Roberto Nascimento: Whatsaap é arma de fogo a serviço do atraso e da imbecilidade?
Tempo de leitura: 2 minA história é uma arma?
por Roberto Nascimento*, via e-mail
O excepcional romancista peruano Manuel Scorza escreveu no livro “O túmulo do relâmpago” que a história é uma arma.
E o excepcional historiador inglês Eric Hobsbawm escreveu em seu livro “Sobre História” que os historiadores eram pessoas perigosas, mais perigosas que bombas, já que seus estudos do passado e o viés que pudessem indicar permitiam que determinadas ideias se consolidassem no tempo presente.
Mais recentemente o sociólogo brasileiro Jessé de Souza tem apontado como as interpretações de intelectuais brasileiros ao longo do século 20 criaram ambiente propício para a visão tacanha do país que se espalha hoje em dia.
A história era uma arma simbólica, os historiadores eram perigosos simbolicamente e os intelectuais moldavam as ideias que criavam símbolos e orientavam as sociedades porque havia todo um sistema de mediação e de legitimidade que amparava o conhecimento.
Era necessário que o conhecimento fosse construído após longo e necessário sistema de pontos e contrapontos de vista, avaliações, crivo de outros conhecimentos já estabelecidos e que quase sempre impediam que uma fraude se estabelecesse.
E, então, a sociedade reconhecia o resultado desse trabalho intelectual incorporando-o ao conhecimento do dia a dia.
Isso era assim antes do telefone “inteligente” e do whatsapp.
O surgimento e quase onipresença dessas duas coisas transformaram o conhecimento em algo permanentemente questionável, e os emissores de mensagens, sejam suas ou encaminhadas de outros, em portadores da verdade universal.
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Por ironia, alguém num vídeo que circula pelo whatsapp disse que o primo ou o tio do grupo da família sabe mais do que todos os sábios que já passaram pelo planeta…
Então, nesse exato momento em que alguém lê essa página, circulam sem freios de inteligência milhões de mensagens produzidas ou influenciadas por místicos, deturpadores, fraudadores da verdade e inimigos do progresso humano.
Na era do pensamento rasteiro, a história, bem como o conhecimento, não é uma arma.
O whatsapp é uma arma. E como a de fogo, muito potente, a serviço do atraso e da imbecilidade.
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