Tulio Muniz: 2017, outro ano que não terminou

Tempo de leitura: 3 min

Os anos sem fim

por Tulio Muniz*

Lá se vai 2017, outro ano que não terminou.

Pelo menos no Brasil, que desde 2013 vive uma sequência de anos inconclusos.

Brasil, o eterno ‘país do futuro’, onde impera o ‘jeitinho brasileiro, um tipo de ‘devir bandido’ latente na mentalidade duma sociedade na qual todos transgridem à vontade, no macro e no micro político do cotidiano.

2016, não terminou por então serem imprecisos os rumos do golpe.

2015: errático, o governo Dilma em vão tentava recompor-se do desastre resultante do estelionato eleitoral.

2014, não terminou por conta de Dilma, reeleita, sinalizar que adotaria um programa de governo pleno de propostas de seus adversários.

2013, quando se engendrou a união da direita e alargou-se o abismo entre as esquerdas.

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Nesse sentido, 2013 ecoa até hoje.

É o que alimenta as declarações recentes do deputado estadual pelo PSOL do RJ, Marcelo Freixo, apontando para impossibilidades de alianças à esquerda, e também o que encorpou as declarações de Lula, de Julho /2017, em entrevista ao blog do jornalista José Trajano:

“A única coisa que e desejo é que eles ganhem alguma coisa, eu quero que eles governem a cidade do Rio de Janeiro. Quando eles governarem a cidade do Rio do Janeiro, metade da frescura deles vai acabar. Eles vão perceber que não dá pra gente nadar teoricamente. Você não pode ficar na beira da praia falando ‘você dê uma braçada pra cá, uma braçada pra lá, levanta a cabeça…’. Entra na água e vai nadar, pô! Então eu quero que eles governem uma cidade. Depois que eles governarem uma cidade eles vão compreender que nem o Sarney, quando foi em 2006 [1986], que elegeu 323 deputados constituintes e 23 governadores, conseguiu governar. O problema é o seguinte: eles ‘se acham’. Sabe aquele cara que levanta de manhã, vai no espelho e fala, ‘espelho, espelho meu: tem alguém mais fodido que eu? Tem alguém mais sério do que eu? Tem alguém mais honesto que eu, mais bonito que eu, mais sabido que eu?”.

2013, o mais emblemático de todos os ‘anos sem fim’, acerca do qual escrevi, em artigo publicado em fins de 2016, o trecho abaixo, tão atual — infelizmente:

“O governo Dilma Rousseff perdeu, em 2013, grande oportunidade de viragem e transformação definitiva da postura da classe política perante a sociedade. Nas manifestações populares daquele ano, todos os estratos sociais se encontram nas ruas, protestando contra os altos gastos em mega-eventos desportivos – as Copas das Confederações e do Mundo – , em detrimento de melhorias na infraestrutura para transporte individual ou coletivo, de priorização de políticas públicas de Segurança, Saúde, Educação, Habitação. A resposta aos protestos foi repressão policial pesada, nenhuma reforma na representatividade política-partidária, e o estabelecimento de apenas um programa amplo e importante, o Mais Médicos. O governo não compreendeu que 2013 não tratou-se ‘apenas de um deslocamento de palco – do palácio para a rua –, mas de afeto, de contaminação, de potência coletiva. A imaginação política se destravou e produziu um corte no tempo político’ (cf. Pelbart).

Ao contrário, uma direita diversificada, e até então desarticulada, teceu uma rede que antes se supunha sub-reptícia, utilizando de seus agentes institucionais e midiáticos, de discursos repressivos com vieses tanto policialescos quanto religiosos.

As esquerdas, por sua vez, não conseguiram assimilar as manifestações de 2013 no sentido de se unirem e, sobretudo, de agregarem cidadãos em torno de novas possibilidades de representação institucional, ao contrário do que ocorreu em Espanha a partir de 2011 – sendo evidente que entre a sociedade espanhola e a brasileira existem disparidades de práticas e perspectivas políticas e democráticas”.

O que esperar para 2018? Esperança? “A esperança é uma alegria instável, surgida da ideia de uma coisa futura ou passada, de cuja realização temos alguma dúvida” – Espinosa, na ‘Ética’.

Que as amizades e os bons afetos se fortaleçam, pois os maus se mantêm operantes.

TULIO MUNIZ, é professor de História na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Jornalista Profissional

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Comentários

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Lenita

2013 foi uma primavera tupiniquim cooptada e articulada pela platinada, casa grande e tio sam. Até as pedras entenderam que a oligarquia de sempre aproveitou o movimento dos 20 centavos para alimentar os zumbis de esquerda e direita contra a “corrupção” e o “populismo” como estopim de um movimento amplo e globalizado de estigmatização da POLÍTICA. O resto foi a implantação da ditadura atual advinda do golpe de 2016.

Julio Silveira

Rsrsrs, terminou sim, terminou mal, pessimo, mas terminou.
Terminou com o Brasil preso e apresentado mundialmente com uma identidade coxinha imbecil desnacionalizada. Todos, querendo ou não, acabamos refens da herança autoritaria que domina nossa elite coxinha preconceituosa, feita de imbecis idolatras, aculturados por povos que lutam por suas identidades e que se orgulham de suas conquistas. Mesmo aquelas que se construiram sobre povos frageis, de forma covarde, despersonalizando-os, que aceitam a predominancia de piores tipos sobre os melhores mas covardes, que fazem uma nação covarde. Mas o pior, não foi só ter terminado, o pior é a falta de horizonte melhor do que essa desse ano que termina, por que esses fatores são culturais e sempre intervirão para atrapalhar a vida do país Brasil, cada vez mais Brazil, que vem sendo minado desde sempre para que nunca adquira auto estima. A cultura antiga, a herança coxinha desnacionalizada trabalha para gerar cidadãos sem espirito de nacionalidade, com baixo estima e fraco espirito de cidadania, por que isso é muito ruim para se construir uma nação e muito bom para aqueles desnacionalizados que vivem das oportunidades que se criam na baixa estima de um povo, na sua desestruturação institucional. E essa gente, que tem historicamente dominado historicamente o povo, com todas as pessimas consequencias de país criminalizado, continuarão na posse dos instrumentos de seu controle, direcionando os caminhos enfraquecendo cada vez mais o espirito comum de nacionalidade garantindo não haver qualquer perspectiva de bom futuro para o povo. Essa gente que privilegia somente nações oportunistas, com poder de concentrador economico por que para eles como cumplices que orquestram o enfraquecimento do país para se torná-lo um quintal, e otimo por tantos beneficios mutuos repartidos, que se oportunizam na exclusão das maiorias carentes.

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