J.-L. MELENCHON – PRENONS LE POUVOIR… por Ababord2012
O murro de Mélenchon
Com valores a rondar os 15% nas sondagens para as eleições presidenciais francesas, Jean-Luc Mélenchon protagoniza o inesperado: a relevância de uma esquerda que não se rendeu ao liberalismo.
11 Abril, 2012 – 00:14 | Por Luís Fazenda
Esse sentimento de “juntar forças” para reivindicar uma nova etapa de conquistas políticas e sociais esteve bem presente no comício da parisiense e simbólica Bastilha, com mais de 100 mil pessoas que ali foram. Não por acaso, Mélenchon terminou o seu discurso dando um viva à bandeira vermelha! Ele que sustenta que a campanha preconiza uma revolução cidadã por uma nova República.
O candidato do Front de Gauche (englobando Parti de Gauche – liderado por ele mesmo, PCF, e Gauche Unitaire e várias associações políticas de esquerda) representa um frentismo com tradição na frente popular de 1936, de Jaurés. E mais proximamente, no programa comum PS-PCF da primeira eleição de Mitterrand (1980) de que ele próprio foi membro ativo. Melénchon destaca muito nos seus escritos e intervenções essas cíclicas convergências. O seu abandono do PS para formar o PG, em 2008,deveu-se à conclusão que o PS era irreformável para a esquerda.
Atacou simultaneamente a cedência ao liberalismo, “terceiras vias, etc.”, e a social-democracia que apenas preconiza a “regulação do capitalismo”. Fê-lo em nome de um “socialismo republicano que ultrapasse os horizontes do capitalismo”. O programa com que se apresenta a estas eleições de 2012 é disso sintomático: polo público financeiro, unificando a banca estatal e fazendo nacionalizações, impostos fortemente progressivos, taxar as transações in shore e off shore para idêntico imposto, romper com o tratado de Lisboa para uma nova Europa cooperativa, retirar as tropas do Afeganistão e abandonar a Nato, política de rendimentos a favor do salariato e da segurança social, planificação ecológica.
Para tudo isto, reclama-se caminho para maioria social e política e para a eleição de uma Constituinte. Que um Programa radical, na atual adversidade de forças que enfrentam os progressistas, se possa impor como fator de esperança e só através desse programa se tenha conseguido ampliar a desiludidos do PS ou de organizações sectárias, ativando abstencionistas e despolitizados, esse é justamente um referente que não deve ser escamoteado.
Contudo, esse Programa não começa sem uma dura autocrítica, quer de Melénchon e seguidores, quer do Partido Comunista Francês, todos subscritores deste processo. “É preciso romper com as políticas seguidas pelos governos no poder nas últimas décadas. É claro, houve diferenças entre a política dos governos de direita e aquela dos governos de esquerda. Mas houve também infelizmente pontos comuns: a crença na construção atual, liberal, da União Europeia, a vontade de reduzir o “custo do trabalho”, o desmantelamento dos serviços públicos, a recusa de enfrentar os bancos e os mercados financeiros”. Vindo de um ex-ministro do governo de Jospin e de um parceiro desse governo, como os comunistas, são atitudes de grande significado estratégico para o reagrupamento socialista.
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Num pequeno depoimento que gravei em vídeo para a campanha de Melénchon, disse que ele é um símbolo do arco-íris que a esquerda alternativa deve ser. Não foi uma simpatia de momento. Penso mesmo que a acumulação de forças alternativas na Europa para derrotar os liberais-conservadores só pode ser dinamizada à esquerda e não ao centro, o do pântano lembram-se?, como mostram os últimos 30 anos da social-democracia europeia. O arco-íris é, como se sabe, paleta de cores, diverso nas composições, não quer ser unitário porque é pluritário, mas não aliena conceitos de império e soberania, estado e propriedade, trabalho e classes que são o património comum do socialismo.
É interessante verificar a posição da candidatura sobre uma esperada 2ª volta: derrotar Sarkozy, sem tibiezas. Mas se ocorrer uma eleição de Hollande não contem com o Front de Gauche para fazer parte do governo francês, as políticas não são próximas nem miscíveis. Curiosamente, para as eleições legislativas, que vêm já a seguir, PCF e PS abandonaram acordos eleitorais que vinham desde o pós-guerra e que não poucas vezes manietaram o PCF.
O programa do Front de Gauche está articulado com programa, recentemente aprovado em congresso (Erfurt) do Die Linke da Alemanha. São bons prenúncios para a corrente de esquerda europeia, com espaço próprio. O murro de Jean-Luc Melénchon é um aviso ao austeritarismo mas, malgré tout, um arranque sem fronteiras.
*Luís Fazenda é deputado e Líder parlamentar do Bloco de Esquerda, professor.
Comentários
Mélenchon tem o que a França precisa; os outros, não | Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Mélenchon, o homem que ameaça o austeritarismo […]
ROGER – BELO HTE
Azenha,
Que o big brother é uma perda de tempo danada sempre achei, assim como as novelas, mas que era uma farsa tão grande como mostra esse vídeo eu não sabia:
http://www.youtube.com/watch?v=gb9PDqiotgw&fe…
alfredo neto
gostei do BraZil PARA TOLOS… acho bom pé atrás com esse Melechon. todo político sabe q o movimento occupy e suas reverberacoes eh um prato cheio p palanque de centro esquerda.
Felipe
Outra questão, estamos tão acostumados a falar do gov dilma e o retrocesso na parte social, mesmo que relativo, que nos esquecemos que é nos municípios e estados que a coisa pega.
renato
Achei lindo as imagens.Achei legal a mensagem.
Regina Maria
Acabei de postar no site do prof.
Desculpe-me, professor, mas o sr. está redondamente iludido a respeito de Mélenchon. O sr. escreveu: "a relevância de uma esquerda que não se rendeu ao liberalismo". A realidade é exatamente ao contrário disso e de tudo o que ele prega.
De esquerda, se é que ainda existe esquerda e direita, creio mais que hj. somos pró-sistema ou antissistema (enquadro-me aqui), Mélenchon só tem a camisa e o discurso pró-eleitoral. Aproveita-se, fazendo uso de um discurso de esquerda (antissistema), para enganar os eleitores socialistas franceses que estão desiludidos com o papel ultraliberal que há anos dominou a dita esquerda francesa.
Mélenchon aprovou, quando senador, o Tratado de Maastrich, assinou diversos outros bem como leis contrárias aos interesses da França e favoráveis à União Europeia, essa que junto com o sistema está destruindo pouco a pouco os países. Portugal já conhece bem e sente na carne (infelizmente) os efeitos disso (UE). Assinale-se que as aprovações foram para a para com François Hollande…..Autodenomina-se candidato do povo, mas é um pró-Comunidade Europeia convicto, o que determina seu caráter ultraliberal.
Aprova a imigração em massa, que sempre foi estimulada pelos grandes empresários para disporem de mão-de-obra barata, deixando ao Estado o custo social. Socialização dos “deveres” e privatização dos lucros (regra clássica).
E para finalizar, Mélenchon é maçon do Grande Oriente da França. Quem conhece bem toda a história da globalização, da União Europeia, etc , conhece o papel da maçonaria nesses feitos. Portanto Mélenchon jamais será um combatente, um opositor do sistema. Somente se oporá ao sistema verbalmente.
Ademais seu papel é fazer crer às pessoas menos avisadas que existe alternância (como pretende o sistema), mas se os menos avisados não acordarem tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes (leia-se sistema globalizado).
Essas são as grandes surpresas que o sistema está nos trazendo.
renato
Bonito ver a discussão de professor e aluno, isto me encanta de verdade.No mínimo demonstra ser um bom professor e você uma excelente aluna.Parabéns. A importância está no dialogo. E eu aprendendo.É o máximo.
mfs
Com polidez, a distinta autora recicla tradicionais argumentos da direita: 1) o fim da distinção tradiconal enter esquerda e direita; 2) contra o universalismo, em favor do nacionalismo provinciano; 3) ataques à imigração estrangeira; 4) a tradicional acusação fascista de que o mundo está sendo dominado pela conspiração maçônica (faltou citar a judaica).
Note-se que a popularidade da teses da direita está ligada aos tradicionais medos de subserviência às maiores potências (no caso, A Alemanha na CE), do desemprego (culpam-se os imigrantes), da falta de controle sobre o sistema político (daí os pesadelos sobre conspirações de organziações secretas).
Reposta atormentada da alma atormentada.
Mas ainda assim resposta atormentada e não resposta racional. Porque não se paga injustiça com injustiça.
abolicionista
Desculpe, mas seu argumento em relação à "imigração em massa" é de um cinismo patente. Quer dizer que proibir e limitar a imigração é uma pauta libertária? A "regra clássica" mostra que você, ao contrário do que alega, mostra que você adota um paradigma nacionalista (típico de uma esquerda social-democrata antiquada), para o qual "é preciso proteger o emprego" e bobagens do tipo. Na realidade, a ilegalidade da imigração faz com que os imigrantes "sans papier" sejam ainda mais explorados, pois não possuem direitos trabalhistas, etc. Será que só os franceses são trabalhadores a serem protegidos? E a proteção aos ex-colonos franceses, que nasceram em países devastados pelo colonialismo e migram em busca de melhores condições de trabalho (ou melhor, em busca de condições mínimas), enfrentando o racismo, a xenofobia, o preconceito? Seriam eles aliados dos empresários e defensores da "regra clássica"? Sarkozy está sendo socialista quando expulsa os ciganos do território francês? Está defendendo o trabalho?
Jota Ricardo
''Austeritarismo'' é bom….desmistifica a idéia de que democracia é só botar um papelzinho na urna, ou pior, apertar o botão sem papelzinho…
Felipe
Que saudade do tempo que eu não vivi… cadê o lula da década de 70, 80?
Cadê a crítica, cadê o contraste?
O Brasil é mais que salário mínimo, pib, privatarias e cachoeiras.
É o povo na rua, não nas filas do banco, nas filas dos supermercados e das lojas…
Cadê o tempo que eu nunca vivi?
abolicionista
Nossa, isso é uma lufada de ar puro na mesmice em que se enfiou o discurso da esquerda européia. Muito, muito interessante mesmo!
dukrai
"Penso mesmo que a acumulação de forças alternativas na Europa para derrotar os liberais-conservadores só pode ser dinamizada à esquerda e não ao centro, o do pântano lembram-se?, como mostram os últimos 30 anos da social-democracia europeia."
O problema aqui é achar a Dilminha liberal-conservadora, descer o cacete e invêiz de ter uma solução pessolística engordar a ratazana crimidiática golpista.
José Ricardo Romero
Só a França mesmo para acordar para o fato óbvio e irrefutável de que sem política e partidos políticos, o governo de um país fica entregue aos banqueiros e ao neoliberalismo econômico. Os movimentos dos indignados, como na Espanha e EUA, ao se declararem apartidários, decretaram sua inoperância e seu caráter pitoresco, nada mais que pitoresco. Em pouco tempo os indignados estarão fazendo propaganda involuntária para uma marca qualquer de calças jeans. É necessário um gancho político e partidário…para se fazer política e governar um país, ora bolas!
Fabiano Araújo
Correção: a Frente Popular de 1936 não foi liderada por Jaurés, que foi assassinado em 1914, por um nacionalista da extrema -direita, após fazer um discurso, no qual se opunha à aceitação do estado de guerra com a Alemanha. Jaurés permaneceu fiel ao Internacionalismo operário, enquanto a grande maioria dos socialistas aderiu à política de guerra de seus respectivos governos . A Frente Popular de 1936 foi liderada por León Blum (PS, que se tornou Primeiro Ministro), Maurice Thorez (líder do PCF) e outros.
Fabio_Passos
Excelente.
E também serve de alerta para a esquerda brasileira.
Inclusive porque parte do discurso de Melenchón parece ser escrito para a Dilma.
Olha só:
"É claro, houve diferenças entre a política dos governos de direita e aquela dos governos de esquerda. Mas houve também infelizmente pontos comuns: (…) , a vontade de reduzir o “custo do trabalho”, (…) , a recusa de enfrentar os bancos e os mercados financeiros”.
No Chile a direita fascista e neoliberal voltou ao poder porque os eleitores não viam diferença entre os candidatos.
Aqui no Brasil, após os retrocessos do início de mandato Dilma, corremos o mesmo risco.
Lu_Witovisk
Falou tudo Fabio. Eu lia e pensava: ahhhh se isso fosse aqui…. sonha sonha.
Fabio_Passos
Manja aquela do Raul?
"Sonho que se sonha só. É só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se
sonha junto é realidade."
Filipe Rodrigues
Por outro lado, o Banco Central da Dilma é muito melhor que o do Lula.
yacov
Siliga, doido!! Nunca o salário mínimo foi tão valorizado, nunca se criaram tantos empregos formais no Brasil, e os juros e taxa Selic estão despencando. De que país vocês estão falando?? Esses caras só podem ser da CHUÍÇA!!
"O BRASIL PARA TODOS não passa na glOBo – O que passa na glOBo é um braZil para TOLOS"
Fabio_Passos
Larga-mão de ser mentiroso, filhote de fhc!
Melhor do que reduzir os juros agora – ainda são os mais altos do mundo! – seria não ter aumentado em 2011… uma irresposabilidade do governo Dilma que favoreceu os miliardários do mercado financeiro e transferiu Bilhões de reais dos pobres para os ricos.
Ao invés de trabalhar pelas 40Hrs semanais, como disse Stedile e como cobram as centrais sindicais, o governo Dilma se acovarda e vai fazer desonerações para atender a pauta de pedidos dos empresários.
mfs
A jornada semanal de 44 horas é constitucional. Dilma NÂO pode mudar. Quem pode mudar é o Congresso. Mas será que o governo teria os 3/5 do parlamento necessários para uma PEC tão anti-burguesa? Botar a culpa em Dilma e Lula é fácil, difícil é compreender a realidade.
Fabio_Passos
Mas que governo bunda mole é esse que não encaminha nada de interesse dos trabalhadores no congresso?
Só encaminha favorecimentos e privilégios ao capita que financiou a campanha de Dilma…
A verdade é que a PEC de redução da jornada de trabalho para 40Hrs foi aprovada por unanimidade em comissão especial no congresso.
Colocada em votação no plenário, a tendência é aprovação. O que acontece é um governo covarde que não peita os interesses atrasados que são contra esta conquista dos trabalhadores.
mfs
Você sabe como é que funciona o Congresso? Tem ideia do que é enviar projeto fadado à derrota? Que vai ser engavetado ou, pior, emendado até a desfiguração a ponto de o tiro sair pela culatra?
O dia-a-dia do Congresso é bem menos quente do que se gostaria. Menos emocionante, menos pintura de Delacroix. É guerra de trincheiras, de avanços moleculares. Quem não compreende isso fica no esquerdismo, monstro que se alimenta de si mesmo.
Luís
Ue. Governabilidade serve pra quê, então?
Fabio_Passos
… e não vamos nos esquecer do corte de Bilhões de R$ do orçamento da saúde e educação para fazer superavit primário.
Ou seja, tirou dinheiro da saúde e educação dos pobres para enfiar goela abaixo dos especuladores miliardários e vagabundos.
Não é pouca bandalheira não.
Luís
Você tem razão. Parece até que vivo na Finlândia.
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