Rede de Justiça Ambiental divulga carta de apoio a Fernanda Giannasi
Tempo de leitura: 5 minO Viomundo denunciou quinta-feira, 24 de março, as pressões para tirar a engenheira de segurança Fernanda Giannasi, auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Empregro, da fiscalização do amianto.
Hoje, 25 de março, a Rede Brasileira de Justiça Ambiental divulgou carta de apoio a Fernanda Giannasi, por conta das agressões e intimidações que ela vem sofrendo. Segue, na íntegra, a carta.
Rio de Janeiro, 25 de março de 2011.
À Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR)
A/C Exma. Srª. Ministra-chefe Maria do Rosário Nunes
A/C Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH)
A/C Ouvidoria-Geral da Cidadania
Ao Ministério do Trabalho e Emprego
A/C Exmo. Sr. Ministro de Estado Carlos Lupi
Ao Ministério de Justiça
A/C Exmo. Sr. Ministro José Eduardo Cardozo
A/C Departamento de Polícia Federal
Ao Ministério Público Federal
A/C Exmo. Sr. Procurador-Geral da República Roberto Monteiro Gurgel Santos
À Secretaria de Políticas para as Mulheres
A/C Exma. Srª. Ministra Iriny Lopes
Exmos.
O amianto, comprovadamente cancerígeno e responsável direto pela morte de muitos trabalhadores envolvidos em seu processamento, foi banido em 66 países e em quatro estados, vários municípios e capitais brasileiros. Apesar disso, o Poder Executivo federal não tomou ainda posição definitiva contra o uso e o comércio da fibra nacionalmente, mesmo após a decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em 04/06/2008, confirmou a lei de banimento em São Paulo, modificando jurisprudências anteriores, que impediam que Estados legislassem de maneira mais restritiva do que a União.
O país é um dos maiores produtores, consumidores e exportadores de amianto do mundo, que é utilizado em quase três mil produtos industriais, dentre os quais telhas e caixas d’água que são destinados, sobretudo, às populações mais carentes e, portanto, mais expostas e vulneráveis aos riscos de contaminação.
Frente a essa perversa situação, a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) e poucas pessoas altamente comprometidas e qualificadas lutam para denunciar essa agressão à saúde e à vida – especialmente a dos mais pobres –, mas sofrem, por isso, constante isolamento, amordaçamento, ameaças, intimidações, perseguição e tentativas de criminalização, como já foi demonstrado no relatório “Na Linha de Frente: Defensores dos Direitos Humanos no Brasil de 2002-2005”, elaborado pelas organizações Justiça Global e Terra de Direitos (http://fdcl-berlin.de/fileadmin/fdcl/Publikationen/relatoriodefensores2005.pdf, leia no Viomundo antigo), também em anexo.
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A esses últimos fatos, soma-se uma longa história de ameaças e agressões sofridas por Fernanda Giannasi em função de seu engajamento profissional e social ao lado das vítimas do amianto. Foram vários processos criminais, civis e administrativos impetrados por empresas que vêm explorando e manufaturando produtos de amianto, ao longo das últimas três décadas, e que constituíram poderoso lobby, somente comparado ao do tabaco, em tamanho e poderio econômico, e que se apresentam como Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC). Consideramos que o fato do IBC deter o estatuto de OSCIP – Organização Social de Interesse Público – afronta o marco regulador que criou a figura de OSCIP.
Perguntamo-nos em nome de que interesse público o IBC denunciou a Auditora à Comissão de Ética do Ministério do Trabalho e Emprego?
Nas mais recentes ações em busca da criminalização de seu trabalho, encontram-se as reiteradas tentativas de removê-la de sua função na auditoria-fiscal na Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo, como o processo ajuizado pela SAMA, do grupo empresarial ETERNIT, na 14ª. Vara Federal de Brasília (Processo 53186-06.2010.4.01.3400), em anexo, que busca “AFASTAR A AUDITORA FISCAL DO TRABALHO ‘FERNANDA GIANNASI’ DA FISCALIZAÇÃO DA AUTORA NO TOCANTE ÀS OPERAÇÕES CONCERNENTES AO AMIANTO” e que, felizmente, teve no dia 18/03/2011 a tutela antecipada indeferida.
Responsáveis por 65% da produção nacional, e pela exportação de amianto “in natura” para a Ásia, as empresas Transportadora Cortes Ltda. e Cortes Armazéns do Guarujá buscaram também afastar Auditora-Fiscal de sua função, para que pudessem livremente agir ao arrepio da lei paulista que proíbe o amianto.
Em primeiro momento, obtiveram êxito junto à Justiça Federal de Santos, que determinou que a engenheira se abstivesse de inspecionar as dependências da empresa, por seu envolvimento social na luta pela erradicação da fibra cancerígena, e alegando “a falta de imparcialidade em suas ações”. Contudo, tal decisão foi reformada no Tribunal Regional Federal da 3ª. Região de São Paulo (Decisão 7642/2010 em AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0000023-72.2010.4.03.0000/SP impetrado pela União), em anexo.
Não satisfeitas com as derrotas obtidas nas instâncias superiores do Judiciário, as empresas dedicadas à exportação do amianto buscaram novamente amparo na primeira instância da Justiça Federal de Santos, que solicitou à Polícia Federal que instaurasse inquérito (IPL nº. 5-1217/09-DPF/STS/SP) para apurar possível desvio de conduta da servidora pública por “abuso de poder”. Infelizmente, a autoridade policial local, Dr. Cassio Luis Guimarães Nogueira, foi levado a erro pelas empresas impetrantes e indiciou a servidora, mesmo informado sobre a decisão do Tribunal Regional Federal.
Restou patente que mesmo não obtendo total êxito, as empresas teriam o indiciamento como trunfo contra a conduta ilibada da servidora, que tem constantemente comprovado os atos ilícitos cometidos por estas empresas.
Resta agora ao Ministério Público Federal de Santos analisar a conclusão do inquérito policial e decidir se denuncia ou não a servidora. Se isto ocorrer, Fernanda Giannasi terá mais uma vez de ir ao Juízo para se defender das injustas e levianas acusações do lobby do amianto, ávido por manter a servidora e fiscal longe de suas atividades.
Tempo, energia e recursos são consumidos, desviando Fernanda Giannasi de seu trabalho irrepreensível na auditoria-fiscal e na gerência do projeto de erradicação do amianto no Estado de São Paulo.
Diante dessas ameaças, nós, entidades e pessoas reunidas na Rede Brasileira de Justiça Ambiental:
Esperamos que o Ministério do Trabalho respalde a servidora Fernanda Giannasi, no sentido de garantir a continuidade de seu trabalho, que dignifica a sua profissão e dá pleno sentido à fiscalização pública quando denuncia o amianto e as empresas que destroem a saúde dos trabalhadores e das suas famílias.
Solicitamos à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) que acompanhe com atenção o caso, disponibilizando todos os meios e mecanismos necessários à proteção de Fernanda Giannasi, bem como se faça mais presente em questões ligadas ao impacto de amianto, urânio, mercúrio, agrotóxicos e outros agentes e atividades que afetam profundamente pessoas e comunidades do entorno dos empreendimentos que os utilizam ou exploram, em seu direito elementar ao meio ambiente saudável e equilibrado.
Pedimos à Polícia Federal que, fiel à sua missão constitucional, instaure os procedimentos necessários para que seja feita uma investigação sobre as ameaças denunciadas aqui, no sentido de identificar seu(s) autor(es) e assegurar a devida proteção à cidadã Fernanda Giannasi, recorrendo, se necessário à Interpol, que já foi avisada da existência destas cartas anônimas, que ferem a dignidade da pessoa humana.
Solicitamos ao Ministério Público Federal, em sua condição de guardião da democracia, a apuração dos fatos relatados e as devidas providências no encaminhamento, acompanhamento e solução do caso.
Frente a certas empresas e certos setores sociais tão interessados na perpetuação do uso do amianto, que não hesitam em recorrer à manipulação de pesquisas, à chantagem do emprego e da eliminação de postos de trabalho, à criminalização dos que questionam o amianto e à violência, reafirmamos aqui nosso compromisso pelo total banimento do amianto e a nossa total solidariedade para com Fernanda Giannasi e as vítimas deste mortífero produto.
Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA)
Comentários
Amilton P. Corione
Eng. Amilton P. Corione
Tenho 68 anos e uma parte do pulmão esquerdo removido pelo manuseio de amianto. Comprovado pela Fundacentro e por perícia médica exigida pelo TRT de Guarulhos. Estou na função de Aposentado por Invalidez desde 2008 e afastado do mercado de trabalho desde janeiro de 2004. Eu ainda acredito que nós órfãos do amianto venceremos a vergonha nacional do lobby do amianto. Basta haver governo. Fernanda, você é um símbolo para mim e há de vencer todas as barreiras. Deus a abençoe !
ROMPATO
Total apoio a Fernanda Giannasi, chega de mortes causada por AMIANTO.
Mário SF Alves
Fernanda, por favor, siga adiante. Você é grande, e certamente teve e tem bons mestres e boas referências. Conte comigo. Esse estupro à vocação das terras (e à verdadeira economia agrícola) no Brasil precisa mudar. Existe mercado garantido para agricultura limpa – tanto orgânica padrão capitalista, quanto pré-capitalista – em qualquer canto do mundo, e nosso problema não é e nunca foi o da produtividade; ainda que não a desconsideremos como variável importante.
Mário SF Alves
Postei com endereçamento errado. Desculpem-me. Ainda assim aproveito a ocasião para emprestar meu apoio à causa da sensibilização do MTE no sentido de ampliar o horizonte de sua política de proteção do trabalho de seu quadro de pessoal, e neste caso, especialmente, ao da engenheira Ferananda.
assalariado.
Ah,se as centrais sindicais "dos trabalhadores" fossem/estivessem a serviço dos assalariados,será que estes servem para alguma coisa!… Afora manipular o assalariados no dia 1º de maio,sorteando automóveis,casas,…
Onde é que estes capitalistas do amianto moram mesmo? Que tal uma manifestação na porta da casa deles,como num passado recente,lembram-se?
Onde é que ficam suas empresas,para organizar os trabalhadores,a começar pelos perigos que correm quando da manipulação destes materiais,e denunciar para a sociedade e aos operários em que pé se encontra esta luta da fiscal do trabalho Fernanda Giannasi,alias,esta luta,não é so dela,tem que jogar/ abrir aos quatro ventos… Com a palavra as centrais e sindicatos "dos trabalhadores", pessoal e equipamento eles tem,de sobra,agora é uma questão de atitude…
Marcio Marucci
Total apoio ao trabalho da engenheira, e solidariedade à pessoa de Fernanda Giannasi, nessa batalha.
Aline C Pavia
"falta de parcialidade"? Está assim no original?
Conceição Lemes
Aline, vou consultar o pessoal da Rede Ambiental. Nós publicamos tal qual foi enviado. abs
Conceição Lemes
Aline, obrigada pelo alerta. Houve erro no original, que também já foi corrigido. bjs
Wilson R. Caveden
Todo apoio ao trabalho de Fernanda Giannasi na luta pelo banimento do amianto. A minha solidariedade a essa incansável batalhadora que já tive oportunidade de ver atuando contra aqueles que matam trabalhadores de forma lenta e permanente.
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