13/2/2011
por Margareta Pagano, The Independent, coluna “Business”
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
A Google apoiou um de seus empregados que teve papel destacado nos protestos do Egito, mas outras empresas de telefonia móvel e provedoras de serviços de Internet obedeceram imediatamente às ordens do governo e desligaram aparelhos e conexões.
Quem não assistiu à entrevista de Wael Ghonim, logo depois de sair da prisão, onde permanecera por 12 dias, detido secretamente, assista (em http://www.youtube.com/watch?v=_90dK1X0KBY&feature=fvw).
Na entrevista, transmitida pela Dream TV, Ghonim irrompe em lágrimas, ao ver fotos de alguns dos mortos nas duas semanas de confronto, repetindo várias vezes “Não somos traidores”. Quem vê chora também.
E foi a explosão emocional do jovem executivo da Google – combinada à sua sempre crescente campanha – que arrastou ainda mais manifestantes para a praça Tahrir no dia seguinte, para manter a pressão até a renúncia do presidente Mubarak.
Até aquela entrevista, a maioria dos egípcios ainda não sabia que Ghonim, da Google, era uma das forças que ajudaram a acender os primeiros protestos do 25 de janeiro – a “6ª-feira de fúria”.
Primeiro, Ghonim montou uma página anônima no Facebook, para homenagear Khaled Said, um jovem empresário de Alexandria espancado até a morte por dois policiais em junho passado, e ajudou outros grupos de oposição a construir seus sites em redes sociais. A página de Ghonim rapidamente se converteu em “canal de informação” – um ponto de encontro e organização para a campanha – inicialmente contra as brutalidades dos policiais. A maioria dos egípcios não conheciam o muito disseminado uso da tortura no país, até que as notícias começaram a circular pela rede. E essa transparência permitiu a todos ver por trás das telas, o Egito verdadeiro, mas até então oculto, e isso deu alcance muito maior ao levante.
Só a história mostrará se Ghonim teve papel decisivo como catalisador da crise que afinal derrubou o presidente do Egito. Mas não há dúvida de que há aí um personagem fascinante; revolucionário romântico, com pequeno cavanhaque, filho de família rica, graduado e com duas pós-graduações (engenharia de computação e administração de negócios), elegante, bem vestido, um geek hi-tech, além de ciberativista. É casado com uma americana e vive em Dubai, onde dirige o setor de marketing da Google para o Oriente Médio e Norte da África e de onde iniciou sua campanha pelo Facebook; Ghonim só chegou ao Cairo dois dias antes da 6ª-feira que sua campanha chamara de “6ª-feira de fúria”. Em poucos dias, o número de membros de sua página subira de 90 mil para cerca de 300 mil.
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O papel de Ghonim na “revolução 2.0” como ele a chama levanta também outras questões sobre as relações entre um empregado que se envolve em papel tão central em campanha política tão ampla, e seu empregador. Para sorte de Ghonim, a Google é uma das maiores e mais poderosas empresas do mundo, fato que muito ajudou quando a própria empresa anunciou o desaparecimento de seu funcionário, visto pela última vez sendo arrastado por membros da polícia secreta. Em entrevista, a Google disse-me que está felicíssima por Ghonim ter sido libertado e estar bem, e que muito se orgulha de seu empregado ter “tomado posição”. Nem todos os patrões seriam assim tão abertos e dispostos a apoiar um empregado militante.
Outra questão a ser também analisada é o comportamento das empresas de telefonia celular e os provedores de serviços de internet, que desligaram todos os equipamentos no Egito (e também na Tunísia), obedecendo as primeiras ordens de governos ditatoriais e quebrando contratos com os consumidores, logo à primeira ordem que lhes chegou do governo. Muito se tem falado do extraordinário poder das páginas Facebook, telefones celulares e Twitter, na divulgação das palavras de ordem e de protesto, e não surpreende que a Google, com a Facebook, já circulem como aves predadoras à volta da Twitter, avaliada em cerca de 10 bilhões de dólares.
Mas o governo egípcio conseguiu calar quatro redes de telefonia celular e os provedores de serviços de Internet e manteve todos calados por cerca de cinco dias (o Senado dos EUA discute lei que dará ao Estado poderes semelhantes a esses que o governo Mubarak exerceu). Muito mais interessante, contudo, é que os manifestantes conseguiram meios para superar todas essas dificuldades. Segundo Renesys, que monitora os acessos à internet em tempo real, o país inteiro desabou. Cerca de 3.500 rotas “border gateway protocol” caíram, deixando o país praticamente desconectado do mundo; única exceção foi o Noor Group – servidor que atende a Bolsa de Valores do Egito.
A principal empresa operadora de telefonia móvel é, de longe, a Vodafone Egypt, cujo acionista majoritário é a gigante British Telecoms, com mais de 28 milhões de usuários-clientes de telefonia celular e serviços de banda larga – e que distribuiu mensagens entre seus clientes, por ordem do governo, mandando não sair de casa e não participar dos protestos.
Vodafone defendeu essa decisão, dizendo que se tratava de motivo de força maior, e que, se a empresa não obedecesse, as autoridades teriam obtido o mesmo resultado, acionando, diretamente a base “kill station”. Se isso tivesse acontecido, alegou a empresa de telefonia celular, seriam necessárias semanas, depois, para religar todos os serviços. Pode-se dizer que a Vodafone é tão vítima, nessa relação, quanto os consumidores – e teve prejuízos de mais de $100m. De fato, é mais que hora de as empresas reverem o risco político de associarem-se a regimes políticos voláteis.
Os manifestantes também contornaram a queda dos sistemas usando servidores DNS – Domain Name System – não oficiais, que funcionam como “guias telefônicos” para a internet, traduzindo nomes de computadores hospedeiros para endereços de Protocolo Internet (IP), o que permite acesso fora do país. Tweets pediam a quem estivesse conectado, via Wi-Fi, que retirasse as senhas, para que todos pudessem ter livre acesso. Outros usaram velhos modems discados para enviar suas mensagens.
Os mais ricos foram poupados dessas dificuldades, porque todos usam os últimos modelos de aparelho de telefonia por satélite – modelo que se conhece associado aos James Bonds do cinema – que custa cerca de $1,000 e é vendido por empresas de telefonia por satélite como a Inmarsat. Aí está um item que pode se tornar indispensável para as massas árabes, e as tornará imunes a qualquer desligamento ‘oficial’ de telefones e internet.(…)
Comentários
Marat
Golpe de estado no Nãoseilaquistão – um patrocínio do Google e do governo dos EEUU – rsrsrs
O_Brasileiro
As novas "mídias sociais" não tem "editorias" para filtrar/moderar tantas mensagens, como acontece, por exemplo, na mídia golpista no Brasil, que só mostra o que lhe interessa, do jeito que lhe interessa!
Bonifa
"De fato, é mais que hora de as empresas reverem o risco político de associarem-se a regimes políticos voláteis." Portugal, por exemplo, está a suar frio. Acreditou piamente que o sistema ocidental de sustentação de ditaduras fosse inabalável (E eterno, para os que acreditaram que a História havia morrido) e investiu pesado na Tunísia, a ponto de, embora país pequeno, tornar-se ali o quarto investidor internacional.
Gustavo Pamplona
Bom… eu tinha explicado para vocês outro dia sobre a queda dos servidores de DNS do Egito e até tinha colocado este link da ICANN explicando tudo. E até disse que o Mubarak muito provavelmente mandou desligá-los.
http://blog.icann.org/2011/01/status-report-on-th…
Mas caso o problema não seja de servidores DNS derrubados (ou mesmo desligados) ainda mais de TLD's (Top-Level Domains – caso do Egito) vocês podem tentar servidores proxy anônimos ou sites que provem serviços de proxy e que agem como se você estivese navegando de outro país.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Proxy
Existem vários deles na Internet… eu por exemplo… quando quero navegar anonimamente, uso adoidado.
Klaus
Estes caras que criaram Twitter, Facebook, Google, Youtube e etc. deram ao povo armas mais revolucionárias que Che Guevara tenha sequer imaginado um dia ter a sua disposição. Por isto o medo de ditaduras, à direita e à esquerda (sim, elas existem) da internet. Estes garotos (que criaram estas redes sociais) estarão um dia no panteão dos grandes da humanidade, junto a Thomas Edson, Gutemberg e outros inventores.
Fernando
Aquela blogueira Generation Y sei lá que quer dar o golpe em Cuba agora é colunista de O Globo.
Temos que ter muito cuidado com a internet, pois a direita também se serve dela.
Klaus
Uai, em Cuba é golpe? Por que? Lá não é ditadura também?
Juanito
Não, Cuba é uma república socialista.
Mas, o PIG disse que é ditadura, disse que é do mal… uuuuuuuuuuuuuuuuuuu
Então a gente passa a bola pra frente e não vai atras de mais informação né Klaus?
Basta de papagaio de telejornal!
Klaus
Juanito, por favor, me dê, em poucas palavras, uma aula sobre as diferenças básicas entre a ditadura egipcia e o governo democrático socialista cubano, centrados, principalmente, sobre a liberdade de imprensa, a possibilidade de se ter uma oposição democrática ao governo e a liberdae de viajar ao exterior. Explique também porque ao contrário do governo egipcio, que pretendia que o governo passasse da pai pra filho, passar o governo para o irmão não é errado. Queria saber também como é o acesso a internet e às redes sociais (não socialistas) em Cuba. Como só leio o Pig, não sei nada sobre isto.
Ⓐnti
Porque responder centrado no que interessa exclusivamente a sustentação da sua afirmação?
Porque não responder sobre a vida cubana antes do Castro?
Porque não responder que Cuba era o paraíso dos "mobsters"?
Porque não falar sobre a prostituição e analfabetismo na época do Batista?
Porque não comparar a opressão direta pela política do Estado, à opressão por quem se beneficia diretamente da máquina estatal?
Aliás, opressão estatal a parte, porque não comentar também sobre o embargo econômico imposto há 49 anos à ilha? Aí você pode discutir também sobre as benesses do sistema econômico egípcio há 30 anos no poder. E em particular sobre economia, que pelo jeito cada vez tem menos a ver com humandade. Que tal? Melhor do que usar truques dialéticos de retórica e discurso para sustentar sua visão neoliberal de mundo…
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