Presidente da Adusp: Articulação de frentes da Educação e Ciência contra ataques de Bolsonaro e Doria

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Foto: Renato Scardoelli/Assessoria deputada Beth Sahão

Presidente da Adusp defende articulação de frentes da Educação e Ciência para barrar ataques dos governos Bolsonaro e Doria

por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo

O professor de História e presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP), Rodrigo Ricupero, defende uma articulação entre as várias frentes que lutam em defesa da Educação e Ciência.

O objetivo é fortalecer os setores para o enfrentamento aos ataques que vêm sendo desferidos pelos governos Doria e Bolsonaro.

Ele apresentou a proposta durante a reunião da Frente em Defesa das Instituições Públicas de Ensino, Pesquisa e Extensão, que ocorreu em 12 de junho na Assembleia Legislativa de São Paulo.

“Estamos vivendo um processo de ataques dos governos federal e estadual acima do que se imaginava. Trata-se de uma brutal regressão. Um ataque civilizacional. Por isso, é fundamental a articulação conjunta para fazer esse enfrentamento”, enfatiza Ricupero.

Além do ataque contra o pensamento crítico, como o Escola Sem Partido, o docente ressalta que ocorre também uma agressão dissimulada.

A privatização da Universidade por dentro é um dos aspectos dessa investida contra o caráter público da Educação e da Ciência.

A Lei de Inovação é um forte dispositivo nessa empreitada. A pretexto de fortalecê-las atua justamente no sentido diametralmente oposto.

A busca de uma remuneração junto ao setor privado acaba descaracterizando a essência das instituições públicas, que deveriam ser voltadas a atender aos interesses da sociedade.

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A legislação incentiva, por exemplo, que os professores de universidades públicas façam parcerias com empresas privadas. Além de incentivar os docentes a também abrirem suas próprias empresas para fazerem essas parcerias.

Em contrapartida, a Universidade oferece seus laboratórios nas áreas de ciência e tecnologia para que essas empresas desenvolvam as pesquisas que lhes interessa.

O risco dessa operação está justamente em o setor privado se apropriar da estrutura da universidade pública e de seus professores e funcionários para fins particulares ao direcionar o que será pesquisado.

Na prática, os docentes que se envolvem nessas parcerias acabam se transformando também em uma espécie de funcionários dessas empresas que pagam pelas pesquisas que querem ver desenvolvidas.

O caráter público da Universidade e da Ciência são feridos de morte ao se submeterem ao lucro de quem paga pelo serviço.

Além disso, toda a pesquisa que esteja fora do escopo de interesses do setor privado estaria automaticamente condenada à míngua, já que a lógica da captação de recursos fora dos muros da Universidade passa a ser o definidor para a entrada de dinheiro para a pesquisa.

Essa mesma lógica de captação de recursos junto ao setor empresarial é a que está sendo pautada para os institutos de pesquisas paulistas.

O engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas, Joaquim Adelino Azevedo Filho, relembra que o governo já deu a dica de como isso deve funcionar.

“O Alckmin já havia dito que não precisaríamos mais pedir aumento, porque podíamos fazer parcerias com a iniciativa privada”, recorda Azevedo Filho, que também é dirigente da Associação dos Pesquisadores do Estado de São Paulo (APqC), que reúne 19 institutos públicos paulistas.

Assim como nas universidades públicas, o ataque ao caráter público dos institutos de pesquisa se dá em várias frentes.

Na semana passada, um projeto de lei do governador tucano João Doria foi aprovado pela Assembleia Legislativa concedendo ao setor privado, por 35 anos, o Zoológico, o Zoo Safári e o Jardim Botânico.

A APqC protestou no plenário, mas o texto do Executivo foi aprovado por 64 votos a favor e apenas 13 contra.

A presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, Cleusa Mantovanello Lucon, lamenta que os deputados tenham votado pela privatização.

Ela comenta que viu vários deputados entrando no plenário só para participar da votação.

“A maioria não sabia nem o que estava fazendo. Não sabia no que estava votando. Isso é decepcionante”, frisa Cleusa.

“Infelizmente é uma prática da Casa. O governo sinaliza no que devem votar (e os deputados governistas votam), diz a deputada Beth Sahão (PT), proponente da Frente em Defesa das Instituições Públicas de Ensino, Pesquisa e Extensão.

O médico e ex-deputado petista Carlos Neder, que também participou da reunião da Frente, explica o que motiva a decisão dos parlamentares a dizerem amém aos projetos do governador.

“As emendas parlamentares [recursos do orçamento que os deputados direcionam para suas bases eleitorais] funcionam como a moeda de troca”, esclarece Neder.

O espaço dentro da estrutura do Estado também é outro aspecto que motiva os deputados a serem fieis às orientações do governador.

“Votam alinhados com o governo por nacos de poder no Executivo e por emendas.”

Neder considera que a concessão do Zoológico, Zoo Safári e Jardim Botânico, que na prática significa suas privatizações, é o sinal de que isso pode se tornar uma prática corriqueira daqui em diante.

“(O governo) não vai parar por aí. Vai levar isso para outros institutos de pesquisa.”

O Instituto Butantan é um dos que está no alvo do governo. Há inclusive a proposta de desalojar o Hospital Vital Brazil de dentro do espaço Butantan, transferindo-o para as instalações do Hospital Emílio Ribas.

A medida gerou uma reação imediata do corpo médico do Hospital que manifestou a contrariedade com a possibilidade de transferência do Vital Brazil.

Os médicos encaminharam uma carta ao secretário de Estado da Saúde, José Henrique Germann Ferreira, e ao diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, relatando o desacordo com a possível mudança de instalações.

Os profissionais do Instituto Butantan, que lidam diariamente com animais venenosos também são contra a transferência. Eles seriam os principais atingidos pela mudança.

Algumas picadas necessitam de atendimento imediato para evitar o óbito da pessoa.

Por trabalharem na mesma área em que está localizado o Hospital Vital Brazil, os funcionários do Instituto Butantan têm pronto-atendimento em casos de acidentes com cobras e outros animais.

“O atendiimento rápido é decisivo para evitar o óbito de funcionários que são picados durante o trabalho”, explica a bióloga do Instituto Butantan, Patrícia Clissa.

Patrícia antecipa que a Associação de Pesquisadores Científicos vai solicitar uma reunião com o diretor do Instituto Butantan para que esclareça a transferência do Hospital Vital Brazil.

A população da região também está apreensiva com a possível mudança.

Assim como os médicos do Vital Brazil, a Rede Butantã, que reúne lideranças comunitárias, representantes de movimentos sociais e moradores da região, também enviou uma carta aos mesmos destinatários do documento encaminhado pelo corpo médico do Hospital, criticando a transferência do Vital Brazil.

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