Juceli de Castro: Tomara que você morra no caminho!

Tempo de leitura: 2 min

Pena de Morte: Tomara que você  morra no caminho!

por Juceli Verona de Castro*

Há  quem reclame da morosidade do sistema penal brasileiro, mas veja: em 2008 na zona leste de São Paulo alguns policiais trataram de julgar, condenar e executar a sentença de dois jovens em pouco mais de 40 minutos. Segundo os “meritíssimos” policiais sentença para roubo é pena de morte. Simples assim, roubou tem que morrer! Imbuídos desta máxima vestiram as indumentárias; toga, capuz de carrasco e pragmatizaram. Como? No que hoje segundo as palavras da corregedoria foi um retardamento de socorro.

Ao que consta a polícia foi acionada para atender um caso de roubo a uma metalúrgica, quando chegaram ao local os dois bandidos já haviam sido baleados por um guarda municipal. Um deles havia levado seis tiros e o outro um tiro na cabeça.  A ação policial neste momento, mais do que um abuso foi um estupro de poder, deixaram os dois homens agonizando por cerca de 40 minutos até prestarem socorro, período este em que a justiça, além de cega foi surda! Destilando perversidade os policiais se encarregaram de humilhar categoricamente os dois indivíduos e certos de seus procedimentos  filmaram com um celular a cena, que agora, anos depois testemunham  este episódio que de outra forma não chegaria ao conhecimento da sociedade civil. O rapaz que levou o tiro na cabeça morreu três dias depois no hospital o outro sobreviveu, contrariando as expectativas de seus juízes.

O que esses policiais protagonizaram é reflexo do pensamento de um setor da sociedade quem sem pestanejar partilham da mesma opinião: estrebucha filha da puta!

Aos que se pautam em outras reflexões, resta esperar que o que morra no caminho seja a tentativa de legitimar a pena de morte a qualquer custo. Cuidado magistrados, tem gente querendo fazer o trabalho de vocês!

*Cientista Social de Curitiba PR

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Comentários

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Rogério Bezerra

O primitivismo que domina a sociedade brasileira é a base dessa violência.
Certas cenas na TV são muito violentas. As casas e os carros dos personagens das novelas agridem.
Como podem ter tanto luxo assim… No que trabalham para serem ricos daquele jeito. É uma violência!
Saber que a Hebe ganha 1 milhão por mês, é uma violência! Que o Faustão ganha mais ainda que ela, é outra violência. O que eles fazem?
Sendo da turma de baixo, não adianta ter talento, precisa ter sorte, mesmo. E também ser um gênio, claro.
Os anos passam e enquanto os pobres se viram para sobreviver, os ricos colocam suas crias lá na frente…
Quando vê, os pobres já perderam o bonde e o País perdeu mais um talento. Em cada milhão, existe um gênio!
Quando passo com meu carro as pessoas estranham. O velho Uno as violenta, pois sabem que desconsidero seus hábitos consumistas.
Existe violência por todo lado. A física é a expressão mais clara.

Diego Henrique

Que diabos de sistema de valores é este que estamos seguindo que matar um "bandido" é justo ou compreensível e não consequência da desigualdade social e concentração de renda?

Maria Libia

Um amigo meu, há uns tempo comprou uma TV de não sei quantas polegadas e só não fazia chover. Eu estava lá quando ele recebeu a "ESPERADA". Sabe o que ele fez, pegou toda a embalagem que constava a qualidade da TV e deixou na casa da esquina da rua dele. Por que? Porque se um ladrão passasse em frente a casa dele iria saber que ele comprou a tal TV. Agora o cara da esquina que se lixe. É o individualismo exasperado. Pensar no outro JAMAIS.

Daniel Campos

A "barbárie" acontece porquê se os criminosos ao invés de serem baleados pelo vigilante tivessem sido presos, no dia seguinte estariam soltos e roubando de novo.

Eu não consigo entender isso: Quando o morto é um cidadão comum, o máximo que acontece é uma nota de rodapé em algum jornal. Mas quando é um bandido a vítima, alguém sempre grita horrorizado "barbárie!!!"

Que diabos de sistema de valores é este que estamos seguindo?

    Juceli de Castro

    Prezado Daniel, não podemos misturar nossos parâmetros… o texto em questão não trata apenas da banalização da vida mas também da banalização da justiça, que por motivos óbvios acarreta esse tipo consequência em nossa sociedade.

João

Pois é ! Este "modus operandi" da PM é mais que regular. Por que será que nunca foi levantado a razão pela qual, sempre que um marginal é socorrinho e levado aos PS, pela PM, eles via de regra, chegam mortos, ou quase mortos ? É só prestarem atenção à estes casos, para se confirmar esta assertiva. Acrescento, ainda, que : Será que o Comando da Corporação tem está visão das coisas ? Faço está pergunta, porque não é concebível, ao menos a princípio e em tese, que a Tropa, os comandados, aja a revelia do pensamento dos seus comandantes.

Alexandre Felix

Há muito tempo atrás tinhamos respeito pelas polícias…hoje, temos medo. A ditadura militar deixou feridas grandes…essa violência policial é uma das mais difíceis de curar. Vamos tentar viver em paz, abraço…

Marat

Aqui em SP, por exemplo, uma vida vale menos que um automóvel. Basta ver a quantidade de atropelamentos e os tiroteios com mortes quando algum bandido é pego tentanto roubar um veículo. Isso sem contar com os baleados que demoram a receber atendimento médico, ou ficam "passeando" nos carros de polícia até morrerem.
As coisas por aqui talvez fiquem um pouquinho menos piores por conta da morte de um policial, há um mês, confundido com um ladrão.

    Klaus

    Só em são Paulo, no resto do Brasil é totalmente diferente.

    Marat

    É que eu vivo em SP, e não confio nos PIGs locais. Eles são tendenciosos e mentirosos!

José Carlos JC

Pô, Azenha, eu não entendo a demora na publicação do comentário, sinceramente. Já percebi que há comentários publicados com mais rapidez ( e são comentários bem ofensivos e babacas, por sinal). De qualquer forma…

José Carlos JC

E assim caminha a nossa justiça (ops!), eu disse caminha? Não seria: E assim SE ARRASTA a nossa "justiça? Mas, que justiça? Cuidado magistrados, tem gente querendo/fazendo o trabalho de vocês! E aí…

Henrique Finco

(também continuando) Caso o Estado, neste modelo que temos, fosse "garantir" a segurança da população, os investimentos necessários o levariam à falência. Portanto: não há saída, a não ser, parece, a barbárie – de que este vídeo é sintoma eloqüente. A quantidade da população envolvida com o crime (e com sua repressão) deve ser algo assombroso, se contarmos, além dos criminosos, os policiais, agentes penitenciários, assistentes sociais, juízes, advogados, ministério público, ao que se somaria os que trabalham com "segurança privada". Não tenho estes dados, mas tenho uma curiosidade enorme em sabê-los… Esta aí uma ótima pesquisa para os sociólogos. Sei que existem vários núcleos acadêmicos, em várias universidades, que se dedicam ao estudo da violência e da criminalidade

    leo

    Não tenho essa visão apocalíptica da classe média que não vê segurança pra população. Não sei onde você vive, mas não é tão tenebrosa a situação.
    Há sim a cultura do medo: do fechamento de ruas, da segurança privada, da higienização, do medo do outro, do individualismo, do egoísmo, do justiçamento, das cercas em condomínios, dos cães. Do medo de perder a propriedade, o DVD, a TV nova, o carrinho com seguro.
    Esse medo é criado pela sociedade de consumo, gerido pela imprensa, pela política do caos, e que gera o individualismo, o apego às posses e o estado de insegurança permanente.
    Medo! "Eles vão te pegar!" "Fuja pras montanhas!" "Usurparão os seus bens de consumo!" "Meu deus, o que fazer?" "Mate-os todos!"

Henrique Finco

(continuando) Caso a polícia cumprisse todos os mandados, não haveria presídios suficientes, pois os que aqui já existem estão com uma superpopulação que beira três vezes sua capacidade, lembrando que cada detento custa cerca de R$ 2.000,00 para o Estado. Outro dado interessante: o contigente da Polícia Militar, também aqui em Santa Catarina, é 10% menor do que era em 1990 (!), embora a população neste período tenha aumentado cerca de 80%.

Henrique Finco

Realmente, é chocante o vídeo ao qual você se refere… Aliás, a questão da "segurança pública" no Brasil é chocante. Mais do que isto: parece não ter saída, pelo menos no modelo de sociedade em que estamos. Uma visita ao portal do Ministério da Justiça mostra o seguinte: "O total de gastos realizados pelos governos estaduais em segurança pública subiu de R$ 24 bilhões para R$ 33,5 bilhões, de 2005 para 2008. Em relação aos gastos por habitante, este crescimento representou um aumento de 36%", sendo que o próprio portal reconhece que os gastos estão distorcidos para menos, já que alguns estados, como Santa Catarina, não incluiram vários gastos que têm nesta área, sendo que os mandados de prisão em aberto, aqui em Santa Catarina, somam mais de 12 mil.

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