Pedro Carvalhaes: O lançamento de uma flor de lótus, “O Lodo”, de Helvécio Ratton
Tempo de leitura: 3 minPor Pedro Carvalhaes*, especial para o Viomundo
Diz-se, na mítica budista, que a flor de lótus, símbolo maior da pureza e da mente que alcançou o Nirvana, nasce do lodo, matéria curiosamente impura.
É a metáfora para ilustrar a moral do credo oriental, segundo o qual a iluminação que conduz a um estado de paz mental necessariamente decorre dos sofrimentos, qual a flor de lótus nasce do lodaçal.
“O Lodo”, o mais recente filme do cineasta mineiro Helvécio Ratton, que estreou dia 13 de abril nos cinemas brasileiros, não trata de filosofia ou religião, mas sim de psicanálise — incluindo aí as zonas de congruência entre a mesma e essas suas primas mais velhas.
Psicólogo de formação, e estreante como diretor, nos anos 70, em “Em Nome da Razão” (documentário-denúncia sobre as atrocidades da cultura manicomial, no Hospício de Barbacena), Ratton pisa num terreno que não lhe é estranho, utilizando como mapa o estranhíssimo universo fantástico do escritor mineiro Murilo Rubião (1916-1991), autor do conto do qual o longa é magistralmente adaptado.
Na trama, Manfredo, funcionário de uma companhia de seguros vivente de uma vida mediana e neurótica, em Belo Horizonte, decide procurar pelo psiquiatra Doutor Pink.
Instado pelo pitoresco médico a revisitar seu passado, que desperta instantaneamente no paciente a culpa católica tão tradicionalmente mineira, Manfredo resolve abandonar o tratamento, ignorando o alerta de Pink: a presença, dentro de si, de um enorme lodaçal, responsável por sua depressão.
Talvez numa metáfora sobre a impossibilidade de se fugir de si mesmo e das mazelas que afligem a mente, Pink e sua secretária passam a perseguir Manfredo de diversas formas.
Desde insistentes ligações telefônicas, emboscadas ao paciente na rua e até mesmo nos seus sonhos, quando as fronteiras que dividem a realidade e o delírio ou a neurose e a psicose são rompidas, tornando a trama um intrigante e cômico thriller, que faz jus não apenas à literatura fantástica de Rubião, como também à ficção de mestres como Edgar Allan Poe e Kafka.
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Em sua surreal fuga do psiquiatra e do enfrentamento de seus recalques, Manfredo chega inclusive a ser processado para pagar pelo tratamento que dispensou — numa cena de julgamento que só não soa ainda mais deliciosamente absurda em função da realidade ter “brindado” o Brasil com a Lava Jato e suas condenações sem provas e sem jurisdição.
Do ponto de vista técnico, a produção é impecável. Tudo contribui para que a obra proporcione uma experiência cinematográfica da melhor qualidade — e para que, desde já, figure entre os melhores filmes do seu realizador.
Absolutamente tudo encanta: do roteiro (preciso, rico e envolvente) assinado por Ratton e L.G. Bayão às interpretações (espirituosas e minimalistas) dos atores do consagrado Grupo Galpão, passando pela fotografia soturna e a montagem afiada, até a direção experiente e segura do diretor mineiro.
Não obstante, por ironia do destino, para chegar aos cinemas a produção passou por percalços tão surreais quanto os enfrentados por seu protagonista.
Da pandemia (que coincidentemente fez explodir a busca por saúde mental entre a população, e acabou levando a uma demora de quase 3 anos para o lançamento da obra) ao desmonte da Cultura por Temer e a perseguição do governo Bolsonaro ao audiovisual nacional — num enredo que nem Murilo Rubião poderia imaginar, e tampouco Freud explicar.
De todo modo, ao fim e ao cabo, o lançamento de uma flor de lótus como “O Lodo”, após o verdadeiro lodaçal que tomou conta do setor cultural brasileiro nos últimos anos, não deixa de soar como um prenúncio de que um caminho mais iluminado está se apresentando para a nossa economia criativa.
Como na ficção, talvez Bolsonaro e o bolsonarismo tenham sido o lodo que o Brasil e os brasileiros precisaram revisitar na vida real para extirpar suas subjetividades mais recônditas e imorais, rumo à cura de uma antiga e aflitiva neurose, qual o protagonista do novo filme de Helvécio Ratton.
*Pedro Carvalhaes, graduado em Direito pela UFMG, é roteirista.
Comentários
Zé Maria
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Grupo GEF (Globo, Estadão, Folha) borbulha no Lôdo.
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https://pbs.twimg.com/media/Ft7MjqeWcAMJO_q?format=jpg
“Parece somente uma notícia de rotina, né?
Mas não é.
Há muita coisa que se pode perceber tanto pelo que tá dito
quanto pelo que não está dito… no Tweet do setorista militar
e na matéria (é dele?).
Fica claro q o jornalista e o jornal onde trabalha consideravam
‘generais e pastores’ mais interessantes aos negócios de classe!
Aliás, o que há de errado em sindicalistas ligados ao Partido
dos Trabalhadores gerirem um Fundo de pensão de trabalhadores
(servidores aposentados de uma estatal)?
A falsa equivalência (generais/pastores x sindicalistas/Partido)
desnuda a ideologia que tentam esconder na “notícia”!
Demonstra, também, que a Imprensa em geral naturaliza o Partido Militar
(ao fazer aquela falsa e perigosa equivalência) e o que ele significa:
o protagonismo político de cúpulas hierárquicas das Forças Armadas –
especialmente as que atuam em prol dos …
interesses das classes ‘superiores’.” [leia-se: ‘Elite do Atraso’]
https://twitter.com/marcelopjs/status/1647979433662226434
Zé Maria
Ressurgindo do Lodo da Calúnia e da Difamação,
Grupo GEF (Globo, Folha, Estadão) ataca Lula.
“URGENTE!!
O dr Zanin foi vítima de EXTORSÃO por meio do advogado
de uma ex-empregada doméstica que ameaçou inventar
1 estória pra FOLHA pra atacá-lo.
Ele não aceitou e a Folha postou uma matéria sem pé
nem cabeça hoje!!
Está desmascarada a SUJEIRA DA IMPRENSA!!
Que nível baixo!”
https://twitter.com/ThiagoResiste/status/1647586998054428673
“Se eles [do Grupo GEF] estão com medo,
é porque Zanin é o homem certo para o STF.”
https://twitter.com/ACelso13/status/1647646033575280643
Zé Maria
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A Folha é o Lótus d’onde não nasce flor nenhuma.
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“Folha se dá mal ao aceitar publicar estória inventada sobre Zanin
por ex-babá, cujo advogado tentou extorqui-lo em 35 mil reais
https://urbsmagna.com/folha-se-da-mal-ao-aceitar-publicar-estoria-inventada-sobre-zanin-por-ex-baba-que-quis-extorqui-lo/
“Ao tomar conhecimento que Zanin era um dos nomes indicados ao STF,
na semana passada, um dos advogados que levava o caso da babá pediu
R$ 35 mil ao escritório de advocacia de Zanin para não levar o caso
à imprensa, relatando ainda que havia sido procurado pela Folha de S.Paulo
e pelo portal Terra.” [SIC]
https://jornalggn.com.br/politica/extorsao-da-baba-a-zanin-as-vesperas-de-nomeacao-ao-stf/
“Folha dobra aposta contra Zanin,
o mais provável indicado de Lula
para o Supremo Tribunal Federal”
https://www.plantaobrasil.net/news.asp?nID=132393
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Zé Maria
“Após tentarem rezar na Basílica do Santo Sepulcro,
Cristãos são atacados por policiais israelenses,
em Jerusalém.
Marque seu amigo cristão com bandeirinha de Israel
no perfil.”
https://twitter.com/historia_pensar/status/1647349283287384067
Zé Maria
https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/images/8f55784a0a3521bf7c9fd99f15797689
Há exatos 52 Anos morria o Empresário Sádico Henning A. Boilesen
Aleluia, Camaradas?
Amém!
Há 52 anos, em 15 de Abril de 1971, o empresário sádico
Henning Albert Boilesen, então presidente do Grupo Ultra
– e da FIESP – foi alvejado com 19 tiros na esquina da Rua
Barão de Capanema com a Alameda Casa Branca, no bairro
paulistano dos Jardins.
Nascido na Dinamarca, Boilesen se mudou para o Brasil
na década de 30, estabelecendo uma bem sucedida
trajetória empresarial.
Figura de destaque da alta sociedade paulistana, foi
presidente do Rotary Club e um dos fundadores do Centro
de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Nos anos 60, assumiu a presidência do Grupo Ultra –
conglomerado atuante nos setores de distribuição
de combustíveis, do qual fazem parte empresas
como a Ultragaz e os postos Ipiranga.
Também integrou a diretoria da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
Foram as atividades políticas de Boilesen, entretanto,
que o tornaram bem conhecido no país.
Anticomunista fervoroso, Boilesen foi um apoiador
entusiasmado do golpe de 1964 e da ditadura militar,
justificando o Estado de exceção como uma medida
necessária para impedir a alegada “cubanização”
do Brasil.
Foi um dos primeiros executivos a contribuir financeiramente
com o aparato repressivo da ditadura militar, ajudando a
financiar a Operação Bandeirante (OBAN).
Criada em junho de 1969 e custeada com doações do
empresariado paulista (sobretudo por integrantes da FIESP),
a OBAN era uma unidade de repressão incumbida de perseguir,
torturar e assassinar opositores do regime militar.
Seu integrante mais conhecido foi o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, então Capitão do Exército, à época conhecido
como Major Tibiriçá que, entre 1970 e 1974, chefiou o DOI-Codi
do 2º Exército, em São Paulo.
Além de contribuir financeiramente com a OBAN, Boilesen arregimentava
outros empresários para patrocinarem a iniciativa, coordenando
a principal rede de financiamento do aparelho repressivo.
Boilesen era amigo pessoal de vários torturadores e agentes
da repressão — nomeadamente de Sérgio Fleury, delegado
do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
Também era próximo da cúpula do regime, em especial do então
Ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, e atuou como informante
da Agência Central de Inteligência (CIA) do Governo dos Estados
Unidos da América (EUA).
A lealdade ao regime militar rendeu frutos financeiros ao empresário
dinamarquês.
Boilesen foi agraciado com contratos multimilionários do governo
federal ao longo da Década de 1960.
Seu apoio à repressão, entretanto, ultrapassava a esfera
do fanatismo ideológico ou do interesse econômico.
Boilesen era conhecido pelo seu sadismo.
O empresário tinha o hábito de frequentar as instalações da OBAN
para assistir pessoalmente o suplício dos presos políticos e acompanhar
as sessões de tortura, espancamentos e assassinatos.
Também seguia o amigo Fleury nos “interrogatórios” dos porões
do DOPS.
Boilesen chegou a importar dos Estados Unidos um instrumento
de tortura que soltava descargas elétricas crescentes, para
contribuir
com o aparato repressivo da OBAN — a infame “Pianola Boilesen”.
A participação de Boilesen no financiamento da repressão levou
a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário
Tiradentes (MRT) a elaborarem um plano para executá-lo.
Assim, em 15/04/1971, o Sádico Boilesen foi encurralado pelos
MIlitantes Armados na esquina da Alameda Casa Branca e
alvejado com 19 tiros ficando estirado no chão.
A imprensa [pra variar] tratou o assassinato de Boilesen como
um episódio de ‘terrorismo da esquerda’ e o retratou como
uma ‘vítima inocente’, em reportagens recheadas de epítetos
como ‘empresário imbuído de espírito cívico’, ‘pai de família’, ‘cidadão de bem’ e ‘torcedor fanático do Palmeiras’.
Uma rua em São Paulo, inclusive, foi batizada em sua homenagem.
Pensar a História (@historia_pensar)
https://twitter.com/alecarlosaguiar/status/1647348889756762118
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