7/11/2010
por Patrick Cockburn, The Independent, UK
Tradução de Caia Fittipaldi
Anwar al-Awlaki, o clérigo islamista militante, atualmente escondido no Iêmen, foi denunciado por EUA e Grã-Bretanha como arquiconspirador contra o Ocidente. Simultaneamente, centenas de vídeos em que aparece pregando e em entrevistas em inglês, foram removidos do YouTube.
Awlaki, pregador eloquente, está sendo acusado de radicalizar o discurso de Roshonara Choudhry, a estudante de teologia que esfaqueou o deputado inglês Stephen Timms por ter votado a favor da invasão ao Iraque. Awlaki teria tido contato também com militantes muçulmanos que depois atacaram alvos norte-americanos, como o estudante nigeriano preso com explosivos costurados às cuecas e o soldado dos EUA que matou a tiros 13 soldados de sua companhia no Forte Hood.
Nos vídeos de Awlaki que permanecem no YouTube, quase todos excertos de seus discursos transmitidos pela televisão norte-americana, sua mensagem continua assustadoramente clara. Em voz suave e controlada, Awlaki conta que nasceu nos EUA onde viveu até os 21 anos e formou-se como pregador islâmico, sempre pregando a não-violência; até a invasão ao Iraque, em 2003. A invasão do Iraque o converteu em apóstolo da guerra jihadista contra os EUA: “Acabei por ter de concluir que, depois da invasão ao Iraque, a Jihad passou a ser dever de todos os muçulmanos.”
Awlaki foi denunciado como “terrorista assassino” e como um dos líderes da al-Qa’ida na Península Arábica, mas o motivo principal de sua significativa influência é que é hoje o único líder jihadista capaz de expor com clareza e racionalidade a ideologia de uma guerra jihadista, em perfeito inglês norte-americano. As falas de Osama bin Laden são quase incompreensíveis no ocidente, e as dos líderes da al-Qa’ida no Iraque e no Paquistão raramente passam de catilinária sectária.
Diferente de todos esses, Awlaki, nascido no Novo México e extremamente culto, jamais eleva o tom de voz, e fala em tom que os norte-americanos conhecem bem, por ser típico de outros pregadores religiosos que pregam pela televisão. Fala firme e dirige-se ‘pessoalmente’ a cada um dos que o ouçam, citando eventos políticos atualizados e incidentes da vida diária, como seus casos exemplares. Num dos vídeos, ilustrado com fotos de muçulmanos em guerra, no qual Awlaki argumenta para mostrar aos muçulmanos os riscos que o Islã enfrenta hoje, o pregador ainda é bem jovem. O Afeganistão e o Iêmen do Sul foram dominados pelos comunistas; e o Iraque e o movimento palestino por nacionalistas. Seu principal argumento é que esses inimigos do Islã também já foram derrotados por uma Jihad vencedora.
O que mais alarma os governos dos EUA e da Grã-Bretanha é que as palavras de Awlaki são dirigidas, sobretudo, aos muçulmanos falantes de inglês. Ele pergunta como os muçulmanos dos EUA podem ser leais a um país que está em guerra contra o Islã. Também soa alarmante, para os que estejam sob risco de converter-se em alvo dos jihadistas, que os que abracem a luta jihadista pregada por Awlaki podem chegar a isso sem qualquer contato anterior com movimentos militantes, o que cria o risco de ataques absolutamente imprevisíveis. Choudhry, que cumpre prisão perpétua depois do ataque ao deputado Timms, é filha de imigrados de Bangladesh e cidadã britânica. Jamais manifestara posições extremistas, até que passou a visitar websites islâmicos.
Awlaki é absolutamente diferente dos mais conhecidos líderes e porta-vozes da al-Qa’ida, cujas bases localizam-se nas áreas tribais do noroeste do Paquistão e em áreas de árabes sunitas no Iraque. Em claro contraste com a argumentação sofisticada de Awlaki, a favor da Jihad contra os EUA e seus aliados, os líderes, porta-vozes e combatentes da al-Qa’ida no Iraque sempre focam seus discursos em ataques contra a maioria xiita, que veem como infiéis. O Talibã paquistanês, fortemente influenciado pela al-Qa’ida, concentra seus ataques contra os que não professam o mesmo ramo do islamismo sunita.
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Fontes da segurança saudita dizem que voluntários estrangeiros de todo o mundo muçulmano, sobretudo da Arábia Saudita e do Iêmen, que supõem que estejam imigrando para o Iraque para combater as tropas da ocupação norte-americana, acabam convertidos em homens-bomba, em ataques contra supermercados e mesquitas xiitas. Só essa semana, houve mais de 100 mortos em ataques coordenados contra áreas xiitas de Bagdá.
A Al-Qa’ida sobreviveu ao massacre coordenado contra ela pelos EUA e aliados desde 2003, em larga medida porque existe mais como uma ideologia e um conjunto de atitudes, do que como movimento organizado que possa ser localizado e dizimado. A política dos EUA, de assassinar sistematicamente os líderes da Al-Qa’ida, tem impacto limitado, porque a força do movimento está em sua estrutura de rede, pulverizada em inúmeras ‘franquias’ locais, para a maioria das quais a Jihad contra os EUA não é o objetivo imediato. Se fosse, seus ataques seriam ainda mais devastadores, porque no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão há milhares de quadros jihadistas treinados e experientes, tanto na fabricação de bombas quanto na logística de fazer as bombas chegarem aos alvos.
O governo e a mídia nos EUA estão agora em processo de demonizar Awlaki, e provavelmente exageram a influência que tenha, apontando-o como inspiração para os ataques no Iêmen, onde estaria localizada a nova base central da al-Qa’ida.
De fato, como também aconteceu no Iraque, a al-Qa’ida voltou a se reorganizar e fortaleceu-se no Iêmen, sobretudo, porque se associou a grupos que já faziam oposição ao governo central. No Iêmen, a oposição cresce no sul (ex República Popular Democrática do Iêmen) que se uniu ao norte (República Árabe do Iêmen), em 1990. O governo central, na capital Sanaa, tem todas as razões do mundo para persuadir os EUA a rotular todos os inimigos do governo como se fossem uma mesma “al-Qa’ida”, porque assim, obtém facilmente armas e ajuda financeira, além de apoio militar e político.
Comentários
Cadu Ferreira
Quais serão os documentos secretos que o fundador do Wikileaks diz ter que podoriam mudar os rumos das eleições no Brasil? Em breve saberemos!
joker
Será que saberemos como o Serra foi para os EUA sendo ele procurado pelos militares a mando do proprio EUA??
carmen silvia
Os EUA matam os homens,mas infelismente(pra eles é claro)não conseguem assassinar as idéias e muito menos como todo conquistador prepotente, não conseguem enchergar as causas propulsoras dessas idéias.Guerra cambial e islamismo político radical,essa combinação é perigosa e o momento histórico atual não me cheira bem.Quem será ou serão os responsáveis por abrir os olhos dos norte americanos? ou melhor será que isso é possível?
Confuso da Silva
Entendo que Awlaki não deveria ser caçado como terrorista assassino, posto que não o é. Entendo que ele é vítima do governo estadunidense, perdido em seu atoleiro no Oriente Médio, de onde nem Obama consegue sair. Entendo que ele esteja sendo usado como desculpa para uma possível tentativa de perpetuar a já decrépita hegemonia dos EUA.
No entanto, Awlaki ultrapassa os limites da liberdade de expressão ao disseminar o ódio e incitar a violência. Por mais articulado que seja, suas palavras pregam a morte daqueles que não se encaixam na sua visão fanática e distorcida de mundo, não interessando se tenham sangue em suas mãos ou não. Ele é exatamente igual àqueles que denuncia.
Os EUA estão nas mãos dos senhores das armas e do petróleo, que se refastelam na violência e na guerra. A única linguagem que eles entenderiam não é a da violência, como muitos acreditam, mas sim a do capital. Proporcione prejuízos econômicos a esse grupo, e você os verá definhar. Incentive a paz e a tolerância, e não haverá mais motivação para a guerra.
Ou talvez eu seja muito ingênuo…
Olho na oPósição
É, da Silva, estás confuso e dominado pela ingenuidade!
Yacov
E aí vão nossos vizinhos do norte, os "EUA" levando "liberdade, democracia e prosperidade" para o MUNDO… E ainda tem TOLOS que acreditam nisso!?!?! Na rede Gloebbels 'tá cheio.
"O BRASIL PARA TODOS não passa na globO – O que passa na glOBo é um braZil para TOLOS"
Hans Bintje
Sobre o Éden – o Paraíso – e as metáforas. Do livro "O Poder do Mito":
BILL MOYERS: O Éden não foi, o Éden será.
JOSEPH CAMPBELL: O Éden é. 'O reino do Pai está disseminado pela terra e os homens não o vêem.'
MOYERS: O Éden é… neste mundo de dor, sofrimento, morte e violência?
CAMPBELL: Essa é a sensação que ele desperta, mas é assim, este é o Éden. Quando você vir o reino disseminado pela terra, estará extinto o antigo modo de vida no mundo. É o fim do mundo. O fim do mundo não é um acontecimento por vir, é um acontecimento de transformação psicológica, de transformação visionária. Você não vê um mundo de coisas sólidas, mas um mundo de radiância.
MOYERS: Interpretei aquela afirmação poderosa e misteriosa, 'A Palavra se fez carne', como o princípio eterno que se encontra na trajetória humana, em nossa experiência.
CAMPBELL: E você também pode encontrar a Palavra em você mesmo.
MOYERS: Onde encontrá-la senão em você mesmo?
CAMPBELL: Já foi dito que a poesia consiste em permitir que a Palavra seja ouvida para além das palavras. E Goethe diz: 'Todas as coisas são metáforas'. Tudo o que é transitório não é senão uma referência metafórica. Eis o que todos somos.
MOYERS: Mas como alguém pode cultuar uma metáfora, amá-la, morrer por ela?
CAMPBELL: É o que as pessoas fazem, por toda parte – morrem por metáforas.
ZePovinho
Tem até um filme e um termo sobre isso,Azenha:BLOWBACK
[youtube j5SoE9vBc6I http://www.youtube.com/watch?v=j5SoE9vBc6I youtube]
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