos, com paciência e método, porque o melhor estava por vir: o Papa !
Dona Dagmar sempre soube que não acreditávamos em Deus. Mas esse conhecimento, ainda que não trouxesse uma aceitação de nossas ideias, possuía pelo menos uma transigência, um conviver sábio, porque éramos, devíamos ser, bons meninos. Ela desconfiava que apesar de ateus não podíamos ser tão maus assim, porque afinal éramos amigos do seu filho, o seu mais velho filho, o homem que pelo estudo, pela instrução, conseguira tirar a família da extrema pobreza. O Gordo, o senhor Antonio Luís da Silva, era graduado em História e funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, onde ingressara por concurso público.
Enquanto a missa não vinha, era possível ao mesmo tempo a televisão ligada e os frevos em discos da Mocambo, em vinil, a rodar. Mas quis o Diabo que a tarde avançasse.
Pois quis o demo então que às cinco em ponto da tarde todos entrássemos em silêncio, forçado, em respeito a Dona Dagmar, senhora católica, crente dos poderes e infalibilidade papal. Assinamos como por encanto uma trégua, um acordo, sem papel. Os frevos pararam de rodar, e ficamos todos, em tensão máxima, aos murmúrios, pois o respeito àquela mulher do povo assim exigia. Escrevi certo? Eu creio que sim, porque o respeito somente poderia ser a ela, nunca ao Papa nem a seus sacrossantos dogmas, está visto.
Apoie o VIOMUNDO
Por isso o Diabo, os demônios, em nova conjura assestaram e acertaram um tento na pessoa de um dos nossos. Em mim, estava escrito. No minuto santo, magno e piedoso em que o Papa se preparava para distribuir a hóstia em santa comunhão, o que faz o Demônio? Ele me toma o corpo, a mão, o espírito, e faz com que eu me dirija em silêncio à cozinha, e lá encha vários copos de aguardente, ponha-os em uma bandeja, e arranque pedaços de pão do armário, divida-os bem divididos, e, assim posto em papel de sacerdote das trevas, retorne à sala e distribua o álcool e o pão hereges enquanto Deus era servido na televisão. Marcão, Semadá, Givaldo, Marcelino, Zé Correia, todos comungaram. Mas, safados, comungaram inocentes, alheios e alienados do instante da hóstia consagrada do Papa. Melhor dizendo, beberam, com toda educação e respeito. Eu, o demônio, que suportasse as consequências.
O Gordo me contou o resultado disso depois, longe da cena do crime, ao fim de uma semana:
– Minha mãe me chamou naquele dia para a cozinha e me disse: “olhe para as minhas mãos”. As mãos de Dona Dagmar estavam tremendo.
Somente muito tempo depois pude voltar à casa do Gordo. Dona Dagmar fez de conta que de nada mais se lembrava. Mulher sábia, a perturbação no reencontro foi minha.
E pulo até esta quinta-feira. Anunciam os jornais que Bento 16 escreverá o seu último tuíte minutos antes de sair do papado. Do alto ou do baixo desta coluna, quero dizer, do céu ou do inferno, antecipo de imediato a última mensagem do Papa, com toda a eloquência do tuíte: fui.
Leia também:
Leonardo Boff: A Igreja age como uma “casta meretriz”
Gilberto Nascimento: O mapa dos grupos que desestabilizaram papa
Eduardo Febbro: Renúncia expõe guerra direitista nos bastidores do Vaticano
Comentários
Panino Manino
Quando o texto vem cheio de floreios que nada dizem, é bom desconfiar…
Na boa véio, que texto ridículo foi esse?
carmen silvia
Vixe home que coisa maixxxx linda!Papa Dom Caba da Peste I.Aqui no blog já habemus papa-é assim mesmo que escreve santidade?
Gerson Carneiro
Miltra toda trabalhada no couro de bode, inspirada no jerimum do cangaço. Tema do figurino: 50 tons de rapadura.
Jair de Souza
Embora eu creia que se trate de um novo personagem azenhístico que substitui os entráveis John Bastos e Dvorak (quem não sente saudades deles?), vou opinar sobre o comentado pelo atual trol oficial deste blog.
Penso que não seria mesmo possível aparecer de seios descobertos numa mesquita de Teerã, e nem fazer chacota em um dos templos das religiões dos afrodescendentes. E a justificativa nada tem a ver com considerar que certas religiões são boas e outras más. Para mim, todas são legítimas, mas dispensáveis!
Na verdade, eu acho que a impossibilidade se deve a que, perante seus fieis, o islamismo e as religiões de origem africana ainda não caíram em total descrédito.
Não se pode dizer o mesmo da catolicismo oficial. É difícil encontrar alguém que, em sã consciência, possa acreditar que Jesus Cristo está representado na terra por gente do tipo de Ratzinger e Wojtila. Seria preciso ser muito anticristo para aceitar isto.
O que torna o cristianismo grandioso não é e nunca será as instituições que se arvoram em suas representantes (já sejam católicas ou evangélicas). A grandiosidade do cristianismo está nas pregações de Jesus Cristo. Independentemente de que Jesus Cristo haja ou não existido de verdade, as pregações que a ele são atribuídas são dignas de respeito e admiração por todos os que almejam viver num mundo sem injustiças, sem exploração e sem exploradores.
Lamentavelmente, as religiões institucionais que falam em nome de Jesus Cristo deixam claro que seus propósitos nada têm a ver com o legado daquele que teria se sacrificado por um mundo de fraternidade, solidariedade, paz e justiça entre todos os seres humanos; aquele que priorizava sua atenção aos mais humildes.
Não digo que nas instituições islâmicas ou nas religiões de origem africana não ocorra coisa similar. A diferença é que o grau de descrédito dessas ainda não atingiu um patamar tão baixo que possa ser equiparado ao do catolicismo oficial. A Teologia da Libertação foi uma oportunidade que a cúpula do clero católico teve para redimir-se, no entanto, como sabemos, optou por outro caminho. As consequências, por sua vez, são visíveis e inevitáveis.
Vlad
Que engraçado.
Willian
Corajoso em comparar o vinho cristão (que para os católicos é o sangue de Cristo) com a cachaça. Mais corajoso se fizesse algo parecido com os dogmas muçulmanos ou de religiões afro-brasileiras. Vir aqui e ridicularizar dogmas cristãos é fácil e lhe renderá mensagens de apoio, como deve ter te rendido tapinhas nas costas quando contou esta história em mesas de bar.
Você é como aquelas garotas do Femen que mostram os peitos em igrejas da Europa, mas não tem coragem de fazer o mesmo em mesquitas de Teerã.
Gerson Carneiro
Santo, Santo, Santo
Willian deus do universo
O céu é a terra proclamam vossa glória
Hosana nas alturas
Bendito que vem em nome do Willian
Hosana nas alturas.
Acabo de me converter ao Willianismo.
Gerson Carneiro
Lá, e há 33 anos, era Dona Dagmar. Aqui, e hoje, é minha sogra.
Não gostou nadica de nada de me ver vestido de Papa no facebook.
Mas a compreendo. E em minha santidade a perdoo.
Papa interino Caba da Peste I
Deixe seu comentário