Gerson Carneiro e Pedro dos Anjos: Interpretar a barbárie já não basta; é preciso confrontá-la antes que seja tarde demais!
Tempo de leitura: 3 minNo RJ, segurança do Extra sufoca e mata o jovem Pedro Gonzaga, 19 anos, e bolsonaristas destroem placa em homenagem a Marielle Franco. O de camisa da seleção é Daniel Silveira, eleito deputado federal pelo PSL-RJ. Nesta quarta, ele apresentou dois projetos de lei que tratam da “cessão compulsória de órgãos”, no caso em que o cadáver apresenta indícios de morte por confronto com agentes de segurança pública. Pela proposta, “a retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica” não precisará de autorização expressa familiar.
Interpretar a Barbárie Já Não Basta! É Preciso Confrontá-la!
Por Pedro dos Anjos, especial para o Viomundo
“[…] uma outra técnica crucial que Zweig identificou em Hitler e seus ministros: eles introduziram suas medidas mais extremas gradualmente –estrategicamente – a fim de avaliar como cada novo ultraje era recebido.
“Apenas uma única pílula de cada vez e depois um momento de espera para observar o efeito de sua força, para ver se a consciência mundial ainda digeria a dose”, escreveu Zweig. “As doses tornaram-se progressivamente mais fortes até que toda a Europa finalmente perecesse delas”. “When it’s too late to stop fascism, according to Stefan Zweig” [Quando é tarde demais para acabar com o fascismo, segundo Stefan Zweig, por George Prochnik, na New Yorker, em 06/02/2017
Um homicídio covarde, ato das trevas, foi cometido à luz do dia. E ninguém não fez nada não!
Um ser humano, treinado para trucidar, desabou mortiferamente sobre outro semelhante e ninguém não fez nada, não!
Um vigilante de aluguel, em circunstâncias obscuras, escolheu como alvo um jovem negro – apenas mais um na lista dos cabras pretos anônimos marcados pra morrer. E ninguém não fez nada, não!
Uma rede de supermercado contrata vigilantes paramentados à moda paramilitar, para intimidar, reprimir e – como vimos agora na Barra da Tijuca – até matar excluídos sociais que ousem adentrar suas dependências. E ninguém não faz nada, não!
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Uma chacina culposa ma non troppo no Ninho do Urubu e outra suspeitosamente dolosa no Fallet-Fogueteiro, ambas na maravilhosa cidade. E posteriormente quase ninguém não fez nada, não!
Um celerado deputado skinhead , com intelecto diametralmente oposto à sua farta musculatura, propondo o sequestro de órgãos de cadáveres tombados em dantescas ocorrências policiais. E quase ninguém não faz nada, não!
O mundo cada um de nós modifica a partir de onde a gente está.
Diante de atos de barbárie fascista devemos agir confrontando abertamente seus autores – na força e/ou na moral.
Serpentes já deixaram os ovos e temos que levantar a voz e agir pra combatê-las, antes que o Brasil pereça.
Até quando vamos aguentar esses brucutus?
por Gerson Carneiro, especial para o Viomundo
Desde quinta-feira, não me sai da cabeça a cena do segurança do supermercado Extra, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio Janeiro, que, com uma ”gravata’, sufocou e matou Pedro Gonzaga, de 19 anos.
No judô, aprendemos (para não usar) técnicas de sufocamento capazes de desacordar a vítima em cinco segundos.
O vigilante, além de despreparado, foi vaidoso e cruel. Babaca!
Em cinco segundos, você desacorda uma pessoa cortando o fluxo de sangue para o cérebro.
Ela volta ao normal, sem lembrar de nada, após cair completamente horizontalmente.
Mas é preciso ter conhecimento para aplicar a técnica de forma correta e, claro, sem se preocupar com exibicionismo.
Por que não estou presente nesses momentos?
Mostraria para esse porra como se faz! Sem precisar matar!
Quero passar por essa vida sem precisar revidar alguém na base da força, mas está difícil.
Em algum momento vamos ter que reagir para nos defender. Esse momento não está distante. Graças a eles.
Eu só quero paz.
Paz com voz. Sem medo.
Ao começar a escrever este texto eu pensei muito no Moa do Katendê, assassinado com 12 facadas nas costas por um bolsonarista por dizer que tinha votado no PT.
É uma sucessão de tragédias da mesma natureza: banalização da vida humana.
Na época, o jornalista Ricardo Boechat classificou como ”bobagem” a morte de Moa.
Durante programa na BandNews, ele comparou o crime que vitimou Moa com cenário nacional: ”Tem um capoeirista morto, mas somos 200 milhões de pessoas”.
Até quando vamos aguentar esses brucutus?
Comentários
Otto
Fato lamentável, que deve ser punido com todo o rigor. Contudo, observo a indignação seletiva do Viomundo: quantos atos de barbárie são cometidos pela ditadura venezuelana, além das tiranias africanas e asiáticas que o Lula e demais petistas admiravam (ou ainda admiram, vai saber…).
Edgar Rocha
Caro Gerson, tudo bem? Sempre excelente matéria!
Não pretendo ser irônico com o que vou dizer. A melhor coisa que os brucutus podem fazer neste momento é classificar a todos que deles discordam de vagabundos.
O brasileiro sempre teve pudor moral em relação à desobediência civil. Não só pudor moral, convenhamos. O medo de ver o Sol nascer quadrado também é bastante persuasivo. Se você for pobre, as implicações de uma detenção são irreversíveis.
Mas, de que adiante sublimar as injustiças se isto não te garante o mínimo de dignidade ou pelo menos, integridade física? Obedecer a “otoridade” no Brasil não é questão de cidadania ou respeito. É questão de medo. Não se trata de preservar a ordem social. Trata-se apenas de salvar a própria pele diante do direito ao abuso dos agentes institucionais.
O brasileiro já não pode mais confiar nem em instâncias superiores, nem na imprensa para reagir diante de uma atitude abusiva. Somos todos tratados como “vagabundos” por qualquer zé mané que se veja amparado minimamente por uma carteirada ou pelas costas quentes. Nas periferias, qualquer peixinho de policial corrupto posa de autoridade e chega até a exercer poder de morte, com a legitimação de um Estado que abertamente autoriza e corrobora a quem lhe dá algum respaldo social. “Quem mandou enfrentar bandido? Tem que morrer mesmo. Tá pedindo”.
Para muitos, ser chamado de vagabundo é o equivalente a levar um tapa na cara. Mesmo um crápula como Brilhante Ustra declarava que, em caso de tortura, quando se bate na cara de alguém, é porque não se pretende deixa-lo viver. Em caso de tortura psicológica, jamais se deve fazer isto, sob pena de ganhar um inimigo e não conseguir se arrancar nenhuma informação.
Vamos ver até quando o povo vai aguentar esta lógica do abuso.
Abraço.
Zé Maria
E absurdamente o Delegado de Polícia Civil do RJ
enquadrou o Crime como Homicídio Culposo
(quando não há a intenção de matar).
Na realidade, todo mundo viu que o Assassino
se utilizou (mal) de uma suposta técnica de MMA
para intencionalmente matar, por Asfixia,
esganando a Vítima indefesa no Chão.
Foi Homicídio Qualificado, por Motivo Fútil,
Doloso e Desproporcional, por Mero Exibicionismo.
Zé Maria
Apontadas como suspeitas pela execução de Marielle,
milícias atuam no Rio sem serem incomodadas
Grupos de ex-policiais militares e agentes da Segurança na ativa não foram confrontados pela Intervenção Federal, garantindo expansão dessa força paralela.
Dois milhões de pessoas vivem em áreas sob seu controle
| 20 Mar 2018 | Reportagem: Jean Alessi | El País Brasil |
Uma eminência parda controla territórios no Rio de Janeiro onde vivem mais de 2 milhões de pessoas, segundo estimativas do portal G1. São as milícias, grupos formados por ex-policiais civis e militares, agentes penitenciários e também membros das Forças de Segurança ainda na Ativa.
A atuação destas organizações paramilitares voltou à tona após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes no dia 14 de março [de 2018].
Embora a polícia ainda não tenha identificado nenhum dos assassinos, o nível de profissionalismo da emboscada e as reiteradas críticas feitas pela parlamentar à atuação da polícia e à intervenção federal jogam a suspeita sobre grupos milicianos.
Especialistas ouvidos pelo EL PAÍS afirmam que nas últimas décadas
muito pouco foi feito para controlar estes grupos,
que colocam em risco a democracia nos territórios em seu poder
e já elegeram Vereadores e Deputados Estaduais…
A intervenção federal não incomodou os milicianos.
O grosso das operações do Exército no Rio
teve como foco principal áreas dominadas pelo tráfico.
Para o sociólogo Ignácio Cano, da Universidade Federal Fluminense,
o enfrentamento feito pelo Estado contra os grupos paramilitares
foi insuficiente.
“As milícias são um câncer no Rio.
E embora tenham provocado resposta do Estado, depois de 2008,
foi insuficiente”, afirma o professor.
“Quando o Estado age contra o tráfico, ele [o Estado] lança mão de uma lógica militarizada de ocupação da comunidade.
Mas com relação às milícias não ocorre isso:
eles investigam, podem até prender alguns,
mas não tem a lógica de retomada do território”.
O combate à atividade das milícias exige estratégias diferentes
das utilizadas contra o tráfico.
“Para enfrentar as milícias é preciso um trabalho de inteligência para arregimentar provas e denunciar.
É difícil o flagrante, uma vez que eles atuam de forma bem organizada”,
diz Michel Misse, professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e fundador do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana.
“Infelizmente o trabalho de inteligência das polícias
é um dos pontos fracos da atuação delas.
Prova disso é que 90% dos presos no Brasil
foram detidos em flagrante pelas Polícias Militares, ou seja,
são prisões que não dependem de investigação alguma”, afirma.
O combate às Milícias também esbarra no Corporativismo
das Forças de Segurança, tendo em vista que muitas vezes
o Miliciano é Colega de Farda de quem deveria prendê-lo.
Na prática, afirma a Pesquisadora da Universidade Estadual do Rio,
Alba Zaluar, “onde existe uma possibilidade de lucro
os milicianos agem”.
“Eles acabam controlando as associações de moradores das comunidades,
o que facilita o controle sobre os serviços no bairro”, diz a professora.
Além da atuação nas comunidades, uma marca dos Milicianos
é a Tentativa de infiltrar Candidatos na Política,
tarefa na qual os traficantes nunca conseguiram muito êxito.
Desde 2007, Vereadores da Capital Fluminense e Deputados Estaduais
já foram presos por envolvimento com os Paramilitares –
dentre eles Cristiano Girão, eleito vereador pelo PMN e preso em 2009,
a vereadora Carminha Jerominho (PTdoB), filha de Jerônimo
Guimarães Filho, o Jerominho, vereador que também foi preso
e condenado a 14 anos de prisão por seu envolvimento
com a Milícia do Bairro Gardênia Azul.
Mas as milícias aprenderam com os erros.
Se antes eram os líderes dos grupos que tomavam a frente
no processo eleitoral, as prisões recentes ensinaram aos paramilitares
que a melhor estratégia é ficar em segundo plano,
indicando Laranjas como Candidatos e praticando o chamado Curral Eleitoral.
O professor Misse aponta que “há uma afinidade ideológica
entre os milicianos e alguns candidatos da extrema direita”,
o que poderia fazer com que os paramilitares apoiem essas candidaturas.
Os Candidatos que não agradam aos Milicianos podem acabar
se tornando Alvos: de 2015 até hoje ao menos 13 Postulantes
a uma Vaga na Câmara Municipal foram Mortos, grande parte deles
em Áreas Controladas pelos Paramilitares.
Os Grupos Milicianos são famosos pela Violência com que agem.
O caso mais famoso foi o Assassinato, em agosto de 2011,
da Juíza Patrícia Acioli. Ela foi vítima de uma Emboscada quando chegava em sua casa, em Niterói.
A Magistrada foi Alvejada com 21 Tiros, e morreu no local.
Ela era uma rigorosa combatente dos excessos cometidos por policiais e milicianos, tendo condenado dezenas de agentes estatais corruptos.
Onze Policiais Militares Ligados a Grupos Paramilitares
foram Condenados pelo Assassinato de Patricia Acioli.
íntegra: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/19/politica/1521481656_961928.html
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