por Jemima Pompeu, no Vizinhos de Útero
Em 09 de Abril de 1969 eu e minha vizinha de Útero, viemos ao mundo. Apesar de sermos bivitelinas, mamãe nos vestia com roupas e calçados idênticos. Eu não gostava, mas aceitava para não desapontar meus pais. Mas pra mim, o lado chato de se ter uma irmã gêmea é quando a minha individualidade não é respeitada. Tive que aceitar as inevitáveis comparações, mas hoje não me importo mais com elas.
Apesar disso, nossa infância foi divertida. Éramos muito unidas, tínhamos sintonia e cumplicidade. Brincávamos e brigávamos com a mesma frequência. Na adolescência, ela escolheu estudar nos Estados Unidos e eu escolhi ficar. A partir daí, perdemos nossa sincronia. Naquela época não tinha internet. Nosso contato era raro.
Aos 21 anos ela voltou noiva, eu já estava casada. Tanto ela quanto eu – éramos pessoas diferentes. A vida tinha mudado muito para ambas. Logo em seguida ela casou e eu me separei. Com o divórcio decidi morar no Paraná e ela ficou em São Paulo. Então, não tivemos mais a oportunidade de conviver. Não tínhamos mais assuntos comuns para compartilhar, não tivemos interesse em acompanhar uma a vida da outra.
Quando voltei pra São Paulo em 2006, ela tinha se mudado com o marido e filhas para Miami. Em 2009 ela passou por uma cirurgia e eu senti verdadeiro pânico ao imaginar que ela poderia ter morrido. Fiquei um bocado assustada. Fiquei três dias ao lado dela no pós-operatório. Hoje temos uma relação civilizada, porém, superficial. Não falamos o mesmo idioma. Na distância, sentimos aquele tipo de amor esquisito que não amadureceu. Uma ligação atrofiada. Nossa vida é marcada por desencontros – mas ninguém tem culpa nisso.
Durante muito tempo eu não entendi essa distância emocional, essa lacuna que ela provocou em mim. Mas hoje eu sei que nunca foi intencional nem proposital. Eu a amo incondicionalmente. Torço sempre pela felicidade dela. Não há rancor. E é justamente por estar liberta deste conflito, que me senti preparada para criar este blog. Hoje compartilho meus sentimentos sem medo, porque não dói mais.
Vizinhos de Útero foi criado com o propósito principal de reunir histórias de gêmeos – contadas por eles próprios ou por seus familiares. Vale ressaltar que todos os textos são postados com os devidos créditos. Nesses relatos, os gêmeos se identificam. Meus leitores apreciam e se emocionam com os depoimentos. Além disso, tem fotos de gêmeos famosos, artigos relacionados e curiosidades do universo gemelar. Se você é gêmeo e está acima dos 18 anos, participe também! http://www.vizinhosdeutero.blogspot.com e Twitter: @vizinhosdeutero
Comentários
voxetopinio
Azenha, uma dica de sítio eletrônico?
Jemina Pompeu, bem vinda a blogosfera.
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