Economistas do Brasil: o país conta com vocês
Há os que enxergam o abismo no final da estrada e os que enxergam o arco-íris. Nenhum estuda alternativas. Não há um corpo de princípios
Por Luís Nassif, no Jornal GGN
Toda teoria econômica baseia-se em uma lógica, que a precede. É em cima dessa lógica que montam-se as teorias, as fórmulas estatísticas etc.
A política econômica está amarrada à lógica da Teoria do Equilíbrio Geral Estocástico (DSGE – Dynamic Stochastic General Equilibrium).
Os modelos DSGE são amplamente utilizados em macroeconomia para analisar o comportamento da economia ao longo do tempo, incorporando choques estocásticos (aleatórios) e estudando como agentes racionais tomam decisões diante dessas incertezas.
Esses modelos são baseados em microfundamentos e são utilizados por bancos centrais e instituições para prever ciclos econômicos, inflação, políticas monetárias e choques externos.
Como funciona no caso brasileiro:
- O Conselho Monetário Nacional (CMN) define uma meta de inflação. O Banco Central precisa ir atrás da meta.
- Há várias formas de inflação: choques de oferta, de demanda, indexação, exposição a preços internacionais. Mas os extraordinários modelos DSGE só aceitam uma – a inflação de demanda -, combatida por apenas uma ferramenta – as taxas de juros.
- Fica o país inteiro, então, amarrado ao fetiche do superávit fiscal e da inflação baixa. Se ocorre um pequeno – enfatizo: pequeno – déficit fiscal, ou um pequeno – repito: pequeno – aumento na taxa anual de inflação, os lanceiros do DSGE espalham o terror, comportando-se como bolsonaristas atrás de discos voadores.
- Espalhando o terror, criam uma expectativa de hipocondríaco dos juros. E toca explodir a taxa Selic, que mal arranha a inflação. Hoje em dia, a taxa real de juros (a parcela acima da inflação) é de mais de 8%, contra 0,5% dos Estados Unidos, -0,5% na Zona do Euro, -0,1% no Japão, 0,2% no Reino Unido. É evidente que o modelo brasileiro é disfuncional. Mais que evidente, é o chamado óbvio ululante.
- Para complicar o jogo, a economia espirra lá fora e o câmbio pega pneumonia aqui dentro. Bastou um banco norte-americano anunciar o remanejamento de sua carteira de investimentos do Brasil para o México para o país ver-se “à beira do abismo”, conforme me disse uma alta autoridade.
- A consequência é mais aumento da Selic, mais aumento nas taxas de todos os títulos públicos e um aumento proporcionalmente maior no crédito privado. E a inviabilidade de qualquer ajuste fiscal.
Se há um precipício à minha frente, o carro está andando em direção a ele e, de repente, acelera a velocidade, a lógica diz que despencará no precipício.
Por aqui, não. O cabeça-de-planilha do mercado sacará de seu manual de DSGE e te convencerá que não acontecerá nada se o carro despencar no precipício.
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É inacreditável a incapacidade desses economistas de enxergar o óbvio. Dirão eles: basta conseguir um superávit fiscal que as taxas despencarão e o reino dos céus será alcançado. Não existe fator tempo.
Como um náufrago faz para não morrer afogado? Simples: mantenha a cabeça fora da água. Mas ele afundou bastante: quanto tempo suportará debaixo dágua?
O tempo é um detalhe. Não me venha com detalhes que só trabalho com altas estatísticas. Nem bolsonarista rezando para pneu consegue ser mais ilógico.
Hoje em dia, na melhor das hipóteses estima-se que o país chegará ao final do governo Lula com a Selic em dois dígitos.
Todo o problema fiscal reside na Selic extraordinariamente elevada e no fator tempo. Mas o cabeção saca de sua planilha e inverte as relações de causalidade.
E a brava tropa de economistas brasileiros nada faz, nada estuda, nada diz. Há os que enxergam o abismo no final da estrada e os que enxergam o arco-íris. Nenhum apresenta alternativas. Não há um corpo de princípios sendo alinhavado para substituir essa loucura.
Nos jornalões, as piores notícias não estão nas manchetes maldosas contra o governo. Estão nos dados de recorde da recuperação judicial, de volta do pessimismo na construção civil (que puxou o crescimento nesses dois anos), no aumento da inadimplência.
O câmbio e os juros da dívida pública continuam à mercê dos soluços externos e os bravos PhDs da Secretaria do Tesouro continuarão incapazes de estudar modelos mais eficazes de negociações de títulos públicos – como o da Alemanha -, assim como os competentes técnicos do Banco Central não ousarão sequer pensar em formas de blindar o país dos choques externos ou de amenizar essa terrível dependência da taxa de juros.
Mas não ousar sequer uma tese, para não correrem o risco de serem escrachados como desatualizados.
Na academia, prossegue a luta inglória entre ortodoxos e heterodoxos. E as soluções? E as saídas?
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Comentários
Zé Maria
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Acontece que esses “economistas” do braZil
têm um olho na “planilha” e outro no rendimento
que auferem com os títulos indexados à Selic,
aos índices de preços e ao dólar estadunidense.
E é possível que uma série de comentaristas da mídia do mercado também especule com juros,
dólar e inflação no Cassino da Bolsa de Valores.
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