A maior parte das pessoas fica confusa com tantas porcentagens, tabelas, análises por segmento e cruzamentos de dados. O que parece claro a um estatístico ou especialista chega a ser incompreensível para o cidadão comum.
Até agora, as eleições presidenciais de 2010 já bateram dois recordes: a) são as que mais cedo começaram em nossa história política e b) são, de todas as que fizemos, aquelas em que mais tivemos pesquisas. Desde sua largada, há mais de três anos, não deve ter havido um só mês em que pelo menos uma não tenha sido divulgada.
Daqui para a frente, esse ritmo só tende a aumentar. De abril a junho, quando serão realizadas as convenções dos partidos, sua frequência se intensificará, com periodicidade cada vez menor. Depois de julho e, especialmente, de 18 de agosto em diante, quando se inicia a propaganda eleitoral na televisão e no rádio, uma verdadeira enxurrada de números vai desabar sobre o eleitorado. Sem contar que as eleições nos estados também estarão quentes e merecerão suas próprias pesquisas.
A maior parte das pessoas fica confusa com tantas porcentagens, tabelas, análises por segmento e cruzamentos de dados. O que parece claro a um estatístico ou especialista chega a ser incompreensível para o cidadão comum, a quem, em última instância, as pesquisas de divulgação pública se destinam.
Como são normais as variações entre as pesquisas, o quadro se complica. Os resultados do mesmo instituto podem variar de um levantamento para outro, nem sempre em sentido igual. Entre institutos, as oscilações de resultados são ainda mais comuns.
Quem torce por um candidato olha qualquer pesquisa em que ele não aparece bem como se tivesse sido deliberadamente falsificada. Assim, ora acha que um instituto é ótimo, ora péssimo, em função de como seu preferido se sai. Volta e meia, vê-se alguém tecer uma longa argumentação para provar que um instituto foi “comprado” e ser desmentido a seguir, quando uma nova divulgação põe por terra sua hipótese conspiratória.
Parte dos problemas decorre do modo como algumas pesquisas são apresentadas. É o caso, tipicamente, das que são feitas por institutos ligados a veículos. Por interesse comercial ou solidariedade da redação com os colegas do departamento de pesquisa, seus levantamentos são divulgados pela empresa patrocinadora como se fossem melhores, mais verdadeiros, que outros. Não o são, e o pior é que fingir que um só é “bom” prejudica a credibilidade de todos.
Um dos mais importantes pesquisadores das pesquisas políticas no Brasil (senão o maior), o professor Marcus Figueiredo, do Iuperj do Rio de Janeiro, vem avaliando o desempenho do setor nos anos após a redemocratização. Seus estudos nos ajudam a visualizar melhor o que é o trabalho dos institutos e o que a opinião pública pode esperar deles.
A primeira coisa é que, de 1989 até agora, o desempenho médio dos principais institutos que se dedicam ao tema (Ibope, Vox Populi e Datafolha, até 2002, junto com a Sensus, daí em diante), nas eleições presidenciais, é melhor que dos congêneres americanos, entre 1956 e 1996. Nossa margem de acerto é significativamente melhor que a deles. A média das diferenças entre as intenções de voto estimadas pelos institutos para os candidatos e os resultados oficiais foi, no Brasil, nas cinco eleições que fizemos, de 1,4 ponto percentual, enquanto lá foi de 1,9. Eles foram bem, mas nós fomos muito bem.
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Em segundo, que as variações de desempenho entre os institutos, nesse período, nas eleições para presidente, foram irrelevantes. Em 1989, a média das diferenças entre o que os três institutos previam, candidato a candidato, e o que aconteceu na urna foi de 1,6 ponto, sendo que nenhum dos três se afastou dessa média em mais que 0,8 ponto. Ou seja, todos previram a mesma coisa e todos tiveram o mesmo nível de acerto. Em 1994, a discrepância média foi ainda menos relevante, situando-se em 0,9 ponto percentual, com números quase idênticos para os três. E assim em 1998 (diferença média de 1,6 ponto), 2002 (de 1,1) e 2006 (de 1,9).
Não é fácil convencer pessoas apaixonadas que o trabalho dos institutos é desapaixonado. Mas é certo que a opinião pública pode esperar deles, nas eleições de 2010, o mesmo que mostraram nas últimas: um trabalho benfeito, que ajuda o cidadão a saber como andam as intenções de voto a cada momento.
Serão muitos números, nenhum mais correto que outro, alguns até incoerentes. Mas todos pintando o mesmo quadro, o longo processo pelo qual 135 milhões de pessoas formam suas escolhas a respeito de quem querem que governe o Brasil nos próximos anos.
Comentários
Ubaldo
Todo esse discurso tem um nome: Cooperativismo.
Dias atrás os representantes dos principais institutos de pesquisas se reuniram. O cerne da discussão deles foi credibilidade e lucros, óbvio. Traduzindo: se houver grandes disparidades nas pesquisas todos, sim todos perderão suas boquinhas. Assim, todas as pesquisas tendem a se aproximar, com ligeira tendência a se favorecer quem está bancando a pesquisa.
Ubaldo
Curioso é que o Vox Populi não divulgou, ou ao menos os sítios partidários não divulgaram, as intenções de votos do segundo turno. Será que a diferença entre os candidatos é significativa e excede sobremaneira a margem de erro?
Considerando que o referido instituto de pesquisa formulou perguntas extras, como ele esqueceu de pesquisar o óbvio que é quem ganha a eleição em segundo turno?
Maralina Matoso
Que classe a desse Coimbra, hein? Gosto dele. Com ética, dá tapa com luva de pelica em alguns. Mas, na minha modesta opinião, os institutos se afinam ao final das campanhas, pra não ficar muito feio pra eles, quando o "eles" é tendencioso, daí, a pouca diferença de um para o outro no final do pleito. Mas, antes desse momento chegar, "eles" fazem um estrago, meu amigo…
O Brasileiro
Realmente, ele foi um cavalheiro!
E é verdade… a convergência só aparece na chamada reta final, para tentarem fazer a opinião pública esquecer as manipulações do início e do meio da campanha!
francisco.latorre
convergência só no final.
até chegar lá é brutal a manipulação.
…
kecmaster
Único comentário: Acredito que algum instituto deva ser sério mas os demais não o são!
Cantor
Desculpe-me o Marcos Coimba, mas um instituto de pesquisa dirigido por uma jornalista que assume que, no colapso da oposição organizada, a imprensa em geral e seu orgão em particular estão ocupando o lugar da oposição se torna, no mínimo, menos crível que outros institutos. E digo isso com tranquilidade mesmo que o Vox Populi estivesse "confirmando" o Datafolha.
laura
A manipulação das pesquisas até onde cionsegui compreender , aqui, passa por tudo, e não é NADA sofisticada, não. A amostra escolhida não corresponde a uma projeção do real. Aumenta-se a proporção de entrevistados da classe A, em São Paulo e estados do Sul, por exemplo, para favorecer Serra. A que horas e quando se faz tais pesquisas, ( por telefone?< há aquels por telefone, só pegam boa parte da classe média e mais ricos… que bairros ein?)aonde, com que perguntas?E eu não duvido não, não duvido mesmo, que invente-se resultados. Afinal, inventaram-se fichas falsas para Dilma como "terrorista, escandalos sexuais para Lula. Oras, e as pesquisas do datafolha são esse primor estatístico? O jornal hoje é tudo menos jornal.Ah, não dá, né. Queria ver alguém da área de pesquisas e alguém de dentro do datafolha contando como se fabricam pesquisas. Eu não acredito nelas aqui no Brasil e ponto final. E acho que o jornalismo de blogs está sim, comendo uma enorme barriga.
augustinho
Mas…tá na cara que o valoroso defensor das pesquisas em geral, evitou dois pontos – cruciais-
Evitou, nao é bem o termo. Digamos olvidou. (Vixe, to falando dificil hoje).
Um que realizaçao da pesquisa é uma coisa e divulgaçao dos dados pelos veiculos da midia PODE ser, e costuma ser, outra beem diferente…
Outra, o advogado de defesa das pesquisas NAO disse em Qual Momento… qual momento no TEMPO ele as considera coisa muito honesta e séria. Quando seria? Somente no penultimo e último dia antes das urnas?? E os dias e pesquisas anteriores restantes? Ora, fala sério!
E as amostras fraudadas, o numero total (universo) insuficiente, a "margem' de erro chutometrada, a distruibuiçao geo-socio-demografica deliberadamente alterada??
Pesquisa pode haver sim. Divulgaçao no ultimo mes NAO.
E tem mais: casamento do Instituto como o veiculo da midia: " la em Bauru" tem um nome: incesto.
dvorak
"(…)Quem torce por um candidato olha qualquer pesquisa em que ele não aparece bem como se tivesse sido deliberadamente falsificada. Assim, ora acha que um instituto é ótimo, ora péssimo, em função de como seu preferido se sai. Volta e meia, vê-se alguém tecer uma longa argumentação para provar que um instituto foi “comprado” e ser desmentido a seguir, quando uma nova divulgação põe por terra sua hipótese conspiratória(…)"
É um retrato fiel do que acontece com os bloguiados do vi o mundo!!!
eheheheheheeh
Ubaldo
As pesquisas servem para a arrecadação de campanha. Assim se um candidato está mais à frente, mais empresas contribuem com mais dinheiro.
Nilson E da Silva
OK. Mas, a diferença entre os números da última pesquisa Datafolha e Vox populi, na minha modesta opinião ainda não foram explicadas.
?????? ??????????? Blog
[…] Marcos Coimbra e as pesquisas brasileiras | Viomundo – O que você … […]
pedro – bahia
O comentário é pertinente. Nota-se que a diferença entre as pesquisas vem aumentando a cada eleição, ainda que em percentuais pequenos. Porém, uma coisa não pode ser negada. A Folha de São Paulo se tornou o órgão oficial do PSDB e em especial, do candidato Serra. O Instituto Data Folha pertence ao periodico paulista. Daí a grande suspeita sobre as pesquisas feitas por ele.
Veja que a penúltima foi dvulgada alguns dias depois de concluida. Apresentava números bem próximos entre os dois principais candidatos. Neste último, quando aparece uma diferença maior em favor de Serra, foi divulgado às pressas em data próxima à definição de Serra em ser candidato a presidente. Não seria uma forma de favorecer o candidato a o obter mais alianças? Ou como forma de ludibriar e influenciar o eleitorado?
Só que a Vox Populi veio logo depois e ainda a tempo de corrigir o erro. A diferença é considerável e o mais importante no processo é a tendência do eleitorado.
Regitra-se que ontem, em entrevista na BAND o Presidente Lula deu um verdadeiro show.
laura
Não, não e não.
Não acredito nas pesquisas brasileiras. Essa análise passa ao largo do componente político do fato pesquisas. E, no Brasil, o componente político é mais do que relevante, é fundamental. o Datafolha e o Ibope FALSIFICAM PESQUISAS, sim. E, repito, o fato jornalístico a ser buscado é demonstrá-lo. Já disse -o melhor furo das últimas pesquisas foi num comentário, de um pesquisador do DataFolha denunciando como se fazem algumas das manipulações. O "jornalismo" passou ao largo.Ponto para o garoto que denunciou, zero para o jornalismo brasileiro.
emanuel rego lima
laura,
Se voce acreditou nogaroto, paciencia….
Algumas pessoas acreditam que a manipulação de pesquisas é feita com a ajuda, a participação, consentimento ou conhecimento dos entrevistadores.
Acreditam por que querem.
Há quem acredite em tanta coisa….
Está claro amiga que uma manipulação de pesquisa não é feita desa forma tão rudimentar, com a participação ( ativa ou pasiva) de tantos individuos.
A manipulação é coisa mais sofisticada. Só pode ser percebida, e desmascarada se for o caso, por especialistas…
Busy Crazy Monkey
Se esses "especialistas" forem iguais aos que a Globoels apresenta, fala sério!
A coisa mais comum é ver a globo entrevistar um "especialista" no assunto "X", mas na legenda é mostrado que a pessoa é formada em Y (e às vezes nem formada em nada). Mas é o "especialista" do PiG, ponto.
francisco.latorre
rego…
não aborrece…
o papo é sério.
…
francisco.latorre
é isso laura…
o furo do ano… passou batido.
o amador aqui até tentou localizar o cara…
não achei.
quem sabe um investigador mais competente acha.
ou o cara aparece.
alô pesquisador revoltado… aparece aí…
…
de repente ele tá juntando provas…
antes de tudo… somos brasileiros.
alguma coisa tem que aparecer.
há vagas pra herói.
candidatos… apresentem-se.
…
Rosemarie Fraga
Pelo menos o Vox Populis está sendo até agora o que mais gera credibilidade, pois vejamos esta pesquisa do Data folha demonstrou uma incoerência gritante.
Fred Oliva
A grande “trolha” que aparece nestas eleições, e que diz respeito aos institutos de pesquisa, é que dois deles (Datafolha e Ibope), através de seus controladores principais – Otavinho Ditabranda e Montenegro – posicionaram-se explicitamente a favor de uma das candidaturas.
Um deles, Otavinho Ditabranda, abdicou claramente de fazer jornalismo, em seu jornal, para fazer campanha aberta. Ou seja, como é possível acreditar que o seu jornal, que é quem repercute prioritariamente o seu Datafolha, faça campanha para um dos candidatos mas que o Instituto da família seja neutro e isento? Conta outra, né?
Não que se possa jurar em cruz por qualquer dos outros institutos de pesquisa, longe disso.
Mas quando um deles, o Datafolha, atropela o protocolo, abrevia o timing, e o resultado divulgado contraria a tendência, é inevitável que o leitor fique de orelha em pé.
Continuo achando que é cedo para pesquisas e que os resultados anunciados servem mais para arrebanhar doadores de campanha do que para prognósticos reais.
Mas que o Vox Populi veio em boa hora, isso veio.
Leider_Lincoln
O engraçado é que agora a divergência é bem maior. Será que há institutos de pesquisa claramente manipulando dados de alguma região específica em favor de algum candidato? Hum, talvez a dica esteja nas "tendêncis" apenas contrariadas por um dos institutos, justamente o Dataprado, ops, o Datafolha…
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