Gerson Carneiro: Que Deus ouça Gilberto Gil

Tempo de leitura: 3 min

Que Deus ouça Gilberto Gil

Por Gerson Carneiro

Tenho observado a enxurrada de manifestações homofóbicas, e tentativas de negação de homofobia através de fajutas justificativas, apoiadas no binômio “Deus-Família”.

Há dias notícias (fotos e vídeos) de pessoas famintas garimpando sobras de comida pairam na internet.

Não há manifestação alguma dos que se apegam ao binômio “Deus-Família” incomodados com a sexualidade de um personagem de história em quadrinhos.

É impressionante como sexualidade incomoda mais que fome e miséria.

A mais recente manifestação que li, e me fez escrever esse texto foi a de um rapaz chamado Márcio Nato.

Pelo que percebi trata-se de um cantor gospel. Ele diz o seguinte:

“Não tenho nada contra ninguém, nem suas opções sexuais, cada um faz de sua vida o que bem entende.

Agora, não me venha também querer me obrigar a aceitar o mundo que acham que é certo e que na minha concepção, acho que não é.

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Por que tenho que ser obrigado aceitar o seu certo e você não pode sequer tentar acatar o meu?

Há espaço para todos nessa grande Sodoma! Quem achar que não está bom aqui vá para Gomorra.

O que quero dizer, é que todos nós podemos viver nessa grande Babilônia respeitando uns aos outros, não precisa concordar, mas sim respeitar.

O meu personagem favorito dos quadrinhos, vai ser sempre o cara que ama e nunca deixou de amar a Lois Lane.

Eu quando criança queria ser o Supermam, salvar o universo, conhecer a minha Lois.

Agora, querem empurrar um Superman bi. Respeito a ideia dessa tal inclusão, mas não conordo. E por isso sou homofóbico? Não! De modo algum, irmãos.

Apenas estou exercendo o meu direito de não concordar. E o fato de não concordar, não é em nenhuma vírgula, de minha parte, falta de respeito.

Porém, faço a pergunta: Pq o fato de eu não concordar com essa imposição me tornaria “homofóbico”, coisa que não sou, e pq o fato de querer um herói tradicional e fulano não aceitar, não o torna preconceituoso também?

Pq querem me obrigar a aceitar algumas imposições e os que querem impor, não podem aceitar me recusa? Compreende onde quero chegar?

Repito, há espaço para todos nessa Nínive. Basta cada um respeitar as opções e modo de pensar um do outro”.

É uma tentativa confusa e contraditória de negar homofobia.

Respondi ao questionamento dele da seguinte forma:

Existe um personagem Super Homem homossexual. Independe da tua concordância. Independe do teu gostar.

Simplesmente existe. Ninguém está te obrigando a nada. A partir do momento que você sente incômodo com a sexualidade homossexual do personagem, você é homofóbico.

Se você não sente incômodo com a sexualidade homossexual do personagem, você não é homofóbico.

O fato de estar se justificando revela teu incômodo. Portanto, você é homofóbico. Uma pessoa homossexual não está preocupada em concordar ou discordar da tua sexualidade.

Em momento algum você é confrontado, importunado, interpelado, por uma pessoa homossexual quanto à tua sexualidade. Nunca foi. Você não é questionado por isso. Sequer passa por tua cabeça ser questionado em algum momento por uma pessoa homossexual quanto à tua sexualidade.

Você vive confortável quanto a isso. A tua sexualidade é tua. Ninguém tem que concordar ou discordar.

Da mesma forma, a sexualidade de uma pessoa homossexual não carece da tua concordância ou discordância. É dela, pertence a ela.

Quando você se ocupa em discordar da sexualidade homossexual alheia, você se revela homofóbico.

Não basta afirmar que não é homofóbico. É o teu comportamento, teu ato, a tua atitude, diante da sexualidade homossexual que te define como homofóbico.

Está evidente que você é homofóbico. Você afirma: “não sou homofóbico, mas não aceito a relação homoafetiva alheia”. Sequer de um personagem fictício.

Para mim, Gerson Carneiro, não importa tratar-se de um personagem fictício ou não. Mas essa alegação está sendo usada também em tentativas de justificação da homofobia.

Espero, em Gilberto Gil, que o Super-Homem venha nos restituir a glória mudando como um deus o curso da história.

Leia também:

Julian Rodrigues: Homofobia não é opinião

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Zé Maria

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[Isabella Sander/GZH]

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